A evolução das Milícias

17.ª parte

 

A atuação das Milícias no inverno de 1810/1811 

 

No fim de outubro as forças de Silveira aproximaram-se de Almeida começando a concentrar-se em Pinhel. O general tinha conhecimento de que cerca de dois mil homens estavam a chegar a Cidade Rodrigo, esperando-se mais seis mil vindos de Valladolid. Em 13 de novembro estas forças, colocadas a sul de Pinhel onde podiam observar a estrada que de Almeida conduzia a Celorico e a Trancoso por Aldeia Nova e Alverca da Beira, depararam-se com a força francesa de cerca de oito mil homens, sob o comando do general Gardanne.

 

Tropas francesas em Portugal
Tropas francesas em Portugal 

 

A coluna de reforços era formada, segundo Wellington por contingentes variados: o batalhão que tinha escoltado Foy até Cidade Rodrigo, três batalhões do 8.º corpo que tinham sido deixados em Espanha, convalescentes que regressavam aos seus corpos, alguma cavalaria. As Milícias retiraram para Pinhel mantendo o contacto. A 14 de novembro Silveira atacou a coluna em Vale Verde e desbaratou-a, fazendo-lhe entre trezentos a quatrocentos mortos. Acompanhavam as suas forças de Milícias o Regimento de Infantaria n.º 24 (Bragança), que se tinha rendido em Almeida e fugido na primeira ocasião, e parte do Regimento de Cavalaria n.º 12 (Miranda). O acontecimento não era de somenos, já que mostrava a capacidade de combate das tropas portuguesas de segunda linha sem o apoio de tropas britânicas, sendo o ataque realizado à baioneta.

Segundo o relatório de Wellington a força de Claparède atravessou de novo o Côa em direção ao Sabugal continuando até ao Zêzere por Belmonte, Fundão e Cardigos, parecendo ter utilizado a "estrada nova", chegando a Codes a 26 de novembro, onde tentou atravessar a ribeira do mesmo nome, atualmente um braço da albufeira formada pela barragem de Castelo de Bode. As forças de guerrilha da Beira Baixa comandadas pelo tenente-coronel Grant, incluindo a companhia de Alpedrinha, impediram a coluna francesa de realizar o seu intento. A força de Gardanne, que não tinha encontrado as forças da Divisão Loison postadas em Constância por muito pouco, regressou ao Sabugal e dirigiu-se para Cidade Rodrigo.

Em 14 de novembro o exército de Massena abandonou a sua posição em frente das posições defensivas a norte de Lisboa e recuou para uma região definida por Santarém, Torres Novas e Golegã, enviando algumas forças para a foz do Zêzere, que ocuparam Constância como testa-de-ponte. Para acompanhar este movimento retrógrado que parecia coordenado com as forças francesas na Extremadura espanhola, que podiam invadir Portugal pelo Alentejo, a Divisão Hill acompanhada pela divisão portuguesa de Hamilton atravessou o Tejo postando as duas divisões em Benavente, defendendo a linha do Sorraia, engrossado pelas chuvas de inverno. À sua frente, continuando a observar a margem direita, em frente de Tancos e Constância, mantinham-se as forças de observação das ordenanças de Sebastião Martins Mestre.

A entrada em 17 de dezembro do 9.º corpo de Drouet D’Erlon por Almeida foi um acontecimento bem mais importante e disruptivo. Deixando a Divisão Claparède em Pinhel e Trancoso, D’Erlon dirigiu-se por Celorico da Beira a Ponte de Mucela, pela estrada da Beira, na margem esquerda do Mondego, que Massena deveria ter utilizado em setembro, com a Divisão Conroux. Conseguiu atravessar o rio Alva, tendo sido atacado pelas forças de Wilson em Miranda do Corvo a 24 de dezembro e chegou a Tomar onde se reuniu ao exército de Massena. Enviado para ocupar Leiria, cortou assim a ligação entre as forças de Milícias a norte e o exército britânico estacionado atrás das posições defensivas de Torres Vedras a sul.

As forças de Claparède tinham permanecido em Pinhel e Trancoso para defender a linha de comunicações do exército de Massena. Perante uma força tão importante, Silveira fora obrigado a recuar para noroeste de Trancoso ocupando a estrada que por Moimenta da Beira ia dar a Lamego. Em 30 de dezembro a divisão francesa conseguiu atacá-lo em Ponte do Abade infligindo-lhes uma derrota, provocando duzentos mortos e muitos prisioneiros, mas que não conseguiu afastar definitivamente as Milícias da principal linha de comunicação francesa. Em 11 de janeiro as duas forças encontraram-se de novo em Vila da Ponte, oito quilómetros a norte da posição anterior, tendo Claparède infligido nova derrota a Silveira, esta mais importante, obrigando-o a retirar para Lamego e a atravessar o Douro na Régua, a 13. Francisco da Silveira voltava a casa, literalmente, e a locais onde tinha combatido tanto em 1808 como em 1809. As forças francesas ocuparam Lamego no dia seguinte podendo, exatamente como Loison tinha tentado no verão de 1808, atacar o Porto. Mas não era esse o seu objetivo. Claparède tinha realizado o que lhe fora pedido; manter as estradas da Beira Alta livres de tropas inimigas, abrindo as comunicações do exército de Massena com Almeida e Cidade Rodrigo. Devido ao seu sucesso, o general Manuel Bacelar teve de chamar as Milícias de Miller e Wilson em apoio de Silveira, e tentar recriar o dispositivo desarticulado.

 

continuação

 

 

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