DOS COMENTÁRIOS DE ANTÓNIO DO COUTO 

CASTELO BRANCO

 

A Batalha de Almansa travada, em 25 de Abril de 1707, entre o Exército da Liga composto por forças portuguesas, britânicas e holandesas, contra o Exército "das Duas Coroas" - francesa e espanhola -, deu-se durante a Guerra da Sucessão de Espanha, o primeiro dos grandes conflitos do século 18 provocados por sucessões dinásticas indefinidas, e a última em que os problemas religiosos foram um marco fundamental.

De facto, para o confirmar, basta notar que o comandante do Exército Franco-espanhol - Henry Fitzjames, duque de Berwick - era "britânico"  e católico e o comandante do exército oposto, da Liga, era francês mas protestante - Henri de Massue, duque de Galway.

Devido às indecisões dos Aliados, a seguir à campanha brilhante do marquês das Minas, que levou o exército aliado a ocupar Madrid, a vitória franco-espanhola na Batalha de Almansa será decisiva para colocar no trono espanhol Filipe V, neto de Luís XIV de França, e primeiro rei Bourbon de Espanha.

 

Batalha de Almansa

A Batalha de Almansa

Em 12 de Abril marchámos para o campo de Caudete. É este lugar de Caudete ameno, no princípio do Campo de Villena, Reino de Múrcia, fica ao pé de uma Serra; a povoação é bastante fértil, e bons mantimentos.

Em 14, marchou o Exército ao campo [de] Yecla. Antes de chegar a ele topamos com as Guardas dos inimigos entre a quebrada de dois montes; ao pé de um está plantada a Vila, que como tinha tropas do inimigo não pôde dar obediência, pela qual rezam foi saqueada, e tinha bastantes mantimentos, e muitas forragens no campo.

Em 15 tivemos aqui a notícia certa que o inimigo tinha toda a sua cavalaria em Montalegre quatro léguas distante, e a infantaria na cidade de Chinchilha. Resolveram marchar de noite para a ir surpreender, que se o conseguissem faziam o mesmo à infantaria, para o que marchamos pelas oito horas da noite deste mesmo dia, em quatro colunas com toda a cavalaria na Vanguarda; mas como as guardas dos inimigos estivessem meia légua do nosso campo, tanto que chegaram a avizinhar-se as nossas partidas a elas. Retrocederam as deles ao seu campo com a notícia que marchava o nosso exército sobre eles. A toda pressa se retiraram, em forma que, quando ao amanhecer chegámos ao seu campo, achámos somente alguns despojos, e os rastos frescos de haverem saído havia pouco tempo. Sucedeu a esta vila ser também saqueada por não dar obediência, e se queimou tirando-se-lhe da igreja maior muitas armas, pólvora e bala que estavam escondidas, sendo lugar alegre e grande, muito abundante de todos os mantimentos; era cercada de trincheira com portas.

Em 16 retrocedemos a marcha para o campo de Yecla em quatro colunas, ficando a cavalaria na retaguarda.

Em 17 marchámos ao campo da cidade de Villena em quatro colunas, e ali acampámos. A cidade fica encostada a uma serra. A povoação é grande com boas casas, gente luzida e rica, cercada de trincheira de pedra, com um castelo de formigam, quase como Belém a fábrica dele. Achava-se um brigadeiro francês dentro com guarnição, retirou-se de noite com pressa, deixando só, no castelo, um oficial de pouca graduação chamado Mr. de Grossetête com cento e cinquenta homens de guarnição e quatro peças de artilharia.

Em 18 à noite se mandou assaltar a cidade pelo sargento-mor de batalha D. João Manuel de Noronha1 com os Terços dos mestres de campo D. Brás da Silveira2, D. Luís Manuel da Câmara3 e o de Mateus Alvares Galé, governado pelo sargento-mor. Ganhou-se a cidade, os soldados a foram saqueando, e queimando, mas nas Igrejas se recolheu a gente com o melhor que tinham; do castelo ouve sempre muito fogo com as peças, e mosquetaria.

Em 19 se lhe fez um ataque pequeno e distante, por que não dava o terreno lugar em que se lhe puseram quatro peças de doze libras, e quatro pequenas, que eram as mais grossas que tínhamos. Esta noite foi um destacamento com quinhentos homens a Alicante a buscar munições com o conde da Atalaia4. De tarde tinham ido de guarda os Terços dos mestres de campo o conde da Ilha5 e Nicolau de Tovar6, com o sargento-mor de batalha o conde Dohna7, continuando a nossa bateria sem efeito, pelo material de que era feito o castelo, como da artilharia ser miúda. Resolveu-se fazer uma mina, que se lhe começou junto à muralha.

Em 21 fui eu com o meu Terço de guarda, ficando junto ao castelo [nos ataques onde se me feriram alguma gente, e pus guarda aos conventos de freiras, e num estavam mais as freiras de outro convento que ali eram fugidas de um de fora] e outro Terço do conde de Aveiras8 que ficou na entrada da cidade. Neste dia mandou o governador um Boletim que logo se expediu, e se continuou [o fogo que era muito].

Em 22 à noite me veio render o mestre de campo Félix José Machado de Mendonça com o seu Terço, e outro da Beira. Não se pode evitar as desordens que os soldados cometiam em queimar, e saquear a cidade como fundamento que fora assaltada à força de armas, como tal caída no Comisso. Tinha esta cidade três conventos de frades, e dois de freiras, num estavam as freiras também que tinham vindo fugidas de outro de fora, mas pôs-se guardas com toda atenção. A matriz da cidade tem um sino que tem vinte e cinco palmos de circunferência. Fica perto duma lagoa que dá sal. Dentro das igrejas estavam os moradores com o seu cabedal. Na mesma noite em que chegámos, enquanto se deu o assalto à cidade, foi o sargento-mor do meu Terço, Manuel Gomes Barbosa, com um destacamento [de trezentos homens e seis capitães e oficiais subalternos] ganhar dois fortins que estavam na serra [junto do castelo de Villena que guarneciam 120 franceses com capitão e tenente franceses, alferes, e sargentos. Morreu o capitão e o sargento e nos feriram um capitão por 2 partes no braço e 5 granadeiros, com baionetas ficou a guarnição toda prisioneira, 12 pipas de água, 2 de vinho, 1 de azeite, 2 de vinagre, 200 sacos de biscoito, carne, bacalhau, lenha, e mais miudezas] para evitar o dano que de lá fazia com a mosquetaria aos que haviam de sitiar o castelo [nos ataques que se faziam da artilharia que se pôs ao castelo.] No dia seguinte se mandou fazer a bateria de seis peças com [que] se batia o castelo, mas não foi bem sucedida, por que a obra era de terra antiga e bem-feita. As balas que lhe [se] atiravam davam no parapeito, faziam um buraco, passavam a outra parte da cidade onde matavam no nosso campo alguns soldados que andavam forrajeando, e se davam no corpo da fortaleza ficavam metidas nela sem lhe fazer mais dano que o buraco que lhe abriam. E de mais, as peças que trazíamos eram ligeiras, porque as grossas ficaram com o mais trem na cidade de Valença do Cid, por que se fez tenção [que] fosse aquela entrada de corpo volante atacar o país, e feita marchasse ao reino de Aragão. Como se não fazia brecha no castelo, não se pôde ganhar nos dias que ali estivemos. Chegou notícia de que os inimigos juntavam o seu campo em Almansa, resolveram os generais levantar o campo.

Em 24 se levantou o campo, sendo o Terço do mestre de campo Félix José Machado o último que ficou nos ataques para cobrir algumas coisas que se ficaram retirando enquanto o Exército marchava, e fomos acampar no campo de Bocarro junto a Caudete.

Neste campo de Bocarro junto a Caudete, se fez conselho com as notícias que vieram por alguns desertores, e mais observações que se tinham feito; que era o que os desertores afirmavam, que o socorro do duque de Orleães[9] não tinha chegado, mas antes se tinha feito um destacamento do Exército que tomara o caminho de Requena, que foi a Nola que era um grosso de perto de oito mil homens; pareceu aos generais bom o incidente para irem bater os inimigos pois não podia ter mais oportuna ocasião, que não se lhe ter incorporado os socorros esperados, antes diminuído com o destacamento que tinham feito, se resolveu que no dia vinte e cinco de Abril primeira Oitava da Páscoa, dia de S. Marcos, se marchasse a bater os inimigos. Com esta resolução assentada se chamou todos os mestres de campo, e mais comandantes dos Corpos para lhe noticiarem que tivessem a gente municionada, armas prontas, e tudo o mais para a hora que os mandassem marchar por que ao outro dia determinava ver o inimigo, sem embargo de vir doente de sezões o general marquês das Minas[10], que o seu grande espírito o fazia andar a cavalo desprezando as queixas por não faltar em animar as tropas com a sua presença e exemplo. Tomada a resolução de ir dar batalha aos inimigos deu as ordens seguintes para a marcha que se havia de fazer no dia sobredito de 25 de Abril:

Às três horas da manhã se tocara a alvorada, às três e meia se tocara a recolher; às quatro horas se metera em marcha em quatro colunas pela direita, e pela esquerda, rompendo a linha pelo meio:

A primeira coluna será composta da cavalaria de Olivença, seguida das tropas do lado direito da segunda linha na mesma ordem em que elas estão acampadas. O Terço de Francisco de Abreu Pereira para Retaguarda desta Coluna, que marchará à direita do caminho que sai de Silheira a Almansa, deixará a casa aonde está a quinta da Vila à sua esquerda, deixará também à esquerda a casa do corredor a Torre de D. Henrique. A segunda coluna será composta da cavalaria da direita da primeira linha, seguida de três peças pequenas de artilharia, seguida dos Terços de D. Brás da Silveira, de D. Pedro José de Melo, e de D. Bernardo de Vasconcelos e Sousa, e lhe seguirá a Cavalaria de Moura, e três peças de artilharia, e se seguirá o Terço de Francisco José de Sampaio11, e o Terço de António do Couto de Castelo Branco lhe seguir o resto da cavalaria da direita da primeira linha, à qual seguirá quatro peças de artilharia a saber, três de doze libras, e uma de menos calibre, seguidas do Terço [de] António Carneiro de Sousa12, e do de seu pai o conde da Ilha, e o do conde de Aveiras, e a mais Infantaria Portuguesa da primeira linha, fazendo a Retaguarda o Terço de D. Luís Manuel da Câmara que finda esta coluna, que marchara pelo caminho grande que sai de Villena a Almansa a Torre de D. Henrique, deixaram o caminho que vai a Almansa através do bosque, por tomar a direita que passa junto ao Poço. A terceira coluna será composta do Regimento de Dragões que mandou o brigadeiro Carpenter13, e dos Regimentos de Essex14, e de Guiscard15 seguido de três peças pequenas de artilharia, e seguido dos Regimentos de Southwell16, e Wade17, e dos Regimentos dos Dragões de Killigrew18, Peterborough19, e Pearce20 seguido de três peças pequenas de Artilharia, seguido dos Regimentos de Mountjoy21, e Blood22, seguido do resto de Dragões, e cavalaria do lado esquerdo da primeira Linha, seguido de quatro peças de artilharia, a saber três de doze libras de bala, e uma de menor calibre, seguido do Regimento das Guardas da Rainha Ana e de toda a infantaria inglesa, e holandesa de Corpo de Batalha da primeira linha. O Regimento de Belcastel23 fará a retaguarda desta coluna, que marchará pelo caminho das Carretas que vai de Caudete, a Almansa, deixará a Casa do Corredor à sua direita, e passará pelo caminho que vai à Torre de D. Henrique, observando sempre deixar grande espaço à sua direita para a marcha da segunda coluna, não antes de deixar à sua esquerda um caminho de carretas, atravessando o bosque e as serras. A quarta coluna será composta das Tropas da esquerda da Segunda Linha da sorte que estão cumpridos. O Regimento de Welderen24 fará a retaguarda desta coluna que marchará sempre paralela com as outras três, observando sempre deixar o caminho de Almansa à direita. Às três horas e meia as Tropas que estão ao presente acampadas para cobrir a Esquerda do Exército iram aos postos da Linha. Toda a Artilharia irá às três horas da manhã a Casa do Corredor direita, para ser incorporada nas colunas, como se lhe tem ordenado. Às mesmas horas irão ao mesmo lugar cem Gastadores, e seus Oficiais e ferramentas para marcharem na Vanguarda da Artilharia na segunda e terceira Coluna; as Velhas guardas da direita farão a vanguarda do Exército, e as guardas da esquerda a Retaguarda. Todas as bagagens do Exército marcharão atrás das colunas, e não irão nas Vanguardas dos batalhões, somente aquelas que levam pólvora e bala; se algumas o fizerem serão castigados asperamente. Mandar-se-ão quarenta cavalos com um tenente para guarda das bagagens do Exército, e unidos com o capitão Preboste. Postos em marcha caminhámos três léguas grandes; pelas nove horas avistámos o Campo do inimigo ainda sobre a marcha, ao qual foi reconhecer o capitão dos Hussardos o barão de Populi com a sua companhia, que era de cem húngaros, toparam com a grande Guarda do inimigo, que constava de duzentos cavalos; atacou com tanto valor, que desbaratou o inimigo, e tomou-lhe vinte cinco cavalos que trouxe aos Generais, e deu a verdadeira notícia do campo do inimigo, e da forma em que estavam. Nesta ocasião vieram dois soldados meus, naturais de junto de Vila Real, a quem tinha dado licença para irem ao quartel, e se vieram meter na forma com valor, eu lhes disse que tinham vindo tão depressa tendo-lhes dado licença, e me disseram não valia o terem licença para que faltassem à ocasião da batalha. Esta perda da grande guarda os fez ir ao seu campo, entrando no Exército com tal desordem que causou nele grande consternação tendo quase por presságio de mau sucesso, como eles ao depois confessaram. Quando o capitão dos Hussardos chegou aos nossos generais, estavam as colunas num vale que as cobria dos inimigos umas colinas que ficavam defronte. Assim lhe ficava encoberto o nosso Exército. Com aquela notícia, e resolução que trazia, mandaram meter as colunas em batalha, o que para se executar era necessário marchar sobre um e outro lado para ganhar o terreno e se formarem no centro. Esta se fez alguma coisa vigorosa de costado, em tal forma que montaram as colinas primeiro com os lados que com o centro, forma que se fez estranha ao inimigo, porque entendiam que o não faríamos senão ao outro dia, por que conjecturavam que um Exército que vinha com três léguas grandes de Marcha, com a gente fatigada, por um terreno sem ter água para beberem, nem podiam ter feito alto para descansar e comer, quisessem com tal desesperação lançar-se sobre um Exército que tinha mais do dobro que o deles, pois constava de trinta mil cento e vinte homens [mas esse número era fora a reserva, e gente destacada; porque ao todo eram 35.120] como eles destacaram na Relação que imprimiram da Batalha em Madrid em [falta no manuscrito] de Maio de mil setecentos e sete, sendo de Cavalaria catorze mil Cavalos, porque os seus Regimentos estavam cheios por que lhe tinham entrado os socorros que esperavam, e ter retrocedido o destacamento, que se lhe tinha incorporado também no Exército. Este destacamento tinha levado oito mil homens de cavalaria, Carabineiros de Cavalo, e de pé, granadeiros. E uma espia que ia a nossa Marcha de Villena veio dar parte ao Exército dos inimigos; eles mandaram logo Cavalaria a trazer nas garupas a gente a toda a pressa, que lhe chegou quando nós íamos formando. Se a nossa marcha fora com mais pressa no dia antecedente, lograva-se achá-los diminutos. O nosso Exército não chegava a ter catorze mil homens como eles muito bem sabiam, e falto de Oficiais de toda a graduação, e dos generais, e dos que havia se achava o marquês das Minas doente, que assim entrou na batalha, e o general da cavalaria o conde de Vila Verde25 também doente que fez falta grande [e seu filho D. António de Noronha26 tenente-general da cavalaria27 que assim foi para o seu Troço hoje conde de Vila Verde]. Os regimentos muito diminutos tinham a sua gente descansada, e amparados por um castelo, na Retaguarda, e atrás dele tinham de reserva três mil cavalos dos regimentos inteiro, que eram os das Astúrias, o de Jaén, e outros que, faziam o número de seis regimentos. Os lados do seu Exército cobertos com Montanha; diante tinham uma grande seguia de Valas de Moinhos. A sua formatura era de quatro fundo na infantaria, e a três na cavalaria; e nós a três na infantaria, e dois na cavalaria. Persuadiam-se que nos fizéssemos campo no dito vale que ficava coberto com as colinas; e os inimigos tinham determinado, sendo como conjecturavam, destacarem aquela noite para a cidade de Chinchilha, para o que tinha já as bagagens em marcha postas, e repartidas por todos os corpos, a ordem que se havia de executar na marcha; por que eles não tinham ordem para dar Batalha, nem porem-se em termos de os atacarmos, e era de tal sorte que tinham dado ordem ao bispo de Múrcia28 que se fossem entregando os povos do dito Reino para não serem saqueados, que eles não os podiam defender, nem dar socorros. Vinham somente ali aparecermos por diversão, e marcharem para o reino de Navarra, a fazer lá a campanha, projecto que por nós estava também determinado para se por em execução. Nesta marcha estavam os corpos repartidos, e por donde haviam de ser os trânsitos para o reino de Aragão, dadas as ordens, que nos íamos lá juntar com a mais gente, e que somente faríamos o movimento de corpo volante, deixando talado o país do reino de Múrcia, ficando neste fim o nosso trem de atilharia na cidade de Valença do Cid, e nas praças guarnições se não parecesse dar a Batalha com aquele repente.

Quando formamos em Batalha à vista dos inimigos ao descer pelas costas a ir atacá-los, lhes fez horror a nossa resolução e sossego com que as tropas se metiam em ordem para se arrojarem sobre eles. Neste movimento vieram os capelães absolver os soldados. Ia toda a cavalaria formosa e a infantaria, unindo-se as colunas. As caixas e trombetas tocando com os tímbales, e abuazes, tudo alegre, e bizarria bélica. O primeiro ferido que vi foi D. Diogo de Noronha29, hoje marquês de Marialva, que era capitão de cavalos, e por não aparecer cirurgião tornou para a frente da companhia sem se curar; eu lhe perguntei donde era a ferida, disse-me que no braço, e com grande acordo e valor o vi, corno sempre, [em todas as ocasiões; porque este marquês tem muito valor sem afectação, muito parecido a seu pai o marquês de Angeja].

[…]

Tinha o Exército Português quarenta e quatro Terços, 19 Portugueses, e 25 Ingleses, e Holandeses, e 57 Esquadrões de Cavalaria Portuguesa e Inglesa, mas todos muito diminutos de sorte que faziam 14 mil homens, e tinham 14 peças ligeiras.

O Exército Castelhano tinha cinquenta e três Terços de grande número, que tinham 79 batalhões grossos, e 112 esquadrões de Cavalaria, de 120 até 200 Cavalos, e faziam 35.120 [com a reserva que eles não fizeram menção dela na Relação em que] eles declararam [somente] na Relação que imprimiram em Madrid em Maio do ano de 1707 [30.120]. Não parecem muitas tropas as dos castelhanos; porque tinham em todo o continente de Espanha, mais de 70.000 entre guarnições].

A sua forma era de 4 de fundo na infantaria, e a três na cavalaria, e três mil cavalos de seis Regimentos de reserva detrás do Castelo de Almansa [tinham muitos generais, e muitos oficiais subalternos de graduações grandes]. [O abade Camilo Contarini no 2.° tomo dos seus Anais das Guerras da Europa pela monarquia de Espanha; diz que os generais dos Aliados se puseram em marcha em 8 de Abril de 1707 com 42 batalhões, e 50 esquadrões que todos juntos faziam o número de onze mil infantes, e quatro mil e quinhentos cavalos; e que o Exército Francês e Espanhol consistia em 54 batalhões e 66 esquadrões com que intentavam socorrer Villena, e que o duque de Orleães vinha em marcha com as suas Tropas para unir-se com o Exército de Berwick30, e outros oito mil Franceses se apressavam para o reforçar].

No formar o Exército se começou a conhecer a grande frente que tinham os inimigos, começou-se a puxar os nossos lados com tanto vigor, que se abriu no centro um claro, que foi a nossa perdição (Caso que sucedeu na Batalha de Hochstadt31 da parte dos Franceses que a perderam). A esquerda se adiantou muito para os inimigos [erro fatal; porque se intentou flanquear ao inimigo pelo lado mais forte de tropas e de terreno que era muito coberto com montanha, e seguia, e assim se adiantou de sorte que] quando o centro descia pelas Colinas para o campo de Batalha já se tinha ganhado aos inimigos seis peças de Artilharia, que tinham avançadas e fortificadas com a sequia; levaram-lhe as mulas delas os soldados do Terço do mestre de campo D. Luís Manuel da Câmara. O centro que os viu empenhados caminhou a todo o vigor para eles; o inimigo vendo-se carregado com tanto arrojo foi perdendo o Campo, deixando muita gente morta, e se lhe rompeu o centro da primeira Linha, e desbaratado a direita onde vieram as reservas, e umas brigadas que logo fizeram um quadro para ter mão nos seus e nos nossos [ouve aqui um movimento que foi o coronel Inglês com as tropas do Minho, e de Trás-os-Montes marcharam de costado a ganhar um claro para ter terreno a infantaria francesa a socorreu a sua cavalaria pela retaguarda; a infantaria se pôs armas a punho o regimento inglês lhe fez dar uma descarga redonda para os atacar, mas a infantaria francesa se lhe fez um mandamento que todos se lançaram ao chão com este movimento livraram; e a sua cavalaria francesa os segurou para os não atacarem com a cavalaria] Subiu a sua cavalaria a Montanha que lhe ficava à direita, e muita da sua infantaria entrou como [tu]multuada em Almansa, e se gritou viva Carlos III. A nossa direita enquanto isto se executava na esquerda, foi marchando tanto para a mesma direita, por que descobriu o lado do inimigo, vendo o quanto era mais vantajoso em cavalaria, intentou igualar-se com ele com o pretexto de que lhe não cobrisse o flanco; apareceram a este tempo sobre uma colina que ficava diante deste Exército quatro peças de artilharia que aos primeiros tiros foram ganhadas pela nossa gente. Como pelo excesso de marchar para a direita se fizesse o claro cada vês maior, que estava no centro da Linha, destacou dos inimigos o sargento-mor de batalha Maoni com um corpo de Cavalaria que mandava, e vindo pela frente do meu Terço que estava com armas a punho, não lhe pareceu bom lugar para me acometer; fez um quarto de conversão sobre a minha direita, vendo que o claro da Linha lhe dava boa ocasião para entrar, o fez, com a voz de Viva a Casa de Áustria, rezam por que lhe não atiraram os Terços que estavam nos lados do mesmo claro, tanto se creu esta indústria que um Tenente de Mestre de Campo General, me veio trazer ordem que não [a]tirasse àquele corpo [porque se nos passavam dos inimigos] que eu não guardei e o fiz ao contrário, mas entrando deu na segunda linha, e muita cavalaria que o seguiu a começou a meter em desordem; seguiu-se a esta cavalaria de O’Mahony32 três esquadrões de Cavalaria que fizeram frente ao meu Terço, um que se quis mostrar mais atrevido, intentou acometer-me, chegando quase às baionetas das armas, mas recebendo fogo de dois pelotões caíram mortos alguns soldados e cavalos, ficaram com confusão, fez um quarto de conversão sobre a minha direita, de que me aproveitei para lhe dar mais pelotões, fazendo-lhe maior prejuízo, por que não tinham claros das filas, o que os obrigou a irem buscar a minha Retaguarda, o que se lhes seguia a este entendendo o meu Terço tinha largado todo o fogo, quis levantar o galope sobre ele, mas dando-se-lhe com outros dois pelotões teve o mesmo sucesso que o primeiro, e fez o mesmo movimento, continuei-lhe mais pelotões, e em quanto entendi serem necessários. O terceiro somente com o desengano dos dois; e vendo o sossego com que estava o Terço não fez mais que observar o seu movimento algum tempo até se retirar; Ao mesmo tempo [que se pelejava na vanguarda veio pela retaguarda cavalaria espanhola, com a espada na mão. O meu sargento-mor mandou dar meia volta à direita a dois pelotões, que fizeram a descarga sobre eles, e ficaram todos no chão, dos cavalos tomou um Nicolau de Tovar o que era morzelo com a garupa que levava um capote berne agaloado de prata, e se foi que tinha ali vindo ter depois de perdido o seu Terço] e havendo dúvida que era baralhada com a nossa do partido de Lisboa, que tinham ambas a mesma libré, eu lhe mandei dar umas descargas, que então nenhuma queria perto de mim, e logo se afastou da minha Retaguarda [com a perda que digo]. A este tempo se tinha já retirado a nossa Cavalaria da direita, e de entre os Terços, que por ser pouca ficou entrelaçada e ficaram os grandes claros, apareceram-nos quatro regimentos de Infantaria Biscainha no alto da Montanha cobrindo o flanco dos Terços que eu governava; mandou-me Pedro Mascarenhas33, que servia de mestre de campo general, com o meu Terço e o do mestre de campo Francisco José de Sampaio, que governava o sargento-mor Duarte Teixeira Chaves34 fosse atacar os Terços [biscainhos, e indo faze-lo eles se puseram em retirada com muita desordem que se confundiam indo todos tão tímidos, que espavoridos no seu mesmo excesso mais se precipitavam desordenados do que se retiravam, mas depois se soube não tinham pólvora mais que uma carga] [Este Terço de Francisco José de Sampaio, como se lhe foi o seu sargento-mor, e o capitão mandante, e o meu sargento-mor lhe mandou virar caras à esquerda, e marchou para incorporar-se com o meu, e se lhe repartiram os pelotões, e sempre se conservou com o meu até ser desfeito.

Como faltou a cavalaria do lado do Terço de Francisco José de Sampaio, que governava o sargento-mor veio com Ímpeto sobre o Terço, o inimigo valendo-se do claro que ficou começando-se a descompor o Terço, mandei acudir-lhe, dizendo a D. Diogo de Meneses e Távora35, capitão de cavalos do partido da Corte, que comandava, e tinha vindo ferido de duas balas num braço, para o meu Terço por que se tinha retirado a cavalaria, oferecendo-se-me para tudo o que fosse necessário, disse-lhe que fosse aquele Terço o fizesse com o seu valor e Respeito sustentar pondo-se diante dele, o que fez fazendo estar firme em confusão para rebater a fúria dos inimigos. Os inimigos que tinham vindo sobre o Terço, vendo que o não puderam atropelar se tornavam para a sua Linha, levando duas peças de Artilharia, que ali tínhamos mas veio um soldado de Campo Maior dizer-me que levavam os inimigos duas peças, que era vergonha, que lhe desse quem o ajudasse que as iria recuperar, nomeei-lhe o ajudante Francisco Rodrigues Pinto36, e o ajudante Manuel Freire37 e outros que se achavam a cavalo, e unidos foram, e ganharam as peças trazendo-as ao meu Terço, mandei que as carregassem para tirarem com elas, não havia pólvora, nem artilheiro, que se tinham retirado.

Da segunda linha se tinham puxado alguns Terços e Tropas de cavalaria para a direita quando viram a necessidade da primeira linha para cobrir-lhe o flanco [, mas vendo o general da cavalaria o conde de Vila Verde que lhe fazia dano umas pecas do inimigo as mandou ganhar pelo comissário da cavalaria38 Francisco Lagoa39, que levava a cavalaria de um destacamento; e os três Terços mas o inimigo vindo sobre o costado se puxou esta cavalaria por ordem de D. Pedro Amassa40, e como era numa costa os Terços não puderam acompanhar a cavalaria que marchou ao nosso costado sendo destruídos] Foram os Terços que padeceram nela a sua destruição o do mestre de campo Manuel Leitão de Carvalho, que ficou ferido e prisioneiro; o Terço do mestre de campo Jorge de Azevedo Coutinho que foi morto com valor, nesta perda teve culpa o seu sargento-mor, [que era Francisco Ares] (…), assim se perdeu o Terço com ignorância por [ter disparado todo o fogo junto, e assim se perdeu o Terço por lhe não ficar reserva alguma, com que operasse no segundo cometimento do inimigo] o do mestre de campo Nicolau de Tovar de Meneses, que se perdeu por que fez um movimento dando a Retaguarda ao inimigo, foi derrotado pela Retaguarda vindo em marcha e ele veio a primeira linha onde chegou o mesmo mestre de campo Nicolau de Tovar ao meu Terço; dele se retirou num cavalo, e lhe disseram que tinham morto seu filho, que era capitão no seu Terço; o Terço do mestre de campo Henrique Lopes de Oliveira, depois de fazer a sua obrigação recebeu uma descarga de um Regimento de Dragões, donde perdeu a maior parte dele; ficou o mestre de campo, no seu campo cheio de feridas, e alguns dos seus capitães vieram meter-se no meu Terço, donde me disseram o que lhes ordenava fizessem, e eu os mandei meter na forma; eram os capitães João Ferreira Morais Sarmento, que se acha na Cartuxa procurador geral, outro Estêvão da Silveira Borges, que morreu depois no meu Terço; o Terço do mestre de campo Mateus Alvares Galé padeceu o mesmo infortúnio, [e mataram este mestre de campo ao pé de um pinheiro por não querer quartel] o Terço do mestre de campo D. Henrique Henriques que tendo perdido alguma gente do Terço se incorporou com o meu Terço; O Terço do mestre de campo Francisco de Abreu Pereira, também mandado pelo sargento-mor, foi destruído; os regimentos ingleses, e holandeses foram puxados para a primeira Linha para a Esquerda donde tiveram alguma perda. Todos estes Terços da segunda linha se vinham puxando para a primeira por ser curta que a flanqueava o inimigo, por que a sua era muito grande; assim se perdeu primeiro a nossa segunda linha, que a primeira, contra o uso mas a boa forma da primeira linha a fez conservar mais, e ser a última que sustentou a forma, e o ímpeto dos inimigos.

A direita dos inimigos que tinha sido carregada pela nossa esquerda, validos da reserva que tinham na montanha, carregavam a nossa esquerda, e lhes fizeram perder o terreno, ajudando a esta desordem a sequia que ali tinham; fez descompor mais a forma, e impedindo se formassem outra vez; era a cavalaria do Minho, e de Trás-os-Montes, que procedeu toda com grande valor, e se viram cutiladas tremendas, mandava-a o sargento-mor de batalha o conde da Atalaia que ficou muito ferido, e estando já prisioneiro o tiraram os seus oficiais aos inimigos dando-lhe cavalo para montar que estava a pé [eram estes oficiais António da Cunha e também António Carlos de Castro, que ambos andaram com valor, como nas mais ocasiões]. Perderam ali muita gente os inimigos ficando-lhes regimentos inteiros, abrigadas sobre a terra, sendo as melhores tropas dos inimigos as destruídas, que eram do Corpo, e Valonas, e Suíços, e na brigada de Sillery41 atacou D. Luís Manuel da Câmara, e lhe fez prisioneiros, deixando-a com muita perda, e chegaram abater com as baionetas começou a declinar naquele lado, que retirando-se a cavalaria, o fez a infantaria para a Montanha, catorze Terços, cinco Ingleses, cinco Holandeses, e três Portugueses, faltando a um a Companhia dos Granadeiros, e com um alto que fizeram, detiveram-se os inimigos por algum tempo, que tanto era o respeito que lhe tinham, fazendo somente frente; mandaram a cavalaria que ficasse mais ao centro, fosse carregar o centro da Linha Portuguesa; estava nele o Terço do mestre de campo o conde de Aveiras que governava o sargento-mor Pedro Mendes da Silveira; o Terço do mestre de campo o conde da Ilha, e o de seu filho António Carneiro de Sousa, hoje conde da Ilha, que como se acharam sós no centro com os lados descobertos da Cavalaria que tinham, que era a do Algarve que se tinha retirado, e o troço do Alentejo da outra parte; [se recolheram com os corpos ao meu Terço; e me fizeram alterar a forma indo buscar o pinhal para me incorporar com os que foram da esquerda quando fosse noite que eram os que foram à montanha, e dizendo-se-lhe se conservassem que o meu Terço faria a retaguarda responderam ao meu sargento-mor que ainda os não governava ainda aqui chegou o mestre de campo general Pedro Mascarenhas (os meus granadeiros duas vezes meteram as armas à cara para fazer descarga sobre os dois Terços dos condes da Ilha se lho não atalharam diziam por não nos perderem fossem eles sós).] O Terço do mestre de campo José Delgado Freire, que foi ferido; o Terço de Sebastião de Castro que governava o sargento-mor; o Terço do Mestre de Campo D. Luís Manuel da Câmara que se tinham unido aos Terços dos Ingleses, e Holandeses, que se retiravam para a Montanha; o conde Dohna sargento-mor de batalha das Tropas Holandesas [porque era o que as mandava por ser mais antigo dos generais do seu carácter que se achava com aquele corpo: antes de se recolher à montanha se viu ir falar aos inimigos, e mudar o ramo verde do chapéu, e por papel, que era a divisa dos inimigos; depois de vir dos inimigos falou com o capitão de cavalos Guilherme Rebelo42, que estava com um corpo pequeno por ordem do general da cavalaria o conde de Vila Verde; este cabo Dohna o mandava unir a um troço dos inimigos, mas não o quis fazer Guilherme Rebelo por ter mandado uma partida, e conhecer se era um regimento francês, e as guardas castelhanas; achava-se no campo ainda o general da cavalaria o conde de Vila Verde, e vendo um grosso dos inimigos os carregou com o que tinha e mais o general da cavalaria da Beira D. João Diogo de Ataíde[43], e a degolaram quase toda sendo das vítimas operações da cavalaria que se acabou de retirar; o general. D. João Diogo de Ataíde se juntou com uns oficiais, e soldados e se foram unir com os treze terços a montanha já noite] e querendo salvá-los o conde Dohna, disse tinha ajustado a capitular que não se ia, D. João se retirou com a sua gente. A cavalaria do inimigo foi continuando a carregar os Terços que iam à Montanha a tempo que eles voltaram caras para se melhorarem de terreno, mas nesta operação deram duas descargas redondas os treze Terços sobre a cavalaria dos inimigos que lhe detiveram o passo, e lhe fizeram grande dano ficando-lhe fazendo frente; foi esta operação quando o Sol se ia cravando foi em boa distância, assim empregaram sobre a cavalaria inimiga toda. Achava-se ainda no campo o meu Terço conservando também o Terço de Miranda de que era mestre de campo Francisco José de Sampaio que o governava o sargento-mor Duarte Teixeira Chaves, e alguns fragmentos dos que tinham sido destruídos. Pedro Mascarenhas mestre de campo general vendo a firmeza daquele corpo compadecido da desordem que vira na Cavalaria, e que se retirara desamparando-nos, disse que não pagava o rei com a sua coroa à infantaria, eu lhe disse o que lhe parecia os corpos que eu governava, ele me disse, que uma maravilha, mas que tudo já estava perdido nos acabássemos baixando a carregar ao inimigo mais no plano onde estava; sem embargo de ser grande o poder marchei para eles, e os esquadrões de Cavalaria que nos faziam frente, vendo o movimento e resolução, fizeram uma marcha de costado sobre a sua direita, e se foram, mas como ficava inútil a sua estada ali aqueles poucos que tinham só ficado no campo, sem saber de quem fora uma voz, se disse que virassem caras a Retaguarda como naquele, conflito já com tanta confusão não se deixava perceber se dava as Ordens quem as devia dar, mas voltaram os soldados cara como se lhes disse, de que eu me enfadei de o terem feito, mas como a confusão já não dava lugar a obrigações, foram assim marchando para uma colina que lhe ficava na Retaguarda. A cavalaria dos inimigos que ficava sobre a direita nos veio carregar com tanta pressa que me iam apanhando, por que naquela volta e marcha se me adiantaram os Terços, mas acudindo-me uns oficiais, resistiram à partida que vinha avançada; esta cavalaria e de toda a linha até à nossa direita atacaram ao mestre de campo D. Brás da Silveira que estava no seu Terço, e o Terço de D. Pedro José de Melo que governava o sargento-mor João de Paiva, e o Terço do Mestre de Campo D. Bernardo de Vasconcelos e Sousa que governava o sargento-mor António Pedro de Vasconcelos44. Estes três Terços tinham dado no mapa terem quinhentos e trinta homens de que se deixam de fora muitas e assim estava tudo diminuto. Foram estes três Terços atacados por todos os lados, fizeram muito fogo com que se conservaram algum tempo até serem desfeitos pelo grande peso da cavalaria dos inimigos que com a espada na mão os romperam achando nos Terços uma valorosa defesa até serem mortos e prisioneiros, se fizeram um quadr[ad]o haviam de resistir mais tempo, por que o inimigo os achou na mesma forma que tinham na linha, que sendo quadr[ad]o fazia melhor os pelotões dos lados que eram as faces iguais com a mesma força, mas tudo estava já sem a disposição precisa [nem quem desse ordens].

Na ocasião desta retirada chegou a mim o ajudante Francisco Rodrigues Pinto natural de Saboroso junto de Vila Real, hoje capitão, que me pusesse no cavalo que trazia dos inimigos de um cabo que mataram, por que poderia retirar-me pelo cansado que eu estava, respondi-lhe que aquilo estava perdido, já que ele se podia salvar que o fizesse, e que lhe dava a bolsa de dobrões, que teria três mil cruzados, que se escapasse ele me faria bem com alguma coisa, e se morresse lhos dava, e que tivesse bom sucesso. Respondeu-me o ajudante Francisco Rodrigues Pinto que se não tirava do pé de mim, tornando-lhe a dizer se fosse, que não tivesse dúvida a fazê-lo por que lho dava por ordem que se retirasse que não me fazia falta, por que eu não havia de deixar os soldados desamparados, assim por que queria ver se podia obrar com que os livrasse de padecerem, amparando-os em lugar ou disposição com que os remisse, e que só a mim se me estranharia deixá-los e que a ele se não faria, e demais que a ele o mandavam sendo um oficial subalterno sem que fosse necessário por que eu não havia abandonar os Soldados que me tinham ajudado a ganhar honra tantas vezes, a quem eu tinha acompanhado em o trabalho e assistido com o exemplo, e naquela de mais risco os havia também acompanhar na constância com que havia resistir a tudo, que esperava não os desamparar ainda naquela ocasião até o último alento para mostrar tinha conhecido o Amor deles ao que não era ingrato. Não obstante tudo não se quis ir, nem montar a cavalo; tornei a dizer-lhe com aspereza se fosse, não se tirou de ao pé do Terço com o cavalo pela rédea, até que eu vendo a sua instância, lhe disse que se o cavalo havia de ir assim montaria nele; pus-me a cavalo continuando com o Terço e mais gente que tinha unida que fazia um corpo bastante, mas já sem forma, todo um pelotão [de gente de vários corpos].

Tendo marchado algum espaço indo no meio da subida vendo que os inimigos nos perseguiam tornei a voltar caras dando alguns tiros com pouca ordem, mas o que bastou para os inimigos suspenderem a marcha. O mestre de campo Félix José Machado com o seu Terço, que estava na segunda Linha conservava a forma com valor e boa ordem se uniu ao meu Terço, e me perguntou o que fariam, respondi-lhe se unisse a mim até ver o que faríamos; também se uniu a mim D. Henrique Henriques com o seu Terço da segunda linha, e com boa forma, valor, e ordem.

Com a suspensão dos inimigos tiveram lugar para virar caras para subir ao alto da colina, o qual movimento os inimigos carregaram, e tornando a infantaria a virar caras, fez o mesmo que na antecedente, com a demora dos inimigos ouve lugar para virarem caras a vos dos oficiais que gritaram se recolhessem ao casarão que lhes ficava na Retaguarda para verem se nele podiam fazer alguma defesa até chegar a noite em que pudessem ter algum refugio: foram marchando com a aceleração metendo-se muita gente dentro, e vendo a incapacidade que tinha para os defender, a confusão que havia em todos, a fadiga e cansaço que não deixava já nem movimento, nem discurso livre para nenhuma operação, vendo-se cercados de cavalaria e Infantaria, tirarem alguns tiros inúteis, as faltas que tinham as paredes que nos cercavam em redondo; começou a entrar o inimigo prometendo bom quartel, por que ainda se não davam por seguros; começaram os soldados alargar as armas, e eles a fazerem prisioneiros tudo quanto estava dentro e fora, que estava cercados da sua infantaria, e cavalaria; Aqui foram prisioneiros os mestres de campo o conde da Ilha [não se quis render sem vir oficial a quem se entregasse] Félix José Machado, e o capitão de cavalos D. Diogo de Meneses e Távora depois de ferido de duas balas em um braço, e os meus Oficiais, sendo alguns feridos, entre eles o capitão Manuel de Madureira Lobo, que se distinguiu em toda a advertência, por que é ciente e valoroso; ficou com uma cutilada na Cabeça; e os capitães João Rodrigues de Faria e Simão Moreira, e alguns oficiais miúdos, que com grande valor se tinham havido. Não morreu nenhum do meu Terço, nem dos Soldados pela boa forma que o Terço teve, e uniam, e disposição de fogo. Os mestres de campo António Carneiro de Sousa [hoje conde da ilha do Príncipe], e Dom Henrique Henriques que ficavam sós comigo, disse-lhes que nos retirássemos que aquilo estava perdido ao que respondeu o mestre de campo António Carneiro de Sousa que não sabia se diriam que nos tínhamos ido antes de tempo; respondi-lhe, que se tinha obrado o que era notório, e tudo o que se devia fazer, quem se dilatasse nos havia visto que nos não poderíamos retirar por que tomava sobre mim isso, pois estávamos sem gente, nem corpos que governássemos, e tudo perdido, pusemo-nos com estas razões em retirada, eu, os mestres de campo D. Henrique Henriques, António Carneiro de Sousa, tornou a dizer o mesmo mestre de campo António Carneiro de Sousa, disse nem nós nos podemos retirar por que estamos cercados dos inimigos; respondi-lhe que fossemos vendo se o podíamos fazer, e não tendo outro remédio, que rompêssemos com a espada na mão, ou livrar, ou morrer, fomos saindo por uma costa, eu ia a passo para levar o cavalo com folgo para que me não cansasse. Carregou a Cavalaria e pressionaram o mestre de campo António Carneiro de Sousa, e ao mestre de campo D. Henrique Henriques disseram-me: “Ah António do Couto Castelo Branco!” Eu olhando os vi prisioneiros; disse então, só eu hei-de ser o desgraçado que me salve; botei a espada fora para o mato entre uns pinheiros e a bolsa de dobrões, dizendo:

- “Ainda poderás servir”, ficando-me dinheiro solto na algibeira para quem me aprisionasse, virei o cavalo para os inimigos, chegou um esquadrão a mim disse-lhe era um mestre de campo de infantaria dei o dinheiro que levava aos primeiros que chegaram a mim, tomaram-me o cavalo, que logo venderam, dizendo-lhe que pouco lhe dava nele, trocaram-me o chapéu levando-me o meu que era de galão de ouro e o que me deram era de galão de lã branca, e me tomaram a casaca que era vermelha, e assim me deixaram; fiquei a pé logo me deram a outros para me levarem a Almansa, e no caminho diziam alguns que me matassem, mas diziam os que me levavam que não, que era um coronel. Estes últimos me desfardaram de tudo, e dizendo-lhe que me deixassem as botas que eram de pé pequeno não o quiseram fazer, ao que lhe repliquei; fiquei com um só Surtout por baixo da camisa sem mais nada, e dizendo-lhes que tinha sede, me deram água ardente que bebi, e me ajudou a resistir ao frio que era grande, e poder ir descalço pelo mato sem que me deixassem pegar aos Cavalos, deram-me uns Calções velhos que tinham tirado a outros, tirei uma Casaca a um Morto que devia ser Francês, por que o forro era branco, o pano vermelho, ainda que os Ingleses traziam a mesma Libré, tinha no bolso da casaca dois maços de fitas brancas e vermelhas que era a cor da divisa das duas coroas; vesti do avesso a Casaca por ser menos sujo, era muito grande; foram-me levando para Almansa no caminho vendo matar muitos uns por muito feridos, outros por lhe não darem quartel, ainda que o pediam; sem embargo disto que via não me desanimei. Entrei já de noite em Almansa onde metiam toda agente nas igrejas para a segurarem, pedi aos que me levavam me deixassem de fora; fui para a casa onde era quartel do duque milor Berwick donde achei o capitão Luís Correia que o era de uma companhia do Terço da corte do conde da Ilha, hoje é sargento-mor da praça de Setúbal, deu-me umas meias que trazia debaixo das botas, o patrão de Berwick me deu uns sapatos, ficando melhor já para poder andar; já tarde veio Berwick a quem me queixei do modo com que se houveram com um cabo, ele me mandou para um quartel donde estavam muitos cabos feridos, alguns oficiais do meu Terço, sendo um o ajudante Francisco Rodrigues Pinto que estava ferido; ele me disse que se queria eu retirar-me, que eles o tinham disposto bem; eu lhe disse que estava tão cansado com fome, e frio que me não achava capaz de retirar-me por brenhas ásperas; os oficiais me disseram que suposto o que dizia lhe desse licença para se retirarem, o que fizeram com bom sucesso, por que se puseram seguros no nosso campo, sem embargo do que lhe dizia entendendo não teriam bom sucesso por andarem as guardas dos inimigos e os paisanos, que seriam os piores em não darem quartel para roubarem, que são mais cruéis. Os inimigos estavam com receio de que as nossas tropas que se tinham salvado tornassem unidas com os Terços que estavam na Montanha viessem atacá-los, a este respeito recolheram toda a gente e as guardas para o que tiraram a peça da retreta, e por isso se retiraram com segurança, os oficiais que se tinham ido depois que falaram comigo. O general dos inimigos toda a noite esteve a dar ordens assistindo no campo até madrugada com um grande cuidado e cautela e os mais cabos, por que eles nos tinham grande respeito por não lhe dar o nome mais próprio e verdadeiro. Quando os inimigos retiraram do campo os feridos e enterraram os mortos, soube que um alferes não quis largar a bandeira, cortando-lhe a mão foi unida a este da bandeira sem cair, neste caso fizeram os inimigos grande reflexão nesta acção tão heróica num Oficial tão pequeno.

Também acharam muitos regimentos com os soldados deles mortos em fileiras, sem que a falta da vida lhes fizesse faltar a obrigação; e de um contaram que estando ferido o quiseram retirar, e não quis consentir, dizendo que não era tão pouco brioso que largasse os Camaradas, tendo por fortuna acabar os espíritos vitais juntamente com eles sem os desamparar; somente pediu água, e que se tinha confessado quando entrou na Batalha, e que lhe não lembrava coisa de novo; assim que bebeu a água expirou.

O Rei Filipe V, dando-se-lhe conta da Batalha e as circunstâncias dela, disse que fora tão cara pela perda de tão boa gente, que era a melhor que tinha que ficava sentido de tal Vitória como lhe diziam.

Esta Batalha de Almansa teve tal arrojo, que pareceu mais temeridade, que discurso. Tinha-se assentado no Conselho de Guerra que se fez na cidade de Valença na presença do rei Carlos III fazer-se uma entrada no Reino de Múrcia a talar a Campanha sem que se intentasse mais operação, e somente destruído o país, o que estava conseguido. Os inimigos tinham muita vantagem, e ainda assim esteve a Batalha algum tempo a nosso favor; confessaram os mesmos inimigos que a tiveram perdida. O nosso Exército teve muita perda na infantaria, por que a nossa cavalaria se salvou toda, levando muitos cavalos dos inimigos. A infantaria padeceu perda grande em que entraram os prisioneiros, por que avultou muito os treze Terços da Montanha, que se salvasse cantaríamos o Te Deum pelo vencimento. A nossa perda de mortos e feridos, prisioneiros que foram os mais pelos treze Terços oito até nove mil homens, e dezanove peças de artilharia ligeiras as quais se não ganharam na batalha, mas como vinham sem cocheiros com as mulas soltas fugiram com elas, e para salvar as mulas as cortaram dos tiros deixando as peças por várias partes e barrancos onde as acharam os inimigos e as trouxeram daí a dois dias; concorreu mais não termos oficiais generais, também falta dos subalternos nos Corpos; o marquês general entrou muito doente e oprimido na batalha, e o general da cavalaria o conde de Vila Verde também entrou doente; os inimigos tinham tanto mais poder que excedia ao dobro em infantaria e cavalaria e artilharia; padeceram muita perda, por que ouve Regimentos que lhe não ficaram quatro vivos; foi avaliada a sua perda em mais de [dois] mil e quinhentos cavalos e nove mil homens mortos e feridos, por cuja causa disseram que fora a vitória muito cara; a maior perda foi de oficiais. Gastaram vários dias em enterrar os mortos fazendo-se covas, e no poço da Neve para vencerem mais queimaram muitos corpos pondo-lhe fogo no Campo.

Ficariam dez mil homens mortos no campo, e mais de dois mil, [e quinhentos] cavalos mortos; os seus feridos encheram os hospitais, não ouve medicamentos para se curarem, que se usou de água ardente, também se valeram dos conventos, para os feridos, faltaram cirurgiões para acudirem às curas. Os inimigos e todos os estrangeiros confessaram não tinha havido batalha tão sanguinolenta à proporção dos Exércitos serem pequenos. Era voz constante nos inimigos que tinham notícia dos nossos Conselhos e dos intentos que os dava um sargento-mor de batalha do nosso Exército, e se verificava nos efeitos. O tempo também mostrou que os inimigos se não adiantaram o que se esperava de uma batalha onde diziam venceram por que lhes foi necessário gastar dois anos para penetrarem a Coroa de Aragão que ocupávamos. Para começarem a entrar no Reino de Valença, gastaram em ganhar Jativa quarenta dias que se defendeu depois da Batalha, capitulou ao que se lhe faltou depois. Denia defendeu-se muito tempo, e também capitulou a praça de Lérida; e as mais terras que vieram a entrar foi passado outras campanhas. É para reparar que vencendo o Exército de Carlos III as batalhas de Brihuega e Saragoça perderam o país em pouco tempo desde Madrid até Barcelona; e quando nós perdemos Almansa o que ganharam foi com a dilação de muitos tempos e trabalho dos inimigos, mostrando o tempo o grande prejuízo que receberam na Batalha de Almansa, por estas razões se mostra que a dita batalha de Almansa fez ter o ímpeto aos inimigos pela ruína que receberam, como pena defensa que ainda fizemos, e de mais os inimigos puxaram tudo de Flandres, e Itália para acudir a Espanha que lhe dava grande cuidado a entrada do nosso Exército a vadiar Espanha deu Itália ao Imperador e Flandres, por que se largou tudo para acudir a Espanha como cabeça, sem a qual se não conservaria nada, e com ela tinham esperança de o conseguirem, e toda a Liga se descuidou deixando cair sobre nós todo o poder, e talvez fosse acaso, o que eu chamo descuido, por que os Estrangeiros quando viram a campanha que tínhamos feito, começaram a dizer que não era conveniente pôr tanto poderosa a Casa de Áustria, como quem não queria crescessem em nós os bons sucessos contra as duas coroas, e para se ver o que obraram os nossos generais, e oficiais, que se salvaram da Batalha, farei diante uma memória dos principais sucessos de encontros em que se vê o respeito que nos tinham os inimigos.

Em 26 fui descobrindo os prisioneiros sendo um o conde da Ilha, e seu filho António Carneiro de Sousa; o conde comprou uma camisa a um soldado, que me deu, levando-me para sua casa, onde comia, e D. Diogo de Meneses e Távora. Neste dia deu um jantar o duque de Berwick aos prisioneiros, sendo somente os mestres de campo, e Cabos maiores, foi Dom Diogo de Menezes, sem embargo deter menos posto pela sua grande qualidade, pois lhe não fazia embaraço o posto que tinha; ao chegar se toparam os cabos dos Terços que tinham ido à Montanha com o sargento-mor de batalha o conde Dohna que governava como mais antigo, e ter maior Corpo de Tropas Estrangeiras, e o sargento-mor de batalha D. João Manuel de Noronha, com o mestre de campo D. Luís Manuel da Câmara, os brigadeiros, e coronéis Ingleses e Holandeses sendo um o barão de Viçouse45; ali soube terem capitulado; mas D. João Diogo de Ataíde, general da cavalaria da Beira que depois de se ter retirado a sua cavalaria e a de Lisboa, que estavam na segunda linha, ficou no campo este general com trinta, ou quarenta cavalos, que se lhes agregaram de oficiais e soldados vendo-se já perdido, tudo junto da noite, seguiu os treze Terços que iam à Montanha, foi-se incorporar com eles, disse-lhes que se retirassem por que o terreno os ajudava a pode-lo fazer, com aqueles cavalos que tinha seguraria o campo descobrindo-o, mas respondeu o conde Dohna que queria capitular por que se não podiam salvar, e tinham prometido o faze-lo. D. João disse que o risco de ser prisioneiro era certo, que salvarem-se podiam consegui-lo, não o sendo não teriam outro risco de que o de ser prisioneiro, que tinha mandado descobrir o terreno, não aparecia nada; os inimigos tinham tirado a peça de retrete para que se recolhessem ao seu campo, mas o empenho do conde Dohna não se deixou persuadir deste que o podia mandar vista a resolução. Tomou D. João Diogo de Ataíde, a de ir-se a todo o risco, livrou-se com os mais Cavalos que o acompanharam. Os Terços capitularam mas ficando prisioneiros, entregando os Cabos que tinham aprisionado na batalha, sendo um das guardas de Sillery a quem atacou D. Luís Manuel da Câmara com o seu Terço na acção da batalha. Esta entrega de treze Terços adiantou aos inimigos, que perda de gente tinham tido maior que nós no número de mortos e feridos.

Foi esta batalha contra o Exército composto das tropas dos reis dos mais poderosos dos da Europa, como são as duas coroas de França e Castela, e as Tropas mais escolhidas, mas ainda assim não puderam ficar senhores do campo sem que tivessem a desordem da forma do nosso Exército, por que em quanto a teve não puderam os inimigos ter esperança de bom sucesso, que depois lhe deu a desordem que causaram alguns descuidos a quem atribua a culpa.

O duque de Berwick o jantar que deu foi com grandeza como de um general príncipe; à mesa disse, que em Valença os Botifleiros estariam contentes que são os que seguiam a Filipe V como tinha Iá estado Mr. de Boflé tinham nome de Botifleiros os que seguiam Filipe V. Respondi:

- Que eles cantavam a canção de Toca Ia marcha botiflero, ha de Reynar Carlos Terceiro.

Não respondeu nada o duque. Também chegou por detrás da mesa um coronel de Múrcia D. Pedro que estava na fronteira donde eu governava, donde o carreguei algumas vezes nos choques, disse que queria ver-me que lho mostrassem, e me achava com a farda miserável, dizendo-me os camaradas se tinha vergonha de estar assim, lhe disse que não, que como fizera a minha obrigação, que bastava como se estivera vestido de ouro; bem disse aos camaradas quando me gabaram do bem que andara, que não queria se dissesse.

 

1. D. João Manuel de Noronha (1679-1761), 6.º conde de Atalaia, 1.º marquês de Tancos em 1751. Tinha sido promovido, em 11 de Abril, ao posto de General de Artilharia do Alentejo, sendo no ano seguinte promovido a mestre de campo general. Foi feito prisioneiro na batalha.

2. D. Brás Baltasar da Silveira (1674-?), neto do 1.º marquês das Minas. Tinha sido promovido, em 11 de Abril, a sargento-mor de batalha da Beira. Será promovido a marechal de campo general em 1711.

3. D. Luís Manuel da Câmara (1685-1723), 3.º conde da Ribeira Grande, capitão donatário e capitão-general da ilha de São Miguel. Promovido em 11 de Março a sargento-mor de batalha do Minho, tinha acabado de ser promovido, em 14 de Abril, a mestre de campo general. Foi ferido e feito prisioneiro na batalha.

4. D. Pedro Manoel de Ataíde (1665-1722), 5.º conde de Atalaia. Tendo fugido para França devido à sua participação na morte do corregedor do crime do Bairro Alto, de Lisboa, participou na Guerra do lado francês até à entrada de Portugal na guerra. Nessa altura regressou a Portugal sendo nomeado oficial no Terço do seu meio-irmão, D. João Manuel de Noronha, futuro 6.º conde. Nomeado tenente-general de cavalaria em 1704, foi promovido a sargento-mor de batalha em 11 de Abril de 1707 e nomeado governador da Torre de Belém em 5 de Maio seguinte. Participou na batalha no comando da Ala direita do Exército Aliado. Promovido a mestre de campo general comandou interinamente o Exército Português na Catalunha.

5. Francisco Carneiro de Sousa (c.1640-1708), 2.º conde da ilha do Príncipe. Comandante do Terço do Minho no princípio da guerra passou ao Terço Velho da Corte em 1705. Tinha sido promovido em 11 de Abril a sargento-mor de batalha de Trás-os-Montes.

6. Nicolau Tovar e Meneses (1660-1733). Em 1701 era mestre de campo do Terço Auxiliar de Pinhel, em 1707 foi nomeado governador de Olivença, sendo promovido a sargento-mor de batalha da Beira em 3 de Fevereiro de 1708.

7. Johan Frederik graaf van Dohna (1663-1712), marquês de Ferrassières, general do Exército Holandês, brigadeiro em 1701, major-general em 1704, será promovido em 1709 a tenente-general.

8. D. Luís da Silva Telo e Meneses (1682-1741), 4.º conde de Aveiras. Tinha sido promovido a tenente-general de cavalaria da Corte em 28 de Março de 1707, sendo promovido a brigadeiro em 28 de Abril de 1708. Chegará a mestre de campo general em 27 de Março de 1735.

9. Filipe II de Bourbon (1674-1723), duque de Orleães, comandante do Exército Francês em Itália, comandou o Exército Francês e Espanhol em Espanha em 1707 e 1708. Será regente de França após a morte de Luís XIV.

10. D. António Luís de Sousa (1644-1721), 2.º marquês de Minas. Nomeado general de batalha em 1665, foi promovido a mestre de campo general em 6 de Dezembro de 1674. Enquanto governador das Armas do Alentejo, dirigiu o Exército da Liga que invadiu Espanha e conquistou Madrid em 1706.

11. Francisco José de Sampaio e Castro (1675-1723), senhor de Vila Flor, 40.º vice-rei da Índia. Capitão de cavalos em 1704, mestre de campo em data não conhecida, foi promovido a brigadeiro de Cavalaria em 8 de Abril de 1708, mantendo o comando do seu Terço, sargento-mor de batalha em 1710, chegará ao posto de mestre de campo general. Foi vice-rei da Índia de 1720 a 1723.

12. António Carneiro de Sousa (c.1680-1724), 3.º conde da ilha do Príncipe.

13. George Carpenter (1657-1731), 1.º barão Carpenter, comprou o Regimento de Dragões do Rei em 1693, com dinheiro do dote da mulher. Promovido a brigadeiro em 1705, a major-general em 1708 e tenente-general em 1710, foi embaixador à Coroa Austríaca em 1715.

14. 3.º Regimento de Dragões, de Algernon Capell, 2.º conde de Essex, membro do Conselho Privado da rainha Ana desde 1708.

15. Regimento de Dragões de Antoine de Guiscard (1658-1711), abade de Bourlie. Irmão do conde de Guiscard, após ter apoiado a revolta da região protestante de Cévennes, no Sul de França, em 1702, estabeleceu-se em Inglaterra, passando a ser conhecido por marquês.

16. Regimento de Infantaria de William Southwell (1669-1720). Político irlandês, foi promovido a tenente-coronel em 1703 e a coronel em 1706. Em 1708 vendeu o seu regimento e tornou-se capitão da Guarda do governador da Irlanda, sendo membro da Câmara dos Comuns irlandesa a partir de 1703.

17. Regimento de Infantaria de George Wade (33.º em 1715). George Wade (1673-1748) foi um dos mais famosos generais britânicos da primeira metade do século 18. Foi promovido a brigadeiro em 1708, tendo chegado ao posto de marechal em 1743.

18. Brigadeiro Robert Killigrew (1660-1707), comandante do 8.º Regimento de Dragões, morreu na batalha

19. Regimento de Charles Mordaunt (1658-1735), 3.º conde de Peterborough. Comandante das forças britânicas na península a partir de Abril de 1705 foi chamado a Inglaterra em Março de 1707 para explicar as suas controversas decisões durante a campanha.

20. Regimento do brigadeiro Thomas Pearce (c.1664-1739). Participou na expedição a Cádis onde foi ferido, regressado à península em 1707 com o posto de brigadeiro participou com distinção na batalha do Caia em 1709.

21. Regimento de Infantaria de Mountjoy. William Stewart (1675-1728), 2.º visconde Mountjoy, foi nomeado em 1714 Master General of Ordnance, equivalente à função de tenente-general da Artilharia em Portugal.

22. O antigo Regimento n.º 17 de Leicestershire, comandado pelo coronel Holcroft Blood (c.1657-1707) que morreu dos ferimentos sofridos na batalha.

23. Pierre de Belcastel (m.1710). Oficial huguenote francês, fugiu de França em 1685, devido à revogação do Édito de Nantes, proibindo-se assim o culto protestante em França, entrou ao serviço de Guilherme de Orange. Recrutou em Inglaterra um regimento de refugiados huguenotes franceses que foi incorporado no Exército Holandês em 1701. Foi promovido a major-general em 1704 e a tenente-general em 1709. Em 1708 foi nomeado comandante das tropas holandesas na península, tendo morrido na batalha de Villaviciosa

24. Regimento holandês de Gijsbert van Welderen (1666-1730), major-general de infantaria, governador de Meenen e, mais tarde, de Sluis.

25. D. Pedro de Noronha (1661-1731), 2.º conde de Vila Verde, 1.º marquês de Angeja em 1714. Tendo sido o 34.º vice-rei da Índia de 1693 a 1698, era mestre de campo general do Alentejo desde 1705.

26. D. António de Noronha (1680-1735), 3.º conde de Vila Verde e 2.º marquês de Angeja. Atingiu o posto de mestre de campo general antes de 1719.

27. Função militar equivalente à de coronel na infantaria. Não havendo na cavalaria portuguesa corpos organizados para além das companhias a cavalaria organizava-se em tropas (esquadrões) e troços (regimentos) provisórios.

28. Luís António de Belluga y Moncada, cardeal Belluga em 1719, bispo de Múrcia, vice-rei e capitão-genera de Valência e Múrcia em 1705

29. D. Diogo de Noronha (1698-1759), filho do 2.º conde de Vila Verde, casará em 1712 com a 3.ª marquesa de Marialva, D. Joaquina de Meneses. Será promovido a brigadeiro por volta de 1711, atingindo o posto de mestre de campo general em 1735.

30. James Fitzjames (1670-1734), duque de Berwick, filho natural do rei Jaime II de Inglaterra, nascido da sua ligação com Arabella Churchill, irmã mais velha de John Churchill, duque de Marlborough.

31. Mais conhecida na História Britânica como de Blenheim, travada em 13 de Agosto de 1704

32. Regimento de Dragões do conde Daniel O’Mahony (m.1714). Fiel a Jaime II, serviu a França na Brigada Irlandesa. Foi promovido a brigadeiro devido à sua acção na batalha de Almansa.

33. D. Pedro de Mascarenhas (1670-1745), 1.º conde de Sandomil em 1732 quando foi nomeado vice-rei da Índia. Sargento-mor de batalha em 1703 tinha sido promovido a mestre de campo general em 11 de Abril de 1711.

34. Gastão de Melo Matos propõe o filho de Sebastião Pequeno Chaves como a pessoa aqui citada, mas é mais provável que seja o seu primo homónimo, nascido em 1662 e que em 1746 era tenente-coronel (http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=555033).

35. D. Diogo de Meneses e Távora (1679-1751), comendador de Santa Maria de Valada na Ordem de Cristo, alcaide-mor de Silves, estribeiro-mor da rainha, senhor do morgado da Caparica.

36. Assentou praça em 1703, sendo sargento-mor do Terço Auxiliar de Vila Real em 1730, posto em que morreu em 1762.

37. Segundo Gastão de Melo Matos, é possivelmente Manuel Freire de Andrade (?-1764) autor de um tratado de fortificação – Postilha Militar – existente na Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Portugal. Chegou a Capitão do Terço da Beira durante a guerra, foi coronel do Regimento de Peniche. Governador de Olivença, foi promovido a brigadeiro em 1735, a sargento-mor de batalha em 1750 e a mestre de campo general em 1762.

38. Função militar equivalente ao posto de major [sargento-mor] na infantaria. Não havendo na cavalaria corpos estruturados para além da companhia, as «tropas», equivalente à troop inglesa – esquadrões – eram comandadas por comissários, assim como os «troços» eram comandados por tenentes-generais de cavalaria.

39. Francisco Lagoa Nogueira, ajudante-general em 1709, chegou a coronel em 1712, sendo comandante do Regimento de Cavalaria de Olivença desde 1722, foi promovido a brigadeiro em 1735 e a sargento-mor de batalha em 1750. Em 1754 era governador de Moura.

40. Tenente-general da Cavalaria do Alentejo em 1704, promovido a sargento-mor de batalha em 11 de Abril de 1707 e a mestre de campo general em 1710. Desconhece-se a sua nacionalidade.

41. Félix François Brulart, conde de Sillery, chefe do Regimento de Sillery, brigadeiro do Exército Francês, morreu durante a batalha. Era filho de Roger Brulart, marquês de Sillery e de Puisieux, tenente-general do Exército Francês. Comandava uma brigada formada por cinco batalhões, incluindo o seu.

42. Segundo Gastão de Melo Matos era filho de Guilherme Rebelo e de Ana Scgoff de Hareins, estudou em Coimbra tendo chegado a coronel.

43. João Diogo de Sousa e Ataíde (1663-1740), 1.º conde de Alva em 1729. Mestre de campo de um Terço de Lisboa em 1701, sargento-mor de batalha de Trás-os-Montes em 1703, general de cavalaria da Beira em 1707. Em 1719 será nomeado governador das Armas do Alentejo, acabando a sua carreira militar como general da Armada Real, em 1735.

44. Alferes em 1705, ajudante de tenente de mestre de campo general ao serviço do barão de Fegel, comandante-chefe das tropas holandesas, ajudante-general, será promovido a brigadeiro em 1721 e nomeado governador da Colónia do Sacramento. Em 1749 será promovido a sargento-mor de batalha pelos seus bons serviços na defesa da Colónia.

45 Francisco, barão de Viçouse (m.1732), coronel de um regimento huguenote recrutado em 1701 para o Exército dos Países Baixos, chegou ao posto de tenente-general.

Fonte:

Gastão de Melos Matos (ed.), Comentários de António do Couto Castelo Branco sobre as Campanhas de 1706 e 1707 em Espanha, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1931.

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