O PRÍNCIPE, DE MAQUIAVEL
I.
Das várias espécies de principados e por que meio se adquirem.
Todos os estados, todos os poderes que tiveram e têm império sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados. Os principados ou são hereditários, por terem sido príncipes largo tempo os ascendentes de seu senhor, ou são novos. Os novos ou o são inteiramente, como Milão para Francisco Sforza 1, ou o são como membros acrescentados ao Estado hereditário do príncipe que os adquire, como o reino de Nápoles para o rei de Espanha 2. Estes domínios assim conquistados ou estão habituados a viver sob a tutela dum príncipe, ou gozam da sua liberdade, e conquistam-se com as armas alheias ou com as próprias, pela fortuna ou pelo valor 3. 1. Francesco Sforza (1401-1466), filho de Muzio Attendolo, por alcunha «O Forte» - Sforza - condottiere que serviu a casa de Anjou de Nápoles, casou com a filha do duque de Milão em 1441, e em 1450 tomou conta do ducado, após a morte do sogro. O Imperador reconheceu-o em 1452, e em 1463 conseguiu incorporar Génova nos seus domínios. 2. Fernando o Católico (1452-1516), rei de Aragão, marido de Isabel a Católica (1451-1504), rainha de Castela, reuniu Nápoles à coroa de Aragão em 1501, pelo tratado de Granada, e a Sicília em 1504. 3. Tradução de virtú. Virtú quer dizer força, energia do espírito e da vontade, têmpera de ânimo dirigida, tanto no bem como no mal, a um fim determinado. O virtuose é o homem dotado duma individualidade poderosa que prefere a infâmia ao esquecimento, aquele que como César Bórgia tem por moto: aut Cesar aut nihil.
|
| Página
Principal | © Manuel Amaral 2000-2010 |