A evolução das Milícias

9.ª parte

 

A entrada em campanha das Milícias em 1810

 

As Milícias não podiam deixar de estar incluídas neste cenário de tentativa de controlo do aparelho de Estado por parte das autoridades britânicas em Portugal; assim como as Ordenanças. Mas o tipo de controlo que foi obtido no exército não foi conseguido nas Milícias, permanecendo estas unidades com uma direção e um comando operacional portugueses, já que o seu inspetor-geral era o secretário da regência D. Miguel Pereira Forjaz, e os seus comandantes regimentais exclusivamente portugueses, sendo que foram colocadas sobre o comando operacional de oficiais britânicos; mesmo que subordinados ao marechal de campo Manuel Bacelar e administrativamente a D. Miguel Pereira Forjaz.

 

Coluna de abastecimento no interior de Portugal

Em finais de 1809, aquando da reorganização das Milícias os agentes britânicos irão tentar imiscuir-se na instituição, mas a resposta do secretário da Regência foi suficiente: "Como nas Milícias pela sua instituição não <deverá ser admitido> [rasurado] parece será conveniente que entrem Estrangeiros". As Milícias foram vistas, assim, pelas elites do país como uma espécie de oásis no meio da ingerência britânica e de facto assim continuaram. As Milícias, como Wellington notou em março de 1810:

 

"são um ramo muito importante das instituições militares do país, para as quais o Governo está agora a enviar armas, e pelas quais as províncias do norte serão exclusivamente defendidas, e que estão a ocupar posições muito importantes no país, são para continuar sob a direção do Governo Português."

 

A integração tática dos regimentos de Milícias não deixou de ser realizada, tendo sido enviados, em fevereiro de 1810, alguns oficiais e sargentos para o depósito central de recrutas e outros para regimentos de infantaria de linha. De acordo com Cláudio de Chaby e Vitoriano José César, cada regimento terá enviado um oficial superior, dos três que havia em cada um, e dez oficiais subalternos.

Os regimentos de Milícias que tinham sido dispensados entre princípios de junho e finais de agosto de 1809, após a expulsão do exército francês de Soult e o fim da campanha de Talavera, foram na sua grande parte mandados reunir novamente entre finais de agosto e novembro do mesmo ano. Em fevereiro de 1810 quase todos os regimentos estavam preparados para entrar em campanha. Mas eram cinquenta e não os regulamentares quarenta e oito. Os Regimentos de Milícias de Faro e de Torre de Moncorvo, tendo sido mobilizados em 1808, durante a sublevação nacional, não foram extintos em 1809, mantendo-se ativos pelo menos até 1813.

Seis regimentos, dois do Algarve e os quatro do Alentejo, tiveram por missão guarnecer as fortalezas desta província, ficando o Regimento de Milícias de Tavira no Algarve. Os doze regimentos da Estremadura guarneceram a fortaleza de Abrantes (2), Lisboa (3) e a zona onde já se estavam a construir as posições defensivas a norte de Lisboa, em Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras (2). Os Regimentos de Milícias de Setúbal e de Alcácer do Sal deviam reforçar a guarnição de Elvas e os regimentos de Leiria, Santarém e Tomar, mandados reunir somente a 13 de fevereiro, ficaram nas sedes dos respetivos distritos. Em 18 de fevereiro, serão reunidos, sob o comando do coronel Lecor, ao Regimento de Infantaria n.º 13 (de Peniche). Dos dez regimentos da Beira, só seis estavam mobilizados em fevereiro. Destes, três guarneciam a praça de Almeida e três (os da Covilhã, Idanha e Castelo Branco) estavam à disposição do tenente-coronel John Wilson nas imediações de Castelo Branco. Os quatros restantes só foram mandados reunir nos meses seguintes sendo dirigidos para diferentes posições defensivas. As Milícias do Minho não foram todas mobilizadas em inícios de 1810, só uma parte tendo atividade ao longo da terceira invasão francesa. O Regimento de Milícias de Basto foi mandado reunir somente em Julho e enviado para Valença; o de Vila do Conde começou o ano em Melgaço, tendo-se mantido em Vila do Conde de finais de 1810 até finais de 1811, quando foi licenciado. Os Regimentos de Braga, da Barca, de Viana e dos Arcos fizeram parte da guarnição da fortaleza de Valença, sendo que o último, mais tarde, separado em dois foi transferido para Monção e Melgaço. Só os Regimentos de Milícias de Guimarães e Barcelos entraram em campanha mantendo-se na Beira Alta na retaguarda do exército invasor francês. Os regimentos de Milícias do Partido do Porto irão ver bastante mais ação, tirando dois dos seus oito regimentos: o da Figueira, que tendo sido licenciado em 15 de maio de 1809 e reunido de novo durante os meses de outubro e novembro de 1809, só voltará a ser mobilizado em janeiro de 1811, e o da Feira que tendo-se separado da divisão do coronel Trant após a batalha do Buçaco – "por ter fugido" –, guarneceu as "Linhas de Lisboa" de outubro de 1810 a fevereiro de 1811. Os outros seis – Aveiro, Coimbra, Maia, Oliveira de Azeméis, Penafiel e Porto – formaram uma divisão que esteve permanentemente em campanha. As Milícias de Trás os Montes foram chamadas de novo às armas em outubro de 1809, com exceção do regimento de Vila Real que foi reunido em 10 de novembro. Em junho de 1810 os batalhões mobilizados dos cinco regimentos estavam concentrados em Bragança às ordens do general Silveira, preparados para defender a sua província.

 

continuação

 

 

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