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DOS COMENTÁRIOS DE ANTÓNIO DO COUTO CASTELO
BRANCO
A Batalha de Almansa travada, em 25 de Abril de 1707, entre o Exército da Liga composto por forças portuguesas, britânicas e holandesas, contra o Exército "das Duas Coroas" - francesa e espanhola -, deu-se durante a Guerra da Sucessão de Espanha, o primeiro dos grandes conflitos do século 18 provocados por sucessões dinásticas indefinidas, e a última em que os problemas religiosos foram um marco fundamental. De facto, para o confirmar, basta notar que o comandante do Exército Franco-espanhol - Henry Fitzjames, duque de Berwick - era "britânico" e católico e o comandante do exército oposto, da Liga, era francês mas protestante - Henri de Massue, duque de Galway. Devido às indecisões dos Aliados, a seguir à campanha brilhante do marquês das Minas, que levou o exército aliado a ocupar Madrid, a vitória franco-espanhola na Batalha de Almansa será decisiva para colocar no trono espanhol Filipe V, neto de Luís XIV de França, e primeiro rei Bourbon de Espanha.
Em
12 de Abril marchámos para o campo de Caudete. É este lugar de
Caudete ameno, no princípio do Campo de Villena, Reino de Múrcia,
fica ao pé de uma Serra; a povoação é bastante fértil, e bons
mantimentos. Em
14, marchou o Exército ao campo [de] Yecla. Antes de chegar a ele
topamos com as Guardas dos inimigos entre a quebrada de dois montes;
ao pé de um está plantada a Vila, que como tinha tropas do inimigo não
pôde dar obediência, pela qual rezam foi saqueada, e tinha bastantes
mantimentos, e muitas forragens no campo. Em
15 tivemos aqui a notícia certa que o inimigo tinha toda a sua
cavalaria em Montalegre quatro léguas distante, e a infantaria na
cidade de Chinchilha. Resolveram marchar de noite para a ir
surpreender, que se o conseguissem faziam o mesmo à infantaria, para
o que marchamos pelas oito horas da noite deste mesmo dia, em quatro
colunas com toda a cavalaria na Vanguarda; mas como as guardas dos
inimigos estivessem meia légua do nosso campo, tanto que chegaram a
avizinhar-se as nossas partidas a elas. Retrocederam as deles ao seu
campo com a notícia que marchava o nosso exército sobre eles. A toda
pressa se retiraram, em forma que, quando ao amanhecer chegámos ao
seu campo, achámos somente alguns despojos, e os rastos frescos de
haverem saído havia pouco tempo. Sucedeu a esta vila ser também
saqueada por não dar obediência, e se queimou tirando-se-lhe da
igreja maior muitas armas, pólvora e bala que estavam escondidas,
sendo lugar alegre e grande, muito abundante de todos os mantimentos;
era cercada de trincheira com portas. Em
16 retrocedemos a marcha para o campo de Yecla em quatro colunas,
ficando a cavalaria na retaguarda. Em
17 marchámos ao campo da cidade de Villena em quatro colunas, e ali
acampámos. A cidade fica encostada a uma serra. A povoação é
grande com boas casas, gente luzida e rica, cercada de trincheira de
pedra, com um castelo de formigam, quase como Belém a fábrica dele.
Achava-se um brigadeiro francês dentro com guarnição, retirou-se de
noite com pressa, deixando só, no castelo, um oficial de pouca graduação
chamado Mr. de Grossetête com cento e cinquenta homens de guarnição
e quatro peças de artilharia. Em
18 à noite se mandou assaltar a cidade pelo sargento-mor de batalha
D. João Manuel de Noronha1
com os Terços dos mestres de campo D. Brás da Silveira2,
D. Luís Manuel da Câmara3
e o de Mateus
Alvares Galé, governado pelo sargento-mor. Ganhou-se a cidade,
os soldados a foram saqueando, e queimando, mas nas Igrejas se
recolheu a gente com o melhor que tinham; do castelo ouve sempre muito
fogo com as peças, e mosquetaria. Em
19 se lhe fez um ataque pequeno e distante, por que não dava o
terreno lugar em que se lhe puseram quatro peças de doze libras, e
quatro pequenas, que eram as mais grossas que tínhamos. Esta noite
foi um destacamento com quinhentos homens a Alicante a buscar munições
com o conde da Atalaia4.
De tarde tinham ido de guarda os Terços dos mestres de campo o conde
da Ilha5
e Nicolau de Tovar6,
com o sargento-mor de batalha o conde Dohna7,
continuando a nossa bateria sem efeito, pelo material de que era feito
o castelo, como da artilharia ser miúda. Resolveu-se fazer uma mina,
que se lhe começou junto à muralha. Em
21 fui eu com o meu Terço de guarda, ficando junto ao castelo [nos
ataques onde se me feriram alguma gente, e pus guarda aos conventos de
freiras, e num estavam mais as freiras de outro convento que ali eram
fugidas de um de fora] e outro Terço do conde de Aveiras8
que ficou na entrada da cidade. Neste dia mandou o governador um
Boletim que logo se expediu, e se continuou [o fogo que era muito]. Em
22 à noite me veio render o mestre de campo Félix
José Machado de Mendonça com o seu Terço, e outro da Beira.
Não se pode evitar as desordens que os soldados cometiam em queimar,
e saquear a cidade como fundamento que fora assaltada à força de
armas, como tal caída no Comisso. Tinha esta cidade três conventos
de frades, e dois de freiras, num estavam as freiras também que
tinham vindo fugidas de outro de fora, mas pôs-se guardas com toda
atenção. A matriz da cidade tem um sino que tem vinte e cinco palmos
de circunferência. Fica perto duma lagoa que dá sal. Dentro das
igrejas estavam os moradores com o seu cabedal. Na mesma noite em que
chegámos, enquanto se deu o assalto à cidade, foi o sargento-mor do
meu Terço, Manuel
Gomes Barbosa, com um destacamento [de trezentos homens e seis
capitães e oficiais subalternos] ganhar dois fortins que estavam na
serra [junto do castelo de Villena que guarneciam 120 franceses com
capitão e tenente franceses, alferes, e sargentos. Morreu o capitão
e o sargento e nos feriram um capitão por 2 partes no braço e 5
granadeiros, com baionetas ficou a guarnição toda prisioneira, 12
pipas de água, 2 de vinho, 1 de azeite, 2 de vinagre, 200 sacos de
biscoito, carne, bacalhau, lenha, e mais miudezas] para evitar o dano
que de lá fazia com a mosquetaria aos que haviam de sitiar o castelo
[nos ataques que se faziam da artilharia que se pôs ao castelo.] No
dia seguinte se mandou fazer a bateria de seis peças com [que] se
batia o castelo, mas não foi bem sucedida, por que a obra era de
terra antiga e bem-feita. As balas que lhe [se] atiravam davam no
parapeito, faziam um buraco, passavam a outra parte da cidade onde
matavam no nosso campo alguns soldados que andavam forrajeando, e se
davam no corpo da fortaleza ficavam metidas nela sem lhe fazer mais
dano que o buraco que lhe abriam. E de mais, as peças que trazíamos
eram ligeiras, porque as grossas ficaram com o mais trem na cidade de
Valença do Cid, por que se fez tenção [que] fosse aquela entrada de
corpo volante atacar o país, e feita marchasse ao reino de Aragão.
Como se não fazia brecha no castelo, não se pôde ganhar nos dias
que ali estivemos. Chegou notícia de que os inimigos juntavam o seu
campo em Almansa, resolveram os generais levantar o campo. Em
24 se levantou o campo, sendo o Terço do mestre de campo Félix José
Machado o último que ficou nos ataques para cobrir algumas coisas que
se ficaram retirando enquanto o Exército marchava, e fomos acampar no
campo de Bocarro junto a Caudete. Neste
campo de Bocarro junto a Caudete, se fez conselho com as notícias que
vieram por alguns desertores, e mais observações que se tinham
feito; que era o que os desertores afirmavam, que o socorro do duque
de Orleães[9]
não tinha chegado, mas antes se tinha feito um destacamento do Exército
que tomara o caminho de Requena, que foi a Nola que era um grosso de
perto de oito mil homens; pareceu aos generais bom o incidente para
irem bater os inimigos pois não podia ter mais oportuna ocasião, que
não se lhe ter incorporado os socorros esperados, antes diminuído
com o destacamento que tinham feito, se resolveu que no dia vinte e
cinco de Abril primeira Oitava da Páscoa, dia de S. Marcos, se
marchasse a bater os inimigos. Com esta resolução assentada se
chamou todos os mestres de campo, e mais comandantes dos Corpos para
lhe noticiarem que tivessem a gente municionada, armas prontas, e tudo
o mais para a hora que os mandassem marchar por que ao outro dia
determinava ver o inimigo, sem embargo de vir doente de sezões o
general marquês das Minas[10],
que o seu grande espírito o fazia andar a cavalo desprezando as
queixas por não faltar em animar as tropas com a sua presença e
exemplo. Tomada a resolução de ir dar batalha aos inimigos deu as
ordens seguintes para a marcha que se havia de fazer no dia sobredito
de 25 de Abril: Às
três horas da manhã se tocara a alvorada, às três e meia se tocara
a recolher; às quatro horas se metera em marcha em quatro colunas
pela direita, e pela esquerda, rompendo a linha pelo meio: A
primeira coluna será composta da cavalaria de Olivença, seguida das
tropas do lado direito da segunda linha na mesma ordem em que elas estão
acampadas. O Terço de Francisco
de Abreu Pereira para Retaguarda desta Coluna, que marchará à
direita do caminho que sai de Silheira a Almansa, deixará a casa
aonde está a quinta da Vila à sua esquerda, deixará também à
esquerda a casa do corredor a Torre de D. Henrique. A segunda coluna
será composta da cavalaria da direita da primeira linha, seguida de
três peças pequenas de artilharia, seguida dos Terços de D. Brás
da Silveira, de D.
Pedro José de Melo, e de D.
Bernardo de Vasconcelos e Sousa, e lhe seguirá a Cavalaria de
Moura, e três peças de artilharia, e se seguirá o Terço de
Francisco José de Sampaio11,
e o Terço de António do Couto de Castelo Branco lhe seguir o resto
da cavalaria da direita da primeira linha, à qual seguirá quatro peças
de artilharia a saber, três de doze libras, e uma de menos calibre,
seguidas do Terço [de] António Carneiro de Sousa12,
e do de seu pai o conde da Ilha, e o do conde de Aveiras, e a mais
Infantaria Portuguesa da primeira linha, fazendo a Retaguarda o Terço
de D. Luís Manuel da Câmara que finda esta coluna, que marchara pelo
caminho grande que sai de Villena a Almansa a Torre de D. Henrique,
deixaram o caminho que vai a Almansa através do bosque, por tomar a
direita que passa junto ao Poço. A terceira coluna será composta do
Regimento de Dragões que mandou o brigadeiro Carpenter13,
e dos Regimentos de Essex14,
e de Guiscard15
seguido de três peças pequenas de artilharia, e seguido dos
Regimentos de Southwell16,
e Wade17,
e dos Regimentos dos Dragões de Killigrew18,
Peterborough19,
e Pearce20
seguido de três peças pequenas de Artilharia, seguido dos Regimentos
de Mountjoy21,
e Blood22,
seguido do resto de Dragões, e cavalaria do lado esquerdo da primeira
Linha, seguido de quatro peças de artilharia, a saber três de doze
libras de bala, e uma de menor calibre, seguido do Regimento das
Guardas da Rainha Ana e de toda a infantaria inglesa, e holandesa de
Corpo de Batalha da primeira linha. O Regimento de Belcastel23
fará a retaguarda desta coluna, que marchará pelo caminho das
Carretas que vai de Caudete, a Almansa, deixará a Casa do Corredor à
sua direita, e passará pelo caminho que vai à Torre de D. Henrique,
observando sempre deixar grande espaço à sua direita para a marcha
da segunda coluna, não antes de deixar à sua esquerda um caminho de
carretas, atravessando o bosque e as serras. A quarta coluna será
composta das Tropas da esquerda da Segunda Linha da sorte que estão
cumpridos. O Regimento de Welderen24
fará a retaguarda desta coluna que marchará sempre paralela com as
outras três, observando sempre deixar o caminho de Almansa à
direita. Às três horas e meia as Tropas que estão ao presente
acampadas para cobrir a Esquerda do Exército iram aos postos da
Linha. Toda a Artilharia irá às três horas da manhã a Casa do
Corredor direita, para ser incorporada nas colunas, como se lhe tem
ordenado. Às mesmas horas irão ao mesmo lugar cem Gastadores, e seus
Oficiais e ferramentas para marcharem na Vanguarda da Artilharia na
segunda e terceira Coluna; as Velhas guardas da direita farão a
vanguarda do Exército, e as guardas da esquerda a Retaguarda. Todas
as bagagens do Exército marcharão atrás das colunas, e não irão
nas Vanguardas dos batalhões, somente aquelas que levam pólvora e
bala; se algumas o fizerem serão castigados asperamente. Mandar-se-ão
quarenta cavalos com um tenente para guarda das bagagens do Exército,
e unidos com o capitão Preboste. Postos em marcha caminhámos três léguas
grandes; pelas nove horas avistámos o Campo do inimigo ainda sobre a
marcha, ao qual foi reconhecer o capitão dos Hussardos o barão de
Populi com a sua companhia, que era de cem húngaros, toparam com a
grande Guarda do inimigo, que constava de duzentos cavalos; atacou com
tanto valor, que desbaratou o inimigo, e tomou-lhe vinte cinco cavalos
que trouxe aos Generais, e deu a verdadeira notícia do campo do
inimigo, e da forma em que estavam. Nesta ocasião vieram dois
soldados meus, naturais de junto de Vila Real, a quem tinha dado licença
para irem ao quartel, e se vieram meter na forma com valor, eu lhes
disse que tinham vindo tão depressa tendo-lhes dado licença, e me
disseram não valia o terem licença para que faltassem à ocasião da
batalha. Esta perda da grande guarda os fez ir ao seu campo, entrando
no Exército com tal desordem que causou nele grande consternação
tendo quase por presságio de mau sucesso, como eles ao depois
confessaram. Quando o capitão dos Hussardos chegou aos nossos
generais, estavam as colunas num vale que as cobria dos inimigos umas
colinas que ficavam defronte. Assim lhe ficava encoberto o nosso Exército.
Com aquela notícia, e resolução que trazia, mandaram meter as
colunas em batalha, o que para se executar era necessário marchar
sobre um e outro lado para ganhar o terreno e se formarem no centro.
Esta se fez alguma coisa vigorosa de costado, em tal forma que
montaram as colinas primeiro com os lados que com o centro, forma que
se fez estranha ao inimigo, porque entendiam que o não faríamos senão
ao outro dia, por que conjecturavam que um Exército que vinha com três
léguas grandes de Marcha, com a gente fatigada, por um terreno sem
ter água para beberem, nem podiam ter feito alto para descansar e
comer, quisessem com tal desesperação lançar-se sobre um Exército
que tinha mais do dobro que o deles, pois constava de trinta mil cento
e vinte homens [mas esse número era fora a reserva, e gente
destacada; porque ao todo eram 35.120] como eles destacaram na Relação
que imprimiram da Batalha em Madrid em [falta no manuscrito] de Maio
de mil setecentos e sete, sendo de Cavalaria catorze mil Cavalos,
porque os seus Regimentos estavam cheios por que lhe tinham entrado os
socorros que esperavam, e ter retrocedido o destacamento, que se lhe
tinha incorporado também no Exército. Este destacamento tinha levado
oito mil homens de cavalaria, Carabineiros de Cavalo, e de pé,
granadeiros. E uma espia que ia a nossa Marcha de Villena veio dar
parte ao Exército dos inimigos; eles mandaram logo Cavalaria a trazer
nas garupas a gente a toda a pressa, que lhe chegou quando nós íamos
formando. Se a nossa marcha fora com mais pressa no dia antecedente,
lograva-se achá-los diminutos. O nosso Exército não chegava a ter
catorze mil homens como eles muito bem sabiam, e falto de Oficiais de
toda a graduação, e dos generais, e dos que havia se achava o marquês
das Minas doente, que assim entrou na batalha, e o general da
cavalaria o conde de Vila Verde25
também doente que fez falta grande [e seu filho D. António de
Noronha26
tenente-general da cavalaria27
que assim foi para o seu Troço hoje conde de Vila Verde]. Os
regimentos muito diminutos tinham a sua gente descansada, e amparados
por um castelo, na Retaguarda, e atrás dele tinham de reserva três
mil cavalos dos regimentos inteiro, que eram os das Astúrias, o de Jaén,
e outros que, faziam o número de seis regimentos. Os lados do seu Exército
cobertos com Montanha; diante tinham uma grande seguia de Valas de
Moinhos. A sua formatura era de quatro fundo na infantaria, e a três
na cavalaria; e nós a três na infantaria, e dois na cavalaria.
Persuadiam-se que nos fizéssemos campo no dito vale que ficava
coberto com as colinas; e os inimigos tinham determinado, sendo como
conjecturavam, destacarem aquela noite para a cidade de Chinchilha,
para o que tinha já as bagagens em marcha postas, e repartidas por
todos os corpos, a ordem que se havia de executar na marcha; por que
eles não tinham ordem para dar Batalha, nem porem-se em termos de os
atacarmos, e era de tal sorte que tinham dado ordem ao bispo de Múrcia28
que se fossem entregando os povos do dito Reino para não serem
saqueados, que eles não os podiam defender, nem dar socorros. Vinham
somente ali aparecermos por diversão, e marcharem para o reino de
Navarra, a fazer lá a campanha, projecto que por nós estava também
determinado para se por em execução. Nesta marcha estavam os corpos
repartidos, e por donde haviam de ser os trânsitos para o reino de
Aragão, dadas as ordens, que nos íamos lá juntar com a mais gente,
e que somente faríamos o movimento de corpo volante, deixando talado
o país do reino de Múrcia, ficando neste fim o nosso trem de
atilharia na cidade de Valença do Cid, e nas praças guarnições se
não parecesse dar a Batalha com aquele repente. Quando
formamos em Batalha à vista dos inimigos ao descer pelas costas a ir
atacá-los, lhes fez horror a nossa resolução e sossego com que as
tropas se metiam em ordem para se arrojarem sobre eles. Neste
movimento vieram os capelães absolver os soldados. Ia toda a
cavalaria formosa e a infantaria, unindo-se as colunas. As caixas e
trombetas tocando com os tímbales, e abuazes, tudo alegre, e bizarria
bélica. O primeiro ferido que vi foi D. Diogo de Noronha29,
hoje marquês de Marialva, que era capitão de cavalos, e por não
aparecer cirurgião tornou para a frente da companhia sem se curar; eu
lhe perguntei donde era a ferida, disse-me que no braço, e com grande
acordo e valor o vi, corno sempre, [em todas as ocasiões; porque este
marquês tem muito valor sem afectação, muito parecido a seu pai o
marquês de Angeja]. […] Tinha
o Exército Português quarenta e quatro Terços, 19 Portugueses, e 25
Ingleses, e Holandeses, e 57 Esquadrões de Cavalaria Portuguesa e
Inglesa, mas todos muito diminutos de sorte que faziam 14 mil homens,
e tinham 14 peças ligeiras. O
Exército Castelhano tinha cinquenta e três Terços de grande número,
que tinham 79 batalhões grossos, e 112 esquadrões de Cavalaria, de
120 até 200 Cavalos, e faziam 35.120 [com a reserva que eles não
fizeram menção dela na Relação
em que] eles declararam [somente] na Relação
que imprimiram em Madrid em Maio do ano de 1707 [30.120]. Não parecem
muitas tropas as dos castelhanos; porque tinham em todo o continente
de Espanha, mais de 70.000 entre guarnições]. A
sua forma era de 4 de fundo na infantaria, e a três na cavalaria, e
três mil cavalos de seis Regimentos de reserva detrás do Castelo de
Almansa [tinham muitos generais, e muitos oficiais subalternos de
graduações grandes]. [O abade Camilo Contarini no 2.° tomo dos seus
Anais das Guerras da Europa pela
monarquia de Espanha; diz que os generais dos Aliados se puseram
em marcha em 8 de Abril de 1707 com 42 batalhões, e 50 esquadrões
que todos juntos faziam o número de onze mil infantes, e quatro mil e
quinhentos cavalos; e que o Exército Francês e Espanhol consistia em
54 batalhões e 66 esquadrões com que intentavam socorrer Villena, e
que o duque de Orleães vinha em marcha com as suas Tropas para
unir-se com o Exército de Berwick30,
e outros oito mil Franceses se apressavam para o reforçar]. No
formar o Exército se começou a conhecer a grande frente que tinham
os inimigos, começou-se a puxar os nossos lados com tanto vigor, que
se abriu no centro um claro, que foi a nossa perdição (Caso que
sucedeu na Batalha de Hochstadt31
da parte dos Franceses que a perderam). A esquerda se adiantou muito
para os inimigos [erro fatal; porque se intentou flanquear ao inimigo
pelo lado mais forte de tropas e de terreno que era muito coberto com
montanha, e seguia, e assim se adiantou de sorte que] quando o centro
descia pelas Colinas para o campo de Batalha já se tinha ganhado aos
inimigos seis peças de Artilharia, que tinham avançadas e
fortificadas com a sequia; levaram-lhe as mulas delas os soldados do
Terço do mestre de campo D. Luís Manuel da Câmara. O centro que os
viu empenhados caminhou a todo o vigor para eles; o inimigo vendo-se
carregado com tanto arrojo foi perdendo o Campo, deixando muita gente
morta, e se lhe rompeu o centro da primeira Linha, e desbaratado a
direita onde vieram as reservas, e umas brigadas que logo fizeram um
quadro para ter mão nos seus e nos nossos [ouve aqui um movimento que
foi o coronel Inglês com as tropas do Minho, e de Trás-os-Montes
marcharam de costado a ganhar um claro para ter terreno a infantaria
francesa a socorreu a sua cavalaria pela retaguarda; a infantaria se pôs
armas a punho o regimento inglês lhe fez dar uma descarga redonda
para os atacar, mas a infantaria francesa se lhe fez um mandamento que
todos se lançaram ao chão com este movimento livraram; e a sua
cavalaria francesa os segurou para os não atacarem com a cavalaria]
Subiu a sua cavalaria a Montanha que lhe ficava à direita, e muita da
sua infantaria entrou como [tu]multuada em Almansa, e se gritou viva
Carlos III. A nossa direita enquanto isto se executava na esquerda,
foi marchando tanto para a mesma direita, por que descobriu o lado do
inimigo, vendo o quanto era mais vantajoso em cavalaria, intentou
igualar-se com ele com o pretexto de que lhe não cobrisse o flanco;
apareceram a este tempo sobre uma colina que ficava diante deste Exército
quatro peças de artilharia que aos primeiros tiros foram ganhadas
pela nossa gente. Como pelo excesso de marchar para a direita se
fizesse o claro cada vês maior, que estava no centro da Linha,
destacou dos inimigos o sargento-mor de batalha Maoni com um corpo de
Cavalaria que mandava, e vindo pela frente do meu Terço que estava
com armas a punho, não lhe pareceu bom lugar para me acometer; fez um
quarto de conversão sobre a minha direita, vendo que o claro da Linha
lhe dava boa ocasião para entrar, o fez, com a voz de Viva a Casa de
Áustria, rezam por que lhe não atiraram os Terços que estavam nos
lados do mesmo claro, tanto se creu esta indústria que um Tenente de
Mestre de Campo General, me veio trazer ordem que não [a]tirasse àquele
corpo [porque se nos passavam dos inimigos] que eu não guardei e o
fiz ao contrário, mas entrando deu na segunda linha, e muita cavalaria
que o seguiu a começou a meter em desordem; seguiu-se a esta cavalaria
de O’Mahony32
três esquadrões de Cavalaria que fizeram frente ao meu Terço, um
que se quis mostrar mais atrevido, intentou acometer-me, chegando
quase às baionetas das armas, mas recebendo fogo de dois pelotões caíram
mortos alguns soldados e cavalos, ficaram com confusão, fez um quarto
de conversão sobre a minha direita, de que me aproveitei para lhe dar
mais pelotões, fazendo-lhe maior prejuízo, por que não tinham
claros das filas, o que os obrigou a irem buscar a minha Retaguarda, o
que se lhes seguia a este entendendo o meu Terço tinha largado todo o
fogo, quis levantar o galope sobre ele, mas dando-se-lhe com outros
dois pelotões teve o mesmo sucesso que o primeiro, e fez o mesmo
movimento, continuei-lhe mais pelotões, e em quanto entendi serem
necessários. O terceiro somente com o desengano dos dois; e vendo o
sossego com que estava o Terço não fez mais que observar o seu
movimento algum tempo até se retirar; Ao mesmo tempo [que se pelejava
na vanguarda veio pela retaguarda cavalaria espanhola, com a espada na
mão. O meu sargento-mor mandou dar meia volta à direita a dois pelotões,
que fizeram a descarga sobre eles, e ficaram todos no chão, dos
cavalos tomou um Nicolau de Tovar o que era morzelo com a garupa que
levava um capote berne agaloado de prata, e se foi que tinha ali vindo
ter depois de perdido o seu Terço] e havendo dúvida que era
baralhada com a nossa do partido de Lisboa, que tinham ambas a mesma
libré, eu lhe mandei dar umas descargas, que então nenhuma queria
perto de mim, e logo se afastou da minha Retaguarda [com a perda que
digo]. A este tempo se tinha já retirado a nossa Cavalaria da
direita, e de entre os Terços, que por ser pouca ficou entrelaçada e
ficaram os grandes claros, apareceram-nos quatro regimentos de
Infantaria Biscainha no alto da Montanha cobrindo o flanco dos Terços
que eu governava; mandou-me Pedro Mascarenhas33,
que servia de mestre de campo general, com o meu Terço e o do mestre
de campo Francisco José de Sampaio, que governava o sargento-mor
Duarte Teixeira Chaves34
fosse atacar os Terços [biscainhos, e indo faze-lo eles se puseram em
retirada com muita desordem que se confundiam indo todos tão tímidos,
que espavoridos no seu mesmo excesso mais se precipitavam desordenados
do que se retiravam, mas depois se soube não tinham pólvora mais que
uma carga] [Este Terço de Francisco José de Sampaio, como se lhe foi
o seu sargento-mor, e o capitão mandante, e o meu sargento-mor lhe
mandou virar caras à esquerda, e marchou para incorporar-se com o
meu, e se lhe repartiram os pelotões, e sempre se conservou com o meu
até ser desfeito. Como
faltou a cavalaria do lado do Terço de Francisco José de Sampaio,
que governava o sargento-mor veio com Ímpeto sobre o Terço, o
inimigo valendo-se do claro que ficou começando-se a descompor o Terço,
mandei acudir-lhe, dizendo a D. Diogo de Meneses e Távora35,
capitão de cavalos do partido da Corte, que comandava, e tinha vindo
ferido de duas balas num braço, para o meu Terço por que se tinha
retirado a cavalaria, oferecendo-se-me para tudo o que fosse necessário,
disse-lhe que fosse aquele Terço o fizesse com o seu valor e Respeito
sustentar pondo-se diante dele, o que fez fazendo estar firme em
confusão para rebater a fúria dos inimigos. Os inimigos que tinham
vindo sobre o Terço, vendo que o não puderam atropelar se tornavam
para a sua Linha, levando duas peças de Artilharia, que ali tínhamos
mas veio um soldado de Campo Maior dizer-me que levavam os inimigos
duas peças, que era vergonha, que lhe desse quem o ajudasse que as
iria recuperar, nomeei-lhe o ajudante Francisco Rodrigues Pinto36,
e o ajudante Manuel Freire37
e outros que se achavam a cavalo, e unidos foram, e ganharam as peças
trazendo-as ao meu Terço, mandei que as carregassem para tirarem com
elas, não havia pólvora, nem artilheiro, que se tinham retirado. Da
segunda linha se tinham puxado alguns Terços e Tropas de cavalaria
para a direita quando viram a necessidade da primeira linha para
cobrir-lhe o flanco [, mas vendo o general da cavalaria o conde de
Vila Verde que lhe fazia dano umas pecas do inimigo as mandou ganhar
pelo comissário da cavalaria38
Francisco Lagoa39,
que levava a cavalaria de um destacamento; e os três Terços mas o
inimigo vindo sobre o costado se puxou esta cavalaria por ordem de D.
Pedro Amassa40,
e como era numa costa os Terços não puderam acompanhar a cavalaria
que marchou ao nosso costado sendo destruídos] Foram os Terços que
padeceram nela a sua destruição o do mestre de campo Manuel
Leitão de Carvalho, que ficou ferido e prisioneiro; o Terço
do mestre de campo Jorge
de Azevedo Coutinho que foi morto com valor, nesta perda teve
culpa o seu sargento-mor, [que era Francisco
Ares] (…), assim se perdeu o Terço com ignorância por [ter
disparado todo o fogo junto, e assim se perdeu o Terço por lhe não
ficar reserva alguma, com que operasse no segundo cometimento do
inimigo] o do mestre de campo Nicolau de Tovar de Meneses, que se
perdeu por que fez um movimento dando a Retaguarda ao inimigo, foi
derrotado pela Retaguarda vindo em marcha e ele veio a primeira linha
onde chegou o mesmo mestre de campo Nicolau de Tovar ao meu Terço;
dele se retirou num cavalo, e lhe disseram que tinham morto seu filho,
que era capitão no seu Terço; o Terço do mestre de campo Henrique
Lopes de Oliveira, depois de fazer a sua obrigação recebeu
uma descarga de um Regimento de Dragões, donde perdeu a maior parte
dele; ficou o mestre de campo, no seu campo cheio de feridas, e alguns
dos seus capitães vieram meter-se no meu Terço, donde me disseram o
que lhes ordenava fizessem, e eu os mandei meter na forma; eram os
capitães João
Ferreira Morais Sarmento, que se acha na Cartuxa procurador
geral, outro Estêvão
da Silveira Borges, que morreu depois no meu Terço; o Terço
do mestre de campo Mateus
Alvares Galé padeceu o mesmo infortúnio, [e mataram este
mestre de campo ao pé de um pinheiro por não querer quartel] o Terço
do mestre de campo D.
Henrique Henriques que tendo perdido alguma gente do Terço se
incorporou com o meu Terço; O Terço do mestre de campo Francisco
de Abreu Pereira, também mandado pelo sargento-mor, foi destruído;
os regimentos ingleses, e holandeses foram puxados para a primeira
Linha para a Esquerda donde tiveram alguma perda. Todos estes Terços
da segunda linha se vinham puxando para a primeira por ser curta que a
flanqueava o inimigo, por que a sua era muito grande; assim se perdeu
primeiro a nossa segunda linha, que a primeira, contra o uso mas a boa
forma da primeira linha a fez conservar mais, e ser a última que
sustentou a forma, e o ímpeto dos inimigos. A
direita dos inimigos que tinha sido carregada pela nossa esquerda,
validos da reserva que tinham na montanha, carregavam a nossa
esquerda, e lhes fizeram perder o terreno, ajudando a esta desordem a
sequia que ali tinham; fez descompor mais a forma, e impedindo se
formassem outra vez; era a cavalaria do Minho, e de Trás-os-Montes,
que procedeu toda com grande valor, e se viram cutiladas tremendas,
mandava-a o sargento-mor de batalha o conde da Atalaia que ficou muito
ferido, e estando já prisioneiro o tiraram os seus oficiais aos
inimigos dando-lhe cavalo para montar que estava a pé [eram estes
oficiais António
da Cunha e também António
Carlos de Castro, que ambos andaram com valor, como nas mais
ocasiões]. Perderam ali muita gente os inimigos ficando-lhes
regimentos inteiros, abrigadas sobre a terra, sendo as melhores tropas
dos inimigos as destruídas, que eram do Corpo, e Valonas, e Suíços,
e na brigada de Sillery41
atacou D. Luís Manuel da Câmara, e lhe fez prisioneiros, deixando-a
com muita perda, e chegaram abater com as baionetas começou a
declinar naquele lado, que retirando-se a cavalaria, o fez a
infantaria para a Montanha, catorze Terços, cinco Ingleses, cinco
Holandeses, e três Portugueses, faltando a um a Companhia dos
Granadeiros, e com um alto que fizeram, detiveram-se os inimigos por
algum tempo, que tanto era o respeito que lhe tinham, fazendo somente
frente; mandaram a cavalaria que ficasse mais ao centro, fosse
carregar o centro da Linha Portuguesa; estava nele o Terço do mestre
de campo o conde de Aveiras que governava o sargento-mor Pedro
Mendes da Silveira; o Terço do mestre de campo o conde da
Ilha, e o de seu filho António Carneiro de Sousa, hoje conde da Ilha,
que como se acharam sós no centro com os lados descobertos da
Cavalaria que tinham, que era a do Algarve que se tinha retirado, e o
troço do Alentejo da outra parte; [se recolheram com os corpos ao meu
Terço; e me fizeram alterar a forma indo buscar o pinhal para me
incorporar com os que foram da esquerda quando fosse noite que eram os
que foram à montanha, e dizendo-se-lhe se conservassem que o meu Terço
faria a retaguarda responderam ao meu sargento-mor que ainda os não
governava ainda aqui chegou o mestre de campo general Pedro
Mascarenhas (os meus granadeiros duas vezes meteram as armas à cara
para fazer descarga sobre os dois Terços dos condes da Ilha se lho não
atalharam diziam por não nos perderem fossem eles sós).] O Terço do
mestre de campo José
Delgado Freire, que foi ferido; o Terço de Sebastião
de Castro que governava o sargento-mor; o Terço do Mestre de
Campo D. Luís Manuel da Câmara que se tinham unido aos Terços dos
Ingleses, e Holandeses, que se retiravam para a Montanha; o conde
Dohna sargento-mor de batalha das Tropas Holandesas [porque era o que
as mandava por ser mais antigo dos generais do seu carácter que se
achava com aquele corpo: antes de se recolher à montanha se viu ir
falar aos inimigos, e mudar o ramo verde do chapéu, e por papel, que
era a divisa dos inimigos; depois de vir dos inimigos falou com o
capitão de cavalos Guilherme Rebelo42,
que estava com um corpo pequeno por ordem do general da cavalaria o
conde de Vila Verde; este cabo Dohna o mandava unir a um troço dos
inimigos, mas não o quis fazer Guilherme Rebelo por ter mandado uma
partida, e conhecer se era um regimento francês, e as guardas
castelhanas; achava-se no campo ainda o general da cavalaria o conde
de Vila Verde, e vendo um grosso dos inimigos os carregou com o que
tinha e mais o general da cavalaria da Beira D. João Diogo de Ataíde[43],
e a degolaram quase toda sendo das vítimas operações da cavalaria
que se acabou de retirar; o general. D. João Diogo de Ataíde se
juntou com uns oficiais, e soldados e se foram unir com os treze terços
a montanha já noite] e querendo salvá-los o conde Dohna, disse tinha
ajustado a capitular que não se ia, D. João se retirou com a sua
gente. A cavalaria do inimigo foi continuando a carregar os Terços
que iam à Montanha a tempo que eles voltaram caras para se melhorarem
de terreno, mas nesta operação deram duas descargas redondas os
treze Terços sobre a cavalaria dos inimigos que lhe detiveram o
passo, e lhe fizeram grande dano ficando-lhe fazendo frente; foi esta
operação quando o Sol se ia cravando foi em boa distância, assim
empregaram sobre a cavalaria inimiga toda. Achava-se ainda no campo o
meu Terço conservando também o Terço de Miranda de que era mestre
de campo Francisco José de Sampaio que o governava o sargento-mor
Duarte Teixeira Chaves, e alguns fragmentos dos que tinham sido destruídos.
Pedro Mascarenhas mestre de campo general vendo a firmeza daquele
corpo compadecido da desordem que vira na Cavalaria, e que se retirara
desamparando-nos, disse que não pagava o rei com a sua coroa à
infantaria, eu lhe disse o que lhe parecia os corpos que eu governava,
ele me disse, que uma maravilha, mas que tudo já estava perdido nos
acabássemos baixando a carregar ao inimigo mais no plano onde estava;
sem embargo de ser grande o poder marchei para eles, e os esquadrões
de Cavalaria que nos faziam frente, vendo o movimento e resolução,
fizeram uma marcha de costado sobre a sua direita, e se foram, mas
como ficava inútil a sua estada ali aqueles poucos que tinham só
ficado no campo, sem saber de quem fora uma voz, se disse que virassem
caras a Retaguarda como naquele, conflito já com tanta confusão não
se deixava perceber se dava as Ordens quem as devia dar, mas voltaram
os soldados cara como se lhes disse, de que eu me enfadei de o terem
feito, mas como a confusão já não dava lugar a obrigações, foram
assim marchando para uma colina que lhe ficava na Retaguarda. A
cavalaria dos inimigos que ficava sobre a direita nos veio carregar
com tanta pressa que me iam apanhando, por que naquela volta e marcha
se me adiantaram os Terços, mas acudindo-me uns oficiais, resistiram
à partida que vinha avançada; esta cavalaria e de toda a linha até
à nossa direita atacaram ao mestre de campo D. Brás da Silveira que
estava no seu Terço, e o Terço de D. Pedro José de Melo que
governava o sargento-mor João de Paiva, e o Terço do Mestre de Campo
D. Bernardo de Vasconcelos e Sousa que governava o sargento-mor António
Pedro de Vasconcelos44.
Estes três Terços tinham dado no mapa terem quinhentos e trinta
homens de que se deixam de fora muitas e assim estava tudo diminuto.
Foram estes três Terços atacados por todos os lados, fizeram muito
fogo com que se conservaram algum tempo até serem desfeitos pelo
grande peso da cavalaria dos inimigos que com a espada na mão os
romperam achando nos Terços uma valorosa defesa até serem mortos e
prisioneiros, se fizeram um quadr[ad]o haviam de resistir mais tempo,
por que o inimigo os achou na mesma forma que tinham na linha, que
sendo quadr[ad]o fazia melhor os pelotões dos lados que eram as faces
iguais com a mesma força, mas tudo estava já sem a disposição
precisa [nem quem desse ordens]. Na
ocasião desta retirada chegou a mim o ajudante Francisco Rodrigues
Pinto natural de Saboroso junto de Vila Real, hoje capitão, que me
pusesse no cavalo que trazia dos inimigos de um cabo que mataram, por
que poderia retirar-me pelo cansado que eu estava, respondi-lhe que
aquilo estava perdido, já que ele se podia salvar que o fizesse, e
que lhe dava a bolsa de dobrões, que teria três mil cruzados, que se
escapasse ele me faria bem com alguma coisa, e se morresse lhos dava,
e que tivesse bom sucesso. Respondeu-me o ajudante Francisco Rodrigues
Pinto que se não tirava do pé de mim, tornando-lhe a dizer se fosse,
que não tivesse dúvida a fazê-lo por que lho dava por ordem que se
retirasse que não me fazia falta, por que eu não havia de deixar os
soldados desamparados, assim por que queria ver se podia obrar com que
os livrasse de padecerem, amparando-os em lugar ou disposição com
que os remisse, e que só a mim se me estranharia deixá-los e que a
ele se não faria, e demais que a ele o mandavam sendo um oficial
subalterno sem que fosse necessário por que eu não havia abandonar
os Soldados que me tinham ajudado a ganhar honra tantas vezes, a quem
eu tinha acompanhado em o trabalho e assistido com o exemplo, e
naquela de mais risco os havia também acompanhar na constância com
que havia resistir a tudo, que esperava não os desamparar ainda
naquela ocasião até o último alento para mostrar tinha conhecido o
Amor deles ao que não era ingrato. Não obstante tudo não se quis
ir, nem montar a cavalo; tornei a dizer-lhe com aspereza se fosse, não
se tirou de ao pé do Terço com o cavalo pela rédea, até que eu
vendo a sua instância, lhe disse que se o cavalo havia de ir assim
montaria nele; pus-me a cavalo continuando com o Terço e mais gente
que tinha unida que fazia um corpo bastante, mas já sem forma, todo
um pelotão [de gente de vários corpos]. Tendo
marchado algum espaço indo no meio da subida vendo que os inimigos
nos perseguiam tornei a voltar caras dando alguns tiros com pouca
ordem, mas o que bastou para os inimigos suspenderem a marcha. O
mestre de campo Félix José Machado com o seu Terço, que estava na
segunda Linha conservava a forma com valor e boa ordem se uniu ao meu
Terço, e me perguntou o que fariam, respondi-lhe se unisse a mim até
ver o que faríamos; também se uniu a mim D. Henrique Henriques com o
seu Terço da segunda linha, e com boa forma, valor, e ordem. Com
a suspensão dos inimigos tiveram lugar para virar caras para subir ao
alto da colina, o qual movimento os inimigos carregaram, e tornando a
infantaria a virar caras, fez o mesmo que na antecedente, com a demora
dos inimigos ouve lugar para virarem caras a vos dos oficiais que
gritaram se recolhessem ao casarão que lhes ficava na Retaguarda para
verem se nele podiam fazer alguma defesa até chegar a noite em que
pudessem ter algum refugio: foram marchando com a aceleração
metendo-se muita gente dentro, e vendo a incapacidade que tinha para
os defender, a confusão que havia em todos, a fadiga e cansaço que não
deixava já nem movimento, nem discurso livre para nenhuma operação,
vendo-se cercados de cavalaria e Infantaria, tirarem alguns tiros inúteis,
as faltas que tinham as paredes que nos cercavam em redondo; começou
a entrar o inimigo prometendo bom quartel, por que ainda se não davam
por seguros; começaram os soldados alargar as armas, e eles a fazerem
prisioneiros tudo quanto estava dentro e fora, que estava cercados da
sua infantaria, e cavalaria; Aqui foram prisioneiros os mestres de
campo o conde da Ilha [não se quis render sem vir oficial a quem se
entregasse] Félix José Machado, e o capitão de cavalos D. Diogo de
Meneses e Távora depois de ferido de duas balas em um braço, e os
meus Oficiais, sendo alguns feridos, entre eles o capitão Manuel
de Madureira Lobo, que se distinguiu em toda a advertência,
por que é ciente e valoroso; ficou com uma cutilada na Cabeça; e os
capitães João
Rodrigues de Faria e Simão
Moreira, e alguns oficiais miúdos, que com grande valor se
tinham havido. Não morreu nenhum do meu Terço, nem dos Soldados pela
boa forma que o Terço teve, e uniam, e disposição de fogo. Os
mestres de campo António Carneiro de Sousa [hoje conde da ilha do Príncipe],
e Dom Henrique Henriques que ficavam sós comigo, disse-lhes que nos
retirássemos que aquilo estava perdido ao que respondeu o mestre de
campo António Carneiro de Sousa que não sabia se diriam que nos tínhamos
ido antes de tempo; respondi-lhe, que se tinha obrado o que era notório,
e tudo o que se devia fazer, quem se dilatasse nos havia visto que nos
não poderíamos retirar por que tomava sobre mim isso, pois estávamos
sem gente, nem corpos que governássemos, e tudo perdido, pusemo-nos
com estas razões em retirada, eu, os mestres de campo D. Henrique
Henriques, António Carneiro de Sousa, tornou a dizer o mesmo mestre
de campo António Carneiro de Sousa, disse nem nós nos podemos
retirar por que estamos cercados dos inimigos; respondi-lhe que
fossemos vendo se o podíamos fazer, e não tendo outro remédio, que
rompêssemos com a espada na mão, ou livrar, ou morrer, fomos saindo
por uma costa, eu ia a passo para levar o cavalo com folgo para que me
não cansasse. Carregou a Cavalaria e pressionaram o mestre de campo
António Carneiro de Sousa, e ao mestre de campo D. Henrique Henriques
disseram-me: “Ah António do Couto Castelo Branco!” Eu olhando os
vi prisioneiros; disse então, só eu hei-de ser o desgraçado que me
salve; botei a espada fora para o mato entre uns pinheiros e a bolsa
de dobrões, dizendo: -
“Ainda poderás servir”, ficando-me dinheiro solto na algibeira
para quem me aprisionasse, virei o cavalo para os inimigos, chegou um
esquadrão a mim disse-lhe era um mestre de campo de infantaria dei o
dinheiro que levava aos primeiros que chegaram a mim, tomaram-me o
cavalo, que logo venderam, dizendo-lhe que pouco lhe dava nele,
trocaram-me o chapéu levando-me o meu que era de galão de ouro e o
que me deram era de galão de lã branca, e me tomaram a casaca que
era vermelha, e assim me deixaram; fiquei a pé logo me deram a outros
para me levarem a Almansa, e no caminho diziam alguns que me matassem,
mas diziam os que me levavam que não, que era um coronel. Estes últimos
me desfardaram de tudo, e dizendo-lhe que me deixassem as botas que
eram de pé pequeno não o quiseram fazer, ao que lhe repliquei;
fiquei com um só Surtout por baixo da camisa sem mais nada, e dizendo-lhes que tinha
sede, me deram água ardente que bebi, e me ajudou a resistir ao frio
que era grande, e poder ir descalço pelo mato sem que me deixassem
pegar aos Cavalos, deram-me uns Calções velhos que tinham tirado a
outros, tirei uma Casaca a um Morto que devia ser Francês, por que o
forro era branco, o pano vermelho, ainda que os Ingleses traziam a
mesma Libré, tinha no bolso da casaca dois maços de fitas brancas e
vermelhas que era a cor da divisa das duas coroas; vesti do avesso a
Casaca por ser menos sujo, era muito grande; foram-me levando para
Almansa no caminho vendo matar muitos uns por muito feridos, outros
por lhe não darem quartel, ainda que o pediam; sem embargo disto que
via não me desanimei. Entrei já de noite em Almansa onde metiam toda
agente nas igrejas para a segurarem, pedi aos que me levavam me
deixassem de fora; fui para a casa onde era quartel do duque milor
Berwick donde achei o capitão Luís
Correia que o era de uma companhia do Terço da corte do conde
da Ilha, hoje é sargento-mor da praça de Setúbal, deu-me umas meias
que trazia debaixo das botas, o patrão de Berwick me deu uns sapatos,
ficando melhor já para poder andar; já tarde veio Berwick a quem me
queixei do modo com que se houveram com um cabo, ele me mandou para um
quartel donde estavam muitos cabos feridos, alguns oficiais do meu Terço,
sendo um o ajudante Francisco
Rodrigues Pinto que estava ferido; ele me disse que se queria
eu retirar-me, que eles o tinham disposto bem; eu lhe disse que estava
tão cansado com fome, e frio que me não achava capaz de retirar-me
por brenhas ásperas; os oficiais me disseram que suposto o que dizia
lhe desse licença para se retirarem, o que fizeram com bom sucesso,
por que se puseram seguros no nosso campo, sem embargo do que lhe
dizia entendendo não teriam bom sucesso por andarem as guardas dos
inimigos e os paisanos, que seriam os piores em não darem quartel
para roubarem, que são mais cruéis. Os inimigos estavam com receio
de que as nossas tropas que se tinham salvado tornassem unidas com os
Terços que estavam na Montanha viessem atacá-los, a este respeito
recolheram toda a gente e as guardas para o que tiraram a peça da
retreta, e por isso se retiraram com segurança, os oficiais que se
tinham ido depois que falaram comigo. O general dos inimigos toda a
noite esteve a dar ordens assistindo no campo até madrugada com um
grande cuidado e cautela e os mais cabos, por que eles nos tinham
grande respeito por não lhe dar o nome mais próprio e verdadeiro.
Quando os inimigos retiraram do campo os feridos e enterraram os
mortos, soube que um alferes não quis largar a bandeira, cortando-lhe
a mão foi unida a este da bandeira sem cair, neste caso fizeram os
inimigos grande reflexão nesta acção tão heróica num Oficial tão
pequeno. Também
acharam muitos regimentos com os soldados deles mortos em fileiras,
sem que a falta da vida lhes fizesse faltar a obrigação; e de um
contaram que estando ferido o quiseram retirar, e não quis consentir,
dizendo que não era tão pouco brioso que largasse os Camaradas,
tendo por fortuna acabar os espíritos vitais juntamente com eles sem
os desamparar; somente pediu água, e que se tinha confessado quando
entrou na Batalha, e que lhe não lembrava coisa de novo; assim que
bebeu a água expirou. O
Rei Filipe V, dando-se-lhe conta da Batalha e as circunstâncias dela,
disse que fora tão cara pela perda de tão boa gente, que era a
melhor que tinha que ficava sentido de tal Vitória como lhe diziam. Esta
Batalha de Almansa teve tal arrojo, que pareceu mais temeridade, que
discurso. Tinha-se assentado no Conselho de Guerra que se fez na
cidade de Valença na presença do rei Carlos III fazer-se uma entrada
no Reino de Múrcia a talar a Campanha sem que se intentasse mais
operação, e somente destruído o país, o que estava conseguido. Os
inimigos tinham muita vantagem, e ainda assim esteve a Batalha algum
tempo a nosso favor; confessaram os mesmos inimigos que a tiveram
perdida. O nosso Exército teve muita perda na infantaria, por que a
nossa cavalaria se salvou toda, levando muitos cavalos dos inimigos. A
infantaria padeceu perda grande em que entraram os prisioneiros, por
que avultou muito os treze Terços da Montanha, que se salvasse cantaríamos
o Te Deum pelo vencimento. A nossa perda de mortos e feridos,
prisioneiros que foram os mais pelos treze Terços oito até nove mil
homens, e dezanove peças de artilharia ligeiras as quais se não
ganharam na batalha, mas como vinham sem cocheiros com as mulas soltas
fugiram com elas, e para salvar as mulas as cortaram dos tiros
deixando as peças por várias partes e barrancos onde as acharam os
inimigos e as trouxeram daí a dois dias; concorreu mais não termos
oficiais generais, também falta dos subalternos nos Corpos; o marquês
general entrou muito doente e oprimido na batalha, e o general da
cavalaria o conde de Vila Verde também entrou doente; os inimigos
tinham tanto mais poder que excedia ao dobro em infantaria e cavalaria
e artilharia; padeceram muita perda, por que ouve Regimentos que lhe não
ficaram quatro vivos; foi avaliada a sua perda em mais de [dois] mil e
quinhentos cavalos e nove mil homens mortos e feridos, por cuja causa
disseram que fora a vitória muito cara; a maior perda foi de
oficiais. Gastaram vários dias em enterrar os mortos fazendo-se
covas, e no poço da Neve para vencerem mais queimaram muitos corpos
pondo-lhe fogo no Campo. Ficariam
dez mil homens mortos no campo, e mais de dois mil, [e quinhentos]
cavalos mortos; os seus feridos encheram os hospitais, não ouve
medicamentos para se curarem, que se usou de água ardente, também se
valeram dos conventos, para os feridos, faltaram cirurgiões para
acudirem às curas. Os inimigos e todos os estrangeiros confessaram não
tinha havido batalha tão sanguinolenta à proporção dos Exércitos
serem pequenos. Era voz constante nos inimigos que tinham notícia dos
nossos Conselhos e dos intentos que os dava um sargento-mor de batalha
do nosso Exército, e se verificava nos efeitos. O tempo também
mostrou que os inimigos se não adiantaram o que se esperava de uma
batalha onde diziam venceram por que lhes foi necessário gastar dois
anos para penetrarem a Coroa de Aragão que ocupávamos. Para começarem
a entrar no Reino de Valença, gastaram em ganhar Jativa quarenta dias
que se defendeu depois da Batalha, capitulou ao que se lhe faltou
depois. Denia defendeu-se muito tempo, e também capitulou a praça de
Lérida; e as mais terras que vieram a entrar foi passado outras campanhas.
É para reparar que vencendo o Exército de Carlos III as batalhas de
Brihuega e Saragoça perderam o país em pouco tempo desde Madrid até
Barcelona; e quando nós perdemos Almansa o que ganharam foi com a
dilação de muitos tempos e trabalho dos inimigos, mostrando o tempo
o grande prejuízo que receberam na Batalha de Almansa, por estas razões
se mostra que a dita batalha de Almansa fez ter o ímpeto aos inimigos
pela ruína que receberam, como pena defensa que ainda fizemos, e de
mais os inimigos puxaram tudo de Flandres, e Itália para acudir a
Espanha que lhe dava grande cuidado a entrada do nosso Exército a
vadiar Espanha deu Itália ao Imperador e Flandres, por que se largou
tudo para acudir a Espanha como cabeça, sem a qual se não
conservaria nada, e com ela tinham esperança de o conseguirem, e toda
a Liga se descuidou deixando cair sobre nós todo o poder, e talvez
fosse acaso, o que eu chamo descuido, por que os Estrangeiros quando
viram a campanha que tínhamos feito, começaram a dizer que não era
conveniente pôr tanto poderosa a Casa de Áustria, como quem não
queria crescessem em nós os bons sucessos contra as duas coroas, e
para se ver o que obraram os nossos generais, e oficiais, que se
salvaram da Batalha, farei diante uma memória dos principais sucessos
de encontros em que se vê o respeito que nos tinham os inimigos. Em
26 fui descobrindo os prisioneiros sendo um o conde da Ilha, e seu
filho António Carneiro de Sousa; o conde comprou uma camisa a um
soldado, que me deu, levando-me para sua casa, onde comia, e D. Diogo
de Meneses e Távora. Neste dia deu um jantar o duque de Berwick aos
prisioneiros, sendo somente os mestres de campo, e Cabos maiores, foi
Dom Diogo de Menezes, sem embargo deter menos posto pela sua grande
qualidade, pois lhe não fazia embaraço o posto que tinha; ao chegar
se toparam os cabos dos Terços que tinham ido à Montanha com o
sargento-mor de batalha o conde Dohna que governava como mais antigo,
e ter maior Corpo de Tropas Estrangeiras, e o sargento-mor de batalha
D. João Manuel de Noronha, com o mestre de campo D. Luís Manuel da Câmara,
os brigadeiros, e coronéis Ingleses e Holandeses sendo um o barão de
Viçouse45;
ali soube terem capitulado; mas D. João Diogo de Ataíde, general da
cavalaria da Beira que depois de se ter retirado a sua cavalaria e a
de Lisboa, que estavam na segunda linha, ficou no campo este general
com trinta, ou quarenta cavalos, que se lhes agregaram de oficiais e
soldados vendo-se já perdido, tudo junto da noite, seguiu os treze
Terços que iam à Montanha, foi-se incorporar com eles, disse-lhes
que se retirassem por que o terreno os ajudava a pode-lo fazer, com
aqueles cavalos que tinha seguraria o campo descobrindo-o, mas
respondeu o conde Dohna que queria capitular por que se não podiam
salvar, e tinham prometido o faze-lo. D. João disse que o risco de
ser prisioneiro era certo, que salvarem-se podiam consegui-lo, não o
sendo não teriam outro risco de que o de ser prisioneiro, que tinha
mandado descobrir o terreno, não aparecia nada; os inimigos tinham
tirado a peça de retrete para que se recolhessem ao seu campo, mas o
empenho do conde Dohna não se deixou persuadir deste que o podia
mandar vista a resolução. Tomou D. João Diogo de Ataíde, a de
ir-se a todo o risco, livrou-se com os mais Cavalos que o
acompanharam. Os Terços capitularam mas ficando prisioneiros,
entregando os Cabos que tinham aprisionado na batalha, sendo um das
guardas de Sillery a quem atacou D. Luís Manuel da Câmara com o seu
Terço na acção da batalha. Esta entrega de treze Terços adiantou
aos inimigos, que perda de gente tinham tido maior que nós no número
de mortos e feridos. Foi
esta batalha contra o Exército composto das tropas dos reis dos mais
poderosos dos da Europa, como são as duas coroas de França e
Castela, e as Tropas mais escolhidas, mas ainda assim não puderam
ficar senhores do campo sem que tivessem a desordem da forma do nosso
Exército, por que em quanto a teve não puderam os inimigos ter
esperança de bom sucesso, que depois lhe deu a desordem que causaram
alguns descuidos a quem atribua a culpa. O
duque de Berwick o jantar que deu foi com grandeza como de um general
príncipe; à mesa disse, que em Valença os Botifleiros estariam
contentes que são os que seguiam a Filipe V como tinha Iá estado Mr.
de Boflé tinham nome de Botifleiros os que seguiam Filipe V.
Respondi: -
Que eles cantavam a canção de Toca
Ia marcha botiflero, ha de Reynar Carlos Terceiro. Não
respondeu nada o duque. Também chegou por detrás da mesa um coronel
de Múrcia D. Pedro que estava na fronteira donde eu governava, donde
o carreguei algumas vezes nos choques, disse que queria ver-me que lho
mostrassem, e me achava com a farda miserável, dizendo-me os
camaradas se tinha vergonha de estar assim, lhe disse que não, que
como fizera a minha obrigação, que bastava como se estivera vestido
de ouro; bem disse aos camaradas quando me gabaram do bem que andara,
que não queria se dissesse. 1. D. João Manuel de Noronha (1679-1761), 6.º conde de Atalaia, 1.º marquês de Tancos em 1751. Tinha sido promovido, em 11 de Abril, ao posto de General de Artilharia do Alentejo, sendo no ano seguinte promovido a mestre de campo general. Foi feito prisioneiro na batalha. 2. D. Brás Baltasar da Silveira (1674-?), neto do 1.º marquês das Minas. Tinha sido promovido, em 11 de Abril, a sargento-mor de batalha da Beira. Será promovido a marechal de campo general em 1711. 3. D. Luís Manuel da Câmara (1685-1723), 3.º conde da Ribeira Grande, capitão donatário e capitão-general da ilha de São Miguel. Promovido em 11 de Março a sargento-mor de batalha do Minho, tinha acabado de ser promovido, em 14 de Abril, a mestre de campo general. Foi ferido e feito prisioneiro na batalha. 4. D. Pedro Manoel de Ataíde (1665-1722), 5.º conde de Atalaia. Tendo fugido para França devido à sua participação na morte do corregedor do crime do Bairro Alto, de Lisboa, participou na Guerra do lado francês até à entrada de Portugal na guerra. Nessa altura regressou a Portugal sendo nomeado oficial no Terço do seu meio-irmão, D. João Manuel de Noronha, futuro 6.º conde. Nomeado tenente-general de cavalaria em 1704, foi promovido a sargento-mor de batalha em 11 de Abril de 1707 e nomeado governador da Torre de Belém em 5 de Maio seguinte. Participou na batalha no comando da Ala direita do Exército Aliado. Promovido a mestre de campo general comandou interinamente o Exército Português na Catalunha. 5. Francisco Carneiro de Sousa (c.1640-1708), 2.º conde da ilha do Príncipe. Comandante do Terço do Minho no princípio da guerra passou ao Terço Velho da Corte em 1705. Tinha sido promovido em 11 de Abril a sargento-mor de batalha de Trás-os-Montes. 6. Nicolau Tovar e Meneses (1660-1733). Em 1701 era mestre de campo do Terço Auxiliar de Pinhel, em 1707 foi nomeado governador de Olivença, sendo promovido a sargento-mor de batalha da Beira em 3 de Fevereiro de 1708. 7. Johan Frederik graaf van Dohna (1663-1712), marquês de Ferrassières, general do Exército Holandês, brigadeiro em 1701, major-general em 1704, será promovido em 1709 a tenente-general. 8. D. Luís da Silva Telo e Meneses (1682-1741), 4.º conde de Aveiras. Tinha sido promovido a tenente-general de cavalaria da Corte em 28 de Março de 1707, sendo promovido a brigadeiro em 28 de Abril de 1708. Chegará a mestre de campo general em 27 de Março de 1735. 9. Filipe II de Bourbon (1674-1723), duque de Orleães, comandante do Exército Francês em Itália, comandou o Exército Francês e Espanhol em Espanha em 1707 e 1708. Será regente de França após a morte de Luís XIV. 10. D. António Luís de Sousa (1644-1721), 2.º marquês de Minas. Nomeado general de batalha em 1665, foi promovido a mestre de campo general em 6 de Dezembro de 1674. Enquanto governador das Armas do Alentejo, dirigiu o Exército da Liga que invadiu Espanha e conquistou Madrid em 1706. 11. Francisco José de Sampaio e Castro (1675-1723), senhor de Vila Flor, 40.º vice-rei da Índia. Capitão de cavalos em 1704, mestre de campo em data não conhecida, foi promovido a brigadeiro de Cavalaria em 8 de Abril de 1708, mantendo o comando do seu Terço, sargento-mor de batalha em 1710, chegará ao posto de mestre de campo general. Foi vice-rei da Índia de 1720 a 1723. 13. George Carpenter (1657-1731), 1.º barão Carpenter, comprou o Regimento de Dragões do Rei em 1693, com dinheiro do dote da mulher. Promovido a brigadeiro em 1705, a major-general em 1708 e tenente-general em 1710, foi embaixador à Coroa Austríaca em 1715. 14. 3.º Regimento de Dragões, de Algernon Capell, 2.º conde de Essex, membro do Conselho Privado da rainha Ana desde 1708. 15. Regimento de Dragões de Antoine de Guiscard (1658-1711), abade de Bourlie. Irmão do conde de Guiscard, após ter apoiado a revolta da região protestante de Cévennes, no Sul de França, em 1702, estabeleceu-se em Inglaterra, passando a ser conhecido por marquês. 16. Regimento de Infantaria de William Southwell (1669-1720). Político irlandês, foi promovido a tenente-coronel em 1703 e a coronel em 1706. Em 1708 vendeu o seu regimento e tornou-se capitão da Guarda do governador da Irlanda, sendo membro da Câmara dos Comuns irlandesa a partir de 1703. 17. Regimento de Infantaria de George Wade (33.º em 1715). George Wade (1673-1748) foi um dos mais famosos generais britânicos da primeira metade do século 18. Foi promovido a brigadeiro em 1708, tendo chegado ao posto de marechal em 1743. 18. Brigadeiro Robert Killigrew (1660-1707), comandante do 8.º Regimento de Dragões, morreu na batalha 19. Regimento de Charles Mordaunt (1658-1735), 3.º conde de Peterborough. Comandante das forças britânicas na península a partir de Abril de 1705 foi chamado a Inglaterra em Março de 1707 para explicar as suas controversas decisões durante a campanha. 20. Regimento do brigadeiro Thomas Pearce (c.1664-1739). Participou na expedição a Cádis onde foi ferido, regressado à península em 1707 com o posto de brigadeiro participou com distinção na batalha do Caia em 1709. 21. Regimento de Infantaria de Mountjoy. William Stewart (1675-1728), 2.º visconde Mountjoy, foi nomeado em 1714 Master General of Ordnance, equivalente à função de tenente-general da Artilharia em Portugal. 22. O antigo Regimento n.º 17 de Leicestershire, comandado pelo coronel Holcroft Blood (c.1657-1707) que morreu dos ferimentos sofridos na batalha. 23. Pierre de Belcastel (m.1710). Oficial huguenote francês, fugiu de França em 1685, devido à revogação do Édito de Nantes, proibindo-se assim o culto protestante em França, entrou ao serviço de Guilherme de Orange. Recrutou em Inglaterra um regimento de refugiados huguenotes franceses que foi incorporado no Exército Holandês em 1701. Foi promovido a major-general em 1704 e a tenente-general em 1709. Em 1708 foi nomeado comandante das tropas holandesas na península, tendo morrido na batalha de Villaviciosa 24. Regimento holandês de Gijsbert van Welderen (1666-1730), major-general de infantaria, governador de Meenen e, mais tarde, de Sluis. 25. D. Pedro de Noronha (1661-1731), 2.º conde de Vila Verde, 1.º marquês de Angeja em 1714. Tendo sido o 34.º vice-rei da Índia de 1693 a 1698, era mestre de campo general do Alentejo desde 1705. 26. D. António de Noronha (1680-1735), 3.º conde de Vila Verde e 2.º marquês de Angeja. Atingiu o posto de mestre de campo general antes de 1719. 27. Função militar equivalente à de coronel na infantaria. Não havendo na cavalaria portuguesa corpos organizados para além das companhias a cavalaria organizava-se em tropas (esquadrões) e troços (regimentos) provisórios. 28. Luís António de Belluga y Moncada, cardeal Belluga em 1719, bispo de Múrcia, vice-rei e capitão-genera de Valência e Múrcia em 1705 29. D. Diogo de Noronha (1698-1759), filho do 2.º conde de Vila Verde, casará em 1712 com a 3.ª marquesa de Marialva, D. Joaquina de Meneses. Será promovido a brigadeiro por volta de 1711, atingindo o posto de mestre de campo general em 1735. 30. James Fitzjames (1670-1734), duque de Berwick, filho natural do rei Jaime II de Inglaterra, nascido da sua ligação com Arabella Churchill, irmã mais velha de John Churchill, duque de Marlborough. 32. Regimento de Dragões do conde Daniel O’Mahony (m.1714). Fiel a Jaime II, serviu a França na Brigada Irlandesa. Foi promovido a brigadeiro devido à sua acção na batalha de Almansa. 33. D. Pedro de Mascarenhas (1670-1745), 1.º conde de Sandomil em 1732 quando foi nomeado vice-rei da Índia. Sargento-mor de batalha em 1703 tinha sido promovido a mestre de campo general em 11 de Abril de 1711. 34. Gastão de Melo Matos propõe o filho de Sebastião Pequeno Chaves como a pessoa aqui citada, mas é mais provável que seja o seu primo homónimo, nascido em 1662 e que em 1746 era tenente-coronel (http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=555033). 35. D. Diogo de Meneses e Távora (1679-1751), comendador de Santa Maria de Valada na Ordem de Cristo, alcaide-mor de Silves, estribeiro-mor da rainha, senhor do morgado da Caparica. 36. Assentou praça em 1703, sendo sargento-mor do Terço Auxiliar de Vila Real em 1730, posto em que morreu em 1762. 37. Segundo Gastão de Melo Matos, é possivelmente Manuel Freire de Andrade (?-1764) autor de um tratado de fortificação – Postilha Militar – existente na Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Portugal. Chegou a Capitão do Terço da Beira durante a guerra, foi coronel do Regimento de Peniche. Governador de Olivença, foi promovido a brigadeiro em 1735, a sargento-mor de batalha em 1750 e a mestre de campo general em 1762. 38. Função militar equivalente ao posto de major [sargento-mor] na infantaria. Não havendo na cavalaria corpos estruturados para além da companhia, as «tropas», equivalente à troop inglesa – esquadrões – eram comandadas por comissários, assim como os «troços» eram comandados por tenentes-generais de cavalaria. 39. Francisco Lagoa Nogueira, ajudante-general em 1709, chegou a coronel em 1712, sendo comandante do Regimento de Cavalaria de Olivença desde 1722, foi promovido a brigadeiro em 1735 e a sargento-mor de batalha em 1750. Em 1754 era governador de Moura. 40. Tenente-general da Cavalaria do Alentejo em 1704, promovido a sargento-mor de batalha em 11 de Abril de 1707 e a mestre de campo general em 1710. Desconhece-se a sua nacionalidade. 41. Félix François Brulart, conde de Sillery, chefe do Regimento de Sillery, brigadeiro do Exército Francês, morreu durante a batalha. Era filho de Roger Brulart, marquês de Sillery e de Puisieux, tenente-general do Exército Francês. Comandava uma brigada formada por cinco batalhões, incluindo o seu. 42. Segundo Gastão de Melo Matos era filho de Guilherme Rebelo e de Ana Scgoff de Hareins, estudou em Coimbra tendo chegado a coronel. 43. João Diogo de Sousa e Ataíde (1663-1740), 1.º conde de Alva em 1729. Mestre de campo de um Terço de Lisboa em 1701, sargento-mor de batalha de Trás-os-Montes em 1703, general de cavalaria da Beira em 1707. Em 1719 será nomeado governador das Armas do Alentejo, acabando a sua carreira militar como general da Armada Real, em 1735. 44. Alferes em 1705, ajudante de tenente de mestre de campo general ao serviço do barão de Fegel, comandante-chefe das tropas holandesas, ajudante-general, será promovido a brigadeiro em 1721 e nomeado governador da Colónia do Sacramento. Em 1749 será promovido a sargento-mor de batalha pelos seus bons serviços na defesa da Colónia.
45
Francisco, barão de Viçouse (m.1732), coronel de um regimento huguenote
recrutado em 1701 para o Exército dos Países Baixos, chegou ao
posto de tenente-general.
Fonte: Gastão de Melos Matos (ed.), Comentários de António do Couto Castelo Branco sobre as Campanhas de 1706 e 1707 em Espanha, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1931.
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