D. Pedro I, Imperador do Brasil
DISCURSO de D. Pedro i, imperador do Brasil
Primeiro discurso oficial de D. Pedro, enquanto imperador do Brasil, abrindo os trabalhos da Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa brasileira, em 3 de Maio de 1823.
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Longe de ter «criado» voluntariamente o Brasil, Portugal combateu com
todas as forças militares de que pôde dispor a independência do seu
território na América. Só depois de muitas expedições militares contra
a antiga colónia, proclamada estado independente em 1815, e que as
Cortes Constituintes queriam fazer voltar à situação de Colónia, e da
constatação da impossibilidade de reconquistar aquele imenso território,
após a declaração de independência, é que Portugal aceitou, por intermédio de D. João VI, e da forte pressão
diplomática da Grã-Bretanha, reconhecer a independência do Brasil, em
1825. E, de facto, à data do discurso, a Baía ainda estava ocupada por tropas portuguesas, comandadas pelo general Madeira de Melo, e apoiadas pela esquadra de Pereira de Campos. As forças militares portuguesas só abandonaram aquela cidade brasileira em 2 de Julho. Este discurso de D. Pedro explica bem, do ponto de vista brasileiro, a sequência de acontecimentos que levaram à declaração da independência, da declaração do «Fico!», passando pelo «Grito do Ipiranga», até à reunião da Assembleia Constituinte, que tendo redigido um projecto de Constituição foi dissolvida, como o imperador já mostrava poder vir a acontecer neste discurso, sem ter aprovado uma Constituição, que acabou por ser outorgada por D. Pedro em 25 de Março de 1824. O Portugal vintista não tinha compreendido que não poderia voltar atrás no tempo, e que não conseguiria realizar no Brasil o que a Grã-Bretanha não tinha também conseguido fazer 30 anos antes na América do Norte. |
«Uma Constituição, que pondo barreiras inacessíveis ao despotismo, quer
Real, quer Aristocrático , quer Democrático, afugente a anarquia, e plante
a árvore daquela liberdade, a cuja sombra deve crescer a União,
Tranquilidade, e lndependência deste Império». Dignos representantes da Nação brasileira. É hoje o dia maior, que o Brasil tem tido; dia, em que ele
pela primeira vez começa a mostrar ao Mundo, que é Império, e Império
livre. Quão grande é Meu prazer, Vendo juntos Representantes de quase
todas as Províncias fazerem conhecer umas às outras seus interesses, e
sobre eles basearem uma justa e liberal Constituição, que as seja. Deveríamos
já ter gozado de uma Representação Nacional: mas a Nação não
conhecendo à mais tempo seus verdadeiros interesses, ou conhecendo-os, e não os podendo patentear, vista a força, e predomínio do
partido Português, que sabendo muito bem a que ponto de fraqueza, pequenez
, e pobreza Portugal já estava reduzido, e ao maior grau a que podia chegar
de decadência, nunca quis consentir (sem embargo de proclamar Liberdade ,
temendo a separação) que os Povos do Brasil gozassem de uma Representação
igual aquela, que eles então tinham. Enganaram-se nos seus planos
conquistadores, e desse engano nos provem toda a nossa fortuna. O Brasil, que por espaço de trezentos, e tantos anos sofreu
o indigno nome de Colónia, e igualmente todos os males provenientes do
sistema destruidor então adoptado, logo que o Senhor D. João VI, Rei de
Portugal, e Algarve., Meu Augusto Pai o elevou à categoria de Reino pelo
Decreto de 16 de Dezembro de 1815, exultou de prazer; Portugal bramiu de
raiva, tremeu de medo. O contentamento, que os Povos deste vasto Continente
mostraram nessa ocasião, foi inaudito: mas atrás desta medida política não
veio, como devia ter vindo, outra, qual era a convocação de uma
Assembleia, que organizasse o novo Reino. O Brasil sempre sincero no seu modo de obrar, e mortificado
por haver sofrido o jugo de ferro por tanto tempo antes, e mesmo depois de
tal medida, imediatamente, que em Portugal se proclamou a Liberdade, o
Brasil gritou Constituição Portuguesa; assentando, que por esta prova, que
dava de confiança a seus pseudo Irmãos, seria por eles ajudado a livrar-se
dos imensos vermes, que lhe roíam suas entranhas; não esperando nunca ser
enganado. Os Brasileiros que verdadeiramente amavam seu País jamais
tiveram a intenção de se sujeitarem a Constituição, em que todos não
tivessem parte, e cujas vistas eram de os converter repentinamente de homens
livres, em vis escravos. Contudo, os obstáculos, que antes de 26 de Abril
de 1821 se opunham à Liberdade Brasileira, e que depois continuaram a
existir sustentados peta Tropa Europeia. fizeram com que estes Povos temendo
que não pudessem gozar de uma Assembleia sua, fossem pelo amor da
Liberdade, arrastados a seguir as infames Cortes de Portugal, para ver se,
fazendo, tais sacrifícios, poderiam deixar de ser insultados pelo seu
partido demagógico, que predominava nesse Hemisfério. Nada disto valeu: fomos maltratados pela Tropa Europeia de
tal modo, que Eu Fui obrigado a fazê-la passar há outra banda do Rio;
pu-la em sitio, mandá-la embarcar, e sair barra fora, para salvar a honra
do Brasil, e podermos gozar daquela Liberdade, que devíamos, e queríamos
ter, para a qual debalde trabalharíamos por possui-la, se entre nós
consentíssemos um partido heterogéneo à verdadeira Causa. Ainda bem não estávamos livres destes inimigos quando
poucos dias depois aportou outra Expedição, que de Lisboa nos era enviada
para nos proteger; Eu Tomei sobre Mim proteger este Império, e não a
Recebi. Pernambuco fez o mesmo e a Baía, que foi a primeira em aderir a
Portugal, em prémio da sua boa fé , e de ter conhecido tarde qual era o
verdadeiro trilho, que devia seguir, sofre hoje crua guerra dos Vândalos, e
sua Cidade, só por eles ocupada, está a ponto de ser arrasada quando nela
se não possam manter. Eis em suma a Liberdade, que Portugal apetecia dar ao Brasil;
ela se convertia para nós em escravidão, e faria a nossa ruína total, se
continuássemos a executar suas ordens, o que aconteceria, a não serem os
heróicos esforços, que por meio de representação fizeram primeiro que
todos, a Junta do Governo de S. Paulo. depois a Câmara desta Capital, e após
destas todas as mais Juntas de Governos, e Câmaras; implorando a Minha
ficada. Parece-Me, que o Brasil seria desgraçado, se Eu as não Atendesse,
como Atendi: bem Sei, que este era Meu dever, ainda que expusesse Minha
Vida; mas como era em defesa deste Império, estava pronto, assim como hoje,
e sempre se for preciso. Mal unira acabado de Proferir estas Palavras: «Como é para
o bem de todos, e felicidade geral da Nação, diga ao Povo que Fico:»
recomendando-lhe ao mesmo tempo «União e Tranquilidade.» Comecei
imediatamente a tratar de Nos pormos em estado de sofrer os ataques de
nossos inimigos até aquela época encobertos, depois desmacarados, uns
entre nós existentes, outros nas Democráticas Cortes Portuguesas;
providenciando por todas as Secretarias, especialmente pela do Império e
Negócios Estrangeiros as medidas. que dita a prudência, que Eu cale agora,
para vos serem participadas pelos diferentes Secretários de Estado em tempo
conveniente. As circunstâncias do Tesouro Público eram as piores, pelo
estado a que ficou reduzido, e muito principalmente, porque até a quatro,
ou cinco meses foi somente Provincial. Visto isto, não era possível
repartir o dinheiro, para tudo quanto era necessário, por ser pouco, para
se pagar a Credores, a Empregados em efectivo serviço, e para sustentação
da Minha Casa, que despendia uma quarta parte da do Rei, Meu Augusto Pai. A
dele excedia quatro milhões; e a Minha não chegava a um. Apesar da diminuição
ser tão considerável, assim mesmo Eu não Estava a contente, quando Via,
que a despesa, que Fazia, era muito desproporcionada à Receita, a que o
Tesouro estava reduzido, e por isso Me limitei a viver como um simples
particular, percebendo tão somente quantia de 110.000$000 reis para todas
as despesas da Minha Casa, exceptuando a mesada da Imperatriz, Minha muito
Amada, e prezada Esposa, que Lhe era dada em consequência de ajustes de
Casamento. Não satisfeito com fazer só estas pequenas economias na
Minha Casa, por onde Comecei, Vigiava sobre todas as Repartições, como era
Minha Obrigação, Querendo modificar. também suas despesas, e obstar seus
extravios. Sem embargo de tudo, as rendas não chegavam; mas com pequenas
mudanças de indivíduos não afectos à Causa deste Império, e só ao
infame partido Português, que continuamente nos estavam atraiçoando, por
outros, que de todo o seu coração amavam o Brasil, uns por nascimento, e
princípios outros por estarem intimamente convencidos, que a Causa era a da
Razão. Consegui, (e com quanta glória o Digo ) que o Banco, que tinha
chegado a ponto de ter quase perdido a fé pública, e estar por momentos a
fazer bancarrota, tendo ficado no dia, em que o Senhor D. João VI saiu a
barra duzentos contos em moeda, única quantia para troco de suas Notas,
restabelecesse seu crédito de tal forma, que não passa pela imaginação a
indivíduo algum, que ele um dia possa voltar ao triste estado, a que o
haviam reduzido: que o Tesouro Público, apesar de suas demasiadas despesas,
as quais deviam pertencer a todas as Províncias, e que ele só fazia, tendo
ficado desacreditado, e exausto totalmente, adquirisse um crédito tal, que
já soa na Europa, e tanto dinheiro, que a maior parte dos seus Credores,
que não eram poucos, nem de pequenas quantias, tenham sido satisfeitos de
tal forma, que suas casas não tenham padecido: que os Empregados Públicos
estejam em dia, assim como os Militares em efectivo serviço: que as mais
Províncias, que têm aderido à Causa Santa, não por força, mas por
convicção (que Eu amo a justa liberdade) tenham sido fornecidas de todos
os apetrechos de guerra para sua defesa, grande parte deles comprados, e
outros do que existiam nos Arsenais. Além disto têm sido socorridas com
dinheiro, por não chegarem suas rendas para as despesas, que deviam fazer. Em suma Consegui, que a Província rendesse onze para doze
milhões, sendo o seu rendimento anterior à saída de Meu Augusto Pai de
seis a sete, quando muito. Nestas despesas extraordinárias entram também fretes de
navios das diferentes Expedições, que deste Porto regressaram para o de
Lisboa, compras de algumas Embarcações, e concertos de outras, pagamentos
a todos os Empregados Civis, e Militares, que em Serviço aqui tem vindo, e
aos expulsos das Províncias, por paixões particulares, e tumultos, que
nelas tem havido. Grandes foram sem dúvida as despesas; mas contudo , ainda se
não lançou mão da Caixa dos Dons gratuitos, e Sequestros das propriedades
dos ausentes por opiniões políticas, da Caixa do Empréstimo que se
contraiu de 400.000$000 reis para compra de Vasos de guerra, que se faziam
urgentemente necessários para defesa deste Império, o que tudo existe em ser, e da Caixa da Administração dos Diamantes. Em todas as Administrações se faz sumamente precisa uma
grande reforma: mas nesta da Fazenda, ainda muito mais por ser a principal
mola do Estado. O Exército não tinha nem armamento capaz, nem gente, nem
disciplina: de armamento está pronto perfeitamente; de gente vai-se
completando, conforme o permite a população: e de disciplina em breve
chegará ao auge, já sendo em obediência o mais exemplar do mundo.
Por duas vezes tenho Mandado socorros à Província da Baía, um de
210 homem, outro de 735 compondo um Batalhão com o nome de «Batalhão do
Imperador» o qual em oito dias foi escolhido, se aprontou, e partiu. Além disto foram criados um Regimento de Estrangeiros, e um
Batalhão de Artilharia de Libertos, que em breve estarão completos. No Arsenal do Exército tem se trabalhado com toda
actividade, preparando-se tudo quanto tem sido preciso para defesa das
diferentes Províncias, e todas desde a Paraíba do Norte até Montevideu
receberam os socorros, que pediram. Todos os reparos de Artilharia das Fortalezas desta Corte,
estavam totalmente arruinados; hoje acham-se prontos; imensas obras de que
se carecia dentro do mesmo Arsenal, se fizeram. Pelo que toca a Obras militares; repararam-se as muralhas de
todas as Fortalezas; e fizeram-se algumas totalmente novas. Construíram-se
em diferentes pontos os mais apropriados para neles, se obstar a qualquer
desembarque, e mesmo em gargantas de serra, a qualquer passagem do inimigo
no caso de haver desembarcado [o que não será fácil ] entrincheiramentos,
fortins, redutos, abatizes, e baterias rasas. Fez-se mais o Quartel da
Carioca; prepararam-se todos os mais Quartéis; está quase concluído o da
Praça da Aclamação, e em breve se acabará, o que se mandou fazer para
Granadeiros. A Armada constava somente da Fragata Piranga, então chamada
União, mal pronta; da Corveta Liberal só em casco; e de algumas muito
pequenas, e insignificantes Embarcações. Hoje acha-se composta da Nau D.
Pedro I, Fragatas Piranga, Carolina, e Niterói – Corvetas
Maria da Glória
e Liberal prontas; e de uma Corveta nas Alagoas, que em breve aqui aparecerá
com o nome de Massaió; e dos Brigues de guerra Guanari pronta,
Cacique, e
Caboclo em concerto, – diferentes em Comissões; assim como também várias
Escunas. Espero seis Fragatas de 50 peças prontas de gente, e
armamento, e de tudo quanto é necessário para combate, para cuja compra já
Mandei Ordem. Parece-Me que o custo não excederá muito a trezentos contos
de reis, segundo o que Me foi participado. Obras no Arsenal da Marinha fizeram-se as seguintes.
Concertaram-se todas as Embarcações, que actualmente estão em serviço.
Fizeram-se Barcas Canhoneiras, e muitas mais, que não Enumero por pequenas;
mas que com tudo somadas montam a grande número, e importância. Pretendo, que este ano no mesmo lugar, em que se não fez por
espaço de treze, mais do que calafetar, tingar e atamancar Embarcações,
enterrando somas considerabilíssimas, de que o Governo podia muito bem
dispor com suma utilidade Nacional, se ponha a quilha de uma Fragata de 40 peças, que a não faltarem os cálculos ,que
Tenho feito, as Ordens, que Tenho dado, e as medidas, que para isso Tenho
tomado, Espero seja concluída por todo este ano, ou meados do que vem,
pondo-lhe o nome de Campista. Quanto a Obras públicas muitas se têm feito. Pela Polícia
reedificou-se o Palacete da Praça da Aclamação; privou-se esta extensa
Praça de inundações, tornando-se um passeio agradável, havendo-se calçado
por todos os lados, além das diferentes travessas que se vão fazendo para
mais embelezá-la. Concertou-se a maior parte dos Aquedutos da Carioca e
Maracanã. Repararam-se imensas pontes, umas de madeira, outras de pedra; e
além disto tem-se feito muitas totalmente novas; também se concertaram
grande parte das estradas Apesar do exposto, e de muito mais em que não Toco, seu
cofre, que estava em Abril de 1821 devedor de 60 contos de reis hoje não só
não deve; mas tem em ser sessenta, e tantos mil cruzados. Por diferentes Repartições fizeram-se as seguintes Obras.
Aumentou-se muito a Tipografia Nacional. Concertou-se grande parte do
Passeio Público. Reparou-se se e Casa do Museu, enriqueceu-se muito com
minerais, e fez-se uma Galeria com excelentes pinturas, umas que se
compraram, outras, que havia no Tesouro Público, e outras, Minhas, que lá
Mandei colocar. Tem-se trabalhado com toda a força no cais da Praça do Comércio,
de modo que esta quase concluído. As calçadas de todas as ruas da Cidade
foram feitas de novo, e em breve tempo fez-se esta Casa da Assembleia, e
todas as mais que a ela estão juntas, foram prontificadas pare este mesmo
fim. Imensas Obras, que uno silo do toque destas, se tem
empreendido, começado, e acabado, que Eu Omito, para não fazer o Discurso
nimiamente longo. Tenho promovido os estudos públicos, quanto é possível,
porém necessita-se para isto de uma Legislação particular. Fez-se o
seguinte – Comprou-se para engrandecimento da Biblioteca Pública uma
grande colecção de livros dos de melhor escolha: aumentou-se o número das
Escolas, e algum tanto o Ordenado de seus Mestres permitindo-se além disto
haver um sem número delas particulares: Conhecendo a vantagem do Ensino Mútuo
também Fiz abrir uma Escola pelo método Lancasteriano. O Seminário de S. Joaquim, que seus fundadores tinham
criando para educação da mocidade, achei-o servindo de Hospital da Tropa
Europeia: Fi-lo abrir na forma de sua Instituição, e havendo Eu Concedido
à Casa da Misericórdia , e roda dos Expostos (de que abaixo Falarei) uma
Lotaria para melhor se puderem manter Estabelecimentos de tão grande
utilidade, Determinei ao mesmo tempo, que uma quota parte desta mesma
Lotaria fosse dada ao Seminário de S. Joaquim, para que melhor se pudesse
conseguir o útil fim, para que fora destinado por seus honrados fundadores.
Acha-se hoje com imensos Estudantes. A primeira vez, que Fui à roda dos Expostos Achei (parece
impossível) 7 crianças com 2 amas; nem berços, nem vestuário, Pedi o
mapa, e Vi, que em 13 anos, tinham entrado perto de 12$, e apenas tinham
vingado 1$, não sabendo a Misericórdia verdadeiramente, aonde elas se
achavam. Agora com a concessão da Lotaria; edificou-se uma Casa própria
para tal Estabelecimento, aonde há trinta, e tantos berços, quase tantas
amas, quantos Expostos; e tudo em muito melhor administração. Todas estas
coisas, de que acima Acabei de Falar, devem merecer-vos suma consideração. Depois de ter arranjado esta Província, e Dado imensas
providências para as outras, Entendi, que devia Convocar , e Convoquei
por Decreto de 16 de Fevereiro do ano próximo passado um Conselho ele Estado composto de Procuradores
Gerais, eleitos pelos Povos, Desejando que eles tivessem quem os
representasse junto de Mim, e ao
mesmo tempo quem Me aconselhasse, e Bem custoso seguramente Me tem sido, que o Brasil até agora
não gozasse de Representação Nacional; e Ver-Me Eu por força de circunstâncias
Obrigado a Tomar algumas medidas legislativas; elas nunca parecerão, que
foram tomadas por ambição de legislar, arrogando um poder, em o qual
somente Devo Ter parte; mas sim, que foram tornadas para salvar o Brasil,
visto que a Assembleia, quanto a umas não estava convocada quanto a outras,
não estava ainda junta, e residiam então de facto, e de direito, vista a
Independência total do Brasil de Portugal, os três Poderes no Chefe
Supremo da Nação, muito mais sendo Ele Seu Defensor Perpétuo. Embora algumas medidas parecessem demasiadamente fortes, como
o perigo era iminente, os inimigos, que Nos rodeavam imensos (e provera a
Deus que entre Nós ainda não existissem tantos) cumpria serem
proporcionadas. Não Me Tenho poupado, nem pouparei a trabalho algum, por
maior que seja, contanto que dele provenha um ceitil de felicidade para a Nação. Quando os Povos da Rica, e Majestosa Província de Minas
estavam sofrendo o férreo jugo do seu deslumbrado Governo, que a seu arbítrio
dispunha dela, e obrigava seus pacíficos, e mansos habitantes a
desobedecerem-Me, Marchei para lá com os Meus Criados somente. Convenci o
Governo, e seus sequazes do crime, que tinham perpetrado, e do erro, em que
pareciam querer persistir; Perdoei-lhes, porque o crime era mais em ofensa a
Mim, do que mesmo à Nação, por estarmos ainda naquele tempo unidos a
Portugal. Quando em S. Paulo surgiu dentre o brioso Povo daquela Agradável,
e Encantadora Província, um partido de Portugueses, e Brasileiros
degenerados, totalmente afeitos às Cortes do desgraçado, e encanecido
Portugal, Parti imediatamente para a Província, Entrei sem, receio porque
Conheço; que todo o Povo Me ama, Dei as providencias, que Me pareceram
convenientes, a ponto que a nossa Independência lá foi primeiro, que em
parte alguma, proclamada no sempre memorável sítio do Piranga. [sic] Foi na Pátria do fidelíssimo, e nunca assaz louvado Amador
Bueno de Ribeira aonde pela primeira vez Fui Aclamado Imperador. Grande tem sido seguramente o sentimento, que enluta Minha
Alma, por não Puder Ir à Baía , como já Quis,
a não Executei, Cedendo às Representações da Meu Conselho de
Estado, misturar Meu sangue com o daqueles guerreiros, que tão
denodadamente tem pelejado pela Pátria. A todo o custo, até arriscando a Vida, se preciso for,
Desempenharei o Título, com que os Povos deste Vasto, e Rico Continente em
13 de Maio do ano pretérito, Me honraram de Defensor Perpétuo do Brasil.
Este Título penhorou muito mais Meu Coração, do que quanta glória
Alcancei com a espontânea, e unânime Aclamação de Imperador deste
invejado Império. Graças sejam dadas à Providência, que vemos hoje a Nação
representada por tão dignos Deputados. Oxalá, que a mais tempo pudesse ter
sido; mas as circunstâncias anteriores, ao Decreto de 3 de Junho não o
permitiam, assim como depois as grandes distâncias, a falta de amor da Pátria
em alguns , e tolos aqueles incómodos, que em longas viagens se sofrem ,
principalmente num País tão novo, e extenso, como o Brasil, são quem tem
retardado esta apetecida, e necessária junção apesar de todas as
recomendações, que Fiz de brevidade por diferentes vezes. Afinal raiou o grande Dia para este vasto Império, que fará
época na sua história. Está junta a Assembleia para constituir a Nação.
Que prazer! Que fortuna para todos Nós! Como Imperador Constitucional, e muito especialmente como Defensor Perpétuo deste Império, Disse ao Povo no Dia 1.º de Dezembro do ano próximo passado, em que, Fui Coroado, e Sagrado , «Que com a Minha Espada Defenderia a Pátria, a Nação, e a Constituição, se fosse digna do Brasil , e de Mim» Ratifico hoje muito solenemente perante vós esta promessa, e Espero, que Me ajudeis a desempenhá-la, fazendo uma Constituição sábia , justa , adequada, e executável, ditada pela Razão, e não pelo capricho que tenha em vista somente a felicidade geral, que nunca pode ser grande, sem que esta Constituição tenha bases sólidas , bases, que a sabedoria dos séculos tenha mostrado, que são as verdadeiras, para darem uma justa liberdade aos Povos, e toda a força necessária ao Poder executivo. Uma Constituição, em que os três Poderes sejam bem divididos de forma; que não possam arrogar direitos, que lhe não compitam, mas que sejam de tal modo organizados, e harmonizados, que se lhes torne impossível, ainda pelo decurso do tempo, fazerem-se inimigos, e cada vai mais concorram de mãos dadas para a felicidade geral do Estado. A final uma Constituição, que pondo barreiras inacessíveis ao despotismo, quer Real, quer Aristocrático , quer Democrático, afugente a anarquia, e plante a árvore daquela liberdade, a cuja sombra deve crescer a União, Tranquilidade, e lndependência deste Império, que será o assombro do Mundo novo, e velho. Todas as Constituições, que à maneira das de 1791, e 92 têm
estabelecido suas bases, e se tem querido organizar, a experiência nos tem
mostrado, que são totalmente teoréticas e metafísicas, e por isso inexequíveis,
assim o prova a França, Espanha, e ultimamente Portugal. Elas não tem
feito, como deviam, a felicidade geral; mas sim, depois de uma licenciosa
liberdade, ventos, que em uns Países já apareceu, e em outros ainda não
tarda a aparecer o Despotismo em um, depois de ter sido exercitado por
muitos, sendo consequência necessária, ficarem os Povos reduzidos à
triste situação de presenciarem, e sofrerem todos os horrores da Anarquia. Longe de nós tão melancólicas recordações; elas
enlutariam a alegria, e júbilo de tão fausto Dia. Vós não as ignorais, e
Eu certo, que a firmeza dos verdadeiros princípios Constitucionais, que têm
sido sancionados; pela experiência, caracteriza cada um dos Deputados, que
compõe esta Ilustre Assembleia, Espero, que a Constituição, que façais,
mereça a Minha Imperial Aceitação, seja tão sábia, e tão justa, quanto
apropriada à localidade, e civilização do Povo Brasileiro; igualmente,
que haja de ser louvada por todas as Nações; que até os nossos inimigos
venham a imitar a santidade, e sabedoria de seus princípios, e que por fim
a executem. Uma Assembleia tão Ilustrada, e tão patriótica, olhará só
a fazer prosperar o Império, e cobri-lo de felicidades; quererá, que seu
Imperador seja respeitado, Não só pela Sua, mas pelas mais Nações: e que
o Seu Defensor Perpétuo, Cumpra Exactamente a Promessa feita no 1.º de
Dezembro do ano passado, e ratificada hoje solenissimamente perante a Nação
legalmente representada.
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Fonte:
Colecção das Leis do Império do Brasil
desde a Independência, volume I: 1822 a 1825,
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