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José Tomás de Sousa Martins
Sousa Martins

 

Sousa Martins (José Tomás de).

 

n.      7 de março de 1843.
f.       18 de agosto de 1897.

 

Um dos médicos portugueses mais distintos, que floresce­ram no século passado; lente de patologia geral na Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, etc.

Nasceu em Alhandra a 7 de março de 1843, onde também faleceu a 18 de agosto de 1897. Era filho de Caetano Martins e de D. Maria das Dores de Sousa Martins. 

Estudou as primeiras letras na sua terra natal, vindo depois para o Liceu Nacional de Lisboa estudar humanidades, passando ao estudo das ciências naturais na Escola Politécnica sendo estudante distinto. Foi praticante de farmácia desde 1 de abril de 1856 até 11 de julho de 1864, na botica de seu tio Lázaro Pereira, conhecida por Farmácia Ultramarina, estabelecida na rua de S. Paulo, próximo à Casa da Moeda. Durante esse tempo fez o curso de farmácia, e em Setembro de 1861 matriculou-se no 1.º ano de medicina na Escola Médica. Frequentando simultaneamente os dois cursos, obtendo sempre as primeiras classificações e os primeiros prémios, terminou o 1.º em 11 de julho de 1864, dia em que deixou a farmácia de seu tio, e em 6 de julho de 1866 o de medicina com todo o brilhantismo, defendendo a sua tese, que foi, pelo seu valor, o primeiro degrau da escada gloriosa, que a pouco trecho ascendia, na carreira a que consagrara a vida. 

A tese publicou-se nesse ano, e tem por titulo: O pneumogastrico preside à tonicidade da fibra muscular do coração. Em 6 de agosto de 1868 deu a última prova de concurso para demonstrador da secção médica da mesma escola, sendo nomeado para o respectivo lugar por decreto de 27 do referido mês e ano, e depois promovido a lente substituto por decreto de 9 de fevereiro de 1872. Sendo criada por carta de lei de 10 de abril de 1876 a 12.ª cadeira da Escola Médica, Patologia Geral, Semiologia e História da Medicina, foi o Dr. Sousa Martins provido na propriedade desta cadeira por decreto de 16 de julho do mesmo ano. Desde 1873 a 1876 desempenhou o lugar de secretário e bibliotecário da escola, e em 22 de outubro de 1874 foi nomeado, em concurso documental, médico extraordinário do hospital de S. José e anexos; a 25 de julho de 1883, médico do banco, sendo promovido em 1885 a médico ordinário e a 17 de setembro do mesmo ano director de enfermaria. 

Entre as muitas comissões oficiais de serviço público e científico que desempenhou, sempre de modo superior, notaremos as seguintes: secretário e relator da comissão encarregada de redigir a Farmacopeia geral do Reino, nomeada por decreto de 15 de novembro de 1871, a qual publicou em 1876, em edição oficial, o livro Farmacopeia Portuguesa; secretário e relator da comissão revisora do regulamento quarentenário de 1860, nomeada por decreto de 23 de maio de 1872; delegado de Portugal na conferência sanitária de Viena de Áustria, por decreto de 26 de maio de 1874; secretário da comissão encarregada de propor os melhoramentos necessários no Lazareto de Lisboa, por portaria de 16 de setembro de 1875; fez parte da comissão sanitária encarregada de propor ao governo as medidas a tomar no caso da invasão de Lisboa pela cólera asiática, por portaria de 11 de julho de 1881; da comissão encarregada pela administração do hospital de S. José de reformar o Formulário de Medicamentos, em substituição do de 1866; membro de muitas outras comissões da Sociedade Farmacêutica Lusitana, da Sociedade das Ciências Médicas, da Sociedade de Geografia, que de todas publicou relatórios, incluindo o da expedição científica à serra da Estrela em 1881, de que foi presidente da comissão executiva, e da secção de medicina desta expedição. 

A última comissão oficial que desempenhou, foi a de delegado à conferência internacional médica, de Veneza, em março de 1897, de que contava publicar o relatório. Acerca desta conferência lê-se no Ocidente de 20 de abril de 1897, vol. XX, pág. 82, em artigo firmado por Manuel Bento de Sousa: 

“Os resultados úteis e práticos da conferência de Veneza, diz-­se que foram poucos ou nenhuns por influência predominante das grandes nações, que ou não admitiram princípios, que se prestavam a ser postos em dúvida, ou adiarem as resoluções fundadas em princípios prováveis para quando a investigação científica os torne de todo provados e certos, o que só tarde poderá ser. Nesta inutilizada Conferência de Veneza, onde ainda assim, não entrava como um desconhecido, o delegado português combateu pela salvação dos povos; e, combatendo, mostrou-se tão sábio e eloquente, como ele realmente é, resultando lhe daí uma ovação feita por estrangeiros, exactamente igual às que aqui lhe costumamos fazer, nós os seus nacionais. As honras que lá recebeu, todas devidas, foram-lhe prestadas por homens que já conheciam a sua reputação, e naquela hora verificavam que a reputação era merecida. Sousa Martins, na sua recente missão, prestou serviço ao país, e não a si mesmo. Glórias, trouxe as que de cá levara; a saúde comprometeu-a; e, quanto a interesses pecuniários, perdeu-os e não os ganhou, sendo aliás uso muito seu, e já velho, nunca os exigir e muitas vezes recusá-los. À hora em que isto escrevo, o grande médico, sábio e querido, sofre as consequências do trabalho que teve em clima, que lhe não foi favorável. Os seus amigos, ansiosos e tristes, assustam-se com o estado da sua saúde.” 

E na verdade, a doença foi progredindo sensivelmente, e alguns meses depois desaparecia para sempre o grande professor, o eminente médico, causando a sua morte a maior consternação. A ciência perdeu um dos seus mais gloriosos ornamentos. 

Sousa Martins era farmacêutico de 1.ª classe e médico cirurgião pela Escola Médico Cirúrgica de Lisboa; lente catedrático da secção médica da mesma Escola, membro titular da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa; sócio efectivo, e sucessivamente honorário e benemérito da Sociedade Farmacêutica Lusitana; sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, do Instituto de Coimbra, da Academia Real de Medicina da Bélgica; da Real Academia de Medicina de Madrid; da Sociedade Antropológica Espanhola; da Sociedade Ginecológica Espanhola; da Academia Nacional de Medicina e Cirurgia de Cádis; da Academia Provincial de Ciências Médicas de Badajoz; da Sociedade Real de Medicina Pública e da Sociedade de Ciências Médicas do Luxemburgo; da Sociedade Real de Medicina Pública da Bélgica; do Instituto de Vasco da Gama, de Nova Goa; sócio estrangeiro da Sociedade Francesa de Higiene; sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio fundador da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses. Era comendador da ordem de S. Tiago, e da do Salvador da Grécia. Sousa Martins colaborou na Gazeta Médica de Lisboa, no Jornal da Sociedade Farmacêutica Lusitana, Jornal da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, Revista Médica Portuguesa, Revista Ocidental, Revista Contemporânea, Diario Ilustrado, Ocidente, Enciclopédia Popular, etc.  

Bibliografia: O pneumogástrico, os antimoniais e a pneumonia, Memória apresentada à Academia Real das Ciências, 1867; saíra antes nas Memórias da mesma Academia, tomo IV, parte I; A patogenia vista à luz dos actos reflexos; Tese de concurso, Lisboa, 1868; Relatório da comissão encarregada de rever o regulamento das quarentenas, 1813; foi impresso no Diário do Governo, e fez se tiragem àparte; Relatório dos trabalhos da conferência sanitária internacional, reunida em Viena em 1874, Lisboa, 1814; Elogio histórico do professor Caetano Maria Ferreira da Silva Beirão; discurso pronunciado na sessão solene da abertura da Escola Médico Cirúrgica de Lisboa em 5 de Outubro de 1872, Lisboa, 1878; A febre amarela importada pela barca «Imogéne» em 1879, Lisboa, 1880; de colaboração de diversos: Questão de peritos. A medicina legal no processo Joana Pereira. 1.ª e 2.ª parte, Lisboa, 18713; Formulário dos medicamentos para o hospital nacional e real de S. José de Lisboa, Lisboa, 1885. No livro de Emídio Navarro Quatro dias na serra da Estrela, impresso no Porto em 1881, pertence-lhe a carta prefácio; e no livrinho Feixe de penas, publicado em 1885, para a Quermesse do Asilo das raparigas abandonadas, é seu o artigo O arquiplassão. Na Câmara dos Deputados, em sessão do 18 de agosto de 1897, proferiu o sr. Dr. Veiga Beirão um discurso, a propósito das palavras proferidas junto do túmulo de Sousa Martins em Alhandra. O ilustre professor deixou em testamento os seus livros de ciência à Escola Médico Cirúrgica e Sociedade de Geografia de Lisboa. 

Em 1902 os amigos de Sousa Martins desejando honrar-lhe a sua memória, resolveram erigir-lhe um monumento, e para isso se constituiu uma comissão, sendo convidado o escultor Costa Mota a fazer o projecto do monumento, projecto que a comissão aprovou, tratando logo o apreciado escultor de lhe dar execução, principiando por modelar a estátua de Sousa Martins. O ilustre professor é representado em pé, com a sua beca vestida, bem panejada, tão natural como a atitude da figura, que parece estar falando. A inauguração do monumento realizou-se no dia 7 de março de 1901, o qual está situado no campo dos Mártires da Pátria, mesmo em frente da Escola Médica. A estátua é de bronze, conforme fica descrita. No referido dia 7 foi a comissão entregar o monumento à Câmara Municipal, efectuando-se esse acto solene na sala das sessões da câmara, estando esta representada pelo seu presidente e alguns vereadores.

 

 

 

 

Sousa Martins
O Ocidente,20.º vol., n.º 659 de 20 de Abril de 1897
Hemeroteca Municipal de Lisboa

Genealogia de Sousa Martins
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VI, págs. 1088-1090
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