Portugal - Dicionário

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
O Portal da História Dicionário > António Carlos da Rocha Vieira
General Rocha Vieira
General Rocha Vieira

 

Vieira (António Carlos da Rocha).

 

n.      [ 23 de novembro de 1825 ].
f.       4 de outubro de 1902.

 

General de brigada reformado. 

Nasceu em Lisboa e faleceu a 4 de outubro de 1902. Era filho do oficial de marinha João Eleutério da Rocha Vieira, e pode dizer-se que o infortúnio o perseguiu desde o berço. 

Foi num dos calabouços do castelo de S. Jorge, que ele aprendeu as primeiras letras com seu pai, que tinha sido encarcerado em 1828 por se haver declarado liberal convicto, e cursava o Colégio Militar desde 1935 quando recebeu a infausta noticia do seu falecimento na Guiné. Ficando sem amparo no mundo, o Colégio Militar passou a prover a todas as suas necessidades, mas a má sorte continuava a perseguir o pobre moço. Andando nas alturas do 3.º ano do seu curso, deu uma canelada tão grave que lhe produziu um padecimento escrofuloso que durante três anos o impediu de continuar a estudar, prendendo-o à enfermaria do Colégio. Ali, para entreter o espírito, foi lendo livros de filosofia e outros, aperfeiçoando-se nas línguas latina, francesa e inglesa, até que, restabelecendo-se, continuou o curso. Tinha então dezassete anos o espírito amadurecido, e muitos conhecimentos. O quase isolamento em que vivera durante tão largo período tornara-o melancólico e fizera-o poeta. Acabou o curso em 1846 assentou praça em infantaria n.º 7, e a sua entrada na vida militar foi assinalada por um novo infortúnio. Tendo rebentado a revolução de 6 de outubro daquele ano contra o governo que saíra da revolução de maio, Rocha Vieira, que servia com António de Serpa Pimentel, José Correia de Freitas e outros numa coluna de operações comandada pelo major Bernardo António Ilharco, caiu prisioneiro em Alcácer do Sal com todos os seus camaradas e foi levado para o cárcere do castelo de Palmela. Ali, para ocupar o tempo, enchia de versos e de magníficos desenhos a carvão as paredes que o sequestravam da liberdade, sem que a comunidade do cárcere com António do Serpa e Correia de Freitas modificasse de qualquer forma para com eles o seu animo concentrado e melancólico. Quando recuperou a liberdade, Rocha Vieira continuou a sua carreira, servindo por algum tempo na cidade da Guarda, onde lhe não faltaram desgostos. Serviu mais tarde nas obras públicas no Algarve, onde se casou e em Castelo Branco. Depois passou aos Açores, onde continuou a sua carreira, regressando a Lisboa, reformou-se no posto de general de brigada. Nesta altura da vida feriu-o o ultimo infortúnio: o enlouquecimento dum filho, que teve de ser recolhido no hospital de Rilhafoles. 

Nos ócios da vida oficial consagrou-se às letras, deixando manuscritas numerosas traduções em prosa e verso, sobretudo do inglês, e contando-se entre elas o romance Harold. Também começou a traduzir o Paraíso perdido, de Milton, mas a doença que o havia de vitimar, obrigou-o a interromper esse trabalho no terceiro ou quarto canto. Foi um cultor apaixonado da língua universal o volapuk, escrevendo a correctamente e conhecendo-a tanto que o seu nome era citado nas publicações que a essa língua diziam respeito como o duma autoridade de primeira ordem.

 

 

 

 

António Carlos da Rocha Vieira
Projecto Germil. Genealogia em registos militares

O general António Carlos da Rocha Vieira
Ocidente nº 863 de 20 de dezembro de 1902

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VII, págs. 4
53-454.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral