Alegoria ao Amor de Francesco Bartolozzi

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Júlio Dantas

Júlio Dantas

Júlio Dantas


 

Nasceu em Lagos, em 19 de Maio de 1876;
morreu em Lisboa em 25 de Maio de 1962.

Filho de oficial do Exército, estudou no Colégio Militar tendo-se formou-se em medicina na Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, em 1900. Oficial médico do Exército a partir de 1902, deputado em 1905, foi sócio da  Academia de Ciências de Lisboa desde  1908, sendo seu presidente a partir de 1922; dirigiu o Conservatório Nacional, tendo sido professor de História da Literatura e director da Secção de Arte Dramática, foi Ministro da Instrução Pública no Outono de 1920, no governo de António Granjo, Ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Cunha Leal, no Inverno de 1921-1922, e novamente em 1923 no governo de Ginestal Machado. Em 1941 participou na Embaixada especial ao Brasil e, em 1949, foi nomeado embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. 

Publicou o seu primeiro artigo em 1893 no jornal Novidades, e o seu primeiro livro de versos em 1897. A meio caminho entre o romantismo e o parnasianismo, a maior parte das suas obras de teatro e novelas são sobre o passado histórico, mas as suas melhores obras, Paço de Vieiros (1903) ou O Reposteiro Verde (1921) estão escritas num estilo naturalista. A Ceia dos Cardeais (1902) foi muito popular no seu tempo, assim como A Severa, que  deu origem ao primeiro filme sonoro português, realizado por José Leitão de Barros em 1931. A sua poesia é inspirada na lírica palaciana do Cancioneiro Geral de Garcia Resende.

Estreou-se, em 1899, no teatro D. Amélia com a peça em quatro actos O que morreu de amor,posta em cena pela companhia Rosas e Brasão. Deve-se a ele a tradução para português de Cyrano de Bregerac de Edmond de Rostand e o Rei Lear de William Shakespeare. A sua época de  eleição foi o século XVIII, exaltando o efémero, a morte, o sentimento e o cosmopolitismo, salientando sempre a decadência da vida aristocrática.  É de destacar o seu papel na elaboração de um acordo ortográfico com o Brasil. 

Júlio Dantas foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (SECTP), hoje a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), tendo sido o seu primeiro presidente. 

Considerado retrógrado e politicamente oportunista por Almada Negreiros, que lhe dedicou o Manifesto Anti-Dantas em 1915, muitos intelectuais, como Vitorino Nemésio e David Mourão Ferreira, defendem a qualidade literária e a invulgar mestria dramatúrgica da obra de  Júlio Dantas, que lhe dão um lugar importante nas letras portuguesas. 

Tinha, de facto, uma grande versatilidade política. Como diz Fernando Dacosta "para se aproximar do Paço e da Rainha escreve a Ceia dos Cardeais. Não recebendo os cargos e as honrarias a que julgava ter direito, aproveita-se da crise do regime monárquico e faz Um Serão nas Laranjeiras, denúncia da decomposição da corte. Mas não se afasta dela."

Proclamada a República, Júlio Dantas adere ao novo regime e publica no diário A Capital, em folhetins, "Cruz de Sangue", reunida depois em livro sob o título Pátria Portuguesa (1914), uma exaltação do povo e uma condenação da nobreza. Perante o conflito desencadeado com a Igreja pela Lei da Separação de Afonso Costa, redige a peça A Santa Inquisição (1910), em que condena violentamente o Tribunal do Santo Oficio. Durante o regime Salazarista, publicou Frei António das Chagas, um "elogio de quem se sacrifica, se imola pela Pátria." O fim da Segunda Guerra Mundial, e a previsão do fim do consulado de Salazar, leva-o a reformular a Antígona, obra de 1946, peça de estreia de Mariana Rey Monteiro, fazendo transparecer uma crítica ao velho ditador por meio da personagem de Creonte.

Casou civilmente e recusou um funeral católico, parecendo ter-se mantido fiel às suas convicções anti-clericais dos inícios do século XX.

 

 

© Manuel Amaral 2009-2010