DO DIÁRIO DE Tendo participado como Alferes na Guerra do Pacto de Família, em 1762, Luís de Melo
Cáceres, como era conhecido na época, foi nomeado capitão e ajudante
de ordens do Governador das Armas da Beira em
1764, e em 1771 foi escolhido para Governador e Capitão-general do Mato Grosso, tendo na
altura pouco mais de 30 anos.
Diário e notas da viagem de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres de Lisboa para o rio de janeiro e desta cidade para paracatu (1771 - 1772)
Acento da derrota que fizemos de Lisboa para o Rio de Janeiro em o ano de 1771.
Dias do mês 12 [de Outubro] Dias de viagem 1 Hoje, sábado 12 de Outubro, saímos da barra de Lisboa às 8 horas e 3
quartos em o navio Santa Ana Carmo e S. Jorge em companhia de (em branco)
navios e 2 fragatas, sendo comandante José Sanches de Brito; uma das
ditas logo se dezapartou de nós, chamada S. João Baptista, fomos
seguindo nossa viagem com vento nordeste fresco, tempo claro, mar chão e
ao meio-dia estaríamos distantes da barra 9 léguas e a sul 9 minutos. Dias do mês 13
Lat. 37 º – 52 ' Dias de viagem 2 Hoje domingo se observou o Sol e ficamos na lat. e longitude a margem,
ventos mais bonanças, tempo claro, mar chão a vista dos mais navios,
excepto a fragata S. João; pelas 3 horas da tarde falámos com uma
corveta francesa que vinha de Marselha e ia para Norte, apareceram mais
dois navios e um passou por nosso sotavento e ia no bordo do Nordeste. Dias do mês 14
Dias de viagem 3 Hoje segunda-feira se observou o Sol e ficamos na latitude a margem andamos
48 léguas e 01 minuto para o Sul, que foi o caminho que o navio fez para
vários rumos que andou; ventos fortes e vários desde o Norte. até o
OEste, o mar vagueado, tempo nublado, alguns borrifos de água. Apareceu
um navio por nosso barlavento francês às 10 horas da manhã navegava a
leste outro a este vento na borda do sul a vista de todos os navios da
nossa conserva. Dias do mês 15
Dias de viagem 4 Hoje terça-feira sobreveio temporal e ficamos na Santa Ana; aragem vento
bonança, mar vagado, tempo claro, fez a fragata sinal para os navios da
retaguarda fazerem força de vela ventos Ne (Nordeste) Norte todos os
navios da nossa conserva à vista. Dias do mês 16
Dias de viagem 5 Hoje quarta-feira observei o Sol, digo se observou o Sol e ficamos na
latitude anotada, andamos de distância 49 léguas e para o sul 27
minutos. Ventos desde o Noroeste até o Nordeste, calmas, tempo não muito
claro, o mar vagueado a vista de todos os navios. Dias do mês 17 Dias de viagem 6 Hoje quinta-feira se observou o Sol e ficámos na latitude a margem, andou o
navio de distância 44 léguas para o Sul 27 minutos desde às 8 1/2
estivemos a capa até às 3 da tarde, o vento muito bonança a Nordeste; o
mar chão o tempo claro à vista de todos os navios da conserva foi a
Charrua à fala da fragata por esta lhe fazer sinal para isso deitou bota
fora pelas 2 1/2 da tarde. Dias do mês 18 Dias de viagem 7
Hoje sexta feira não se observou o Sol por estar encoberto, porém fazendo
a estimativa pela barquinha se julgou andar segundo o rumo aprazado
seguindo 19 minutos para o Sul e de distância 13 léguas e ficar na linha
(?) à margem ventos do N e e Nornordeste, bonanças, tempo
nublado, mar chão apareceu um passarinho pequeno do feitio de canário e
outros mais à vista de todos os navios da nossa conserva. Dias do mês 19
Dias de viagem 8 Hoje sábado se observou o Sol e por ele ficámos na latitude na margem,
navegando de distância em singradura 1/2 léguas e para o Sul 35 m, o
vento muita bonança, desde o N até Oeste e por ela fomos no bordo do N
até às 11 1/2 que viramos no Sul, tempo claro, muito calor, mar muito chão,
matou-se um passarinho ao 4.º tiro pequeno; pescou-se uma ca(senv)a
pequena, veio a bordo o escaler da nau com hum capitão-tenente e um capelão
pelas 2 1/2 horas da tarde e se foi logo. Dias do mês 20 Dias de viagem 9 Hoje domingo se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à margem
navegando de distância (em branco) e andou para o Sul 22 m, ventos bonanças
desde o Ne até Oeste, mar chão, tempo claro, as 9 1/2 horas
da manhã avistámos uma baía. Os navios todos da nossa conserva à
vista. Dias do mês 21 Dias de viagem 10 Hoje segunda-feira se observou o Sol e por ficamos na latitude à margem
fazendo andar o navio de distância 14 léguas e para o Sul 37 m., vento
de viração desde o sueste até o nordeste, tempo claro e calma, mar chão,
à vista de todos os navios da conserva. Fez a nau sinal com três peças
e uma bandeira branca no tope da proa para os navios de barlavento
arrulearem para o sotavento às 5 1/2 horas da tarde. Dias do mês 22 Dias de viagem 11 Hoje terça-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à margem
navegando de distância 20 léguas e tendo de diferença de latitude 56
minutos, vento nordeste fresco. Tempo claro, mar pouco vagado às 8 horas
falou a nau a 2 navios e um deitou bote fora. Dias do mês 23 Dias de viagem 12 Hoje quarta-feira se observou o Sol e por ele ficamos na latitude à margem
navegámos de distância 31 léguas e tivemos Dias do mês 24 Dias de viagem 13 Hoje quinta-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à margem
navegamos de distância 4 1/2 léguas. Fizemos de diferença de latitude 2
º - 16 m., ventos nordeste e lesnordeste. Tempo claro. Mar vagueado. Às
11 1/2 horas falámos à fragata a despedir-nos para seguirmos nossa
derrota; e esta logo fez sinal aos mais navios para fazerem força de
vela, avistamos uns voadores. Dias do mês 25 Dias de viagem 14 Hoje sexta-feira se observou o Sol e por ele ficamos na latitude à margem.
Navegamos de distância 46 léguas e para o Sul, andamos 2 º - 35 ',
vento forte desde o Norte até Leste, mar vagueado, tempo claro pela manhã
se avistavam umas baleias, adoeceu o piloto e à tarde o capitão quis
fazer exercício e determinou à gente cada um para seu posto, pela manhã
ainda 4 -navios da nossa conserva apareciam. Dias do mês 26 Dias de viagem 15
Hoje sábado se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à margem andámos
de distância 52 8/10 léguas e para o Sul 2 º – 56 ' vento leste e
Lesnordeste, mar bastante vagueado. Tempo claro. Já se não viu navio
nenhum. Dias do mês 27 Dias de viagem 16
Hoje domingo se observou o Sol e por [ele] ficámos na latitude à margem,
navegámos de distância 51 1/2 e tivemos de diferença de latitude 2 º
– 52 ', ventos os mesmos, porém mais bonanças. Tempo claro. Mar pouco
vagueado. Aparecerão alguns gafanhotos e uns passarinhos pequenos.
Levantou-se o piloto, apareceu um navio muito a leste em que ia no bordo
do Sul o que se julgou ser da nossa conserva. Hoje se sentiu mais calor
que os mais dias. Dias do mês 28 Dias de viagem 17 Hoje segunda-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à
margem andámos de distância 27 léguas e para o Sul 1 º – 28 ' ventos
bonanças desde o Norte. Leste tempo algum tanto nublado mar chão,
apareceu mais outro navio também no bordo do Sul e se via juntamente a
outro na mesma distância. Dias do mês 29 Dias de viagem 18 Hoje terça-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à margem
andou o navio de distância 35 léguas e para o Sul 1 º - 57 ‘ ventos
bonanças desde o Norte até Leste e pela manhã calma mudança de pano,
aparece mais outro navio que com os dois que apareciam fazem 3. Viram-se
muito bandos de avoadores. Dias do mês 30 Dias de viagem 19 Hoje quarta-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à
margem, andou o navio de distancia 35 léguas e para o Sul i°-55', ventos
nordestes. Tempo claro. Mar muito pouco vagueado. A vista dos mesmos 3
navios. Dias do mês 31 Dias de viagem 20 Hoje quinta-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à
margem. Andou o navio de distância léguas 34 1/2 e para Sul 2 º- 34 '.
Vento fresco nordeste e Lesnordeste, tempo claro, mar chão, à vista de
dois navios somente. Deu o capitão muitas palmatoadas num marinheiro por
escaldar um rapaz. Novembro Dias do mês 1 Dias de viagem 21 Hoje sexta-feira se observou o Sol e por ele ficámos na latitude à margem.
Andou o navio de distância 33 léguas e para o Sul 1 º – 50 ' vento
bonança Leste e Lesnordeste e Nordeste. Tempo claro, mar chão. Os mesmos
dois navios. (...) Dias do mês 28 Dias de viagem 48 Hoje quinta-feira se não observou o Sol porém segundo o que o navio andou
pela barquinha nos fizemos ficar na latitude à margem e andar de distância
45 léguas e para o Sul 2 º – 20 '. Ventos frescos desde o nordeste até
noroeste. Céus nublados de dia. Mar chão. Dias do mês 29 Dias de viagem 49 Hoje sexta-feira se não observou o Sol por estar nublado, porém segundo o
que o navio andou ficámos na latitude à margem. Andou o navio de
distancia 53 léguas e para o Sul 31 '. Ventos frescos desde o Nordeste até
Noroeste. Tempo nublado. Mar algum tanto vagueado. Às 11 horas do dia por
se verem as águas amansadas se andou e se achou de fundo 25 braças e
logo depois se viu terra a que se julgou ser as ilhas de Santa Ana. Viemos
navegando até à noite que estávamos com o Cabo Frio, e depois se ferrou
tudo e fomos assim até à meia-noite, falámos a uma lancha de pescaria
às 2 horas da tarde para o que se lhe atirou 1.ª peça. Dias do mês 30 Dias de viagem 50 Dias 50 e 51 (letra diferente presumivelmente de Cáceres). Pela manhã
estávamos com uma terra alta, chamada a Ponte Negra N.O.S.E. coisa de 3 léguas
e não se via por causa de estar neblinado e víamos na terra com ventos vários
de ocaso bonançoso e pelas 8 horas víramos no mar e veio uma lancha de
pescadores e atiramos-lhe uma peça cujo a bordo tomámos um homem para prático
por estar neblinado a terra depois. E chamada Sacaremar que fica antes de
chegar a Ponte Negra. Fomos no bordo de mar até à 1 fora da tarde que
veio o vento para o Sul. Fiz com proa de E.So. e pelas 6 horas da tarde
clariou e vimos umas ilhas, que estão distante da barra 3 léguas
chamadas Achenda, mas como era tarde e a noite de neblina virámos no mar
até à meia noite e pela meia noite virámos na terra pela manhã estávamos
distante da dita ilha as mesma três léguas mas mais ao Sul e fomos
buscar a barra, o vento abonançou que esteve quase calma pela 10. Pelo
meio-dia do dia 51 estávamos Leste-Oeste com uma ilha chamada a Oraza,
isto de frente da barra 2 (11?) léguas e pelas 3 na barra e pelas 4 1/2
de mar fundo; a fortaleza da barra tinha ordem para nos salvar o que fez
com 17 peças e nós recebemos com 15 de chegando nós até à ilha
chamada dos Natos (?) chegou o Sr. Marques a buscar os Srs. Governadores
que levámos.
Notas e desenhos de Luís de Albuquerque na viagem do Rio de Janeiro a Paracatu (1772)
António Pinto recebeu de mim no Rio de Janeiro 105.000 e tantos reis. Recebeu mais 74.000 e tantos reis.
17 de Maio de 1772, Paulo Pereira Pelas 8 1/2 horas da manhã saímos do Rio de Janeiro; passámos a Baía até
o Porto da Estrela até uma hora depois do meio-dia; ali jantámos e
saindo pelas 4 da tarde chegámos ao rancho ou pousada chamada de Paulo
Pereira que são duas léguas que tem comodidade bastante entra-se no fim
da Baía pelo pequeno rio chamado Inhumerim e duas léguas acima se acha o
porto da Estrela o caminho de lá até Paulo Pereira é muito bom
guarnecido de muitas pequenas roças. Passam-se três pequenos riachos em
pontes de madeira:
18 de Maio – Manuel Correia Partimos de Rancho do capitão Paulo Pereira às 5 1/2 horas da manhã; e às
11 chegámos ao Rancho de Manuel Correia; passou-se a serra dos orgãos
que são duas léguas de distância. Sobe-se muito e desce-se pouco: a
subida da serra é muito áspera e perpendicular no meio da serra à uma
pequena roça e no fim dela, aonde chamam Rio Seco há um rancho que tem
comodidades; légua e meia dali está o rancho de Itamarati bastante cómodo
tendo daí até Manuel Correia é bom caminho passam-se duas ribeiras ou
3, e uma delas em Itamarati se passa numa ponte de madeira, a ribeira
chama-se Piabanha. Choveu muito e fez tal frio que foi preciso chegar ao
fogo:
19 de Maio – Fagundes Saímos do rancho de Manuel Correia às 5 1/2 horas da manhã; chegámos à
Rosinha do Fagundes pelo meio-dia. São 6 léguas de distância; anda-se 1
légua e meia à borda da São 5 1/2 as pontes chamam-se a ponte da Cidade a ponte de Pedro Martins é
grande sobre a Piabanha, Ponte Pequena de Magé, há mais 4 pequenas e a
ponte de Secretário, Ponte de Fagundes. 20 – Paraíba Saí da Rosinha do Fagundes às 5 1/2 da manhã, e chegámos a Paraíba às
10 1/2; andaram-se 4 1/2 léguas; quase todo o caminho é bastante bom,
ainda que sempre se descem e sobem morros diferentes; o País é muito
semelhante ao de Portugal, na vista geral, quando lá é mês de Maio;
encontram-se neste caminho várias roças ou ranchos passageiros; a meia légua
da Paraíba, se vem encontrar a estrada de terra firme que vem do Rio de
Janeiro. O rio Paraíba corre para a banda de N.E. 4.ª. Neste sítio defronte da
passagem corre muito arrebatadamente, terá quarenta braças de largo,
pouco mais ou menos é muito profundo, tem neste sítio uma pequena guarda
ou regimento com um oficial de auxiliares e seu destacamento. Pára-se em uma grande barca. Saindo da Rosinha do Fagundes passa-se pelo lugar das Cebolas, lugar da
Laje, de Silva Moreira e pára-se um pequeno regato lugar de Castro
Borges; pára-se outro pequeno regato, mais outro lugar de Castro Borges;
Rosinha da Silva Moreira às 7 horas e 3/4, chegámos ao alto do monte do
Governo, lugar chamado do Governo, daqui ao lugar de onde tínhamos saído
são duas léguas, pára-se num regato à saída do monte do Governo é
muito perpendicular; passámos o ribeirão do Luca que tem uma ponte de
madeira, outro ribeirão do luca que tem sua ponte, Ribeirão do Luca. Fomos cumprimentados pelo comandante da guarda, homem de bom gosto, o qual
foi cortar uma boa porção de laranjeiro com muita laranja só afim de
desembaraçar a vista das casas em que fiquei. 21 de Maio – Paraíbuna Saí da Paríba às 5 3/4, da manhã; chegamos às 10 3/4, a Paraíbuna; são
5 léguas pequenas, porém como o caminho em algumas paragens é péssimo,
principalmente no morro da Cachoeira, representa-se duma grande
dificuldade a dita paragem da Cachoeira se acha a três léguas da Paraíba
e dela até o registo de Paraíbuna todo o caminho é subir e descer
muito; a distância de duas léguas da Paraíba se acha o rancho chamado a
Farinha, é tudo caminho por entre bosques, param-se alguns regatitos
pequenos. da Paraíba:
A Paraíbuna é um rio um pouco mais largo que a Paraíba mas com muito
menos águas tem da banda da Paraíba o rancho que é bastante mau e da
outra parte um capitão de auxiliares com guarda do registo e o provedor
também assiste ali; a passagem da barra da Paraíba junta com a da Paraíbuna
rendem anualmente ao rei 115 ou 116 mil cruzados. A 5 ou 6 léguas de distância daqui se mete até o rio Paraíba e principia
a haver gentio chamado Curuado e Tupu, há outros chamados Chaputos e
Ainia fazem seu comércio às vezes recebendo facas machados e trazem
macacos papagaios, cera. Na Paraíbuna estavam dois destacamentos um de dragões comandado pelo conde
de Valadares e outro de auxiliares pretos, o comandante do regimento fez
mil homenagens, puseram luminárias, etc. 22 de Maio – Matias Barbosa Saí da Paraíbuna às 6 e 1/4 não podendo ser antes por conta do regimento
e passagem da barca: cheguei a Matias Barbosa às 11 e vinte minutos: logo
que se entrou na capitania de Minas, se acharam seguindo os ordinários do
Sr. Conde de Valadares os lameiros belamente compostos de novo, os
lameiros não são maus somente logo adiante de Paraíbuna há os morros
chamados os 3 irmãos que tem muitas subidas e descidas; passamos por
algumas roças ou ranchos muito bons, o País é excelente tem um ar admirável:
a distância uma légua passámos pela Rocinha da Negra meia légua
adiante os três irmãos adiante mais o lugar da várzea rancho de Simão
Pereira freguesia de N. Sr.ª da Glória e lugar de Simão Pereira a
Rocinha do Paraíso tem uma pontezinha; uma parte do caminho anda-se à
borda da Paraíbuna; da Paraíbuna a Matias Barbosa são 5 léguas. O capitão Manuel do Vale administra o regimento que aqui se acha que rende
para o rei anualmente entre 350 e 400 mil cruzados todas as cabeças pagam
uma entrada; ou passagem e da mesma sorte as fazendas, todos que passam
para Minas; o capitão Manuel do Vale Amado era o provedor do regimento,
homem muito generoso e magnífico; aqui se apalpam e examinam as pessoas
que vem de minas; aqui deixei um dos meus pretos doentes. 23 de Maio - Juiz de Fora Saí do regimento pelas 6 horas da manhã e cheguei ao juiz de Fora pelas 10
3/4 são 4 e 1/2 léguas, o caminho tem algumas subidas e descidas
bastante ásperas, passa-se pela Rosinha do Medeiros lugar do Marmelo,
aonde passa a ribeira Paraíbuna e se torna a encontrar no mesmo lugar de
juiz de Fora mas, se deixa à esquerda, passam-se duas pequenas pontes de
madeira neste caminho costumam andar patrulhas para guardar a entrada e a
busca aos diamantes; aqui se matou uma garça que se copiou
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4 ½. 24 de Maio – O Engenho - Francisco Nunes Correia Saí às 4 horas da manhã cheguei às 11 3/4 ao lugar chamado o Engenho; são
6 léguas de distância, o caminho não é muito bom, principalmente em
algumas paragens onde se sobem e descem muitos morros; depois de sair do
juiz de Fora, passa-se pelos lugares – Alcaide-Mor, Rosinha de
Alcaide-Mor, Rosinha de António Moreira; à distância de duas léguas se
acham uma ponte chamada da Cachueira, ao pé fica o morro deste nome, o
lugar de António Moreira; ponte de madeira tem de comprimento esta ponte
60 braças e uma de largo; segue-se o lugar do Queirós onde ouvimos missa
e assiste o vigário da freguesia; Rocinha de Queirós; junto desta
Rosinha se acha um caminho feito de madeira que terá 75 braças em lugar
pantanoso e no fim tem sua ponte indo de Azevedo; depois de chegar ao
Engenho se achou doente um familiar da Paraíba; achou-se menos uma de
minhas espingardas; e sucedeu a novidade de se cortar a língua a hum
cavalo de Manuel Rodrigues; são 6 léguas. 25 de Maio – Fazenda de Francisco Gomes Saí do Engenho ou fazenda de Francisco Nunes Correia às 7 e 1/4 da manhã,
chegámos às 10 3/4, à fazenda de João Gomes; são 3 léguas; o caminho
não é mau mas se sobem e descem muitos morros; passa-se uma ponte com um
bocado de estrada de madeira; lugar de Luís Ferreira, Rosinha de Luís
Ferreira ao pé passa um pequeno regato, lugar de Pedro Álvares, fazenda
de Pedro Álvares; Rosinha de Pedro Álvares, Rosinha de Francisco de
Macedo, na Rosinha de Pedro Álvares há comodidade bastante – 3 léguas. 26 de Maio –
Manuel Dias ou Borda do Campo ou José Aires Gomes. 27 de Maio –
Igreja Nova. Saí da Borda do Campo ou José Aires no
dia 26 depois de jantar e vim dormir à Igreja Nova onde chegamos cedo
ainda, são 2 e 1/2 de distância, é País muito limpo e fértil, tem
semelhança com o País de Portugal aonde não é Montanhoso passam-se
duas pontes pequenas, uma maior de 15 braças onde foi o registo Velho, que
é agora em Matias Barbosa; logo no lugar de José Aires ou Borda do Campo
passa‑se perto do rio das Mortes, e se torna a passar no Registo Velho
depois o lugar de João Ribeiro, depois a uma pequena ponte; o arraial da
Igreja Nova terá 50 casais de moradores, a Igreja que está principiada mas
pouco adiantada em edifício, é um sítio muito airoso e bonito – 2 1/2 léguas. A 10 léguas daqui se acham índios
bravos chamados Botecudos e Pueris e actualmente se trabalhava na conquista
deles. 28 de Maio – Abranches Saí da Igreja Nova às 7 horas da manhã,
cheguei às 11 e 1/2 à fazenda de Abranches; são 4 léguas, todo o caminho
é de campo excelente passa‑se a duas léguas de distância por um bom
rancho chamado o Ribeirão de Alberto Dias; pouco antes se achava um
destacamento de auxiliares fardados de azul e amarelo; e dali légua e meia
outros muitos fardados de branco, e à porta do Manuel Abranches estava uma
companhia de ordenança ‑ 4 léguas. Adiante do ribeirão se passa pelo lugar
das Caveiras, que tem junto uma pequena ponte e o lugar da Cangalheira com
seu regato e ligando Alberto Dias com sua pequena ponte, a 3 léguas da
Igreja Nova deixamos o caminho da ressaca, que é o verdadeiro e tornamos a
direito para Casa do Abranches e daqui a uma légua se mete outra vez no
verdadeiro caminho a estrada. 29 de Maio – o Engenho do Campo Saí do rancho do Abranches às 7 e 1/2
da manhã e cheguei ao Engenho do Campo aos 3/4 para uma hora; são 5 léguas
de distância, bom caminho, avista-se de campo oito ou 9 léguas de
horizonte, passa-se pelo lugar do Carandali, onde corre um rio pequeno que
se mete no rio dos Mortos a bastante distância pelo lugar da fazenda das
Taipas, perto passam dois regatitos com suas pontes: no lugar do engenho se
achavam ordenanças, são 5 léguas. 30 de Maio –
Bananeiras Saí do Engenho do Campo às 6 e 1/2 da
manhã, e cheguei às Bananeiras às 11, são 4 léguas de distância, o
caminho é de Campos excelentes; passa-se pela Rosinha da Peropeva que tem
sua pequena ponte lugar de Peropeva também com sua ponte de madeira e
ribeirão do Inferno tem sua ponte; sítio dos Mulatos, lugar da Badeirinha,
ponte das Bananeiras; no casal estava uma companhia de ordenança chamada
Nobreza; e nas Bananeiras se achava a outra companhia; são 4 léguas. Adiante está o arraial de Cárijós a
distância de meia milha. 31 de Maio –
Chiqueiro Saí das Bananeiras às 5 horas da manhã
e cheguei ao Chiqueiro aos 3/4, para a uma hora, são 7 boas léguas; o
caminho é muito bom menos a serra de Deus te Livre que se passa a 5 léguas
das Bananeiras, é sumamente áspera; passa-se pelo arraial dos Carijós a
um 4.º de légua das Bananeiras tem hoje poucos moradores mas sendo
bastantes casas de taipa, é freguesia, depois pelo rancho novo, ponte das
Congonhas sobre o rio do mesmo nome que desce a caminho da vila Rica, da de
S. João de el-rei, alho da varzinha rancho da varzinha, com sua pequena
ponte; lugar dos Carreiros rancho dos Carreiros arraial do Ouro Branco aonde
ouvi missa; tem sua igreja e bastante moradores; rancho perto do morro no
meio da serra Deus te Livre, tem um rancho novo, rio das Lavrinhas, rancho
das Lavrinhas. No arraial do Ouro Branco havia uma companhia de auxiliares a
cavalo; por todo este caminho se acham muitas lavras de ouro. 1.° de Junho –
Vila Rica Saí do Chiqueiro às 6 e 1/2 da manhã
e cheguei a Vila Rica às 12 e 1/2, são 3 léguas, passamos pelo sítio
chamado Capão de Olanda, lugar do Pinheiro, que perto tem um regato com
ponte de madeira; Capão de José Correia, sítio de José Correia, que ao pé
tem seu ribeirão; aqui se achava um esquadrão de cavalaria auxiliar;
depois pelo sítio das 3 Cruzes; Venda Nova, aonde havia outro esquadrão de
cavalaria auxiliar, a uma légua de Vila Rica chamada Tapué se acha o
general Conde de Valadares com as suas gentes; e logo adiante estava o
esquadrão chamado da Nobreza bem fardado de encarnado com boa música,
depois se continuou a marchar para a vila aonde se achavam debaixo das armas
vários corpos de auxiliares: brancos, mulatos, negros, com suas respectivas
músicas. Vila Rica é uma povoação grande terá 13.000 habitantes situada
sobre vários morros, quase que forma uma só rua que terá quase de
comprimento uma légua tem duas freguesias, uma do Ouro Preto, outra de António
Dias; tem duas Igrejas grandes e asseadas; tem intendente e fundição,
provedor da fazenda intendente e ouvidor; o Palácio do Governador é
pequeno, posto que por todo o lado se trabalha em minerar; dali duas léguas
está Mariana, é uma povoação chamada cidade mas não merece o nome,
perto passa o ribeirão do Carmo, que corta o caminho de Vila Rica até à
de Mariana; aqui não há coiza notável; a casa do Bispo é muito fraca; há
um seminário e a Igreja que serve de Sé é também coisa ordinária. 8 de Junho –
Arraiais de Santo António da Casa
Branca Saí de Vila Rica à uma hora depois de
meio dia e cheguei aos arraiais às 5 3/4, são 3 e meia léguas; passa-se a
meia légua da vila, a serra de S. Borromeu mais trabalhosa de caminho que
passei, pois sempre se vai em grandíssimo perigo; passa-se uma pequena
ribeira com sua ponte de madeira, chamada a ponte dos Taboões, aqui se
achavam tropas de auxiliares e dão a sorte no arraial aonde achei um civil
do general conde de Valadares com um cavalo de presente; o conde com todos
os oficiais e ministros veio acompanhar até o meio da serra, mandou dar
descargas, formar tropas, etc. Este arraial terá 50 vizinhos; aqui
encontrei algumas gentes do rio das Velhas. 9 de Junho –
Fazenda do Coronel Luís José Sota Saí do Arraial de Santo António da
Casa Branca às 7 horas da manhã, e cheguei às 2 e 1/2 da tarde; são 6 léguas
e meia; passa-se pelo rancho da Portela, o alto do Gravata, lugar da Ponte
Nova, e aqui perto passa o rio da Velhas, tem sua ponte de madeira que terá
16 léguas de comprimento, corre para o Norte, aqui há umas grandes lavras
de ouro; passa-se pelo areal do rio das Pedras que é bonito, tem sua ponte,
que terá 10 braças, ribeirão manso com sua ponte rancho do Coche de Água,
ribeirão dos Machados, Santo António do rio das Velhas, aonde também
passa; perto deste areal se acha um negro há vinte e tantos anos dormindo
debaixo de uma árvore, e passeando de dia ao redor do caminho, sempre nu,
sem falar a ninguém traz sempre um pequeno cliveite consigo na mão, que não
deixa beijar a nenhum branco, somente aos negros; come sempre no chão
alguma coisa que se lhe dá. 10 de Junho –
Sabará Saí de casa do coronel Luís José às
6 da manhã e cheguei às 11 3/4 ao Sabará. São 5 léguas, o caminho é
muito mau, quase todo cheio de morros; passa-se sempre quase à borda do rio
das Velhas que de uma parte e outra está cheio de lavras de ouro, de serviços
de roda e outros trabalhos dificultosos; passa-se primeiramente pelos sítios
chamados: Engenho de Água, com seu pequeno regato arraial de Santa Rita que
é bonito, que tem uma ponte de pau que terá 60 braças passa-se pelo
rancho do Padre Pequenino, Ribeirão do Padre Pequenino com sua ponte,
arraial dos Raposos com sua ponte chamado Borumado arraial Velho, etc.
Encontramos muitos destacamentos de tropas auxiliares para honrar –a terra
de Sabará terá 6.000 ou 7.000 habitantes, tem ouvidor, intendente, etc. -
aqui me demorei um dia mas de tarde marchou alguma parte da comitiva para
Santa Luzia. 12 de Junho –
Santa Luzia arraial do Figueiredo Saí do Sabará às 5 horas e meia da
manhã e cheguei ao arraial às 9 da manhã. São 3 léguas de distância
passam-se dois morros de muito mau caminho, e logo adiante do pequeno
arraial de S. Gonçalo se passam os lugares do Alto da Suledade, o Corgo da
Lage e o dos Cordeiros, ambos com suas pontes. O arraial de Santa Luzia é
grande e bonito, ali achei várias ordenanças, encontrei a partida de Goiás
que trazia os 5.os e vieram acompanhados por vários oficiais de
ordenança. Aqui se torna a encontrar o rio das Velhas. De tarde fui dormir
ao Fidalgo aonde fui dormir (sic) e se pousou com pouca comodidade; a
três léguas de Santa Luzia se encontra ao todo deste uma lagoa, chamada a
lagoa Santa Cruz, sua água é muito medicinal; também se passa logo em
Santa Luzia uma grande ponte sobre o rio das Velhas; e mais adiante 2 léguas
até o ribeirão da Mota com sua ponte de madeira – São de todo 4 léguas. 13 de Junho –
Jagoará e Pão de Cheiro Saí do Fidalgo às 6 horas e cheguei à
Jaguará às 9 3/4, são 3 léguas, o caminho é do Sumidouro que terá um
4.º de légua de comprido, e 400 passos de largo; a 2 léguas de distância
se acha há esquerda outra lagoa pequena. De tarde sai de Jagoará e cheguei ao
Pau de Cheiro, são 3 léguas, cheguei pelas 5 horas. No Jagoará torna a passar o rio das
Velhas, que se não vê mais, e vai meter-se no rio de São Francisco; é
uma passagem muito bonita com engenho de açúcar, de cerrar madeira. Situação
airosa; lavras de ouro de meia 8.ª por semana, é fazenda muito grande, tem
mais de 8 léguas de comprimento. Da Jagoará para diante encontram-se
algumas pequenas lagoas, à direita do caminho também há uma à esquerda,
tudo é bom caminho campo excelente, a estrada segue a direcção de Oeste. 14 de junho e 15 –
O Melo Saí do pau de Cheiro às 4 e 1/2 da
manhã, cheguei às 10 ao Melo, são 6 léguas, é país de campos, e tudo
quase bom caminho; passa-se pelo registo de requitibá onde costuma
patrulhar uma partida de dragões de Vila Rica; tem ao pé uma ribeira do
mesmo nome com sua ponte de madeira; passa-se pelo sítio e rancho da
Taboca, e também tem sua ribeira com pontes, etc. A 15 também me demorei
aqui todo o dia, se fizeram várias caçadas de perdizes cordonizes,
periquitos, rolos e outros pássaros. Da Taboca para diante é arcebispado
da Baía até o rio de S. Francisco; e dali para diante até os arrependidos
é bispado de Pernambuco. 16 de Junho –
Maquinez Saí do Melo às 3 3/4 da manhã; e
cheguei ao Maquinez às 9 e 1/4. São 6 léguas, o caminho é muito bom,
passa-se pela ponte do Melo, sítio da Tabuquinha com seu regato ao pé, sítio
da Onça onde há seu rancho, aqui passa um pequeno ribeiro do mesmo nome
com sua ponte de madeira; aqui abarraquei pela primeira vez e matei muita
pomba e rôlos; é um rancho muito mau. 17 de Junho –
Falcão Saí do Maquinez às 3 e 1/2 da manhã,
cheguei ao Falcão às 9 e 1/2, são 6 e 1/2 , é caminho muito bom, o País
é planície mas com algum mato pequeno, passamos pelo ribeirão da Venda
Nova, sítio da Venda Nova, sitio do Sicuriú onde há uma má casa, aqui
abarraquei e se lançaram ao pasto as bestas é muito mau sítio aqui
adoeceu o António Coelho. 18 - 19 de Junho –
Bicudo Saí de Falcão às 4 da manhã e
cheguei ao Bicudo às 9. São 5 léguas; o caminho é planície com algum
mato miúdo e muito campo; passa-se dois ribeirões e estes sem ponte, e
junto do rancho passa um ribeirito chamado o Bicudo com sua ponte de madeira
muito má. Em o dia 19 ficamos neste mesmo sítio
do Bicudo por causa de não aparecerem 10 bestas as quais eram das que
conduzem o mantimento e estas botando-se ao pasto se meteram ao mato, motivo
da nossa demora deste dia, daqui por diante, em dois dias antes se acham
muitos carapatos pelo mato, que se pegam muito e mordem; há muitos pássaros
chamados João de Barros que são galantes pelos ninhos que fazem com sua
divisão, há muitos veados, emas, perdizes, cordonizes, rolas, etc.,
algumas Onças, Arataz. 20 de Junho –
Pindaibaz Saí do Bicudo pelas 4 1/4 da manhã e
cheguei às 10 ao Pindaibaz; são 5 léguas; o caminho é todo excelente de
campos com algum pouco mato de quando em quando; passámos uma pequena
ribeira sem ponte pelo rancho da Sereja com seu regato ao pé, quando daqui
saiu o caseiro com duas cargas um soldado e outro auxiliar se perdeu um
macho do caseiro e depois apareceu. 21 de Junho –
André Quinê Saí das Pindaibaz às 3 1/2 da manhã,
e cheguei às 9 a André Quinê; são 6 léguas, o caminho é excelente,
tudo campo plano, com algum pouco mato de quando em quando. Passa-se o ribeirão do funil e o do
Boi, ambos sem ponte; foi o pior rancho que até aqui apareceu, não havia
nada de comer; aqui vimos veados e muitos Tuanois. 22 de Junho –
Espírito Santo Saí de Andre Quinê às 4 1/4 da manhã,
cheguei ao Espírito Santo às 10, são 7 léguas boas; o caminho é muito
bom de campos até 4 léguas de André Quinê, daí por diante passa-se uma
grande decida de mais de meia légua de mau caminho. Saindo do rancho antecedente passa-se
pelo regato perto, sem nome, com sua pontinha; passa-se mais o ribeirão da
lage, o ribeirão fundo e rio do Espírito Santo, todos sem ponte. Há muito tatu, muita arara, papagaios,
macacos; e Tamandua de Bandeira; o rancho do Espírito Santo não é coisa
grande, mas é melhor que o antecedente. De noite choveu muito, mas melhorou de
manhã; por todo este território fazia de noite e de manhã principalmente
muito frio, e assim continuou até o Paracatu. 23 de Junho –
Abaete Saí do Espirito Santo às 6 1/2 da manhã,
cheguei ao Baete às 10. São 2 1/2 o caminho é bom até o rio de S.
Francisco, mas pantanoso, é uma légua de distância. O rio de S. Francisco corre para o Sul
no sítio da passagem, mas logo toma para Oeste, é muito grande, há de ter
700 passos de largo, passa-se em canoas atadas uma à outra, tem na margem
ocidental umas más cabanas para os passadores e diante dele, légua e meia,
está o rio Abaete, que se mete no meio [do] rio de S. Francisco légua
abaixo, e que terá 320 passos de largo, passa-se em canoa; tem um rancho na
margem Setentrional, aonde me acomodei. Em ambos estes rios costuma haver muitas
sezões e tem muitos peixes serabis e douradas muito grandes. Fez muito frio de noite e se fizeram
muitas fogueiras de S. João e pelo mesmo motivo mandei dar muitos tiros. 24 de Junho, dia de S. João –
As 3 Barras Saí de Abaete às 8 1/2 da manhã e
cheguei às 3 Barras às 12 1/2. - São 5 léguas, o caminho todo muito bom,
tem algum mato; passa-se a um 4.º de légua do rancho um ribeiro em que 3
outros fazem 3 Barras, o que lhe dá o nome. 25 de Junho –
Capão Saí das 3 Barras pelo meio dia, cheguei
ao Capão às 3 ¼. São 4 léguas. O caminho é muito bom, tivemos uma
trovoada com alguma chuva mas passou logo. Passam nesta terra 4 ribeiras ao todo,
sem ponte, que no Inverno ou tempo das águas hão de às vezes de ser
trabalhosas. O primeiro ribeirão chama-se da Área;
o 2.º o do frade; o 3.º o Boreti ; o 4.º o do Capão de Santo Tiago. 26 de Junho – Santo António da Boa
Esperança Saí do Capão às 7 horas da manhã, e
cheguei ao rancho de Santo António às 11 horas. São 4 1/2 léguas, o caminho quase todo
é bom; porém tem algumas decidas e subidas das quais se passam 4 mais
pequenas e sem ponte. De manhã choveu alguma pequena coisa;
em todos estes dias passados não fez calma, antes de noite bastante frio. 27 de junho – Capão do rio do Sono Saí de Santo António da Boa Esperança
pelas 6 1 /2 da manhã, e cheguei aqui às 11 horas. São 3 léguas; o caminho é muito bom. Geralmente a 3 tiros de espingarda da
Boa Esperança para riba havia ribeira muito grande, que em tempo de águas
é muito dificultosa a passagem, esta ribeira chama-se a de Santo António,
mas é verdadeiramente o rio do Sono; logo adiante se passa outra ribeira
chamada das Almas, que igualmente se passa a vau; e é dificultosa com tempo
de águas; mais adiante se passam dois pequenos riachos, o chamam Cachimbo,
coisa fraca. Estes dois primeiros ribeiros grandes de
Santo António e Almas correm para o Norte o primeiro e o 2.º para N.E. O ribeiro de Santo António corre para o
Norte e vai fazer barra no rio de Paracatu, depois de levar em si o rio do
Sono e das Almas, e ribeira de Cachimbo; esta barra é feita a 15 léguas da
outra que faz no rio de S. Francisco, e a barra dista que faz o Paracatu no
rio de S. Francisco 9 léguas se acha o arraial de S. Romão, na margem
esquerda, indo pelo rio abaixo. O rio da Prata mete-se no rio Paracatu
meio 4.º de légua para cima da passagem, a qual por abuso se chama
passagem do rio da Prata, devendo ser passagem do rio Paracatu, em que já
vem incluído o rio da Prata. Aqui foi o primeiro rancho onde tornamos
a ver telha depois do Bicudo. Adiante do rio do Sono, a direita, toma
outro caminho, chamado de S. José, o qual vai meter no que segue ao Vomitório,
ou antes um pouco. 28 de Junho –
As Almas Saí do rancho antecedente pelas 6 1/2
da manhã, e cheguei às 11 1/4. São 5 léguas; passa-se logo o rio do
Sono, que é bastante grande, corre para o Nascente; além da passagem está
um rancho do mesmo nome; logo adiante está o regato do Atoleiro; o rio de
S. Bartolomeu, que tem muita água, corre para o Norte; o rio da Catinga
também leva bastante água e corre também para o Nascente. Adiante o rio das Almas, que é mediano;
todos sem ponte, e em tempo de águas serão muito dificultosos de passar. O rancho das Almas não presta para
nada. Aqui adoeceu o rapaz António Francisco
e fugiu o mulato de José da Fonseca. 29 de Junho - Roça de Santa Isabel Saí do rancho das Almas às 6 1/2 da
manhã e cheguei às 10 1/2 a Santa Isabel. São 4 1/2 léguas medianas; o caminho
é excelente, menos o princípio que passa entre um bosque, com suas subidas
e descidas. Deste caminho se avistam as vastíssimas planícies chamadas de
S. Jerónimo, a de António de 25 ou 30 léguas que rodeiam quase todo o horizonte pela
banda do Este, de Nordeste e de S. E. Não se acha água neste caminho. O rancho de Santa Isabel é bastante
mau. Acha-se muita caça por estes campos;
alem de perdizes e codornizes, há muito veado, onças, antos, etc.; há pássaros
deverços muito grandes como Hemas, Serienias, Coruacas, etc. 30 de Junho –
Vomitório Saí do rancho de Santa Isabel pelas 6
1/2 da manhã e cheguei às 9 1/4. São 3 léguas: o caminho é planície
pela distância de légua e meia, e logo se acha um alagadiço que aos lados
tem uma espécie de lagoa, e o resto do caminho é por entre um bosque de
mato grande; o rancho do Vomitório vale muito pouco. O rio da Prata corre aqui e adiante 5 léguas
se vai passar o rio Paracatu aonde já vai enchendo o da Prata, tendo feito
barra meio 4.º de légua acima. Aqui houve baile de noite de batuque
feito pelas moças da fazenda. 1.º
de Julho - Campo légua e meia adiante do rio da Prata, chamado riacho das
Almas. Saí do rancho Vomitório pelas 4 horas
da manhã e cheguei a este sítio pelas 10, depois de ter feito a necessária
demora em passar o rio. São 6 1/2 léguas, 5 ao rio e uma e
meia a este lugar onde passa um pequeno riacho, perto dum bocado de Mato. O rio da Prata, ou verdadeiramente
Paracatu é nocivo aos passageiros, pelas más águas que leva; quando se
passa leva já consigo o rio da Prata que se mete, pouco em cima da
passagem, e o rio Escuro, que pouco antes se mete no Paracatu. O rio é profundo e terá neste lugar
300 braças de largo; na margem oriental tem um rancho com bastantes
comodidades, e da outra parte também tem alguma casita. A gente passa em
duas canoas e todos os cavalos a nado. O caminho até o rio é tudo planície
mas corre entre vários alagadiços e pantanais e o rio corre para o Norte. 2 de Julho - Corgo Rico Saí do rancho passado pelas 4 3/4 da
manhã e cheguei a Corgo Rico pelas 11 da manhã. São 6 léguas; o caminho não é mau
mas tem seus montes, passam-se dois pequenos riachos com pontes de madeira;
passa-se no mau rancho do Olho de Água, meia légua adiante à direita está
uma grande lagoa, que da princípio a um ribeirão; este tem muito peixe e
muito sucureu, mas é muito nociva a sua vizinhança. No meio do caminho se matou um tamandoá
de que se tirou a vista. O rancho do Corgo Rico não é mau aqui,
principiam outra vez as minas do ouro. 3 de Julho - Paracatu Saí do Corgo Rico às 7 1/2 da manhã e
cheguei a este arraial às 10 horas. São 3 léguas pequenas, o caminho é
muito bom, passa-se por uma pequena ponte sobre um ribeiro de madeira, e
pelo reguto ou coutagem de Nazaré, pelo rancho de Nazaré, a que em distância
de uma légua se achava um esquadrão de cavalaria auxiliar, e vieram
esperar muitas gentes da terra, que é bastante grande e merecia ser vila;
tem 600 vizinhos e mais de 5.000 pessoas. O sitio é bonito numa planície havia
muitas lavras de ouro, e já noutro tempo foram muito maiores; aqui nos
fizeram os maiores obséquios, e nos demoramos 3 dias de quedo (sic)
e no dia 7 se continuou a jornada para Goiás.
(Notas
finais) Os peixes que regularmente se acham nos
rios do sertão são: Serobins, Douradas, Matrinxans, Piaos, Pains, Mandins,
Piranhas. Há papagaios de muitas castas e
Periquitos, Mantaxas, araras de várias cores: umas encarnadas, outras
azuis, todas outras azuis com peito amarelo tostado, chamados Calindiz. Há muitas espécies de cobras chamadas
Sucurias que andam nos rios, e tremedais, gibóias, heraracas, cobra de
coral, cobra de cascavél. Há macacos de muitas castas: Sagoins,
Cotios, Apiras, Tatus, Gatimundios, Preguiças, Onças, veados, Antas,
Farnandicos de Bandeira. Casca de pau chamado sangue de drago
quanto mais grosso milhor bem cozida em um tacho tomar ajudas dela e banho
da mesma água é excelente para corrução. Terá a Igreja Nova 525 fogos. Dei ao Crutely em 7 de Novembro em Cuiabá
– 4/8 1/2 ou 5.400 que ainda não carreguei em livro. Le major Manuel da Rocha Brandão a
changé avec moi son cheval à Santa Luzia. L'autre Major aussi Leandro de Sousa
Teles changé avec moi dans le même endroit.
Fonte: Gilberto
Freyre, Contribuição para uma Sociologia da Biografia. O exemplo de
Luís de Albuquerque, governador de Mato Grosso no fim do século XVIII,
II: Documentário, [Lisboa], Academia Internacional da Cultura
Portuguesa, [1968] A ler:
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