Mário Soares, c. 1977
DISCURSO PROFERIDO PERANTE O
COMITÉ DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE COM A DEMOCRACIA E O SOCIALISMO EM
PORTUGAL,
Discurso proferido por Mário Soares no Porto no decurso da cimeira de dirigentes de partidos europeus integrados na Internacional Socialista, da própria Internacional Socialista e da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres, reunida sob o lema «A Europa connosco!».
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Em
Março de 1976 o Partido Socialista, dirigido por Mário Soares,
preparava-se activamente para as eleições de 25 de Abril de 1976 e para a
formação de um governo minoritário, já que todas as sondagens o davam
como o partido que ganharia as eleições, como de facto ganhou.
Nesta cimeira, que tinha dado origem à realização de um comício no Palácio de Cristal, e que foi muito criticada tanto pelo então PPD (Partido Popular Democrático, actual PSD), dirigido por Sá Carneiro, como pelo PCP de Álvaro Cunhal, Mário Soares dá um objectivo claro ao futuro governo do PS - a integração na CEE. |
Caros Camaradas: É uma honra e além disso uma extraordinária alegria
para o Partido Socialista e para mim, pessoalmente, poder hoje acolher-vos
no meu País, depois de ganha a batalha da liberdade e uma vez criadas as
condições para o funcionamento regular das instituições democráticas em
Portugal. Depois de durante tantos anos vos ter encontrado, nos vossos países
respectivos, na condição de exilado político, proscrito da minha própria
terra, ou de vos ter chamado a atenção, angustiado, para o risco mortal
que correu a liberdade, enfim reconquistada em Portugal, durante a dramática
prova de força que vivemos no Verão passado, ou mais precisamente entre 11
de Março e 25 de Novembro de 1975. Convocados pelo nosso grande amigo Willy Brandt,
Presidente da Comissão para a Defesa da Democracia em Portugal, criada no
quadro da Internacional Socialista, em Junho de 1975, aqui vos encontrais
hoje num país com vários problemas, decerto a maior parte deles herdados
do passado fascista, mas que marcha agora resolutamente no caminho da
estabilização política e que, após o corte cerce com um passado de
exploração colonial, que durou cinco séculos, e a vivência terrivelmente
difícil de uma descolonização feita com vinte anos de atraso, procura,
corajosamente, uma nova identidade nacional - com os olhos postos na Europa
a que pertence. Como sabeis – porque o haveis vivido, e sendo como
fostes, connosco solidários em todos os momentos – o processo revolucionário
português, apesar das crises, da tremenda complexidade, e de dificuldades
de toda a ordem, tem-se desenvolvido – sem violência. Esta moderação
efectiva, apesar dos extremismos verbais e das aparências, esta capacidade
de bom senso de que deu provas o Povo Português, capaz de parar à beira do
abismo, da violência ou da guerra civil, é uma das originalidades de que
nos orgulhamos. O nosso Partido contribuiu poderosamente para tal - como
partido aberto, tolerante e fraternal que é - e ainda por ser, pela sua
equilibrada implantação em todo o território português, continente e
ilhas, um partido verdadeiramente nacional, que sempre evitou, pela acção
coerente, as divisões esboçadas entre portugueses do norte e do sul, entre
portugueses das ilhas atlânticas e do continente. Aliás o nosso Partido apesar de jovem - oficialmente
criado durante a clandestinidade, no Congresso de Bonn, em 1973 - insere-se
numa velha tradição socialista portuguesa, que data de há mais de um século,
dado que o Partido Socialista Português, Secção Portuguesa da
Internacional Operária, foi fundado em 1875. Por isso pôde criar tão
rapidamente fundas raízes, e transformar-se, a partir das eleições de
Abril de 1975, no maior partido político português, liderando um muito
amplo movimento de massas trabalhadoras, que impediu a instauração de uma
ditadura comunista em Portugal. Hoje, mais do que nunca, é da vitalidade do
nosso Partido, da sua vocação para encarnar um projecto político
simultaneamente progressista e nacional, que depende o futuro da esquerda
portuguesa. Como sabem estamos a terminar a elaboração da Constituição,
que em princípio deverá ser promulgada até ao fim do corrente mês. Ficará
o País então dotado de um instrumento legal que institucionalizará uma
democracia aberta às conquistas sociais mais progressistas. Nos termos
dessa lei fundamental proceder-se-á a eleições legislativas marcadas para
25 de Abril de 1976, eleições presidenciais, por sufrágio directo e
universal, para 27 de Junho de 1976, e, mais tarde, com data ainda não
fixada, eleições municipais. As eleições legislativas, de uma importância
transcendente, consagrarão as grandes escolhas do eleitorado, por quatro
anos. Perante estas eleições o PS definiu uma orientação sem
ambiguidades: apresentar-se-á só, recusando quaisquer alianças, quer com
o PCP (partido que não deu até hoje suficientes provas de respeitar as
regras democráticas) quer com os partidos da direita - o PPD e o CDS, que
visam um regresso ao passado, ao feudalismo económico do passado, embora
sob o disfarce de uma democracia autoritária que nem sequer respeitaria a
pura forma. 0 Partido Socialista considera que o Povo Português,
através de uma expressiva votação, lhe dará as condições para governar
sozinho. Mas se assim não acontecer, e os partidos da direita em conjunto
vierem a obter a maioria, o Partido Socialista respeitará a escolha e
passará à oposição. Em democracia tanto se serve o país no Governo como
na Oposição. 0 Partido Socialista, que é um partido essencialmente de
trabalhadores e tem uma base operária muito forte, não está disposto a
inflectir as suas orientações programáticas e a vir a ter uma prática
política centrista para facilitar um jogo oportunista de alianças, a que
necessariamente conduziria um novo governo de coligação. Por isso
decidimos pôr o eleitorado perante uma opção extremamente simples: ou
vota em nós, de forma a podermos governar sozinhos, segundo o nosso próprio
programa, assumindo por inteiro a responsabilidade da reconstrução económica
nacional e da integração futura de Portugal na Europa - eliminando de vez
neste país as largas manchas de miséria, de ignorância e de
subdesenvolvimento, - ou passaremos à oposição para aí continuarmos a
liderar, coerentemente, as justas reivindicações do mundo do trabalho. Camaradas: O meu objectivo porém não é falar-lhes de política
interna portuguesa. O tema desta reunião é muito mais vasto: versa a
Europa e Portugal ou, no que mais especialmente nos respeita, Portugal no
actual contexto europeu. Permitam-me pois que aborde, sem outros desenvolvimentos
marginais, esse ponto. Repensar a Europa e o seu futuro é obra de todos os
europeus, povos e nações, incluindo aqueles que só marginalmente têm
participado no processo da construção europeia verdadeiramente iniciada após
o termo da segunda guerra mundial. A Europa já não é a mera expressão geográfica de um
continente. A Europa, hoje, é uma ideia em permanente evolução, dotada
duma dinâmica capaz de transcender certos particularismos nacionais e de se
situar na descoberta e na definição das aspirações comuns a todos os
povos europeus. Mais do que nunca, um europeu sente-se hoje, e para além da
sua própria nacionalidade, indissoluvelmente ligado a um conceito alargado
e dinâmico da Europa. A Europa, tal como a procuramos encarar, já existe,
já deixou o domínio das meras intenções para se alicerçar em estruturas
que procuram concretizar eficazmente a necessidade dos povos europeus de
agirem em função de uma solidariedade profundamente enraizada em
interesses comuns. Este conceito dinâmico da Europa exige que ele seja
constantemente repensado. Construir a Europa não é tarefa fácil. Muitos
obstáculos vão surgindo pelo caminho e alguns deles nascem de tradições
ligadas à vida colectiva de cada povo. Repensar a Europa e o seu futuro é
assim um dever permanente que deve ser assumido com humildade face à importância
histórica dos objectivos e que deve ser obra de todos os europeus. Portugal é também a Europa na medida em que a sua pertença
ao continente transcende a mera expressão geográfica e antes encontra as
suas razões mais válidas na integração do ambiente cultural e na evolução
ideológica que caracteriza a Europa. Somos europeus, sentimo-nos europeus e
queremos, nós portugueses, que o nosso país faça finalmente ouvir a sua
voz e participe activamente na construção da Europa. O novo Portugal está
profundamente empenhado na transformação da sociedade portuguesa em bases
democráticas e socialistas. Repensar Portugal e o seu futuro passa pelo
repensar da Europa em que Portugal se quer vir a integrar. Posso assegurar-vos que sempre que Portugal se fechou à
Europa se fechou também ao mundo, o que correspondeu a épocas de crise da
sociedade portuguesa como aquela que findou em 25 de Abril de 1974. Nos períodos mais brilhantes da sua história Portugal
abriu-se ao mundo afirmando-se como autêntico representante da cultura e da
civilização europeias, pioneiro que foi do encontro de civilizações do
Ocidente e do Oriente. Portugal levou ao mundo o melhor da cultura, da ciência
e da técnica da Europa e a novidade das artes europeias através dos seus
navegadores humanistas e homens de ciência que se formaram nas grandes
universidades da época. As fases de isolamento face à Europa
corresponderam sempre em Portugal a um empobrecimento cultural e técnico, a
decadência de estruturas sociais e um marcado depauperamento ideológico. No anterior regime os ideólogos oficiais condicionaram a
opinião pública pela asserção de que a viabilidade de Portugal como País
independente dependia da defesa «à outrance» do Ultramar. Foi afastada
assim toda e qualquer sugestão ou tentativa reformista (considerada então
como subversiva e punida como tal) que levasse à descolonização e
encaminhasse sem sobressaltos os povos coloniais para a independência,
assegurando-se do mesmo passo, a colaboração de grande número de
portugueses na construção dos novos Estados. A cegueira dos governantes de
então e a impossibilidade das classes dominantes de compreenderem o fenómeno
da emancipação dos povos coloniais provocaram dramas incontestáveis,
atrasaram o desenvolvimento económico social do povo português e explicam
em grande parte o radicalismo dos novos leaders africanos dos países
de expressão portuguesa. A história julgará os verdadeiros responsáveis
dos dramas ocasionados por uma colonização levada até ao limite dos
recursos morais e materiais de um povo. Os ideólogos do anterior regime afirmavam também como
verdade absoluta a inconveniência de todo e qualquer envolvimento directo
de Portugal nas questões europeias, valorizando a «necessidade de procurar
fora e além da Europa os pontos de apoio que não puderam encontrar no
continente», explorando a tradicional rivalidade com Castela, o perigo
hegemónico da Espanha que justificaria uma permanente reserva histórica, não
obstante o Pacto Ibérico, que mais não era do que a identificação ideológica
das ditaduras de Franco e Salazar. Hoje como ontem a problemática da inserção de Portugal
no mundo continua a ser em geral apresentada em termos dicotómicos –
Portugal País europeu ou Portugal virado para o Ultramar e agora para o
Terceiro Mundo. Começam contudo a aparecer algumas vozes que procuram
conciliar as duas orientações, realçando a nossa pertença cultural e
civilizacional à Europa, valorizando os imperativos de ordem geopolítica e
económica num entendimento saudável da necessidade de salvaguardar a
independência nacional, para daí partir num caminho realista de projecção
de Portugal em países que nos habituámos a considerar como fazendo parte
do chamado Terceiro Mundo. 0 Partido Socialista orgulha-se de ser o pioneiro desta
orientação de realismo político. Na verdade estamos conscientes de que a
sua obra para o socialismo em Portugal não poderá fazer-se abstraindo do
enquadramento europeu uma vez que afastamos os modelos de socialismo de
cariz terceiro mundista ou totalitário. A minha presença em Estrasburgo no Conselho da Europa em
Abril de 1970, na qualidade de opositor da ditadura portuguesa, foi uma das
razões que me valeu o exílio. Não estou arrependido. Pude voltar a
Estrasburgo em Setembro de 1974 na qualidade de Ministro dos Negócios
Estrangeiros e estabelecer as primeiras relações formais de Portugal com o
Conselho da Europa tendo daí já resultado várias formas de cooperação,
a última das quais foi a assinatura da Convenção Cultural Europeia por
parte do meu país. Coube-me igualmente a honra de iniciar os contactos com
a Comunidade Económica Europeia após o 25 de Abril, tanto em Bruxelas como
directamente junto da maioria dos países membros da CEE e igualmente junto
dos Governos da EFTA. Em todos esses contactos me esforcei por servir o meu
País, com o propósito de dar à Europa e ao Mundo a imagem de Portugal
renovado, mas, por outro lado, procurando o apoio europeu para a transformação
da sociedade portuguesa. O Partido Socialista nesta luta sem tréguas pôde contar
com a vossa compreensão e ajuda militante, às quais desejo render
homenagem em nome – estou certo disso – da grande maioria do Povo
Português. Repensar convosco o futuro da Europa e a inserção de
Portugal no processo da construção europeia é tarefa altamente
estimulante e enriquecedora para os camaradas portugueses e para mim,
pessoalmente. O Partido Socialista teve ocasião, em diversas oportunidades,
de afirmar a necessidade de transformar a Europa – de forma a que deixe de
ser a Europa dos trusts e passe a ser a Europa dos trabalhadores.
Hoje esta tomada de posição de princípio tem urgência em ser reafirmada,
na medida em que certas forças políticas em Portugal se encaminham para
defender a aproximação de Portugal às Comunidades Europeias numa
perspectiva puramente capitalista que não corresponde aos verdadeiros
interesses do povo português e se afasta dos imperativos de uma verdadeira
independência nacional condicionando a transformação da sociedade
portuguesa a caminho do socialismo. Não é por acaso que alguns dos actuais
leaders dessas formações políticas defenderem já, nomeadamente no
Parlamento de Marcelo Caetano, uma aproximação à Europa na defesa e no
prosseguimento dos interesses de um capitalismo considerado moderno. Haverá certamente necessidade de aprofundar o estudo da
posição de Portugal perante a Comunidade Europeia, em todas as suas
implicações políticas, económicas e sociais, tanto mais que se aproxima
– como vos disse – a normalização das estruturas representativas da
jovem democracia portuguesa. A solução a que se deve chegar deverá ser a expressão
da vontade do povo português, admitindo a própria opção de Portugal vir
a ser membro de pleno direito da Comunidade Europeia desde que se considere
que tal opção corresponde aos verdadeiros interesses nacionais e no
entendimento de que Portugal poderá dar igualmente uma contribuição
positiva para a transformação da CEE com a maior participação política
dos trabalhadores. Aliás o exemplo da maioria dos partidos socialistas,
sociais-democratas (e até comunistas) que participam já nas instituições
europeias, nomeadamente no Parlamento Europeu, que passará num futuro próximo
a ser eleito por sufrágio universal. Impõe-se assim a necessidade de Portugal acompanhar com
atenção reforçada a dinâmica da construção europeia não obstante as
crises de crescimento interno ou as crises provocadas por factores de ordem.
externa. Um facto novo surge com interesse directo para a posição
de Portugal perante a Europa. Trata-se do pedido de adesão da Grécia já
sancionado pelo Conselho da Europa por decisão política recusando o «approach»
dos tecnocratas da Comissão de Bruxelas que advogam a tese do «pre-membership».
Por outro lado Portugal não pode desconhecer a ofensiva da diplomacia
espanhola com vista à futura entrada do seu país na Comunidade Europeia
cuja viabilidade dependerá previamente, como é de toda a evidência, da
instauração das liberdades democráticas em Espanha. 0 fascismo português não obstante a desconfiança
tradicional em relação à cooperação europeia viu-se forçado a
acompanhar, se bem que marginalmente, a maioria das iniciativas levadas a
cabo no Mundo Ocidental após a II Guerra Mundial, participando como membro
no Pacto do Atlântico na OCDE e na EFTA nomeadamente. Desta forma pretendia
fazer esquecer as cumplicidades do regime em relação à Alemanha nazi e à
Itália fascista, valorizando a política chamada de neutralidade
colaborante com vista a evitar o isolamento político e diplomático do País.
Esta orientação viria a ser mantida como uma constante quando se
avolumaram as reservas do Ocidente em relação à política colonial do
regime, procurando valorizar a situação geoestratégica não só das Ilhas
do Atlântico como das colónias africanas e afirmando-se o governo português
de então, hipocritamente, como lídimo representante dos valores culturais
e políticos do ocidente. Sob o ponto de vista económico o anterior regime viu-se
obrigado a procurar manter o acesso aos mercados tradicionais da Europa,
nomeadamente ao britânico, procurando formas de ligação à EFTA liderada
pelo Reino Unido, e posteriormente à CEE, ultrapassada que foi a reserva
gaulista à entrada daquele país como membro da CEE. Aliás a própria
evolução da estrutura económica do País, a caminho da industrialização,
impunha que Portugal seguisse a via da exportação para superar a
estreiteza do espaço geoeconómico nacional (população reduzida, baixo nível
de vida, desequilibrada repartição de rendimentos, etc.), mesmo
considerando o mercado das colónias cuja extensão territorial não
correspondia a uma verdadeira dimensão económica dado o seu fraco nível
de desenvolvimento, além da impossibilidade da indústria portuguesa de dar
satisfação à necessidade de bens de equipamento. Portugal limitava-se a
exportar para as colónias produtos tradicionais, nomeadamente vinhos, têxteis
e artigos de indústria metalo-mecânica ligeira. 0 Governo português de então procurou superar a contradição
que advinha da necessidade imperiosa de reforçar a industrialização do País
protegendo-a da concorrência internacional sem deixar de acompanhar ou de
participar no progresso de integração europeia, a fim de não perder os
seus mercados tradicionais e potenciais. Além destas limitações estava
sempre presente o ónus político que advinha do carácter ditatorial e
anti-democrático do regime e da política colonial que prosseguia embaraçando
cada vez mais os seus aliados na NATO e os seus parceiros comerciais na
EFTA. Apesar disso acabou por conseguir obter um esquema de participação
favorável na EFTA, que teve em conta o fraco desenvolvimento da economia
nacional e que permitiu a expansão de certas indústrias nomeadamente à têxtil.
Essa participação veio ainda facilitar a negociação com a Comunidade
Europeia alargada, evitando-se a criação de novas barreiras ao comércio
inter-europeu o que implicava a negociação, numa perspectiva global, de
arranjos destinados a evitar a reintrodução de obstáculos ao comércio
entre os países da EFTA que pretendiam aderir às comunidades e os seus
antigos parceiros que continuavam naquela associação .Portugal pôde assim
negociar no quadro EFTA e conseguir uma ligação às comunidades europeias
que não teria jamais obtido se tivesse negociado isoladamente, mesmo que o
acordo existente assuma um carácter meramente comercial. Os acordos assinados em 1972 entre Portugal e a CEE foram
apresentados ao País como uma grande vitória diplomática da «soi
disante» política de abertura de Marcelo Caetano, mas alguns
consideraram-nos como um «contrato leonino» a favor evidentemente da
Comunidade Europeia, fazendo lembrar a história do pote de barro ao lado do
pote de ferro, em suma, uma ligação que iria acentuar as dependências
tradicionais em relação ao capitalismo ocidental. Para alguns o acordo
representava um desafio à capacidade de realização dos portugueses numa
perspectiva de futuro do desenvolvimento económico nacional, exigindo uma
actuação dinâmica da administração pública e do sector privado
nacional através do aproveitamento de um mercado cuja dimensão atinge
cerca de 300 milhões de consumidores. A aproximação com o Mercado Comum
constituiu uma esperança para aqueles que pensavam que traria em si os
germens da queda do regime e provocaria a restauração das liberdades
democráticas e o termo da guerra colonial. Alguns mesmo pensavam que o
processo de descolonização podia ser enquadrado com vantagem numa
perspectiva euro africana, processando-se paralelamente à aproximação de
Portugal com a Europa a integração das colónias portuguesas no esquema de
associação das convenções de Iaundé. 0 condicionalismo é hoje bem diferente, uma vez
restauradas as liberdades democráticas e completado o processo de
descolonização, com resultados nem sempre felizes – há que reconhecer
– tanto para o povo português como para os povos das ex-colónias. Impõe-se
honrar os compromissos assumidos, procurando retirar as maiores vantagens
possíveis dos acordos existentes com a CEE, numa perspectiva dinâmica de
aproximação, cada vez mais íntima de Portugal à Europa e na consciência
dos verdadeiros interesses do Povo Português. Convém contudo realçar as
limitações dos acordos firmados pelo anterior regime e que levam à
instituição progressiva de uma zona de trocas livres para produtos
industriais entre Portugal e a CEE. A regra geral de desarmamento pautal
termina dentro de pouco mais de um ano, mais precisamente no dia 1 de Julho
de 1977, admitindo-se contudo excepções com vista à protecção de certos
produtos industriais de origem portuguesa que apontam para datas próximas,
1980 em alguns casos e 1985 noutros. 0 aproveitamento da cláusula de indústrias
novas apresenta-se de viabilidade limitada e de alcance precário. As restrições
existentes à exportação portuguesa para a comunidade de têxteis, vestuários
e pasta de papel e produtos manufacturados de cortiça constituem ónus
gravoso para a economia nacional e para o seu desenvolvimento. As concessões
no campo agrícola são de limitado alcance no que diz respeito aos produtos
considerados e à extensão de facilidades. Finalmente, o carácter
evolutivo do acordo que admite a extensão da cooperação a outros domínios
dependente exclusivamente da boa vontade da comunidade, o que reduz a margem
de iniciativa de Portugal. Nas negociações em curso com vista ao melhoramento dos
acordos celebrados com a CEE deslocaram-se a Portugal muitos responsáveis
europeus e mais recentemente o Presidente da Comissão Europeia - com o qual
me encontrei e tive uma conversa muito franca tendo-se já obtido resultados
positivos entre os quais me permito realçar a anunciada assistência
financeira de emergência por parte da CEE e da EFTA no valor total de cerca
de trezentos milhões de dólares. Mas haverá que estabelecer uma estratégia
global com vista à aproximação de Portugal à Europa aproveitando-se a
vontade política tantas vezes afirmada do lado europeu. Por parte de
Portugal e dos portugueses deverá ser levada a cabo uma profunda reflexão
sobre as implicações da opção europeia, incluindo a própria adesão à
CEE. É matéria que a próxima Assembleia da República decidirá.
Entretanto as negociações em curso devem prosseguir da melhor forma.
Incumbe à Europa dar prova da sua vontade política de continuar a ajudar o
processo de consolidação da jovem democracia portuguesa. Como estou entre
camaradas, todos amigos de Portugal, permito-me descer ao concreto e realçar
alguns aspectos considerados essenciais da negociação em curso e que
afectam de modo substancial todos os portugueses, muito especialmente as
gentes do norte do País onde hoje nos encontramos. 1 – Grande número de unidades industriais têxteis e de
confecções localizam-se no norte de Portugal atravessando hoje estas
industrias uma profunda crise estrutural e conjuntural que só pode ter solução
satisfatória através do aumento da produtividade e do reforço das exportações.
Tanto na EFTA como na CEE as nossas exportações estão hoje a ser objecto
de sérias restrições através da imposição de sistemas de auto-limitações
e do esquema de plafonds na CEE para certos produtos considerados
sensíveis, provocando profundos desequilíbrios de excepcional gravidade
numa indústria que emprega a maior força de trabalho do País, cerca de
trezentos mil trabalhadores. 2. - No sector do papel e pasta de papel verificam-se
igualmente restrições à exportação portuguesa não tendo ainda as
pretensões nacionais encontrado satisfação junto das instâncias comunitárias
nomeadamente quanto ao aumento de contingentes em especial para o mercado
britânico. 3. - Em virtude da grave crise que atravessa a economia
portuguesa justificar-se-ia alargar no tempo os calendários de desarmamento
pautal estabelecidos nos acordos com a CEE ao mesmo tempo que se acelerariam
as reduções de direitos para os produtos portugueses no mercado comunitário.
As pretensões portuguesas já expostas à Comunidade são mais modestas do
que uma renegociação global dos calendários de desarmamento. Pretende-se
simplesmente prolongar a protecção para alguns produtos transferindo-os
para listas mais favoráveis, o que estamos convencidos virá a merecer a
compreensão e a concordância das instâncias competentes da CEE. 0 mesmo
se diga quanto ao pedido português de fazer beneficiar algumas indústrias
já existentes da cláusula das indústrias novas (a fim) de minorar graves
dificuldades em certos sectores industriais. 4. - Como já referimos as facilidades concedidas a
Portugal no sector agrícola foram escassas e de alcance limitado pelo que
se impõe uma revisão profunda da posição da CEE a este respeito.
Portugal encontra muito concretamente enormes dificuldades no escoamento da
sua produção vinícola. Trata-se dum problema geral mas que afecta muito
particularmente o norte do País, produtor de grande variedade de vinhos
verdes de tão característico paladar, além do famoso «vinho fino» que
geralmente se conhece pelo nome da cidade do Porto. 0 tratamento de favor dado pela Comunidade aos vinhos
portugueses limita-se aos vinhos de qualidade – Porto, Madeira e Moscatel
de Setúbal. Os vinhos de mesa não foram considerados no acordo com a CEE,
contrariamente ao que acontece com vinhos de outras origens, nomeadamente da
Espanha, Grécia, Turquia e Países do Magreb. Esta situação é
profundamente injusta, tanto mais que, graças ao regime proteccionista da
CEE, Portugal está a perder importantes posições adquiridas ao longo dos
anos nos mercados britânico e dinamarquês. 0 tratamento dado aos vinhos de
qualidade, Porto e Madeira (a exportação do Moscatel de Setúbal tem pouco
significado) quanto a contingentes e reduções tarifárias ficou aquém das
expectativas portuguesas tanto mais que estes vinhos não têm verdadeiros
similares nos países membros produtores. Os contingentes de maior
significado são ainda oferecidos para vinhos a granel, sujeição que
lembra os velhos tempos do imperialismo económico: tal concessão contraria
a política de qualidade prosseguida pelos departamentos competentes
portugueses através do controle na origem e da exportação em garrafa sob
selo de garantia. 0 mercado europeu é de importância decisiva para a produção
portuguesa de vinho do Porto absorvendo cerca de noventa por cento do total
exportado pelo que se impõe uma alteração substancial da política
comunitária a este respeito. 5 – Outro sector considerado agrícola na nomenclatura
comunitária e como tal objecto de tratamento desfavorável para os
interesses português diz respeito às conservas de peixe nomeadamente da
sardinha, de importância decisiva na exportação portuguesa. 0 acesso ao
mercado comunitário destes produtos está fortemente condicionado afectando
a vida de muitos portugueses nomeadamente do norte do País e do extremo
sul. 0 mesmo acontece com os concentrados de tomate cuja
exportação para a Comunidade se encontra igualmente condicionada. 6 – A resposta da Comunidade Europeia e da EFTA aos
pedidos de assistência financeira foram devidamente apreciados pelo povo
português através da concessão da ajuda especial de urgência e da criação
pela EFTA do Fundo de Desenvolvimento Industrial. Tive oportunidade de eu próprio,
investido em funções oficiais ou como responsável do Partido Socialista,
explicar aos governantes europeus a necessidade premente de prestar assistência
financeira à jovem democracia portuguesa a fim de consolidar as liberdades
conquistadas superando-se os perigos que a ameaçaram e que ainda não
desapareceram completamente. Não posso deixar de me congratular pela
assinatura num futuro do Protocolo Financeiro entre a CEE e Portugal no
quadro do qual se vai processar e, espero, reforçar a assistência
financeira a Portugal. Não posso esquecer a ajuda bilateral recebida de vários
países que corresponderam aos nossos pedidos graças à solidariedade
militante de muitos de vós aqui presentes. Deste modo Portugal poderá
empreender a reconstrução do País no campo social e económico ao mesmo
tempo que consolida a democracia a caminho do socialismo, e se poderá
transformar numa zona de estabilidade política no Ocidente Sul da Europa. Camaradas: A vossa presença no Norte de Portugal para conjuntamente
repensar connosco a posição de Portugal perante a Europa deverá ser por vós
aproveitada para auscultar os sentimentos de identificação europeia de
populações que pela história, por tradição e por experiência humana
mais perto se sentem da Europa. Rara será hoje a família nortenha sem um
membro seu radicado na Europa. Se Portugal foi o País que proporcionalmente
mais contribuiu nos tempos modernos para o fluxo emigratório para a Europa,
mais de um milhão de trabalhadores o que corresponde a um terço da população
activa nacional, do norte do País saiu sem dúvida o maior número. Rendo
homenagem a essa gente, em geral humilde mas de grande tenacidade e audácia,
com quem tive oportunidade de confraternizar e de me identificar durante o
meu exílio em França. Os emigrantes foram e são os grandes interpretes de
verdadeira aproximação de Portugal à Europa pela sua experiência humana
na luta contra todos os entraves da administração fascista, saltando
clandestinamente fronteiras em busca de um futuro melhor, ao mesmo tempo que
contribuíam para a prosperidade europeia, o mesmo será dizer para a
construção da Europa, com o seu trabalho árduo em tarefas as mais das
vezes humildes que os nacionais desses países se recusam a desempenhar. Daí
a importância que damos a que a futura Europa seja a Europa dos
trabalhadores. 0 regime fascista acabou por fechar os olhos a esse êxodo
extraordinário de trabalhadores, em geral na força da vida, que no seu País
não encontravam satisfação para um dos mais sagrados direitos,
mascarando-se assim a incapacidade do sistema para dar trabalho a todos os
portugueses, aliviando-se tensões no mercado do trabalho e apresentando-se
demagogicamente falsas estatísticas de pleno emprego ao mesmo tempo eram
aproveitadas de maneira ignóbil as poupanças dos emigrantes, não para
criar riqueza, mas para preservar um regime ditatorial, dar satisfação às
classes dominantes que o apoiavam e principalmente para prosseguir uma
guerra injusta contra os povos coloniais. Chegou a hora de, sem demagogias,
render justiça aos emigrantes portugueses que na Europa e no Mundo
dignificam o nome de Portugal e com o seu trabalho honesto contribuem para a
paz, o progresso e a prosperidade dos países que os acolheram. Por parte
dos países europeus é da mais elementar justiça conceder-lhes completa
equiparação no domínio do trabalho e da segurança social com os seus
nacionais, aliás, no prosseguimento dos pedidos insistentemente
apresentados às organizações europeias pelo Governo Português. Não obstante a crise económica internacional que gera
desemprego generalizado, haverá, que aliviar as interdições à entrada de
novos emigrantes portugueses nos países europeus, facilitando a resolução
da dramática situação de emprego que hoje se vive em Portugal,
substancialmente agravada com o regresso maciço de portugueses radicados
nas colónias. Alguns países europeus estão particularmente sensibilizados
para compreender esta dramática situação, refiro-me muito especialmente
à França que soube proceder com humanidade e sabedoria à reintegração
de mais de um milhão de franceses retornados das suas ex-colónias e
principalmente da Argélia, à Bélgica e à Holanda. A assistência
oferecida por parte de muitos países, principalmente europeus, aquando das
operações de retorno dos portugueses de Angola, através do oferecimento
de meios de transporte e de ofertas que se cifraram em outras formas de auxílio
para minorar a sorte de tantos portugueses, foi acolhida com um sentimento
de gratidão profunda pelo nosso Povo, mas ainda não é tudo. A reintegração
na comunidade nacional de centenas de milhares de portugueses é obra de
gigantes e exige meios financeiros e outros recursos de que Portugal não
dispõe. O Povo Português continua a contar com o apoio desinteressado da
Europa que vós hoje representais aqui. A solidariedade humana não pode ser
uma palavra vã. Na problemática da inserção de Portugal na Europa e no
Mundo levanta-se com especial acuidade a questão das relações de Portugal
com os novos países que até há pouco estiveram sob a dominação colonial
portuguesa. A preocupação geral não poderá deixar de ser no sentido de
privilegiar as relações com países a quem nos ligam tantos laços de carácter
histórico, cultural, humano e económico. Para o prosseguimento deste
objectivo haverá que superar o trauma histórico que afectou a essência
dos sentimentos do povo português, sentimentos permanentemente vivos
enquanto não se processar a reintegração total na sociedade nacional de
centenas de milhares de portugueses que até há bem pouco tempo estavam
radicados nas ex-colónias. Por parte dos novos países impõe-se que os sentimentos
de ressentimentos contra o ex-colonizador sejam ultrapassados e que o
radicalismo pós-independência dos novos dirigentes seja superado num
processo gradual de tomada de consciência dos verdadeiros interesses dos
povos que governam. A mais curto prazo muito conviria tentar prosseguir numa
política de realismo baseado no melhor entendimento possível dos
interesses recíprocos com vista à resolução do contencioso herdado do
período colonial e ao estabelecimento das bases de cooperação possível. 0 desbloqueamento da sociedade portuguesa ante 25 de Abril
tendo como um dos objectivos prioritários a alteração da política
colonial e a aceitação dos princípios da auto-determinação e da
independência dos povos poderia ter sido levado a cabo no quadro euro
africano, estabelecendo-se um paralelismo que levasse a uma aproximação
cada vez mais íntima de Portugal com a Comunidade Europeia, lado a lado com
a associação dos novos países africanos de expressão portuguesa aos
novos esquemas de associação entre a quase totalidade dos países
africanos e a CEE, de que resultou a assinatura da Convenção de Laomé
ultrapassando o sentido neo-colonial das Convenções de laundé I e II. 0 sistema das relações de Portugal com as ex-colónias
terminado que foi o processo de descolonização, insere-se assim numa questão
mais ampla que diz respeito à nossa posição perante a Europa e o Mundo,
à inserção dos países agora independentes no contexto continental
africano, contemplando as suas ligações naturais com a Europa. Nestes quase dois anos, em que vivemos algumas aventuras
demagógicas e sobretudo um ambiente de acentuado ideologismo, foram-se
perdendo algumas oportunidades. Tive ocasião de encarecer a especial posição
de «Portugal na encruzilhada de todos os povos do Mundo, país europeu com
tantos e tão velhos laços com a África», no meu discurso perante a
Assembleia Geral das Nações Unidas, em Outubro de 1974. 0 processo de
descolonização portuguesa merecia então crédito político universal
dando jus ao reconhecimento da posição privilegiada de Portugal em relação
à África. No contexto euro africano haveria que ter valorizado, com
realismo e eficácia, a nossa especial posição, no interesse recíproco do
povo português e dos povos das ex-colónias, assegurando o concurso e o
apoio da Europa e da África ao processo de descolonização em curso,
evitando-se intervenções de imperialismos veiculados pelas super-potências. Portugal mantém com a CEE laços de natureza puramente
económica e agora, a título excepcional, de carácter financeiro e social,
sendo considerado um país terceiro» apesar de se lhe reconhecer vocação
à adesão futura ao tratado de Roma. A Convenção de Laomé estabelece regimes comerciais, de
assistência técnica, económica e financeira e formas de cooperação
tecnológica extremamente favoráveis aos países africanos membros, nos
quais já se contam alguns Estados de expressão portuguesa. Assim, Portugal
poderá vir a ser o grande ausente nestes esquemas de cooperação euro
africana, se não se acelerar o processo da sua integração como membro de
pleno direito, na Comunidade Europeia. Se assim não vier a acontecer,
Portugal será igualmente considerado «um país terceiro», assistindo
passivamente ao estabelecimento de relações privilegiadas, no quadro da
Convenção de Laomé, entre a Europa e as suas antigas colónias. Neste
contexto, ainda, radica uma das razões fundamentais que obriga o Povo
Português a uma reflexão profunda relativamente à integração de
Portugal na Europa, aliás, no prosseguimento do seu destino histórico de
país europeu com especiais qualificações para se apresentar como «intermediário
privilegiado» nas relações da Europa com a África. Não há pois
antagonismo entre a vocação africana ou se quiserem terceiro mundista de
Portugal e o estreitamento de relações entre Portugal e a Europa, mas
antes, e como sempre disse, complementaridade. Camaradas: Absorvidos pelos nossos próprios problemas de reestruturação
nacional, empenhados numa revolução que concilie o socialismo e a
liberdade - sem deixarmos que se sacrifique a liberdade ao socialismo, mas
também sem abdicarmos jamais dos nossos ideais socialistas - o Partido
Socialista não tem tido ocasião de exercer na cena internacional, e
especialmente no quadro da Internacional Socialista, aquele papel, discreto
mas eficaz, a que legitimamente aspira. Socialistas do sul da Europa, mas
sendo um grande partido de massas que soube reduzir às suas proporções o
aventureirismo do partido comunista local, o PS, até pela sua influência
nos meios sindicais, encontra-se em posição, em alguns aspectos, próximo
de certos partidos sociais-democratas do norte da Europa. A nossa experiência, que não deu tempo ainda a grandes
elaborações teóricas, é contudo rica de ensinamentos. A nossa luta –
temos disso consciência – representa decerto uma contribuição original
para o desbloqueamento de um verdadeiro projecto de socialismo democrático
para a Europa. Sobre ele reflectiremos em comum. Com a fraternidade de
camaradas que por vias diferentes e face a condicionalismos nacionais muito
diversos, procuram atingir o mesmo objectivo – o socialismo – ou seja a
igualdade e a felicidade dos homens na liberdade, na fraternidade e na paz.
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Fontes: Mário Soares, A Europa connosco, Lisboa, Perspectivas & Realidades, 1976.
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