A evolução das Milícias

3.ª parte

 

Os Terços de Auxiliares

 

As companhias de auxiliares deram origem, por volta de 1661, aos terços, organizados em cada uma das comarcas do Reino possivelmente devido à extinção do cargo de governador de comarca. Não é fácil conhecer, de novo, os meandros desta decisão, mas no texto de um decreto enviado ao Conselho de Guerra, de 13 de outubro de 1661, fazendo-se um pequeno historial das decisões sobre as tropas auxiliares, afirma-se que D. João IV tinha encarregue D. Francisco de Faro, conde de Odemira, e Gaspar de Faria Severim, seu secretário das Mercês, "que ambos introduzissem… o exercício dos soldados auxiliares que ainda não havia nele, e então… se formaram geralmente e se repartiram em companhias e se lhes nomearam capitães".

 

 

© Casa Fronteira e Alorna

O marquês de Marialva na batalha
das linhas de Elvas

O levantamento das companhias tinha sido feito com base em listagens e ordenava-se que fossem entregues "para que de novo se vejam e se houver utilidade que se possa tirar destes papéis se faça". As listas foram fornecidas em cadernos. Dezoito respeitavam a comarcas, quatro a ouvidorias e um às vilas de Vidigueira e Vila de Frades. Portugal estava dividido em vinte e três comarcas e nove ouvidorias. A possível conclusão desta nova atividade organizativa é-nos dada pelo texto de outro decreto, de 2 de outubro de 1665, em que D. António de Meneses, marquês de Marialva, informa que os oito terços auxiliares do Alentejo existiam há quatro anos.

Estes terços, considerados trinta segundo a maioria dos autores serão decisivos no esforço militar português na fase final da Guerra da Restauração, de 1659 a 1668, sendo uma espécie de arma secreta da Coroa na defesa do direito à aclamação em Portugal de um rei natural, realizada em Dezembro de 1640. Mas não terão sido tantos. O general Espírito Santo afirma que eram vinte e cinco da província e cinco de Lisboa. Mas a afirmação é errónea já que Lisboa nunca levantou terços auxiliares, e como vimos, segundo parece, nem todas as comarcas tinham instituído as companhias de auxiliares.

A passagem de legislação não implica, de facto, a sua concretização, e mesmo quando começada a concretizar, não implica a sua aplicação completa. Tem ela própria uma história, uma cronologia, um discurso, que precisa de ser investigada. Mas o "paradigma estadualista" é de difícil ultrapassagem, e se estava, como dizia António Manuel Hespanha, em 1984, "hoje posto em causa, tanto na teoria política, como na história dos sistemas de poder", não implica que, na prática – na historiografia –, não continue demasiado vivo.

Os Auxiliares prestaram de facto serviços fundamentais na Guerra da Restauração, provavelmente duplicando as forças militares disponíveis para campanha, assim como, na fase defensiva da Guerra da Sucessão de Espanha, já no século 18.

 

continuação

 

 

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