Discurso de Salazar
no momento de entrar definitivamente para o governo como Ministro das
Finanças, lugar que só abandonou em 1940.
A sua participação na política tinha sido até aí
escassa. Convidado, em 1918, por Sidónio Pais para secretário no
Ministério das Finanças, recusara. Em 1921 fora eleito deputado, mas
segundo parece só se apresentou no Palácio de São Bento uma única vez.
Em 1926 fora escolhido, pela primeira vez, para Ministro das Finanças, mas
um desentendimento com o primeiro-ministro da altura fez com que se
demitisse.
Salazar foi chamado novamente em 1928, devido ao falhanço
das negociações de um empréstimo de 12
milhões de libras, devido à não aceitação pelo governo português das
condições draconianas impostas pela Sociedade das Nações para aprovar o empréstimo.
Neste discurso Salazar explicita claramente quais foram as
suas exigências para aceitar regressar ao governo, e que não é mais do
que a instauração de uma Ditadura das finanças, acabando proferindo a
célebre frase: "sei
muito bem o que quero e para onde vou."
Em 5 de Julho de 1932 foi nomeado Chefe do Governo, lugar que
manteve até 6 de Setembro de 1968.
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SR.
PRESIDENTE DO MINISTÉRIO *:
Duas palavras apenas, neste momento que V. Exa., os meus ilustres colegas e
tantas pessoas amigas quiseram tornar excepcionalmente solene.
Agradeço
a V. Exa. o convite que me fez para sobraçar a pasta das Finanças, firmado no
voto unânime do Conselho de Ministros, e as palavras amáveis que me dirigiu.
Não tem que agradecer-me ter aceitado o encargo, porque representa para mim tão
grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém. Faço-o ao
meu País como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido.
Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza
de que ao menos poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as
condições dum trabalho eficiente. V. Exa. dá aqui testemunho de que o Conselho de
Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e assentou numa
forma de íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo
nalguns casos outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no
actual momento. Esse método de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:
a)que cada Ministério se compromete a
limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que lhes seja
atribuída pelo Ministério das Finanças;
b)
que as medidas tomadas pelos vários
Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do Estado, serão
previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;
c)
que o Ministério das Finanças pode opor
o seu «veto» a todos os aumentos de despesa corrente ou ordinária, e ás
despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito
indispensáveis;
d)
que o Ministério das Finanças se
compromete a colaborar com os diferentes Ministérios nas medidas relativas a
reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar,
tanto quanto possível, segundo critérios uniformes.
Estes
princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade
decidida de regularizar por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida
económica nacional.
Debalde
porém se esperaria que milagrosamente, por efeito de varinha mágica, mudassem
as circunstâncias da vida portuguesa. Pouco mesmo se conseguiria se o País não
estivesse disposto a todos os sacrifícios necessários e a acompanhar-me com
confiança na minha inteligência e na minha honestidade – confiança absoluta mas
serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos. Eu o
elucidarei sobre o caminho que penso trilhar, sobre os motivos e a significação
de tudo que não seja claro de si próprio; ele terá sempre ao seu dispor todos
os elementos necessários ao juízo da situação.
Sei
muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em
poucos meses. No mais, que o País estude, represente, reclame, discuta, mas que
obedeça quando se chegar à altura de mandar.
A
acção do Ministério das Finanças será nestes primeiros tempos quási
exclusivamente administrativa, não devendo prestar larga, colaboração ao Diário
do Governo. Não se julgue porém que estar calado é o mesmo que estar inactivo.
Agradeço
a todas as pessoas que quiseram ter a gentileza de assistir à minha posse a sua
amabilidade. Asseguro-lhes que não tiro desse acto vaidade ou glória, mas
aprecio a simpatia com que me acompanham e tomo-a como um incentivo mais para a
obra que se vai iniciar.
Nota:
General Vicente de Freitas.