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D. Caetano Gaspar de Almeida Noronha, conde de Peniche, marquês de Angeja
D. Caetano Gaspar de Almeida Noronha, conde de Peniche, marquês de Angeja

Angeja (D. Caetano Gaspar de Almeida Noronha Portugal Camões Albuquerque Moniz e Sousa, 8.° marquês de).

 

n.      12 de março de 1820.
f.       1 de julho de 1881.

 

Era o 3.° conde Peniche, em verificação de vida concedida no mesmo título por decreto de 9 de março de 1824, em remuneração dos serviços de seu pai, e dos de sua tia D. Teresa de Almeida Noronha, que foi dama da rainha D. Carlota Joaquina, cedidos pelo pai desta senhora a seu herdeiro o 1.º conde de Peniche D. Caetano de Noronha, por termo datado de 28 de fevereiro de 1824. Par do Reino por sucessão a seu avô, o 6.° marquês de Angeja, de que prestou juramento e tomou posse na respectiva Câmara a 18 de julho de 1853, onde também, durante onze anos, foi secretário. Seu avô fora feito par do Reino por D. Pedro IV, por carta régia de 30 de abril de 1826, de que nunca tomou posse. O marquês de Angeja foi ministro de Estado, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário de Portugal junto da corte da Bélgica, 26.° administrador do morgado de Vila Verde dos Francos, solar dos Noronhas, e dos vínculos de Camões, de Albuquerque, de Moniz e de Sousa; comendador da Ordem de Cristo, pelos serviços de seu pai, na Guerra Peninsular como ajudante de ordens do marechal Beresford; grã­cruz da de Carlos III de Espanha, concedida enquanto foi ministro, etc.

Nasceu em Lisboa a 12 de março de 1820, faleceu a 1 de julho de 1881. Era filho do 2.º conde de Peniche, D. Manuel de Almeida Noronha, e de sua segunda mulher, D. Isabel Teles da Silva, filha dos 3.os marqueses de Penalva.

Fez o curso de instrução secundária na aula régia do padre Manuel de Freitas, do mosteiro dos cónegos regrantes de S. Vicente, na congregação do Oratório, e no convento da Trindade, tendo por condiscípulos em diversas aulas, Carlos Zeferino Pinto Coelho, José da Silva Mendes Leal, Henrique Teixeira Sampaio, Vitorino de Avelar Teles, Henrique Morley, e outros homens, que se tornaram depois muito distintos nas ciências e nas letras. Matriculou-se em 1838 em direito na Universidade de Coimbra, e sendo sempre estudante distinto formou-se naquela faculdade, em 1842; em 18 de outubro desse ano entrou para a Associação dos Advogados de Lisboa e foi inscrito no mesmo dia no Tribunal da Relação como advogado dos auditórios da comarca. Durante o curso alistou-se no Batalhão Académico, de que teve o posto de major. Sucedeu na casa de seu pai a 10 de março de 1824, e nos morgados de Vila Verde e outros a sua tia, D. Francisca Xavier, filha do 4.º marquês de Angeja, e irmã do 5.º marquês do mesmo título, a qual casara com o 1 ° marquês de Chaves e 2.º conde de Amarante, Manuel da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira (V. Chaves, este nome e título).

A 22 de agosto de 1849 foi nomeado governador civil de Évora, lugar que exerceu até 1851 ao movimento da chamada Regeneração, e assinalou a sua passagem sufocando por meios de brandura a revolta do Regimento de Infantaria n.º 11, o que deu em resultado ser aclamado pela soldadesca. Foi demitido com a queda do marechal Saldanha. Enquanto foi par do Reino, e durante os anos em que serviu de secretário, pertenceu a comissões de administração pública e legislação, e a diversas comissões de inquérito nomeadas pela Câmara dos Pares. Foram estas as seguintes: o caminho-de-ferro de Lisboa ao Carregado; sobre os actos do governo para reprimir os tumultos que se deram em dezembro de 1861, por ocasião da morte de D. Pedro V o de seus irmãos D. João e D. Fernando; administração do hospital de S. José, sendo ministro do Reino Fontes Pereira de Melo. Era amigo íntimo de Rodrigo da Fonseca Magalhães, pertenceu ao Partido Regenerador, a que prestou assinalados serviços.

Fez a fusão histórico­regeneradora entre Rodrigues Sampaio e o duque de Loulé; data daí a sua maior fama política, sobretudo pela guerra vigorosa que fez a essa mesma fusão, desde que entraram nela Martens Ferrão e o conde de Casal Ribeiro. Em 1867 tinha por tal forma alargado o seu poder, que Joaquim Tomás Lobo de Ávila, mais tarde conde de Valbom, escudado com a sua influência, foi eleito numa luta renhida, por um grande número de votos, contra todos os meios postos em prática pelo Ministério fusionista, que então guerreava. Depois disto o nome de conde de Peniche encontrou-se em quase todas as proclamações revolucionárias, e foi ouvida a sua voz nos meetings populares, do maior dos quais, realizado em Portugal em Março de 1867, foi ele o principal elemento. Este meeting era presidido por António de Oliveira Marreca, com o apoio o duque de Loulé, Lobo Ávila, marquês de Niza, José Maria Eugénio, barão de Vila Nova de Foz Côa, Manuel de Jesus Coelho, etc., e ficou conhecido pelo nome de meeting do Campo de Sant'Ana. Foi sem dúvida, o primeiro passo para a revolta, conhecida também pelo nome de Janeirinha, da qual, com o auxílio do Porto, Portalegre, e outras cidades do país, foi o conde de Peniche o principal motor. Esta revolta nasceu da resistência que o conde e os seus amigos políticos pretendiam opor à execução do decreto da reforma do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do regulamento do imposto de consumo, decretado pelo governo de então, e que devia começar a executar-se em Janeiro de 1868. Para alargar essa resistência fizeram-se meetings parciais, dos quais o maior foi o de 29 de dezembro, dia em que António Rodrigues Sampaio tinha sido eleito vereador, com o maior número de votos, da Câmara Municipal de Lisboa. Desse meeting saiu a comissão que no dia 31 foi representar ao presidente do Conselho, Fontes Pereira de Melo, contra o regulamento, e ao rei no dia primeiro de janeiro. Caiu o governo, a que sucedeu o ministério presidido pelo conde de Ávila, mais tarde duque de Ávila e Bolama. Este Ministério opôs tenaz resistência ao conde de Peniche e durou de 13 de janeiro a 25 de junho em que houve amnistia. Sucedeu-lhe o ministério Sá da Bandeira, cuja alma foi o bispo de Viseu, que o conde sustentou com agitação em janeiro de 1869, quando o Partido Histórico, querendo opor-se, elegeu presidente José da Silva Mendes Leal. Esta agitação durou quinze dias, e o conde de Peniche entendendo, pouco depois, que o bispo não satisfazia os compromissos políticos que com ele combinara, guerreou-o, contribuindo para a queda do governo por meio de vários meetings, entre os quais ficou assinalado o da Junqueira, no palácio do marquês de Valadas. A este governo sucedeu o do duque de Loulé, que o conde de Peniche, o duque Saldanha, Lobo de Ávila e outros, mas estes especialmente, derrubaram por meio da conhecida revolta de 19 de maio de 1870, que triunfou, entrando então o conde no ministério organizado e presidido pelo marechal Saldanha. Neste ministério entraram também António Rodrigues Sampaio, José Dias Ferreira, D. António da Costa de Sousa de Macedo e D. Luís da Câmara Leme. Aceitou a pasta das Obras Públicas, por decreto de 26 do referido mês e ano, que deixou oito dias antes do golpe de Estado, sendo nomeado ministro plenipotenciário em Bruxelas onde chegou a 24 de setembro de 1870, e de Haia onde chegou a 22 de outubro do mesmo ano.

Havia rejeitado a Joaquim António de Aguiar o título de marquês de Angeja, aceitando-o depois do duque de Loulé, por decreto de 19 de maio de 1870. Havia sucedido a este título a sua prima afastada D. Maria do Carmo de Noronha, 7.ª marquesa de Angeja, filha do 6.º marquês, D. João de Noronha, falecida no estado de solteira. (V. este nome e titulo). Quando voltou a 10 de março de 1871 da sua comissão diplomática, foi colocado na disponibilidade. Sendo acusado depois em novembro do mesmo ano na Câmara dos Pares, constituída em tribunal de justiça, por ter sublevado o exército, escondeu-se há quem afirme que passara a fronteira para se livrar da prisão a que fora condenado. Em 1872, resolvido a combater o ministério presidido por Fontes Pereira de Melo, obrigou o governo a tomar medidas enérgicas contra o novo grupo revolucionário em que estava envolvido, o que lhe valeu uma perseguição de cinco anos. Em 1877 o duque de Ávila deu-lhe amnistia. Desde então retirou-se da política. 

Havia casado em 30 de novembro de 1844 com D. Maria Antónia Raposo de Andrade e Sousa Alte Espargosa, filha de José Maria Raposo de Andrade e Sousa Alte Espargosa, fidalgo cavaleiro da Casa Real, por sucessão a seus maiores, tenente da Guarda Real dos Archeiros, comendador da Ordem de Cristo, proprietário e administrador de vários vínculos, e de sua mulher D. Maria Carlota do Vadre de Almeida Castelo Branco.

 

 

Genealogia de D. Caetano Gaspar de Almeida Noronha, 8.º marquês de Angeja
Geneall.pt

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, págs. 539-540

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