A Guerra de 1801 - 9.º parte

 

 

A CAMPANHA NO ALENTEJO (cont.)

A retirada de Portalegre 

As notícias do combate de Arronches, e do seu funesto resultado chegaram ao quartel-general de Portalegre por volta das quatro horas da tarde. Não havendo informações precisas sobre o que estava a acontecer, o general Forbes pediu ao comandante da divisão da direita, o tenente-general D. António Soares de Noronha, que estava em Alegrete, que se informasse do acontecido. O relatório ainda não tinha chegado quando D. José Carcome Lobo apareceu, com o seu grande bicórneo perfurado por um buraco de bala.

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Portalegre

 

D. José apresentou verbalmente o seu relatório e por volta das onze da noite retirou-se. A seguir reuniu-se um conselho militar em que estiveram presentes o duque de Lafões, o general Forbes, o comandante da engenharia Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado e o comandante da artilharia, o coronel José António da Rosa, tendo-se decidido retirar o exército para Abrantes, de acordo com os planos de campanha. Nessa mesma noite, o duque de Lafões, marquês de Arronches, no fim da ceia levantou-se e saudou o "bravo Carcome", possivelmente percebendo a razão da audácia, já que a bravura não tinha sido de facto acompanhada do sucesso no combate. 

Na tarde de sábado dia 30 de Maio de 1801, as três divisões do exército que estavam estacionadas no Alto Alentejo começaram a abandonar Portalegre, sendo acompanhadas pelas forças estacionadas em Alegrete, e pelas estacionadas entre Castelo de Vide e Marvão, deslocando-se por Alpalhão para a vila de Gavião, local na margem esquerda do Tejo, protegido pela brigada britânica de emigrados que de Alter do Chão se retirou pelo Crato, na mesma direcção. 

O duque de Lafões não querendo assumir o comando do exército retirou-se muito tempo antes do resto das tropas, deixando que o general Forbes, o de facto comandante do exército, retirasse, como era seu dever, com a retaguarda. Esta actuação do duque não foi bem aceite, já que tendo ele vindo ao exército, devia ter assumido o seu comando e, por isso, retirado com a retaguarda, as tropas de Bernardim Freire de Andrade e D. José Carcome Lobo. O não ter assumido o comando e ter sido o primeiro a sair de Portalegre, parece ser a razão da tão famosa afirmação de um pasquim de Lisboa, que escrevia: 

"Perdeu-se entre Portalegre e Abrantes um minino de oitenta e dois anos, pouco mais ou menos, com umas botas de veludo negro: roga-se portanto aos que o achassem, que o entreguem no escritório do anúncio". 

Não era um acto grave, mas era uma actuação que o tornava muito pouco popular no exército e na opinião pública. O duque e o seu estado-maior chegaram ao Gavião às 9 da noite, enquanto o exército ficou ao redor de Alpalhão, tendo continuado a retirada no dia seguinte. No dia 31 chegou ao Gavião a brigada britânica de emigrados, e algumas forças dispersas, tendo o resto do exército chegado às alturas que precedem a vila à noite. 

Nesse dia 31, o estado-maior decidiu manter o exército ao redor do Gavião já que era uma boa posição defensiva, e se sabia que o exército espanhol não tinha perseguido o exército português, não tendo mesmo abandonado a região de Arronches. Como escreveu Neves Costa, esta retirada mostrava bem como faltava ao exército português verdadeiras tropas ligeiras, sobretudo cavalaria, que soubesse realizar as funções de cavalaria ligeira, sobretudo as de reconhecimento e as de recolha de informações. É que, segundo ele, a retirada podia não ter sido tão precipitada como tinha sido. 

É preciso entender o que Neves Costa considerava uma retirada precipitada, já que é preciso notar, a retirada esteve muito longe de ser uma espécie de debandada. O que Neves Costa se refere, quando fala de retirada precipitada, é à evacuação dos armazéns de víveres e munições, que foram abandonados por falta de transportes. Se a retirada tivesse sido realizada um, ou dois dias depois, os armazéns podiam ter sido evacuados prévia e calmamente. A falta de víveres, mas sobretudo a falta de fornos de campanha, coisa de que o conde de Goltz já se queixava em Novembro de 1800, impediam a mobilidade do exército, e impediriam a manutenção do exército português no Gavião.


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