A evolução das Milícias

14.ª parte

 

O receio britânico das Milícias e a tentativa de controlo do governo português 

 

A queda de Almeida, provocada pela explosão do paiol, criou um clima de suspeição do comando britânico em relação aos oficiais do exército português. Os generais britânicos terão mesmo pensado, devido à atitude posterior de colaboração com o exército de Massena de alguns oficiais portugueses da guarnição, aparentemente induzida pela presença de D. Pedro de Almeida, marquês de Alorna, que a queda da fortaleza pudesse ter tido origem em ato de traição. Nada foi provado, mas os britânicos ficaram de sobreaviso.

 

Charles Stuart, embaixador
britânico em Lisboa em 1810

 

Pouco tempo depois da queda de Almeida, e antes da batalha do Buçaco, após o combate a um incêndio em Lisboa em que tinham participado membros dos dois regimentos de Voluntários de Milícias da cidade, Beresford foi informado, e avisou imediatamente Wellington, que nos cafés adjacentes se tinha ouvido a oficiais e soldados dos dois regimentos discutir as proclamações de Massena e do marquês de Alorna à população portuguesa e criticado a provável intenção de abandonar o país do exército britânico. Os oficiais tinham defendido a tomada das "torres" (de Belém, do Bugio e de São Julião) para impedir tal objetivo. Wellington escreveu então, primeiro a Charles Stuart, o embaixador da Grã-Bretanha em Lisboa e membro da Regência, a alertá-lo para a situação e depois a Liverpool, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico. Na carta ao embaixador avisou-o que tinha mudado os destinos dos regimentos e mostrou-se preocupado, informando-o que "o temperamento de Lisboa torna-se um assunto de importância".

Na carta ao ministro relacionou esta informação com as tentativas de interferência da Regência na estratégia da campanha e informou-o que tinha tomado as medidas necessárias, mas que "se [a Regência] continuasse a interferir de uma maneira qualquer nas operações militares ou com as nomeações do estado-maior de Beresford, recomendaria ao governo de Sua Majestade a saída do exército" britânico do país. Os agentes britânicos em Portugal estavam preocupados com a manutenção do apoio português à causa comum da expulsão das tropas francesas da península Ibérica. O receio era tão grande que o embaixador britânico em Lisboa pensou mesmo – e pensou alto – se a Grã-Bretanha não devia assumir completamente o governo de Portugal e destituir a Regência, com ou sem acordo prévio do príncipe regente, que sem dúvida anuiria. Pensou primeiro na destituição do bispo do Porto, cardeal patriarca de Lisboa eleito, e de D. José de Sousa Coutinho, principal Sousa, diácono da igreja patriarcal de Lisboa, mas no princípio de 1811, continuando a oposição daquilo que os agentes britânicos em Portugal chamavam o partido antibritânico pensou mesmo em tomar a direção do governo de Lisboa.

Era uma preocupação um pouco exagerada da parte de Charles Stuart, já que o comando militar britânico em Portugal tinha a possibilidade de exigir diretamente a um alto magistrado português a sua vinda ao quartel-general para se explicar de uma "ordem" não cumprida. Arthur Wellesley respondeu que não seria conveniente adotar uma solução tão próxima das tomadas pelos franceses em países ocupados, mas não quer dizer que não tenha pensado nisso.

 

continuação

 

 

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