A evolução das Milícias

10.ª parte

 

O Levantamento em Massa da população em 1810

 

As Milícias, que em Fevereiro de 1810, tinham mobilizado à volta de trinta mil homens, preparavam-se para fazer frente ao novo ataque francês. Grande parte dos regimentos iria manter-se em campanha ininterruptamente até princípios de 1812, sendo que não sabemos ainda se houve rendição de batalhões e, se sim, como foi feita a mudança.

 

As Legiões Nacionais de Lisboa

© AHM

O manejo do pique pelas Legiões
Nacionais de Lisboa

Sendo recrutados fundamentalmente nas classes mais abonadas das sociedades locais, a prolongada ausência dos milicianos dos campos não ajudou o país a minorar a crise económica em que vivia, sendo que as consequências na produção de alimentos do ano seguinte irão ser catastróficas. A maior parte dos regimentos só organizou um batalhão para entrar em campanha, como impunha o regulamento de 20 de dezembro de 1808 mas, segundo se sabe, alguns reuniram os dois batalhões. Wellington queixou-se imediatamente a Beresford de tal situação, mas os regulamentos e os custos exorbitantes da entrada em campanha da totalidade das Milícias, proibia tal resolução e a legislação acabou por ser em grande parte cumprida .

As Ordenanças também iriam ter uma participação na campanha, como já tinham tido na campanha de 1809, mesmo que por um meio ardiloso. Em finais de 1808, após a expulsão do exército de ocupação francês comandando pelo general Junot, a Regência, reestabelecida em setembro de 1808, chamou o povo português às armas por meio do decreto de 11 de dezembro seguinte, de "Levantamento em Massa". Era uma maneira de ultrapassar as restrições à militarização das Ordenanças, mas não só. Era uma maneira de impor à população de Lisboa os deveres militares a que o resto da população do país já estava obrigado. Como não era naturalmente desejável modificar as leis que impediam a militarização das Ordenanças, que podiam criar reações indesejáveis numa população bastante agitada optou-se por uma solução que já tinha sido pensada durante a Guerra de 1801 e apresentada na proposta de Reforma de 1803.

O Levantamento em Massa da Nação obrigava todos os homens disponíveis a armar-se e a defender as suas localidades. Eram obrigados a participar todos aqueles que faziam parte das listas das Ordenanças, os membros das Milícias que não estavam mobilizados e a população até ali isenta do recrutamento para o exército e para os regimentos de Milícias. Mas se era, de facto, chamar sobretudo os homens das Ordenanças às armas, não era de facto, ainda, a militarização das Ordenanças, porque a obrigação de defesa era generalizada. Para que a separação entre o Levantamento em Massa e as Ordenanças fosse claramente percetível organizou-se este levantamento em "Grandes Distritos", não utilizando a estrutura das Capitanias-mores, e deu-se o seu comando a oficiais do Exército reformados, a oficiais de Milícias sem comando efetivo, assim como a alguns oficiais das Ordenanças. A criação dos grandes distritos pode ter tido em vista preparar a organização das brigadas de Ordenanças previstas no decreto da sua reorganização de outubro de 1807, mas a verdade é que isso acabou por não acontecer. Em Lisboa, também para não haver nenhum tipo de confusão entre levantamento em massa e Ordenanças, não se utilizou a estrutura dos seis regimentos de Ordenanças existentes desde o reinado de D. Sebastião e de D. João IV, criando-se, ao invés, legiões nacionais formadas a três batalhões de dez companhias cada um.

Subordinadas aos grandes distritos a estrutura das companhias de Ordenanças manteve-se de facto. E é fácil perceber porquê. Ao contrário das capitanias-mores, que desde a provisão de 1574 tinham deixado de acompanhar a estrutura local, as companhias acompanhavam melhor a administração municipal, que por isso as podia organizar mais facilmente, como era obrigada pelo decreto do levantamento em massa.

 

continuação

 

 

Evolução das Milícias

| 1ª parte | 2ª parte | 3ª parte | 4ª parte | 5ª parte | 6ª parte | 7ª parte | 8ª parte |
| 9ª parte | 10ª parte | 11ª parte | 12ª parte | 13ª parte | 14ª parte | 15ª parte |

| 16ª parte | 17ª parte | 18ª parte | 19ª parte | 20ª parte |

 


 

regresso à página principal

© 2000-2015 Manuel Amaral