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Afonso I (D.)
n. [ 5 de
agosto de 1109] *.
f.
6 de dezembro de 1185.
O Conquistador,
1.º rei de Portugal.
Fundador da monarquia portuguesa e um
dos vultos mais notáveis da nossa história e da história da Idade
Média; era mais conhecido pelo nome patronímico de D. Afonso
Henriques. Seu pai, o conde de Borgonha D. Henrique, viera a Espanha
auxiliar o rei D. Afonso VI, de Leão, na guerra contra os infiéis,
e D. Afonso, ficando vitorioso, concedeu-lhe em recompensa a mão de
sua filha ilegítima, D. Teresa, e o governo das terras de Portugal.
D. Henrique era ambicioso, e não tardou a conseguir o ficar
independente da espécie de suserania, que pesava sobre ele.
D. Afonso Henriques nasceu em Guimarães,
em 1111 onde tem um monumento e até aos doze anos esteve entregue
aos cuidados de seu aio, Egas Moniz, honrado e lealíssimo carácter
que tantas provas lhe deu de dedicação e amor. Aos catorze anos
foi armado cavaleiro na catedral de Zamora.
Por morte de seu
pai tendo D. Afonso apenas três anos, D. Teresa ficara governando Portucale
durante a sua menoridade. Sendo ambiciosa, esforçava-se por
subtrair os seus estados à suserania de Leão; daqui resultaram
grandes lutas, em que o espírito da independência, que sempre
tinham manifestado os barões do sul do Minho, auxiliou
poderosamente as suas vistas ambiciosas. D. Teresa, porém,
deixou-se cativar pelo prestígio dum fidalgo galego, D. Fernão
Peres, conde de Trava, e os projectos de ambição tomaram um carácter
mais pessoal. O conde de Trava insinuou-se no espírito de D.
Teresa, pretendendo desposá-la para assim desapossar o jovem Afonso
Henriques dos estados que de direito lhe pertenciam.
D. Afonso, apesar dos seus verdes
anos, e que não vira nunca com bons olhos os amores de sua mãe,
tornou-se chefe do movimento revolucionário, preparado pelos
fidalgos, verdadeiros e leais portugueses, que exigiam a conservação
da sua independência. D. Afonso VII, rei de Leão, que sucedera a
seu pai D. Afonso VI, não desistindo do intento de conservar a
suserania sobre os estados de Portucale, aproveitou o ensejo,
para o invadir em tom de guerra, cercando exactamente Guimarães.
Esta invasão veio perturbar dalguma forma os dois partidos, o de D.
Teresa e o de seu filho, e acirrar ainda mais os ânimos; o jovem príncipe
português, vendo-se a braços com a guerra interna, não desejava
envolver-se em conflitos externos, e por isso, querendo ver-se livre
o mais breve possível do seu adversário, prometeu tudo quanto ele
exigia, empenhando Egas Moniz a sua palavra em como a promessa seria
cumprida. D. Teresa também acedeu às suas exigências, D. Afonso
retirou-se tranquilamente para os seus estados. Então, tornou-se
ainda mais encarniçada a guerra entre os dois partidos; e estando
D. Teresa em Guimarães com o conde de Trava, D. Afonso Henriques
marchou contra eles seguido pela maior parte dos fidalgos
portugueses. O conde do Trava saiu-lhe ao caminho com o seu exército
nos campos de S. Mamede, onde se deu renhida batalha, em que ficou
vitorioso o jovem príncipe, sendo expulsos do reino D. Teresa e o
conde de Trava. Esta batalha deu se em 1128.
O entusiasmo levou então D.
Afonso Henriques a esquecer a promessa feita pelo seu aio,
mostrando-se resolvido a não a cumprir. Egas Moniz entendeu que era
preciso uma vítima expiatória, para não manchar a aurora do novo
reino, e foi apresentar-se ao rei de Leão, acompanhado de sua
mulher e filhos, oferecendo-lhe a sua vida e a de todos os seus,
para resgate da sua fé. D. Afonso VII impressionou-se muito com a
grandeza desta dedicação e honradez, e despediu o cavaleiro, incólume
e livre, dando-lhe provas do grande apreço que lhe merecia. Nas
guerras com Leão e as lutas, tanto internas como externas, que teve
de sustentar, dominado pelo pensamento de consolidar a independência
de Portugal, adquiriu D. Afonso Henriques a firmeza e o heroísmo,
que depois tão brilhantemente se haviam de afirmar e que tantos
respeitos lhe conquistaram.
Enquanto se entretinha em
combates contra os leoneses, ficando quase sempre vencedor, soube
que os muçulmanos haviam invadido os seus estados. Pela primeira
vez se via obrigado a ocupar-se desses dominadores da península; os
mouros haviam tomado Leiria, derrotado os cristãos em Tomar, e
tinham chegado quase às portas de Coimbra. Esta circunstância
obrigou o jovem príncipe a pedir pazes a seu primo, D. Afonso VII.
Então fortificou a parte do sul do reino, e partindo para o:
Alentejo deu a célebre batalha de Ourique, em 1139, em que o seu
valor e a sua extraordinária valentia se armaram dum modo heróico.
Os nossos historiadores quiseram, que nesta batalha fosse D. Afonso
aclamado rei, pelos soldados entusiasmados. Mas as datas opõem-se,
porque o combate de Ourique deu-se em julho de 1139, e há um
documento de 1 de outubro desse ano, em que D. Afonso Henriques
recebe ainda o tratamento de infante. O facto é que, desde o princípio
do seu governo, os súbditos foram pouco a pouco habituando-se a
tratá-lo como rei, mas em 1140 é que principiaram a aparecer
documentos repetidos, tratando-o como rei de Portugal. A ambição
de D. Afonso era a realeza, mas o seu primo, D. Afonso VII, não
queria de forma alguma reconhece-lo como rei. Em 1143, dirigiu-se
então ao papa Inocêncio II, declarou Portugal tributário da Santa
Sé, com o censo anual de quatro onças de ouro, e reclamou para a
nova monarquia, em troca, a protecção pontifícia. O papa acedeu.
Ainda assim D. Afonso VII, assinando depois em Samora a paz com seu
primo, não lhe reconheceu a realeza, mas não protestou contra o título
de rei, que ele tomava na escritura, a que assistiu o legado do
papa, sancionando com a sua presença a aurora da nova monarquia. A
coroa estava finalmente consolidada na fronte de D. Afonso
Henriques. Tinham-lha oferecido nas pontas das espadas os seus
valentes cavaleiros, colocara-a ele audaciosamente sobre a cabeça
com as mãos vitoriosas, e inclinando-a levemente diante da tiara,
assegurara-lhe a inviolabilidade, garantida pelos raios protectores
do Vaticano.
D. Afonso, vendo conquistada
definitivamente a independência de Portugal, ambicionou aumentar o
território, apertado em limites estreitíssimos. Cingido ao norte e
a leste pelo reino de Leão, ao ocidente pelo oceano, Portugal só
podia ampliar-se para o sul à custa de renhidas batalhas e porfiada
luta. Começou então uma série de conquistas, qual delas mais
valentemente disputada aos mouros. Em 1147 é Santarém tomada por
surpresa; durante vinte e dois anos de 1147 a 1163, houve continuas invasões
na província de Alcácer do Sal; a cidade é que sempre resistia,
caindo afinal nas mãos dos portugueses em 1158. Desde essa data até
1169, a vida de D. Afonso Henriques foi uma série de combates em
que sempre saia vencedor; à conquista de Lisboa, seguira-se a de
Santarém; as vilas de Palmela, Almada e Sintra, caíram em poder do
novo rei, que em breve se tornou também senhor de todas as terras
entre o Mondego e o Tejo; Beja foi tomada em 1162, Évora, Moura,
Serpa e Sesimbra, em 1166; continuou sempre combatendo, apesar de já
muito adiantado em anos, tendo por companheiros esforçados homens
destemidos como Martim Moniz, Geraldo sem pavor, Gonçalo Mendes da
Maia, Fernando Gonçalves, etc. O período das gloriosas façanhas
militares do fundador da monarquia encerra-se epicamente com a heróica
resistência de Santarém e Lisboa. em 1184, contra a invasão do
emir Iussuf Abu Jacub, morto com uma lançada, quando atravessava o
Tejo, por D. Sancho, filho de D. Afonso Henriques.
O grande conquistador casara
em 1146 com D. Mafalda, filha de Amadeu II, conde de Mariana e Sabóia;
faleceu com 74 anos a 6 de dezembro de 1185.
Dizem os historiadores que
era de estatura atlética e porte majestoso. Fundou o convento de
Santa Cruz de Coimbra, onde jaz sepultado, Santa Maria de Alcobaça,
S. João Baptista de Tarouca, e S. Vicente de Fora em Lisboa. Fundou
duas ordens militares. a da Ala, que já, não existe; e a de S.
Bento de Avir; introduziu em Portugal os cavaleiros de Rodes, e começou
a ponte de Coimbra.
* Adenda:
Segundo a tese recente de Armando de
Almeida Fernandes D. Afonso Henriques terá nascido em Viseu em 5 de
agosto de 1109.
Biografia
e genealogia de D. Afonso Henriques
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