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RELATO
DA TRAVESSIA DE ÁFRICA FEITA PELOS POMBEIROS, Desde meados do século XVIII que Portugal tentou descobrir a ligação terrestre entre Angola e Moçambique. O objectivo era conseguir encontrar produtos que pudessem interessar os mercados asiáticos - sobretudo o da Índia e da China - que eram, na altura e até finais do séc. XIX, deficitários para todas as potências europeias. A primeira tentativa séria de realizar a travessia foi feita por Francisco José Lacerda de Almeida, em 1798, mas este oficial de marinha morreu ao chegar ao Cazembe - a Noroeste do Niassa. Parte 2/3 1.ª Parte | 3.ª
Parte
«DOCUMENTOS RELATIVOS À VIAGEM DE ANGOLA PARA RIOS DE SENA» - 2.ª Parte
26.º Sábado 17 saímos do deserto e ao pé do riacho Capaca Melemo, levantámos às 6 horas de manhã passámos quatro rios de pequenas larguras a pé e continuando-nos a viagem, pisámos mais um rio chamado Ropoeja, a pé que terá pouco mais ou menos trinta braças de largura, e vai desembocar no rio chamado Lubilaje, e viemos para outro deserto e ao pé do mesmo rio Lubilaje pela banda de lá chegámos no mesmo pouso às 3 horas de tarde sem chuva, andámos com o Sol da mesma forma, não [nos] encontrámos com ninguém. 27.º Domingo 18 fizemos parada do sítio de um preto chamado Quiabela Mucanda, o qual que ficava, ao pé do rio Ropuege que acima dito nos impedir a viagem para que nos desse alguma coisa, por que era potentado do Muropue, e além disso nos dar de comer por parte do mesmo Muropue, e nos trouxe para bem nos largar uma Corça morta, e três quicapos de farinha de mandioca verde para nosso sustento e demos de presente dez chuabos, e um Espelho pequeno, nos respondeu, que podemos seguir a nossa viagem, e na falta não darmos alguma cousa a ele; tinha outro exemplo para nos fazer que tirar-nos as fazendas à força de armas. - 28.º Quinta feira 31 de Agosto saímos do sítio do Quiabela Mucanda, que levantámos ao Cantar de galo, passámos dois riachos correntes que vão desembocar no mesmo rio Rapueja, e durante a marcha viemos para o pouso, deserto chamado Cancaco e ao pé de um riacho pela banda de lá, chegámos no mesmo pouso, ao meio dia sem perturbação de qualquer Regano como acima dito, andámos com o Sol [do] lado Esquerdo, não [nos] encontrámos com ninguém. - 29.º Sexta feira 1.º de Setembro parada
por estar doente o Guia que estava com a mão inchada por pancadas do seu
Escravo do mesmo Guia. Sábado 2 do dito mês saímos no pouso deserto levantámo[-no]s às 2 horas de manhã, passámos um rio chamado Quipaca Anguengua de pequena largura e durante a viagem viemos para outro deserto e ao pé de um rio chamado Rupele de quatro braças de largura que vai desembocar no rio Lubile chegámos às 3 horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma, não [nos] encontrámos com ninguém. 30.º Domingo 3 saímos do pouso deserto no qual levantámos às 5 horas de manhã não passámos rio, e viemos para outro deserto, e ao pé de um rio chamado branco por ter Areia branca e vai desembocar no rio Lububuri de pequena largura a pé, chegámos no dito pouso deserto ao meio dia, fabricámos nosso cerco pela batida de lá do mesmo rio, e não encontrámos ninguém. 31.º Segunda feira 4 saímos do deserto levantámo[-no]s às 7 horas de manhã não passámos rio nenhum, e durante a marcha viemos para outro deserto e ao pé do mesmo rio Lububure, o qual não passámos, chegámos às duas horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma; e não [nos] encontrámos com ninguém. 32.º Terça feira 5 saímos do pouso
deserto em que levantámos, e ao pé do rio Lububuri às 6 horas de manhã não
passámos rio nenhum e viemos para o rio Lububuri o qual passámos a pé que
nos deu àgua na Cintura, que terá pouco mais ou menos quarenta braças de
largura e de pedras por dentro, 33 º Quarta feira 6 saímos ao pé do rio Luburi levantámo[-no]s às 7 horas de manhã, não passámos rio, e durante a viagem viemos para o Sítio do mesmo Cha Mugenga Mucenda tratámos com ele a nossa pretensão que vamos para o Rei Cazembe, a procurar-mos a um branco Irmão de EI Rei que viajara por mar, e se achar nas terras do mesmo Rei Cazembe, por ser este mesmo potentado Maior do mesmo Cazembe, que rende a obediência em duas partes de Muropue, e Cazembe, por o ter deixado o mesmo Cazembe para cultivar todas qualidades de Mantimentos para socorrer todos os viajantes que do Muropue vem para Cazembe a tomar tributos que eles chamam Mulambo, assim como os que do mesmo Cazembe vem para o Muropue a irem trazer tributos mandados por mesmo Cazembe ao seu Rei Muropue, e no dia que chegámos, nos deu de presente um murondo de poube e ser deste sítio do Cha Muginga Mucenda, fim das terras do Muropue pela banda de lá, e pela banda de cá já são terras pertencentes ao Cazembe, ao qual demos de presente dez chuabos, e dois Espelhos pequenos, e nos respondeu que ele de sua parte nos preparava mantimentos, para seguir-mos com ele para Cazemhe, por que no meio de Caminho até chegar na Salina não há de Comer, e daí mesmo fizemos parada seis dias afim de termos mantimentos de sobresselente, chegámos no mesmo sítio ao meio dia fabricámos afastado do mesmo sítio, e ao pé de um rio chamado Camonqueje pela banda de lá não [nos] encontrámos com ninguem.- 34.º Quinta feira 7 saímos do sítio do Chá Muginga Mucenda e levantámo[-no]s às 6 horas de manhã trespassámos três pousos, e não passámos rio, e durante a marcha viemos para o pouso deserto chamado Musula Aponpo chegámos no dito pouso às duas horas de tarde, fabricámos nossas Barracas ao Nascente do mesmo rio Lubury, andámos com o Sol [do] lado Esquerdo, e depois das fábricas feitas nos achou no dito pouso Escravos do mesmo Chá Muginga Mucenga vindos na Salina com Sal, andámos com o Sol da mesma forma e não [nos] encontrámos com ninguém. 35.º Sexta feita 8 saímos do pouso deserto Musula Aponpue, levantámo[-no]s às 5 horas de manhã, passámos um rio corrente de pequena largura chamado filho do rio Lunfupa, e durante a viagem passámos dito [o] rio Lunfupa que nos deu àgua na Cintura, o qual poderá ter pouco mais ou menos quinze braças de Largura, e vai desembocar no rio Luaba, chegámos no dito ao meio-dia não vimos nada de perturbação, e fabricámos nossas Barracas ao pé do mesmo rio pela banda de lá não [nos] encontrámos com pinguem. 36.º 37.º Domingo 14 saímos do pé da varja Quibonda levantámos ao
primeiro cantar de galo, e a qual varja gastou no passar até o meio dia,
e durante a viagem viemos para o pouso dezerto em sima de oiteiro chamado
Inpume, e ao pé do rio chamado Camoa de duas braças de largura e vai
dezembocar no Lualaba, chegamos no dito pouzo as 3 oras de tarde e
fabricamos nosas barracas, e em sima do mesmo oiteiro pela banda de Ia sem
chuva, encontramos com uns pretos do Cha Muginga Mucenda vindos na Salina,
e nos derão noticia que o potentado Quebule Parente do Cazembe Governador
da Salina estava com Saude. 38.° Segunda feira 11 salmos do pouzo dezerto e em sima de
oiteiro Inpume no qual levantamos as 5 oras de menhaã não pasamos rio, e
durante a marcha viemos para outro pouzo dezerto, e ao pé do riaxo
chamado Catomta e o pouzo chamado tambem Muary Agoia , e sendo as terras
do Cazembe e ja andamos com o Sol a Cara, chegamos no mesmo pouzo ao meio
dia, incontramos compretos que vinhão na Salina, e não vimos coiza
alguma. 39.° Terça feira 12 saimos do pouzo dezerto Catomta ,
levantamos as 6 oras de menhaã, pasamos hum riaxo corrente, de pequena
largura, e durante a viagem viemos para outro pouzo dezerto , ê ao pé do
rio currente de duas braças de largura chamado Huita Amatete que vai
dezembocar no rio Lualaba e no dito pouzo dezerto achamos muito longe hum
citio de 6m preto, chamado Muire potentado de Cazembe o qual veio no noso
pouzo as Ave Marias, e falamos com elle a nosa viagem que vamos dirigidos
ao Rey Cazembe mandados por Muropue , elle respondeo que o mesmo Cazembe
estava com saude , e mais seu Parente potentado Queburi Senhor da Salina, não
nos offereceo nada de mantimentos chegamos no pouzo as 3 oras de tarde sem
chuva andamos com o Sol á Cara não encontramos com ninguem, e não vimos
raridade de qualidade. 40 ° Quarta feira 13 salmos do citio de Muire, levantamos as 5
oras de menhaã, pasamos hum riexo chamado Mulonga Ancula de piquena
largura que vai dezembocar no Lualaba, e no levantarmos no mesmo
obrigou-nos o dito Muire que dessemos alguma coiza, e demos hum xuabo de
fazenda da India e vinte bagos de Missanga de Canádo, e foi-se embora
contente e continuando-nos a nosa viagem viemos para o pouzo dezerto
chamado Luiana Acananga e ao pé de hum riaxo currente chamado filho do
mesmo rio Abulonga Ancula, e chegamos no dito pouzo as 2 oras de tarde,
andamos com o Sol da forma encontramos com bastante gente compradores de
Sal a irem para o Muropue, fabricamos o cerco ao pé do mesmo riaxo o que
assima dito sem chuva, e não encontramos com ninguém. 41.º Quinta feira 14 saimos do pouzo dezerto Luiana Acananga
levantamos as 4 oras de menhaã, e durante a viagem pasamos um riaxo de
piquena largura do nasente chamado Luigila, o qual riaxo e que fez huma
varja grande onde foi dezembucar no rio Lualaba , e nesta mesma onde elles
tirão o Sal, o qual Sal cortão a palha que dentro da mesma varja está e
vão queimando a mesma palha, e depois dequeimada botão a cinza no umas
panelas pequenas que elles fazem e vão cuzinhando agoa luada, e fazem
huma medida de huma panelazinha pequena todos geral onde medem o dito Sal
para venderem que vem ser dez panelinhas val xuabo, e viemos para o pé da
mesma varja, chegamos as 3 oras de tarde andamos com o sol da mesma forma,
fabricamos nosas Barracas ao pé pela banda de lá sem chuva e não
incontramos com ninguem, e não vimos raridade de qualidade.- 42.º Sesta feira 15 parada por estar duente o Guia. 43.° Domingo 17 saimos ao pé da
varja levantamos as 5 oras de menhaã, e vindo-nos desendo com a mesma
varja e não pasamos rio, e durante a marcha pasamos Em Canoa o tal rio
Lualaba, que terá pouco mais ou menos sincoenta e tantas braças da
largura , e vai dezembocar no rio Lunheca , e viemos para outro grande do
mesmo potentado Quibury do Cazembe, e mandou dar parte o Guia a nosa
chegada, e nos mandou agazalhar ao pé dos seus muros, sem falar-mos nada
com elle, chegamos no dito citio ao meio dia sem chuva andamos com o Sol a
Cara não encontramos com ninguem. 44.º Segunda feira 18 padara do dito
titio do potentado Quibury, e sendo as seis oras de dia nos mandou chamar
e tratamos com elle o nosa pertenção que viemos de Angola mandado por
EIRey seu amigo que elles chamão Mueneputo ter com seu Superior Rey
Cazembe asim como tambem sermos despachados por Muropue, e com ordem para
dito Rey Cazembe nos trartar sem malicia, e ir-mos a procurar o Irmão do
mesmo EIRey que viajara por mar, e se achar nas terras do mesmo Rey
Cazembe, e conceder-nos licença de ir-mos para a Villa de Tete para
ver-mos se lá está, e para o que o Muropue nos entregou este seu Guia
Cutaqua-seja para dar o recado que o mesmo Muropue manda dizer, ao mesmo
Rey Cazembe, e praticamos deste modo por conhecer-mos todos os Reganos não
deixar pasar viajante com fazendas para as terras de outrem que se não
estar o viajante no seu citio para com elle fazer negocio e entrar a miudo
a decipar-lhe as fazendas com modo e geito, de ladrueiras, e crimes
fingidos, e respondeu o potentado Quibury que em Cazembe se achavão
brancos que vem. da hi anegociarem, e que a terra onde sairão os ditos
brancos não sabia, e tem por noticia de se achar, um branco Soldado que
tenha deixado ditos brancos, e que com o mesmo Rey Cazembe a vista melhor
tratarão com elle, e nos deu de prezente duas mãos de Carne de mato
fresca, e para tratar-mos tudo isto estivemos com elle empatados oito
dias, e demos de prezente vinte chuabos, com pedras de leite um Espelho
pequeno, e ama arma portugueza e nos deixou seguir-mos a viagem. 45.° Terça feira 19 salmos do citio
do potentado Quibury parente do Cazembe no qual Levantamos as 7 oras de
menhaã não pasamos rio, vindo-nos decendo com o mesmo rio Lualaba, e
durante a viemos para o pouzo dezerto , e ao pé de úm riaxo chamado
chafim o qual vai dezembocar no dito Lualaba chegamos no dito pouzo ao
meio dia, andamos com o Sol a Cara, fabricamos ao pé do mesmo riaxo pela
banda de cá, encontramos com bastantes animaes comuns e não vimos mais
raridade de qualidade. 46.º Quarta feira 20 saímos do
pouzo dezerto, e ao pé do riaxo chafim em que levantamos as 5 oras de
menhaã, pasamos o mesmo riaxo chafim , e durante a marcha viemos para
outro pouzo dezerto, e ao, pé de hum riaxo chamado. Bacasacala, chegamos
no dito pouzo as duas oras de tarde sem chuva, fabricamos noso cerco ao
nasente do mesmo riaxo andamos com o Sol da mesma forma, e não
encontramos com ninguem. 47.º Quinta feira 21 saimos do pouzo
dezerto, e ao pé do riaxo Becasala levantamos as 6 oras de menhaã
pasamos um riaxo corrente de pequena Largura , e viemos para em cima de um
oiteiro, e citio dos Escravos do potentado, Quibury chegamos no mesmo
pouzo as duas oras de tarde, fabricamos noso Cerco, ao pé de hum riaxo
pequeno pela banda de lá sem chuva , não encontramos ninguem. 48.° Sesta feira 22 saimos do citio
dos Escravos de Quibury, no qual Levantamos as 5 oras de menhaã pasamos
tres riaxos de pequena Largura que ignoramos os nomes, e durante a viagem
viemos para o Citio do Maior do Quibury chamado Camungo, o qual não
achamos no citio e somente achamos seus filhos por ter hido o dito t preto
a Caça, e nos mandou entrar nas Cazas os mesmos filhos, e demos de
prezente aos ditos filhos dois xuabos de fazenda de India, e falamos com
elles a nossa viagem que vamos para Cazembe a nossa dependencia, chegamos
no mesmo Citio ao meio dia sem chuva, andamos com o Sol a Cara, não
encontramos com ninguem. 49.° Sabado 23 saimos do citio do
preto Camungo levantamos em alvorado pasamos um riaxo pequeno e viemos
para o pouzo dezerto, e no principiar-mos as fabricas cahio a chuva e com
ella mesmo fizemos o noso cerco, e ao pé de um riaxo currente de pequeno
que ignoramos o nome chegamos no dito pouzo as 2 oras de tarde andamos com
o Sol da mesma forma e sendo a meia noite veio no poso pouzo dois Lioens
Berrando os quaes nos fez perder sono toda a noite, e com ajuda de DEos não
fizerão dano, não incontramos com ninguem , e não vimos nada de
raridade. 50.° Parte 2/3 1.ª Parte | 3.ª
Parte
Fonte: «Explorações
dos Portugueses no Interior da África Meridional», Anais
Marítimos e Coloniais, n.º 5, 3.ª série, Parte não-oficial,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1843, págs. 163-190.
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