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O presidente dos EUA John Kennedy (E), com o presidente da Câmara Willy Brandt (C) e o chanceler da Alemanha Konrad Adenauer, em Berlim, em 29 de Junho de 1963. |
DISCURSO DE JOHN F. KENNEDY: "ICH BIN EIN BERLINER!" Lido em Berlim Ocidental, no dia 29 de Junho de 1963, durante a visita a Berlim Ocidental, durante a crise criada pela construção do Muro.
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A visita de John Kennedy a Berlim ocidental veio no seguimento das difíceis relações que o presidente norte-americano manteve com a União Soviética ao longo da sua Presidência. Relações que tinham tido um começo atribulado, logo no início do seu mandato com o começo da construção do Muro de Berlim, em Agosto de 1961, e continuado na Crise dos Mísseis, em Outubro de 1962. A visita serviu para assegurar aos alemães e aos franceses, partidários de uma resposta dura à crise de Berlim, e aos europeus em geral o empenhamento dos EUA na defesa da Europa Ocidental, após ter conseguido resolver o conflito bilateral que tinha tido com a URSS. O discurso integra temas de outros célebres textos políticos. O trecho sobre ver-se para além do local ou do momento presente é claramente devedor do discurso de Lincoln proferido em Gettysburg. O tema da liberdade e da escravidão é sugerido pela «Declaração da Independência» redigido por Jefferson. O tema da Democracia deve-se a Winston Churchill. E finalmente, a frase latina uma referência clara a Cícero. |
"O que é válido para esta cidade, é válido para a Alemanha – não se pode assegurar uma paz clara e duradoura na Europa enquanto for negado a um em cada quatro alemães o direito elementar dos homens livres, que é o de poder decidir livremente."
Tenho
orgulho em visitar esta cidade como hóspede do vosso distinto presidente
da Câmara,1
que tem simbolizado em todo o Mundo o espírito combativo de Berlim
Ocidental. E estou orgulhoso de visitar a República Federal,
com o vosso distinto chanceler2
que durante tantos anos tem conduzido a Alemanha à Democracia, à
Liberdade e ao Progresso, e vir aqui em companhia do meu compatriota,
general Clay, que esteva na cidade durante os seus grandes momentos de
crise e que regressará se assim for necessário3. Há dois
mil anos o maior orgulho era poder dizer-se: Civis
Romanus Sum [Sou cidadão romano]. Hoje, no
Mundo Livre, o maior orgulho é poder dizer-se: Ich
bin ein Berliner [Sou um berlinense]4. Agradeço
ao meu intérprete ter traduzido o meu alemão! Há muita
gente no Mundo inteiro que de facto não percebe, ou diz não perceber,
qual é o grande problema existente entre o Mundo Livre e o Mundo
Comunista. Que venham a Berlim! Alguns
dizem que o Comunismo é o futuro. Que venham a Berlim! Há aqueles
que dizem, na Europa ou noutros lugares, que pudemos trabalhar com os
comunistas. Que venham a Berlim! Há mesmo
uns poucos que dizem: que é verdade que o Comunismo é um sistema maléfico,
mas que permite o progresso económico. Lass'
sich nach Berlin kommen. Que venham a Berlim! A Liberdade
enfrenta muitas dificuldades e a Democracia não é perfeita5,
mas nunca tivemos que erguer um muro para aprisionar a nossa população,
impedindo-a de nos abandonar. Quero afirmar, em nome dos meus
compatriotas, que vivem a muitos quilómetros de distância, do outro lado do Atlântico,
bem longe de vocês, que eles têm um grande orgulho em ter partilhado
convosco, mesmo que à distância, a história destes últimos dezoito
anos. Não conheço vila ou cidade, que tenha sido cercada durante dezoito
anos, que tenha mantido a vitalidade e a
energia, a esperança e a determinação da cidade de Berlim Ocidental6.
O Muro é a mais óbvia e clara demonstração do falhanço do Comunismo,
que todo o Mundo pode constatar, mas não temos nenhum prazer neste facto,
porque é – como disse o vosso presidente da câmara – uma ofensa, não só
contra a história, mas contra a Humanidade, separar famílias, dividir maridos e mulheres, irmãos e irmãs,
dividir um povo que se quer unir. O que é válido
para esta cidade, é válido para a Alemanha – não se pode assegurar
uma paz clara e duradoura na Europa enquanto for negado a um em cada
quatro alemães o direito elementar dos homens livres, que é o de poder
decidir livremente. Em dezoito anos de paz e boa-fé, esta geração de
alemães ganhou o direito a ser livre, incluindo o direito de reunir as suas famílias e
o seu país, em paz duradoura e com boa vontade para
com todos os povos. Vivem numa ilha de liberdade defendida, mas a vossa vida faz parte do
todo. Por isso deixem-me pedir-vos, ao terminar, que vejam, com os vossos
próprios olhos, para lá dos perigos actuais, as expectativas futuras;
para lá da mera liberdade da cidade de Berlim, ou do vosso país – a
Alemanha –, o avanço da liberdade por todo o lado, para lá do Muro,
para lá de vós e nós próprios, até ao dia da paz justa para toda a
humanidade. A liberdade
é indivisível, e quando um homem é escravizado, ninguém é livre.
Quando todos formos livres, então poderemos vislumbrar o dia em que esta
cidade será unificada e este país e este grande Continente da Europa
viverão num mundo pacífico e confiante. Quando esse dia finalmente
chegar – e chegará – o povo de Berlim Ocidental poderá legitimamente
mostrar-se orgulhoso de ter estado na linha da frente durante quase duas décadas. Todos os
homens livres, onde quer que vivam, são cidadãos de Berlim, e, por isso,
enquanto homem livre, tenho orgulhoso em dizer: Ich
Bin ein Berliner.
3.
General Lucius D. Clay (1897-1978), foi governador militar
adjunto da Alemanha ocupada em 1945. Dois anos mais tarde foi nomeado
comandante das forças militares americanas na Europa e governador da
zona de ocupação americana na Alemanha, sendo durante o seu tempo de
comando que se deu o bloqueio soviético à zona ocidental de Berlim,
em 1948-1949, e a ponte aérea que abasteceu a população da cidade.
De 1961 a 1962 tinha sido representante pessoal de Kennedy em Berlim
ocidental, devido aos problemas criados pela construção do Muro.
4.
Sou um berlinense e não, como se tem dito, sou uma “bola de
Berlim”. Não há de facto erro gramatical nenhum, nesta frase, que
implique que ela pudesse ser interpretada como se referido ao
tradicional bolo de Berlim, e
não à condição de cidadão de Berlim. Os risos da multidão,
posteriores, foram
provocados pela frase seguinte do discurso, quando o presidente
agradeceu a tradução pelo intérprete do que acabou de dizer em
alemão, provavelmente devido à sua má dicção.
5.
Referência provável a um célebre discurso de Churchill, proferido
em 11 de Novembro de 1947 na Câmara dos Comuns, quase sempre mal
interpretado, em que o primeiro-ministro britânico afirmou que todos
os tipos de governo são maus, sendo a democracia o menos mau de
todos. Uma afirmação clara, natural e típica de um político
liberal, mesmo que dirigente do Partido Conservador britânico, sobretudo de um antigo membro do partido Whig (liberal)
britânico.
6.
É uma referência, muito criticada na altura, à existência de uma cidade
Ocidental separada da parte Oriental, pondo em causa os tratados que
defendiam o governo conjunto da cidade sob o controlo das quatro grandes potências vencedoras da Alemanha nazi: os Estados Unidos, a
União Soviética, a Grã-Bretanha e a França.
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A lista completa ordenada cronologicamente.
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