A GUERRA EM ANGOLA

 

5. Execução das operações e ocupação do território do Baixo-Cunene (cont.)


Posto de socorros

Posto de socorros da face direita do acampamento da Môngua

 

Operações além-Cunene (cont.)

A chegada do Destacamento do Cuamato. - O inimigo fora repelido, mas o Destacamento do Cuanhama ficara imobilizado por falta de gado de tiro e de sela. Além disso, escasseavam os víveres e forragens, e nada se sabia da retaguarda, de onde se esperara no dia 29 a chegada de um comboio de víveres.

Procurou-se estabelecer a ligação com o Humbe, para o que, em 21, um camião, com praças de marinha e uma metralhadora, sob o comando do 2.º sargento Araújo, depois de uma primeira tentativa sem resultado, conseguiu vencer a resistência do adversário e chegar ao Humbe. Ao cair da noite de 22, saíram ainda com o mesmo destino dois camiões sob o comando do tenente Bento Roma, que foram repelidos e obrigados a recolher pelas forças que o gentio dispusera em volta do quadrado, pretendendo isolar-nos. Dentro em pouco renovou-se a tentativa e, a tiro de metralhadora, conseguiram romper.

Em 21, só foi distribuída meia ração ao pessoal e ao gado, e, nos dias seguintes apenas um quarto de ração.

Na noite de 22 para 23, às 22 h., foi convocado um conselho de oficiais - comandantes de unidades, chefes de serviços e oficiais do Estado-Maior - presidido pelo General, perante os quais o chefe do estado-maior, major Ortigão Peres, a convite do General, expôs a situação em que nos encontrávamos, para que a pudessem apreciar e emitir parecer sobre se devíamos retirar sobre a Chimbua ou aguardar reforços.

Todos, com excepção de dois, foram de opinião de que devíamos aguardar reforços.

Como houvesse vantagem em verificar se o material que deixáramos no local dos combates dos dias anteriores ainda ali se encontrava, em 22, já noite cerrada, foi encarregado dessa missão o capitão Ferreira do Amaral, levando sob seu comando um destacamento de dois pelotões de marinha, um pelotão de landins e auxiliares europeus e indígenas. A missão era deveras arriscada e os auxiliares europeus, apesar de acostumados a defrontarem-se com os perigos nos sertões de África, negaram-se a princípio, e só com muito custo, a instâncias de Ferreira do Amaral, se resolveram a acompanhá-lo.

O material foi encontrado intacto, tendo o capitão Ferreira do Amaral informado, ao regressar, de que ao longe, na direcção do Cunene, ouvira tiroteio de espingardas e de metralhadoras, o que levava a supor que os camiões de Bento Roma tinham sido atacados.

 

Do interrogatório feito a um prisioneiro e a doze indígenas que voluntariamente se apresentaram, fomos levados a concluir que nos combates dos dias 18 e 19 foramos apenas atacados por uma parte das forças inimigas, sob o comando do «lenga» Calola, tendo como imediatos 9 «lengas» ; e no combate do dia 20, sob o comando superior do «soba» Mandume, entraram em acção os guerreiros de 33 «lengas».

Neste último combate, conjugando as informações colhidas dos indígenas apresentados com a extensão da frente de combate e densidade do fogo do adversário, pudemos concluir que este empregara cerca de 12.000 espingardas finas, tendo ainda trazido consigo uma peça Erhardt, que em 1914 abandonáramos inutilizada no Evale, e que um ferreiro indígena tentara reparar, o que, felizmente, não conseguira.

Como reservas dos que caíam na linha de fogo e tropas de choque armadas de azagaia, machadas e mocas, deveria dispor ainda o Mandume de cerca de 30.000 a 35.000 homens, entre cuanhamas, cuamatos, evales, cuambís e muhumbes.

Pouco antes da meia-noite do dia 23 apresentava-se no quadrado um indígena com uma comunicação do Destacamento do Cuamato, informando que este se encontrava a cerca de 15 quilómetros, e que, pelas 15 h. do dia seguinte, alcançaria o estacionamento da Môngua, escoltando um comboio de reabastecimento, boa nova esta que imediata e rapidamente foi transmitida a todas as unidades.

Guarda avançada

Elementos de cavalaria da guarda avançada do destacamento do Cuamato

O alferes Costa Andrade, em 19, regressara à Môngua já com um comboio de três camiões com munições de artilharia e alguns víveres e forragens.

O chefe do Estado-Maior da Direcção de Etapas, ao receber desse alferes a comunicação respeitante ao destacamento do Cuamato, encarregara o alferes Olímpio Chaves de a transmitir ao Comando deste, que a recebeu pelas 20 h. e 30 m. do dia 18 no Forte do Cuamato, onde o destacamento chegara em 15, não sem dificuldades, tendo partido do Humbe em 12.

O destacamento do Cuamato, que às 5 h. e 30 m, do dia 20, se dispunha a marchar sobre a N'Giva, pela Umbumba, para cumprimento da sugestão recebida do Comando Superior, suspende esse movimento à chegada do alferes Olímpio Chaves, portador da nota que lhe expunha a situação crítica em que se encontrava o destacamento do Cuanhama. O seu Comando resolve deixar uma guarnição no Forte do Cuamato e retroceder para o Forte Roçadas, e seguir daí para a Chimbua afim de restabelecer as comunicações com a Môngua.

Solicitadas à Direcção de Etapas as ordens necessárias para os reabastecimentos em consequência desta mudança de linha de comunicações, o destacamento iniciou a marcha às 7 h. de 20 e fez um grande alto no Damequero; continuou o movimento às 19 h., suspendendo-o de novo desde as 4 às 6 h. de 21; e, novamente em marcha, atingiu às 11 h. o Forte Roçadas, onde estacionou até às 19 h.

Do Forte Roçadas, depois de uma conferência com o C.E.M. da Direcção de Etapas e com o comandante militar do Humbe, capitão Velez Caroço, foi ordenado ao destacamento de Naulila que marchasse pelo Otoquero sobre o Forte Roçadas, e ao destacamento do Evale que seguisse para a Chimbua, afim de guarnecer os postos da linha de comunicações, por o destacamento do Cuamato dispor de um fraco efectivo que seria perigoso desfalcar.

Depois de mandado guarnecer o Forte do Damequero, para assegurar a linha de comunicações do Cuamato, o destacamento atravessou o Cunene pelas 20 h., seguindo em direcção à Chimbua, estacionando à 1 h. de 22 a 18 quilómetros do vau deste nome, que depois atingiu pelas 11 h., indo novamente estacionar às 12 h. na margem esquerda do rio. Como na Chimbua se não encontrava ainda o destacamento do Evale, foi incorporada no destacamento a 12.ª companhia do 19 pertencente à guarnição do Humbe.

Acampamento

O destacamento do Cuamato acampado junto ao Forte Roçadas, depois de ter prestado socorro
ao destacamento da Môngua

Pelas 19 h., o destacamento continuou a marcha, até às 23 h., recomeçando-a de novo às 6 h. do dia 23, alcançando pelas 14 h. a chana do Enforcado, onde estacionou. Na manhã do dia 24, pelas 7 h. pôs-se novamente em marcha, em formação de combate, com o comboio de reabastecimento dentro do quadrado.

Montados postos na Cachaqueira e na Cuancula, continuou o movimento para a Môngua, que atingiu pelas 15 h., depois de ter repelido, pelo fogo e pelo avanço da cavalaria em formação de carga, grupos de atiradores inimigos que procuravam opor-se à marcha.

Estavam, finalmente, restabelecidas as comunicações pelo Destacamento do Cuamato, depois de uma marcha notável de 130 quilómetros em 50 horas, em cuja preparação e execução o seu chefe do estado-maior, capitão Mascarenhas, evidenciou qualidades de um distinto oficial de estado-maior, justamente louvado, como o seu comandante e o próprio destacamento.

 

Pelo Destacamento do Cuamato foi o Comando Superior informado do que se passara à nossa retaguarda desde o dia 19.

Assim. na tarde deste dia, um comboio de 13 camiões de reabastecimento, sob o comando do alferes Ponces, de infantaria 14, tinha sido atacado no caminho para a Môngua por forças inimigas dirigidas pelo lenga Calola, sendo obrigado a retroceder para o Humbe, tendo ficado mortos 4 praças de infantaria 17 e 1 ajudante de chauffeur, e perdidos 5 camiões.

Pouco depois das 14 h. de 23, quando o destacamento estacionava na chana do Enforcado, a cerca de 15 quilómetros da Môngua, o comboio de Bento Roma, que ultrapassara o destacamento, foi atacado, sendo obrigado a acolher-se à protecção deste. A comunicação, que o Comando do destacamento tinha entregado ao tenente Bento Roma, informando o Comando Superior da sua chegada à Môngua pelas 15 h. do dia seguinte, foi confiada a um destemido auxiliar cuanhama e acrescida da notificação de que se fazia acompanhar do comboio de reabastecimento.

Acampamento

Acampamento de cavalaria na marcha para a N'Giva

Em 24, a situação do Destacamento do Cuanhama, no que respeitava a alimentação, melhorou um pouco, pois passou a distribuir-se meia ração porque às tropas estacionadas na Môngua tinham vindo juntar-se as que constituíam o destacamento do Cuamato.

Só a 29 é que a ração distribuída foi quase completa, apesar de na noite de 27 se terem recebido víveres de reforço escoltados pelo 1.º esquadrão de dragões que, acompanhado do Comando do destacamento do Evale, atravessara o Cunene no Cáfu.  

 

O Destacamento da N'Giva e a intervenção do major Pritchardt a favor de Mandume. - O Destacamento do Cuanhama, que sofrera perdas sensíveis, especialmente em solípedes, quer nos três combates da Môngua, quer durante as marchas realizadas após a transposição do Cunene, ficara em condições de não poder continuar o seu avanço sobre a N'Giva.

Não ficara, porém, inactivo, e, para não dar a impressão de que não nos aventurávamos fora das trincheiras, e para colhermos informações sobre o inimigo e sobre a existência de água e gados nas proximidades do quadrado, quase todos os dias saiam em reconhecimento forças regulares e indígenas. Se aquelas nunca encontraram resistência, outro tanto não aconteceu a estas que sob o comando do capitão Ferreira do Amaral, tiveram por vezes, de abrir caminho a tiro para recolher ao quadrado.

Quase diariamente também se ouvia largo tiroteio entre os que queriam prestar vassalagem e os partidários da continuação da guerra, capitaneados pelo lenga Calola.

Entretanto, alguns indígenas se iam apresentando, que prestavam várias informações, entre outras: que os alemães das Missões ainda não tinham retirado, que vendiam munições, etc.

Enquanto na Môngua se ia construindo um forte, que ficou guarnecido por forças de infantaria, metralhadoras e artilharia, sob o comando do major Salgado, ia-se preparando também a reorganização do Destacamento do Cuanhama com os elementos disponíveis deste, com os dos Destacamentos do Cuamato e do Evale, e com solípedes vindos da retaguarda.

Ao Destacamento da N'Giva – nome dado ao Destacamento do Cuanhama, reorganizado depois de dissolvido em ordem de serviço sem uma palavra de louvor! - foi dada a missão de concluir as operações militares marchando sobre a N'Giva. Incorporadas, nele seguiam as forças destinadas a guarnecer a linha de comunicações.

Em 31 de Agosto, apresenta-se na Môngua um cuanhama, com um lenço branco arvorado em um pau, como se fora um parlamentário, portador da seguinte nota, escrita em inglês

«União Sul-Africana – Namakunde – Ovamboland - 30 de Agosto de 1915 - Ao oficial comandante das forças do Governo Português em Angola - O mangua - Senhor: Foi com pesar que soube, numa ocasião em que me encontrava numa visita oficial a Ovamboland, ter rebentado a guerra entre as tropas portuguesas em Angola e a tribu [sic] ovakuanyama da nação Ovambo. - A este respeito tenho a honra de vos informar que Mandume, chefe dos Ovakuanyamas, tendo tido conhecimento da minha presença neste país, se me dirigiu a pedir conselho e auxílio de maneira a lhe permitir que cessem as hostilidades entre ele e as forças sob o vosso comando. - Sabeis sem dúvida que a linha fronteiriça entre Angola e o protectorado inglês do Sudoeste de África atravessa o país ocupado pelos ovakuanyamas, de maneira que uma grande proporção – pelo menos metade – daquela tribu vive do lado sul de fronteira, em território inglês. - Consta-me que muitos destes últimos indígenas foram chamados por Mandume em seu auxílio, atravessaram a fronteira e estão presentemente tomando parte nas hostilidades. - É esta última consideração, conjuntamente com o desejo muito sincero de prestar todo o auxílio possível em assegurar, o mais rapidamente possível, a terminação das hostilidades, evitando-se assim o derramamento de mais sangue, que me leva a pôr, para este fim, os meus serviços à vossa disposição e à disposição de Mandume. - No caso de estardes disposto. nestas circunstâncias, a aceitar esta proposta, terei muito prazer em me encontrar convosco onde vos for mais conveniente, afim de que o assunto possa ser por nós discutido. - Tenho a honra de ser, Senhor. vosso obediente servidor. S. Pritchardt, oficial encarregado dos Negócios Indígenas do Protectorado do Sudoeste Africano.»

A esta comunicação do major Pritchardt, respondeu o General Pereira de Eça nos seguintes termos:

«Comando Superior das Forças em Operações em Angola - Quartel General – Il.mo. e Ex.mo Sr. major encarregado dos Negócios Indígenas no Protectorado do Sudoeste Africano – Namakunde - Tenho a honra de acusar o oficio de V. Ex.ª de 30 do corrente. - Devo era primeiro lugar manifestar a V. Ex.ª os meus profundos agradecimentos pelos amáveis sentimentos expressos por V. Ex.ª, sentimentos estes que não me surpreenderam vindo de um distinto oficial do exército inglês, o antigo aliado daquele a que tenho a honra de pertencer; mas permita-me V. Ex.ª que chame a sua esclarecida atenção para um ligeiro equivoco em que julgo assentar a amável proposta de V. Ex.ª - Não se trata de hostilidades entre as forças do meu comando e as do chefe da nação Ovampo, e sim do facto das forças do meu comando, atravessando território incontestavelmente português, serem atacadas por gentio que tem como soba o Mandume, - É, pois, de um acto de pura rebelião que se trata e que tem de ser encarado como todos os estados soberanos encaram actos análogos, podendo assegurar a V. Ex.ª que as tropas do meu comando terão o maior escrúpulo em não realizar qualquer operação de guerra que não seja em território incontestavelmente português, e que em todos os actos procederão tendo na máxima atenção que os nossos actuais vizinhos na Damaralândia pertencera a uma nacionalidade pela qual Portugal professa a mais alta admiração e amizade desde os mais remotos tempos. - Acampamento da Môngua, 31 de Agosto de 1915.- Pereira de Eça, General comandante e Governador-geral.»

Quais as razões que levaram o major Pritchardt a intervir junto do General, a favor do Mandume? É o Livro Azul, publicado em 1916 pela União Sul-Africana, que nos vai esclarecer o mistério em que assentaram as determinantes de tal intervenção.

Pouco tempo depois da ocupação da Damaralândia, o major Pritchardt, encarregado dos negócios indígenas, fez uma viagem ao país dos Ovampos.

Encontrava-se de visita ao régulo Martin, cujos territórios confinam com o sul da nossa colónia de Angola, quando começaram a ser recebidas informações de que as nossas tropas tinham derrotado completamente o Mandume, soba dos cuanhamas. Martin assustou-se, receoso de que, derrotado o Mandume, este, com os seis guerreiros, invadisse os territórios dos Ovampos em som de guerra com a crueldade que costumava empregar em tais emergências.

Pritchardt dirigiu-se então para a fronteira ao encontro do Mandume, e, depois de ouvir as queixas deste, enviou ao General Pereira de Eça a nota que transcrevemos.

Recebida a resposta do General, deu do seu conteúdo conhecimento ao Mandume, advertindo-o de que o efectivo e constituição das forças portuguesas tornavam inútil qualquer resistência da sua parte. Mandume, com a aquiescência de Pritchardt, resolveu retirar-se com a sua gente para a Damaralândia, entregando-se a si, a todo o seu povo e às suas terras, ao rei da Inglaterra, para que este o defendesse e auxiliasse, não o entregasse ao Governo Português, prometendo fazer todo o possível para que o seu povo vivesse em paz e se dedicasse ao trabalho, sendo respeitadas as leis do Governo Inglês.

 

No dia 2 de Setembro, pelas 7 h. e 30 m., partiu da Môngua o Destacamento da N'Giva.

Desde a Môngua até à N'Giva, onde chegou em 4, nunca o destacamento teve necessidade de deter-se para resistir a qualquer ataque, sendo digno de nota o modo por que o 1.º esquadrão de dragões (capitão Pissarra) executou o serviço de exploração, protegendo as forças, repelindo algumas guerrilhas que se aproximavam, e produzindo no inimigo baixas apreciáveis. Comandava a flecha com desembaraço, decisão e critério, o tenente Roque de Aguiar.

A falta de água continuou a fazer-se sentir. No dia 4, a uns i o quilómetros de Oxinde, encontraram-se grandes cacimbas com muita água, mas o destacamento não fez alto, prosseguindo sempre na marcha, pois era intenção do General atingir ràpidamente a N'Giva, desde que tivera conhecimento de que o major Pritchardt se encontrava perto da embala.

 
Balunganga

Fortificando o estacionamento na Balunganga

Como era natural, o número de retardatários aumentava, alongando-se a coluna, que perdia a coesão e a consistencia, sendo impotentes os médicos para prestarem socorros, tantos eram os homens que caiam desfalecidos por extenuação, sêde e insolação. Os camiões enchiam-se de inválidos, e, como morresse bastante gado pelo caminho, muitos homens rebocavam material de artilharia.

Uma divisão da bataria de artilharia 8 ficou tôda a noite de 4 para 5 a cêrca de 4 quilómetros da N'Giva, por não ser possivel no dia 4 arrastar o seu material até ao local da embala. Os camiões foram empregados, na última parte da marcha do dia 4, no transporte de metralhadoras, munições, soldados e marinheiros, e no reboque de material de artilharia. Um pelotão de cavalaria, transportando água em sacos, socorria os homens inanimados, que os camiões transportavam, por sua vez para a N'Giva.

Infantaria 17 foi a unidade que mais sofreu por os seus homens serem os que transportavam maior carga.

A embala linha sido incendiada havia tão pouco tempo que as cinzas ainda se encontravam quentes.

Era constituída por um vasto cerrado, de 5oo metros de diâmetro, aproximadamente, dentro do qual existiam terras de semeadura e uma eira, algumas paliçadas destinadas à guarda do gado bovino, outras tendo no interior grupos de palhotas.

Dentro da paliçada, onde era a residência do soba, havia uma casa com paredes de adobes, que também fora incendiada e perto desta, e incendiada também, existia outra casa, onde se encontraram: uma peça de bronze de ante-carga, uma peça de bronze de 7` de montanha (culatra Krupp) e uma metralhadora Nordenfeldt de 5 canos, de que só restavam as partes metálicas, pois a madeira dos reparos fora reduzida a cinzas.

 

Tinham terminado as operações. Restava ocupar o território conquistado.

Na manhã do dia 7 de Setembro retirou para o Lubango o General e os oficiais do Comando Superior,1 depois de ter deixado elaboradas as instruções para a evacuação das forças e para a ocupação do território do Baixo Cunene.

No dia 13, após a evacuação do batalhão de marinha e a dissolução do destacamento da N'Giva, retirou também para o Lubango o Comando deste destacamento.

Ao batalhão de infantaria 17 ficava o espinhoso e difícil encargo de fazer a ocupação.

 

Como cumpriram os restantes três destacamentos – de Naulila, do Cuamato e do Evale – as missões de que foram incumbidos pela «Directiva para a ocupação do Baixo-Cunene»?

É o que nos resta dizer sumariamente para complemento da narrativa do que foram as operações militares realizadas no Sul de Angola durante a Grande Guerra.

 

Destacamento do Cuamato -Tendo partido do Humbe na manhã de 12 de Agosto, o destacamento entrou pelas 15 h. do dia 15 no Forte do Cuamato na mais completa ordem e disciplina, apesar de ter sido por vezes incomodado pelo inimigo, tendo-se dado apenas três casos de insolação devidos ao excesso de calor e à sede. O Forte, embora saqueado, encontrava-se em bom estado; os edifícios do comando e os particulares, existentes na zona de servidão, tinham sido destruídos e igualmente saqueados, com excepção das cavalariças.

Estava cumprida a missão do destacamento que ali se conservou estacionado até ao dia 18.

É a partir deste momento que o Destacamento do Cuamato, investido em nova missão, como atrás vimos, inicia o movimento que o há-de conduzir até à Môngua, em auxílio do Destacamento do Cuanhama, efectuando a mais notável das marchas das nossas campanhas coloniais.

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Notas:

1. Menos o sub-chefe do E.M. evacuado em 28 de Agosto para o Lubango com uma pneumonia.

 

Fonte:  

Coronel António Maria Freitas Soares, «A campanha de Angola»
in General Ferreira Martins (dir.), Portugal na Grande Guerra, Vol. 2, Lisboa, Ática, 1934,
págs. 235-258

A ver também:

Portugal na Grande Guerra

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