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José Maria Dantas Pereira
José Maria Dantas Pereira

 

Dantas Pereira (José Maria).

 

n.       1 de outubro de 1772.
f.        23 de outubro de 1836.

 

Conselheiro do Almirantado, comandante dos Guardas-Marinhas, professor de matemática, etc.

Nasceu em Alenquer em 1 de outubro de 1772; faleceu em Montpellier a 23 de outubro de 1836. Era filho de Vitorino António Dantas Pereira, porta-bandeira graduado do Corpo de Engenheiros, e de D. Quitéria Margarida de Andrade, pelo que no princípio da sua vida também usou o apelido de Andrade.

Não obstante ser família pobre, seus pais procuraram dar-lhe uma educação superior. Começou a sua carreira militar científica assentando praça na Armada nacional a 10 de setembro de 1788, seguindo o curso dos respectivos estudos com toda a distinção, alcançando a estima pessoal dos arguentes e um prémio extraordinário de 96$000 réis. Em 18 de janeiro de 1789 foi promovido a guarda-marinha e em 17 de dezembro do mesmo ano despachado primeiro-tenente, saltando o posto de segundo-tenente, por ter feito exame vago de todo o curso matemático perante os soberanos. Em 1790 já era professor de matemáticas na Academia da Companhia dos Guardas-marinhas, da qual foi nomeado comandante em 1800. Em 1798 era membro da efémera Sociedade Real Marítima, e desde 1792 foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, sendo depois promovido a sócio efectivo. Para a Academia desempenhou frequentes comissões, trabalhando muito nas Efemérides. Antes dos vinte e cinco anos foi nomeado professor do infante D. Pedro Carlos, pois que o príncipe regente o conhecia pelas suas memórias sobre matemática que lhe ouvira na Academia. O ser ainda muito novo e outras circunstâncias lhe originaram muitas intrigas.

No ano de 1807, ou pouco depois, partiu para o Brasil, onde obteve sucessivamente os postos superiores até chegar ao de chefe de esquadra em 1817, exercendo várias comissões importantes. Dois anos depois, em 1819, voltou da corte do Rio de Janeiro a Lisboa, na qualidade de conselheiro do Almirantado, a cuja nomeação andava anexo o título do conselho do rei, e condecorado com o grau de comendador da Ordem de Cristo, da qual era cavaleiro desde 1803. Durante o regime constitucional de 1820 a 1823, foi nomeado conselheiro de Estado, apesar dos seus princípios políticos não estarem em harmonia com as instituições daquela época. Em 1823 foi eleito secretário da Academia Real das Ciências, cargo que exerceu até 1833. Em 24 de junho de 1823 casou com D. Maria Eugénia da Cunha, filha única do médico da Real Câmara e notável químico José Martins da Cunha Pessoa. Em 1827 também teve a nomeação de membro da Sociedade Filosófica de Filadélfia. Em 1828 tomou assento na assembleia chamada dos Três Estados, fazendo parte do braço da nobreza; exerceu, por nomeação do governo absolutista, várias comissões especiais, encarregadas do processo de presos políticos, etc. Quando em 1834 os constitucionais atingiram o poder, Dantas Pereira teve de emigrar para Inglaterra e dali para França, onde viveu atribuladamente e veio a falecer em Montpellier, a 23 de outubro de 1836, tendo consigo seu filho primogénito Vitorino João Carlos Dantas Pereira (V. este nome).

Pouco tempo antes da morte, publicou em francês uns brevíssimos apontamentos da sua vida, com o título: Notice sur Ia vie et les oeuvres de Joseph Marie Dantas Pereira, etc., Paris, sem data. Nessa notícia encontra-se o catálogo resumido dos seus escritos, divididos em três secções: Matemáticas, Marinha e Literatura.

Primeira secção: Meios de aprender a contar seguramente, e com facilidade, obra póstuma de Condorcet, traduzida e acrescentada com algumas reflexões e notas, por ***, Lisboa 1801; são duas partes com rostos idênticos; Calculo das pensões vitalícias por St. Cyran, traduzido e aumentado com um apêndice sobre a teoria e pratica das rendas, descontos e anuidades, Lisboa, 1797; mandada imprimir à custa do governo; Curso de estudos para uso do comércio e fazenda; primeiro compêndio, que trata da Aritmética universal; parte primeira, ou teoria da mesma aritmética, Lisboa, 1798; uma parte considerável deste trabalho pertence a Francisco da Borja Garção Stockler, como se declara no prólogo respectivo, e de quem Dantas Pereira era muito íntimo; a segunda parte não chegou a publicar-se, e parece que devia conter algumas práticas mais longas de escrituração e de comércio, câmbios, etc.; Tábuas logarítmicas calculadas até à sétima casa decimal, publicadas de ordem da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1804; Reflexões sobre certas somações sucessivas dos termos das series aritméticas, aplicadas ás soluções de diversas questões algébricas; saiu no tomo II das Memórias da Academia Real das Ciências; Memoria sobre a nomenclatura ou linguagem matemática, menos bem tratada pelo habilíssimo autor do Ensaio de Psicologia (Silvestre Pinheiro Ferreira), impresso em Paris em 1826; saiu no tomo X, parte 2.ª das Memorias da Academia Real das Ciências, 1830; há também exemplares em separado, com rosto especial e a data de 1828 ; Memória sobre os princípios do calculo superior, e sobre algumas de suas aplicações, Lisboa, 1827; também saiu no Jornal de Coimbra, n.º 31, parte I; Memoria que trata de umas novas tábuas matemáticas, e dos usos que elas podem ter, tanto nas aplicações da ciência em geral, como na navegação alta em particular, Lisboa, 1807, com um mapa, ou tipo em novas tábuas; Memoria sobre o problema das longitudes, Lisboa, 1826; saiu com as iniciais J. M. D. P.

Segunda secção; Redução das distancias lunares para a determinação das longitudes de bordo, Lisboa, 1807; Memoria sobre os instrumentos de reflexão; inserta no tomo II das Memórias da Academia Real das Ciências; Memoria com quatro apensos em dois volumes: tendo por objecto principal a hidrografia do Brasil, e o conceito que corresponde aos trabalhos respectivos de Mr. Roussin, Lisboa, 1830; vem também no tomo I, parte 2.ª das Memórias da Academia Real das Ciências; Memoria sobre a precisão de reformar o Roteiro de Pimentel, Lisboa, 1830; publicada igualmente no tomo X, parte 2.ª das referidas Memorias; Escritos de José Maria Dantas Pereira, Parte I, Escritos marítimos: volume I, que contém a secção primeira da parte primeira, ou Memorial sabre a táctica, e um sistema de sinais, Rio de Janeiro, 1816; Bosquejo analítico, relativo ao decreto da extinção do conselho do Almirantado, Lisboa, 1823. Esta obra e as duas seguintes foram publicadas sob o pseudónimo de Justicola, e todas distribuídas gratuitamente pelo autor; Esboço de organização e regime da marinha, conforme convém aos ditames da razão, e ás nossas actuais circunstâncias, Lisboa, 1821; Reflexões sobre a marinha, ou discurso demonstrativo do Esboço de organização e regímen da Repartição naval portuguesa, Lisboa, 1821; Noções de legislação naval portuguesa até o ano de 1820, dispostas cronológico-sistematicamente, e adicionadas, etc.; tem folha de rosto, e no fim, Lisboa, 1821; Emendas, retoques e novos aditamentos ás Noções de legislação naval portuguesa; no fim, Lisboa, 1826; Continuação dos aditamentos ás Noções de legislação naval portuguesa; no fim, Lisboa, 1832; estes três opúsculos trazem as iniciais J. M. D. P.; Memoria sobre a defesa do Tejo…; Demonstração de quanto deve convir a composição da ordenança naval portuguesa, incumbida cumulativamente ao conselho do Almirantado, a uma comissão especial, e ao conselho da Marinha, Lisboa, 1826; saiu sem o nome do autor, e foi por ele distribuída gratuitamente, Memoria sobre a precisão de se concluir a composição da nova ordenança naval com a maior brevidade possível, Lisboa, 1826; também sem o nome do autor e distribuída gratuitamente; Reflexões sobre o parecer da comissão da Câmara dos Srs. Deputados, acerca de competir ao Real Conselho de Marinha a ultima instancia dos negócios, cuja decisão depende de conhecimentos navais, Lisboa, 1827; tem no fim a assinatura de Justicola; Quadro comparativo da despesa da marinha portuguesa em 1826, conforme o que existe impresso, Lisboa, 1827; uma página em fólio, sem o nome do autor; Ensaio de uma comparação da nossa marinha com a sueca, Lisboa, meia folha; Primeira memoria a bem da restauração da marinha portuguesa, Lisboa; Apêndice à dita memoria, Lisboa, meia folha; Escritos marítimos e académicos, a bem do progresso dos conhecimentos úteis, e mormente da nossa marinha, industria e agricultura, Lisboa, 1828; os opúsculos que entram nesta colecção têm cada um a sua paginação especial, a saber: Oração lida em 22 de Dezembro de 1798, dia da abertura da Sociedade Real Marítima – Oração lida á Companhia dos Guarda­ marinhas em 30 de Setembro de 1800 – Oração recitada na abertura da Real Academia dos Guardas marinhas em 1.º de Outubro de 1801 – Discurso lido no dia da abertura da mesma Real Academia em 1802 - Discurso recitado na abertura da mesma Academia em 1803 – Oração recitada no Rio de Janeiro em 1810, na instituição de uma sociedade naval – Memoria lida em continuação á oração precedente – Esboço de um mapa comercial do Rio de Janeiro – Defesa do porto do Rio de Janeiro – Proposição feita na comissão da ordenança naval – Cartas a bem do progresso da nossa marinha – Ensaio de um panegírico do senhor D. João VI – Reflexões sobre o progresso da agricultura portuguesa – Discurso para ser recitado na sessão publica, que devia celebrar-se em Outubro de 1827; Elogio histórico do Sr. D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, infante de Espanha e Portugal, almirante da marinha portuguesa, o qual foi publicado no Rio de Janeiro, em 1813; Memoria para a historia do grande marquês de Pombal, no concernente á marinha, sendo a de guerra o principal objecto considerado, Lisboa, 1832; Escritos marítimos, Parte II que contém: Memorial sobre a navegação e poligrafia náutica, foram publicados no Jornal de Coimbra, n.º 73 a 77; Memoria sobre bloqueio e presas; sem rosto, e no fim: Lisboa, 1831.

Terceira secção: Discursos históricos, recitados nas sessões publicas da Academia Real das Ciências de 27 de Junho de 1823 e 1.º de Julho de 1824, Lisboa, 1823; também saíram no tomo IV das Memorias do referida Academia; Discurso recitado na Academia Real das Ciências na sessão publica de 7 de Julho de 1825, Lisboa, 1827; também no tomo X, parte 1.ª das referidas Memorias; Discurso pronunciado na sessão publica da Academia Real das Ciências em 19 de Dezembro de 1831, Lisboa, 1831; publicadas no tomo XI, parte 1.ª das referidas Memorias; Memoria sobre um projecto de Pasigrafia (ou linguagem universal escrita), Lisboa, 1800; acerca desta obra, apareceu uma censura, por Silvestre Pinheiro Ferreira, nas suas Prelecções filosóficas, a que Dantas Pereira respondeu no Jornal de Coimbra, n.º 74, parte 2.ª: Carta a Silvestre Pinheiro Ferreira sobre os defeitos que este notou na sua «Memoria sobre pasigrafia»; Memória sobre o Resumo de Geografia política de Portugal, escrita por Mr. Bory de S. Vincent, Lisboa, 1827; saiu tombem no tomo X, parte 1.ª das referidas Memorias; Elogio do P. Teodoro de Almeida, Lisboa, 1831; também saiu no tomo XI, parte 1.ª das referidas Memorias; Bosquejo de um quadro sinóptico civil, mediante o qual poderemos conhecer e avaliar os homens, e as nações com acerto e facilidade, por ***, Rio de Janeiro, 1811; uma folha de papel em formato maior; Fantasias constitucionais, seguidas por algumas reflexões da razão e da experiencia, Lisboa, 1821; Carta demonstrativa de que bastava ainda a receita para a despesa em 1828…; Memórias para a historia da regeneração portuguesa em 1820, Lisboa, 1823; tem no fim a assinatura Lusitano Filantropo; são cinco memórias, a saber: 1.ª Reflexões sobre a constituição de 1822 – 2.ª Dialogo entre um liberal, um corcunda e um empenado – 3.ª Traços para o quadro comparativo das revoluções francesa e portuguesa – 4.ª Os vivas, e o Manifesto comparados com o estado presente de Portugal – 5.ª O conselho de estado; Diversões métricas e dramáticas de J. M. D. P. Tomo I e II, Lisboa, 1824; estes tomos contêm 48 sonetos, 2 epístolas, 14 odes, 3 elegias, 5 apólogos, várias peças traduzidas de Horácio, Marcial, Fénelon, Panard, etc.; A morte de César, tragédia, O fim dos Lágidas, Espelho de uma parte do mundo, O Tribunal da verdade, e o Duque de Borgonha, comédias todas em 5 actos e em prosa; Apêndice ás Diversões métricas e dramáticas, ou o Beneficio anónimo, comédia em 3 actos e em prosa, Lisboa, 1824; as Diversões métricas não foram postas à venda; o autor distribuiu os exemplares gratuitamente aos seus amigos; os três saltérios, a saber: Hinos e salmos do oficio de Nossa Senhora: Saltério de quinta, sexta e sábado da semana santa; e Salmos penitenciais: traduzidos por vários portugueses e coordenados por J. M. D. P., Lisboa, 1830; nesta colecção entram os salmos traduzidos por António Pereira de Sousa Caldas, José Jacinto Nunes de Mello, Fr. Francisco de Jesus Maria Sarmento, Francisco de Borja Garção Stockler, Domingos Maximiano Torres; no princípio traz uma dedicatória litografada à mulher de Dantas Pereira, D. Maria Eugénia da Cunha; Aditamento aos três saltérios, ou saltério do ofício de defuntos, Lisboa, 1831; Modelo de um Dicionário de algibeira poliglota e pasigráfico, Paris, 1805; é um caderno de formato de 8.º gr. litografado, em duas colunas, sendo uma em língua portuguesa e outra na francesa ; traz também o retrato do autor. Deixou ainda em manuscrito, segundo consta, o seguinte: Geometria elementar; o seu Testamento politico, escrito em 1824; um Quadro sistemático da Legislação criminal portuguesa; Memoria histórica acerca do P. João Chevalier, da congregação do Oratório; etc. Nos manuscritos, dizem que também figura um, intitulado: Observações sobre o resumo da historia de Portugal, escrito por Mr. Rabb.

 

 

 

Genealogia de José Maria Dantas Pereira
Geneall.pt

Discurso de José Maria Dantas Pereira
O Portal da História

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume III, págs.
16-18

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