Alegoria ao marquês de Pombal

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Alegoria ao marquês de Pombal

 

 

DISCURSO DE SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO, MARQUÊS DE POMBAL

 

Fala na Sala pública da Universidade de Coimbra, na sua Nova Fundação, pelo Marquês de Pombal na ocasião da sua despedida, no dia 22 de Outubro de 1772.

 

 

Como escreveu Márcia Helena Mendes Ferraz: "realizada a crítica à maneira como se estavam conduzindo os estudos em todo o reino português, de uma forma geral, e na Universidade de Coimbra em particular, cumpria dar curso às mudanças que prometiam remover os problemas causados pelos Sextos Estatutos, promulgados em 1548, e pela Reforma de 1612, considerados , em conjunto, «um notório Sistema de ignorância artificial; e um Agregado de impedimentos dirigidos a impossibilitarem o progresso dos ... Estudos».

O próprio marquês de Pombal se encarregou de acompanhar a concretização da Reforma, supervisionando todos os passos de seus auxiliares. Não faltaram pompa e circunstância na 'nova' inauguração da Universidade de Coimbra, decorrida durante o mês em que o ministro de D. José I se instalou em Coimbra, pois nada deveria ser decidido sem que tivesse passado por seus olhos e ouvidos e recebido sua chancela pessoal. (...)

Dentro [do espírito de modernização e desenvolvimento] o rei D. José promulga em 1772 os Estatutos da Reforma da Universidade de Coimbra, reorganizando as três faculdades tradicionais de Leis, de Teologia e de Medicina. (...) A grande transformação ocorreu na área que antes contemplava a Medicina. Esta passa a fazer parte do que se denominava 'Cursos da Ciências Naturais e Filosóficas'. (...) As duas novas faculdades criadas, a de Filosofia e a de Matemática, formavam com a Medicina 'uma mesma Congregação Geral' que tinha por objectivo promover «o progresso, adiantamento, e perfeição das mesmas Ciências; do modo que felizmente se tem praticado, e pratica nas academias mais célebres da Europa». (...)

A grande novidade da Reforma estava na criação das cadeiras de Filosofia Natural - História Natural, Física Experimental e Química - como parte do Curso Filosófico, ao lado das cadeiras de Lógica e de Moral."

 

«Fazia [a Universidade], há mais de vinte e dois anos, um dos primeiros objectos, entre que se empregava aquela Paternal e Augusta Providência; mas foi necessário prodigar e debelar, com as forças do seu Potente Braço, tantos monstros domésticos e tantos inimigos estranhos antes de poder chegar a metade da sua gloriosíssima carreira.»

 

A Benignidade e Magnanimidade d’El-Rei meu Senhor nunca se manifestaram mais poderosas do que se fizeram ver, quando se servira de um instrumento tão débil como eu para consumarem a magnífica Obra da fundação desta Ilustre Universidade. Fazia esta, há mais de vinte e dois anos, um dos primeiros objectos, entre que se empregava aquela Paternal e Augusta Providência; mas foi necessário prodigar e debelar, com as forças do seu Potente Braço, tantos monstros domésticos e tantos inimigos estranhos antes de poder chegar a metade da sua gloriosíssima carreira. E ela constituirá agora um dos maiores e mais dignos motivos, com que, no Régio espírito de Sua Majestade, se pode fazer completa a satisfação que tem de seus fiéis Vassalos, vendo autenticamente justificado pelas contas da minha honrosa Comissão, que neste louvável Corpo Académico se haviam já principiado a fundar os bons, e depurados Estudos, desde a promulgação das Sacrossantas Leis que dissiparam as trevas, com que os inimigos da luz tinham insuperavelmente coberto os felizes génios dos Portugueses.

Este fiel testemunho, de que em Coimbra achei muito que louvar e nada que advertir, será na Alta Mente de Sua Majestade uma segura caução das bem fundadas esperanças, que há-de conceber, dos progressos literários de uns dignos Académicos, que de tal sorte preveniram as novas Leis dos Estatutos com o fervor, e aproveitamento dos seus bem logrados estudos; depois de se acharem socorridos, desde a iminência do Trono, com as sábias direcções, e com os regulares métodos, que em Portugal jaziam sepultados debaixo das ruínas de dois séculos de funestíssimos estragos.

No meu particular tenho por certo hão-de corresponder em tudo à Expectativa Régia. Esta plausível certeza é a que só pode suavizar de algum modo o justo sentimento, com que a urgência das minhas obrigações na Corte faz indispensável que eu me despeça desta preclara Academia, augurando-lhes felicidades iguais aos consumados adiantamentos literários, pelos quais tenho previsto, que há-de ressuscitar, em toda a sua anterior integridade, o esplendor da Igreja Lusitana, a glória da Coroa d’El-Rei meu Senhor, e a fama dos mais assinalados Varões, que honraram com as suas memórias os fastos Portugueses.

Com estes faustíssimos fins deu o dito Senhor à Universidade o digno Prelado, que até ao presente a governa como Reitor, com tão feliz sucesso, que no dia da minha partida em diante a há de reger como Reformador; confiando juntamente das suas bem cultivadas letras, e das suas exemplares virtudes, que não só conservará com a sua perspícua atenção a exacta observância dos Sábios Estatutos, de cuja execução fica encarregado, mas também ao mesmo tempo há-de iluminar com as suas direcções, há-de edificar com a sua consumada prudência, e há-de animar com as suas frutuosas aplicações a tudo que for de maior adiantamento, e de maior honra para todas as Faculdades Académicas.

Fonte:

Cartas e Obras selectas do Marquez de Pombal, Ministro e Secretário d’Estado d’El-Rei D. José I, com o epítome da vida deste Ministro, e ornado do seu Retrato, Tomo II, Lisboa, Na Typ. De Desiderio Marques Leão, 1822, págs. 42-45.

 

A Ler:

Márcia Helena Mendes Ferraz, As Ciências em Portugal e no Brasil (1772-1822): o texto conflituoso da química, Säo Paulo, EDUC, 1997

 

 

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