Monumento à Batalha do Buçaco
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Monumento à Batalha do Buçaco

 

1. A preparação

 

Rememorar a batalha do Buçaco, é sempre um acto patriótico, porque é lembrar páginas brilhantes da história do exército português, que tão valorosamente combateu. ao lado dos não menos heróicos soldados ingleses, vertendo o seu sangue para libertar o solo da Península do jugo napoleónico.

Por isso, vamos, mais uma vez; reeditar a descrição dessa batalha tão notável nos faustos heróicos da Guerra Peninsular, pois a 2.ª edição, de 1910, está há muito esgotada.

Caíra Ciudad Rodrigo, após 24 dias de sítio; capitulara Almeida depois de 14 dias de uma honrosa resistência, e esta capitulação teve lugar porque à explosão dum paiol de pólvora destruíra as suas muralhas; e, a estes dois desastres, o exército anglo-luso assistira sem tentar prestar o auxílio, que as guarnições daquelas praças tanto pediram!

Este procedimento do comandante em chefe do exército anglo-luso. lançara a maior consternação na Espanha e em Portugal; e, na própria Inglaterra o partido contrário ao governo ia ganhando terreno na opinião pública, que protestava contra a tibieza e inércia com que Wellington dirigia as operações.

No próprio exército inglês lavrava um rumor surdo contra o chefe, e que podia de um para o outro momento traduzir-se em qualquer acto grave de indisciplina.

Tornava-se indispensável fazer rosto ao inimigo. A batalha do Buçaco impunha-se sob o tríplice ponto de vista material, moral e político.

A posição era formidável e o general inimigo, vindo sempre a seguir o exército anglo-luso, do Côa ao Criz, não hesitaria em atacar de frente aquela posição.

O ardente e impetuoso génio de Massena não se harmonizava com uma manobra.

Senhor de Ciudad Rodrigo e de Almeida, que Massena ia converter numa base de aprovisionamento, indispensável para as ulteriores operações, o general francês invadiu Portugal em três colunas.

O general Reynier, comandante do 2.° corpo de exército, cujo efectivo era de 15.359 homens e 2.709 cavalos, entrou pela Beira, dirigindo-se por Alfaiates ao Sabugal, que ocupou no dia 13 de Setembro, entrando na Guarda no dia 15, onde estabeleceu o seu quartel general.

O 6.° corpo, sob o comando de Ney, e cujo efectivo era de 23.172 homens e 2.947 cavalos, transpôs o Côa no dia 15, ficando o corpo principal em Freixedas, a vanguarda em Alverca e a cavalaria em Maçal do Chão.

O 8.° corpo, sob o comando de Junot, com um efectivo de 16.772 homens e 3.652 cavalos, passou o Côa no dia 16 em Porto de Vide, estacionando o corpo principal em Pinhel e a vanguarda em Valbom.

Este corpo de. exército marchou pela estrada de Pinhel – Trancoso – Tojal e Viseu.

Por esta mesma estrada marchou o parque de artilharia, formando um extenso comboio, e levando na sua retaguarda a cavalaria de reserva, sob o comando do general Montbrun, e cujo efectivo era de 3.651 homens e 3.822 cavalos.

Todas estas forças constituíam a coluna da direita que marchava pela pior estrada.

O 6.° corpo marchou sobre Viseu pela estrada de Celorico-Mangualde, tendo passado para a margem direita do Mondego na ponte dos Juncais.

O 2.° corpo, tendo-se precisamente concentrado entre a Ramalhosa e a Lageosa, seguiu por Cortiço da Serra a Vila Franca e Carrapichana, passando o Mondego na ponte Nova, e indo estacionar em Mangualde.

Daqui seguiu pela estrada do Carregal do Sal, lançando destacamentos sobre o seu flanco esquerdo, para vigiar as passagens do Mondego.

O 6.° e 8.° corpos marcharam, a partir de Viseu, pela mesma estrada – Faial – Tondela – Santa Comba Dão.

A demorada e difícil marcha do parque de artilharia, não só pela natureza dos caminhos, mas porque fora atacado nas proximidades de Decermilo pelas milícias de Trant, obrigara Massena a permanecer alguns dias em Viseu, o que veio sobremaneira favorecer o plano de Wellington.

Tinha este a massa principal das suas forças primeiramente sobre a fronteira da Beira Alta, tendo vindo sempre recuando pela margem esquerda do Mondego, a partir de Celorico, à medida que avançava o exército francês.

Eram estas forças constituídas pelas divisões Craufurd, Picton, Cole e Spencer.

Mas outras forcas importantes operavam separadamente. Eram constituídas pelo corpo do general Hill (do qual fazia parte uma divisão de tropas portuguesas, sob o comando do general Hamilton), que viera do Alentejo para a Beira Baixa, vigiando sempre os movimentos do general francês Reynier, e se concentrara depois entre Castelo Branco e Sarzedas, quando viu que o 2.° corpo francês se dirigia sobre a Guarda; a brigada portuguesa do coronel Lecor, que fora colocada no Fundão; e finalmente a divisão portuguesa do general Leith, que, postada em Tomar, procurava defender a linha do Zêzere até à Barca de Codes.

Pensara a princípio Wellington que Massena se dirigisse de Celorico pela margem esquerda do Mondego sobre a Ponte da Mucela; e, quando as forças francesas atingiram Viseu, ainda julgou que estas tomassem pelo Vale do Vouga para alcançarem à estrada do Porto a Lisboa.

A marcha, porém, pela estrada de Tondela a Mortágua, mostrou-lhe, que Massena estava resolvido a passar pelo Buçaco.

A ocasião era propícia, pois que a posição prestava-se a uma defensiva enérgica.

Foi assim que Wellington se resolveu a medir-se com o filho querido da Vitória.

Esta resolução encheu de entusiasmo o exército anglo-luso. Até que enfim os soldados ingleses iam mostrar que não serviam só para combater no mar; e os portugueses, batalhando pela sua bandeira, e pela sua pátria, iam ter ensejo de mostrar. quem eram os descendentes dos heróis de Ourique, de Aljubarrota, do Ameixial, de Montes Claros, de Diu, de Ceilão e de tantos outros campos de batalha, onde seus maiores se tinham coberto de glória.

Urgia, porém, ter concentradas no Buçaco as forças de Hill e de Leith.

Wellington ordenou, pois, àqueles generais que marchassem sobre a Ponte da Mucela.

O general HilI, mesmo antes de receber a ordem do general em chefe, tinha já por sua iniciativa, logo que vira marchar Reynier para a Guarda, retirado para Sobreira Formosa, de onde saiu no dia, 17, vindo pela estrada de Vila do Rei passar o Zêzere em Barca de Codes, e marchara sobre o Espinhal, aonde estava no dia 20, após uma, marcha forçada; que se tornou notável.

Não menos notável fora também a marcha realizada pelo coronel Lecor, vindo com a sua brigada do Fundão pelo caminho de Pampilhosa da Serra, e chegando ao Espinhal também no dia 20.

No dia 21, Hill atingia o Alva, depois de ter percorrido perto de 240 quilómetros em 5 dias. 1

Da Ponte da Mucela foram chamados para o Buçaco Hill e Leith, ficando aí a brigada Lecor, constituída pelos nossos regimentos de infantaria n.os 12 e 13 e batalhão de caçadores n.º 5, e que fora reforçada pelos regimentos de milícias da Idanha, da Covilhã e de Castelo Branco.

Na margem direita do Alva, vigiando os caminhos que vinham de Mortágua ao Mondego, ficara também a divisão de cavalaria Fane, constituída pelos nossos regimentos de cavalaria n.os 1, 4, 7 e 10, e pelo regimento inglês n.º 13, de dragões ligeiros.

Na serra do Buçaco iam, pois, dispor-se para a batalha as forças anglo-lusas, compreendendo 6 divisões de infantaria e 3 brigadas independentes, cujo efectivo era de 49.228 homens.

A artilharia inglesa tinha um efectivo de, 1.350 homens e o da portuguesa era de 880 homens.

Os engenheiros (ingleses) eram apenas 43. As tropas do trem tinham um efectivo de 422 homens.

A cavalaria inglesa, que foi colocada na Mealhada, compreendia 3 brigadas com um efectivo de 2.489 homens, a qual era comandada pelo general Cotton.

 

A posição do Buçaco 

 

A Serra do Buçaco, mais conhecida então pelo nome de Serra de Alcoba, eleva-se como uma muralha 12 quilómetros a sudoeste de Mortágua e 18 quilómetros ao norte de Coimbra.

© Museu do Buçaco

Posições das forças no começo da Batalha do Buçaco

 

Esta serra tem a direcção SE – NO, prolongando-se numa extensão de 20 quilómetros, desde a Senhora dos Remédios ou do Monte Alto, até ao Ninho de Águia. E o prolongamento da Serra da Mucela, da qual está separada pelo Mondego, enquanto esta, na margem esquerda do. Alva, que lhe serve de fosso, é a continuação da Serra de Arganil, uma das ramificações da Serra da Estrela. Para o norte apresenta uma série de elevações, que se vão ligar à Serra do Boialvo.

A Serra do Buçaco levanta-se sobranceira a Penacova, tendo na Senhora do Monte Alto 323 metros de altitude; depois apresenta a depressão da Chã, e em seguida vai, sucessivamente elevando-se até ter 547 metros, seu, ponto culminante, onde forma um planalto, que tem na sua parte mais larga uns 500 metros.

A partir do vértice sul da Tapada o terreno desce um pouco para tornar outra vez a subir na direcção norte, formando uma linha de cumeadas que se vão prender à Serra do Caramulo ou, dos Besteiros, que separa a bacia do Mondego da do Vouga.

Desde a Senhora do Monte Alto até à mata do Buçaco, apenas se notam dois colos por onde passavam duas estradas. São as portelas da Oliveira ou da Mata e a de Santo António do Cântaro.

Pela primeira passa um caminho, que vem de Gondolim e do Coiço, junto ao Mondego (onde há um vau) e, transpondo a serra, se dirige por Palmassos, Figueira e Selas a Coimbra.

Pela segunda portela vinha a comunicação mais importante daquele tempo, que era a estrada de Mortágua a Coimbra; seguindo por Bemfeito, Alcordal, Palheiros e Botão; e. que era chamada então a estrada de Lisboa.

Esta estrada atravessava ao meio a posição.

Um outro caminho vinha de Mortágua por Vale de Vide, Moura, passando junto à mata do Buçaco, e, passando por Vendas Novas, ia na Mealhada entroncar na estrada do Porto a Coimbra.

Este caminho com dificuldade dava acesso à artilharia.

De Mortágua partia ainda outro caminho, que, seguindo ao Boialvo, ia ligar-se à estrada Porto – Coimbra, ou em Avelãs de Caminho, ou no Sardão. Era, portanto evidente a importância que tinha Mortágua, por ser um nó de comunicações, para Coimbra e para o Porto.

O terreno entre Mortágua e a Serra do Buçaco é muito cortado, não permitindo o movimento fora dos caminhos, muito especialmente a artilharia. Entre as povoações de Moura, e de Sardeirinha corre paralelamente à serra uma ribeira, constituindo um verdadeiro fosso na frente da posição, mas que a partir desta última, povoação muda de direcção até próximo da Marmeleira, onde se inflecte, indo reunir-se à ribeira de Mortágua na Caparrosinha.

Algumas ravinas de somenos importância cortam o terreno, correndo quase perpendicularmente, à Serrado

Buçaco, de modo que quaisquer movimentos de tropas que por elas se fizessem eram vistos do alto da posição.

Um grande número de pequenos cursos de água se dirigem à ribeira da Lourinhã, na sua margem esquerda, e numa direcção perpendicular ao curso desta, mas tão próximas umas das outras que mesmo o movimento da infantaria em todo o trato de terreno compreendido entre aquela ribeira e a estrada de Mortágua ao Luso é difícil.

Esta estrada corre mesmo por um dorso, que separa os, cursos de água que correm para a ribeira da Lourinhã, dos que correm para as ribeiras de Espinho e do Milijoso.

Esta última ribeira corre paralelamente à parte da posição que fica ao norte da mata do Buçaco, contornando-a depois ao norte, até Vila Nova, onde, novamente muda de direcção.

Portanto, a posição do Buçaco fica perfeitamente limitada nos seus flancos pelo rio Mondego e pela

Ribeira do Milijoso, que já pertence, à bacia do Águeda.

A vertente da Serra do Buçaco que olha para Mortágua é quase abrupta em toda a sua extensão, sendo difícil o seu acesso por este lado; mas já não sucede o mesmo na vertente que olha para Coimbra, pois o terreno é mais aberto.

A posição é, portanto, caracteristicamente destinada a uma defesa passiva, não permitindo contra-ataques exteriores, tornando precários os contra-ataques interiores, e sendo difícil executar uma retirada, por falta de posições de apoio à retaguarda.

A posse da povoação de Moura tornava-se de grande importância para assegurar um movimento pelo vale do Milijoso, movimento que, fazendo-se na direcção de Paradas e depois na de Vila Nova, permitia o torneamento da posição do Buçaco, no caso em que o flanco esquerdo desta posição terminasse na mata do Buçaco, como assim julgavam os franceses, em virtude dos seus incompletos reconhecimentos.

Para evitar esse torneamento é que o exército anglo-luso ocupou as alturas do Cabeço Redondo e Ninho de Águia, que dominam -o vale do Milijoso.

 

Dispositivo das forças anglo-portuguesas 

 

Batalhão de Caçadores n.º 4

© Jornal do Exército

Atirador do Batalhão de Caçadores n.º 4

As forças anglo-lusas ocuparam a Serra do Buçaco (vindo da direita para a esquerda) desta forma:

a. Em Nossa Senhora do Monte Alto estavam 5 companhias da Leal Legião Lusitana, pertencentes à divisão Picton, que desta tinham sido destacadas, é que eram apoiadas por uma bateria de 6 peças da artilharia portuguesa. O seu efectivo era de 1.646 homens, sendo seus comandantes os tenentes-coronéis Maxwel Grant e Eduard Hawskskaw.

b. Corpo do general Hill, compreendendo uma divisão inglesa e uma -divisão portuguesa.

Esta compreendia à brigada Fonseca (regimentos n.os 2 e 14) e a brigada Arch. Campbell (regimentos n.os 4 e 10), tendo um efectivo de 4.940 homens. Era seu comandante o general Hamilton. A divisão inglesa tinha 3 brigadas (Stewart, Wilson e Inglis), com um efectivo de 5.737 homens.

A brigada portuguesa Campbell apoiava a sua direita na estrada que vem de Gondolim e se dirige a Casal.

A brigada portuguesa Fonseca estava colocada à esquerda da anterior.

A divisão inglesa formava logo. a seguir à divisão portuguesa.

Portanto, o corpo, de Hill ocupava todo o alto da Chã, compreendido entre as estradas Gondolim-Casal e Gondolim-Palmassos, sendo esta última a que passa na portela da Oliveira.

Estas forças constituíam uma só linha táctica, e a uns 100 metros à retaguarda da crista.

c. Vinha em seguida a divisão Leith, que estava dividida. em duas. fracções: ala direita (brigada Barnes) junto à portela da Oliveira, sobre o caminho que vem de Alcordal para Midões; ala esquerda, mais afastada, aproximando-se da portela de Santo António do Cântaro, de forma que ficava um largo intervalo entre as duas aias.

A ala esquerda desta divisão era constituída pela brigada portuguesa Spry (regimentos n.os 3 e 15), pela parte restante da Leal Legião Lusitana (sob. o, comando do Barão de Eben), pelo regimento de milícias de Tomar e pelo. regimento de infantaria n.º 8, este sob o comando do coronel Douglas. O efectivo desta divisão era de 7.305 homens, sendo. 5.426 de tropas portuguesas.

d. Seguia-se a divisão Picton, constituída, pela brigada portuguesa do coronel Champalimaud (regimentos n.os 9 e 21), na força de 1.775 homens, e pelas brigadas inglesas Mackinnon e Ligthburne (regimentos n.os 45, 74, 88, 5, 83 e 90) cujo efectivo era de 2.968 homens. A brigada Champalimaud formava uma 2.a linha táctica.

e. Seguia-se a divisão Spencer, constituída pelas brigadas inglesas Stopford, Packenham e Blantyre, com um efectivo de 4.992 homens.

Estas forças estavam colocadas ao sul da povoação do Cerquedo, ficando duas brigadas à direita e a outra à esquerda do local onde hoje está o ponto trigonométrico Buçaco.

Foi à direita desta divisão que se instalou Wellington durante a batalha. 2

f. À retaguarda do flanco direito da divisão Spencer, e fazendo parte desta divisão, estavam dois esquadrões do regimento inglês n.º 4 de dragões, com um efectivo de 210 homens.

g. Em frente da ravina que desce da serra e passa ao sul dos moinhos de Moura, ficava a brigada Portuguesa Pack (regimentos de infantaria n.os 1 e 16 e batalhão de caçadores n.º 4).

Esta brigada ficava portanto a Este do ângulo SE da Tapada. O seu efectivo era de 2.769 homens.

h. Guarnecendo o terreno de um e do outro lado dos moinhos de Sula estava a divisão Craufurd, composta das brigadas inglesas Beckwith (regimentos n.os 43 e 95 e batalhão português de caçadores n.º 3) e Berclay (regimentos n.os 52 e 95 e batalhão português de caçadores n.º 1). O efectivo desta divisão era de 3787 homens, sendo 1.202 portugueses.

i. Formando uma 2.ª linha táctica, à retaguarda da divisão Craufurd, ficava a brigada Colleman (regimentos n.os 7 e 19 de infantaria e caçadores n.º 2).

A sua posição correspondia ao lanço da Tapada compreendida entre a porta da Rainha e a porta Sula, onde havia algumas obras de fortificação, tendo-se para isso derrubado o muro até meia altura, e abrindo-se lhe seteiras.

j. Prolongando a frente da divisão Craufurd, e guarnecendo o moinho do Milijoso, estava a brigada portuguesa do comendo do general Campbell, constituída pelos regimentos de infantaria n.os 6 e 18 batalhão de caçadores n.º 6.

O seu efectivo era de 3.249 homens.

k. No flanco esquerdo ficava a divisão Cole, compreendendo as brigadas inglesas Alex. Campbell (regimentos n.os 7, 11 e 53) e Kemmis (regimentos n.os 27, 40 e 97) e a brigada portuguesa de Richard Collins (regimentos n.os 11 e 23).

As brigadas inglesas tinham um efectivo. de 4.557 homens e o da brigada portuguesa era de 2.843.

A brigada portuguesa estava na extremidade do flanco, no Ninho de Águia, enquanto que as brigadas inglesas prolongavam a frente da brigada portuguesa, A. Campbell, guarnecendo os contrafortes do Cabeço Redondo, em frente de Trezoi.

l. A legião alemã, que tinha sido destacada da 1.ª divisão, formava uma reserva, e ocupava Monte Novo.

m. Finalmente, a cavalaria inglesa sob o comando do general Cotton, e compreendendo as brigadas Gray, Slade e Anson, e o regimento de dragões do coronel Head, ficava sobre o flanco esquerdo, um pouco à retaguarda, vigiando a planície que se estende até à estrada Porto-Coimbra, pela Mealhada.

- A cavalaria portuguesa (com o regimento n.º 13 inglês) sob o comando do general Fane, estava como dissemos, na margem direita do Alva, vigiando os vaus do Mondego e os caminhos que de Mortágua conduzem a esses vaus.

- A divisão de infantaria portuguesa, do comando de Lecor, ocupava a Ponte da Mucela, apoiando a cavalaria de Fane.

Para vigiar os caminhos que de Mortágua conduziam ao Sardão, enviara Wellington ordem a Trant para vir com as suas milícias ocupar aquela povoação.

Tal era o dispositivo que tinha tomado no dia 26 de Setembro o exército anglo-luso.  

 

Disposições tomadas por Massena para a preparação
do ataque à posição do Buçaco

 

Uniformes franceses de 1810

© Musée de l'Armée

Uniformes de capitão de Infantaria de Linha e de tenente de Dragões franceses, por volta de 1810

Na noite de 26 de Setembro reunira Massena em conselho os generais Ney, Junot, Revnier, Fririon, Eblé e Lazowski; isto é, os comandantes dos corpos de exército, o seu chefe de estado-maior e os comandantes da artilharia e da engenharia.

Ney emitiu a opinião de que o ataque se deveria ter realizado no dia anterior, quando o exército inimigo ainda não tinha concentrado as suas forças, e que era já tarde para se realizar, com êxito um ataque de frente. Portanto, o melhor seria retrogradar para Viseu, de onde seguiriam, ou para o Porto, ou para. as proximidades de Almeida, esperando reforços, Junot, Eblé e Fririon foram da mesma opinião.

Reynier e Lazowski julgaram difícil o ataque, mas apresentando probabilidades de êxito.

A opinião de Reynier teve uma certa influência sobre Massena, influência que só poderia ser anulada com a presença do general Sainte-Croix, que levava até pelo nariz, como dizia Napoleão, Massena para toda a parte. Aquele, general, porém, estava afastado; junto da sua brigada.

Massena resolveu. atacar os aliados, porque, dizia ele, fazer o contrário seria não cumprir as ordens de Napoleão, que mandara, marchar sobre Lisboa, e não sobre o Porto.

A retirada sobre Almeida só deveria ter lugar depois de se ter experimentado a sorte das armas, pois um revés não era um desastre completo.

Fririon e Eblé ainda insistiram no perigo que haveria em efectuar um ataque de frente, pois o terreno não permitia que a artilharia apoiasse infantaria.

Os relatórios enviados pelos oficiais, que tinham ido em reconhecimento, indicavam a possibilidade de envolver a posição inimiga pelas depressões que contornam o. esporão onde está a povoação de Sula. Estas informações e algumas observações irritantes de Ney, levaram Massena a dar a batalha. Tratou, portanto, de dar as suas instruções para o combate.

As ordens dadas por Massena relativas ao combate de 27 eram datadas de Moura, e determinavam

a. Que o 2.° corpo deixasse a estrada de Mortágua ao Botão, próximo de Santo António do Cântaro, procurando repelir o inimigo sobre o convento do Buçaco.

Para conseguir esse fim, a divisão Merle, com as suas duas brigadas (Sarrut e Graindorge), devia formar ao pé da serra, por brigadas contíguas e em massa de batalhões, à direita da Venda de Santo António, e depois seguiria o caminho que lhe seria indicado pelo capitão Charlet, ajudante de campo de Reynier, e que tinha já reconhecido o terreno.

O general Foy (da divisão Heudelet) devia ocupar Santo António do Cântaro com o regimento n.º 31 (que tinha 4 batalhões) e conservar o outro regimento em coluna cerrada, à retaguarda da povoação.

O general Heudelet, comandante da 2.ª divisão, deveria com a 2.ª brigada (Arnauld) e a cavalaria ligeira constituir a reserva, que se conservaria à retaguarda de Santo António, tendo a infantaria em massa de batalhões e a brigada de cavalaria (Sonet) em massa de esquadrões.

O general Tirlet, comandante da artilharia do 2.° corpo colocaria esta nas posições mais convenientes para apoiar os movimentos deste corpo.

b. Que o 6.° corpo seguisse a estrada de Mortágua ao Luso, por Moura, devendo atacar o flanco esquerdo da posição (pois os oficiais que fizeram o reconhecimento, julgavam que este flanco terminava em Sula). As 3 divisões deste corpo formariam à retaguarda da povoação de Moura: divisão Marchand na direita, divisão Loison à esquerda, e a divisão Mermet uns 600 metros à retaguarda, formando a reserva conjuntamente com a brigada de cavalaria Lamotte.

c. Que o 8.° corpo deixasse os seus bivaques (no Barril) às 6 horas da manhã, e viesse colocar-se à retaguarda do 6.° corpo, servindo de reserva geral.

d. Que a divisão de cavalaria de Montbrun formasse a esquerda da estrada Mortágua-Moura, ficando desenfiada do inimigo pelo outeiro próximo.

e. Que os ataques do 2.° e 6.° corpos fossem simultâneos.

f. 0 quartel-general do general em chefe estabelecer-se ia próximo da reserva do 6.° corpo, no alto dos moinhos de Moura.


Notas:

1.  Nem todas as forças, de Hill chegaram ao Alva em 21. Uma parte só aí chegou em 22; como sucedeu à nossa brigada Algarvia (infantaria n.º 2 e 14).

2. Aqui dever-se ia colocar um padrão comemorativo da Batalha do Buçaco.

 

Fonte:

Vitoriano José César,
Batalha do Buçaco,
3.ª Ed., Lisboa, Imprensa da Armada, 1930, págs. 5 a 18 (1.ª Ed., Ferin, 1910)

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