Aguiar
(Joaquim António de).
n.
24 de agosto de 1792.
f. 26
de maio de 1884.
Estadista
português.
Nasceu
em Coimbra, a 24 de agosto de 1792, faleceu a 26 de maio de 1884. Era
filho do cirurgião Xavier António de Aguiar e de D. Teresa Angélica
de Aguiar.
Seguiu
os estudos universitários e foi lente de Leis. Não herdou bens de
fortuna, nem títulos nobiliários, porque seus pais eram de
condição humilde; recebeu, porém, uma
educação esmerada e a cultura do seu elevado espírito, que lhe
granjearam nome e posição, que tanto o nobilitou e enriqueceu,
tornando-se uma glória da pátria que o viu nascer. Quando se
habilitava com os preparatórios para se matricular na Universidade,
uma grande desgraça veio ameaçar o país; os exércitos de Napoleão
invadiam Portugal, e António Joaquim de Aguiar, verdadeiro português
,e valoroso defensor da sua pátria, abandonou os estudos para se
alistar no Batalhão Académico, que pela primeira vez se organizava
em Coimbra, sendo acompanhado por muitos escolares, alguns dos
quais, mais tarde, se tornaram célebres. Terminando a guerra com os
franceses e assegurando-se a independência nacional, o jovem
estudante matriculou-se na faculdade de Leis, concluindo o curso com
a maior distinção, sendo aprovado unanimemente em todos os actos e
premiado nos últimos anos; no fim da formatura obteve uma das
classificações mais distintas e honrosas que a Universidade
costuma conferir aos seus alunos. Joaquim António de Aguiar desejou
seguir a carreira da magistratura, mas sobrevieram tantos obstáculos,
que desistiu dessa ideia, resolvendo a dedicar-se ao magistério.
Doutorou-se, então, em 1815, e logo no ano seguinte ficou
habilitado como opositor às cadeiras da faculdade de Direito, pelo
voto unânime de toda a congregação universitária. Começou a
exercer as funções de opositor e as de fiscal da Fazenda,
conservador da Universidade, de que juntamente fora incumbido.
A maneira franca como o Dr.
Aguiar revelava as suas ideias liberais, os seus elevados
merecimentos, a superioridade do seu talento, acarretaram-lhe
inimigos o invejosos, forjando intrigas e oposições a que Joaquim
António de Aguiar não sucumbiu, porque os espíritos fortes sempre
resistem. Essas intrigas, contudo, conseguiram que ele fosse
preterido, com a maior injustiça, no provimento das colegiaturas
dos colégios de S. Pedro e S. Paulo da mesma Universidade, a favor
de outros de muito menos mérito. O nome de Joaquim António de
Aguiar era já repetido com verdadeiro aplauso por todos os homens
importantes do país, e aquela injustiça não foi desconhecida nem
indiferente às cortes gerais e extraordinárias da nação; a
afronta teve uma reparação digníssima; uma ordem positiva mandou
admiti-lo no colégio de S. Pedro, sem mais formalidades, o que
suscitou ainda acalorada discussão nas mesmas cortes, sem contudo
se deixar de cumprir aquela ordem. O restabelecimento do governo
miguelista, em 1823, afervorou-lhe os brios. ao mesmo tempo
que estimulou e deu vantagem aos seus inimigos. Aguiar publicara em
setembro de 1822 um folheto, que era o protesto do homem altamente;
liberal. Sendo mandado sair do colégio de S. Pedro, por decreto de
8 de novembro de 1823, teve de abandonar o magistério e refugiar-se
no Porto, como aconteceu a muitos homens do seu tempo. Com as suas
ideias liberais tão publicamente manifestadas, só lhe restava
emigrar, ou deixar-se matar ingloriamente. Começaram então os
grandes sofrimentos políticos do distinto doutor. Em 1826, sendo
proclamado o governo de D. Pedro IV, voltou a Coimbra, e em abril
foi nomeado lente substituto da faculdade de Leis com exercício na
cadeira analítica de Direito pátrio; nesse mesmo ano foi eleito
deputado às cortes pela província da Beira, tomando assento na câmara
até 13 de março de 1823, adquirindo logo créditos de parlamentar
de primeira ordem, concorrendo com as suas doutrinas para a
frutificação dos princípios liberais mais avançados, da
monarquia constitucional e representativa, assegurando o
estabelecimento da Carta Constitucional.
Em
1828 o infante D. Miguel dissolveu a câmara. O Dr. Aguiar, voltando
a Coimbra, teve logo a intimação do conservador da Universidade, e
por ordem do governo, de sair daquela cidade no prazo de 24 horas,
para Tabuaço. O doutor achou mais prudente recolher-se no Porto,
onde acharia asilo seguro; chegando àquela cidade, viu-se obrigado
a emigrar para Londres. No entretanto, era processado em Portugal,
como rebelde, e banido para sempre da Universidade. Na emigração,
não esfriou o seu entusiasmo, nem aquele espírito verdadeiramente
nobre e patriótico esteve ocioso; foi um dos que mais auxiliaram o
marquês de Palmela para se reivindicar a Carta Constitucional e o
trono da rainha D. Maria II. Quando Saldanha organizou a famosa
expedição à
ilha Terceira, o Dr. Aguiar foi um dos primeiros a alistar-se, e que
assinou o respectivo protesto contra as hostilidades da esquadra
inglesa, que não os deixava abordar àquele porto. Esta primeira
expedição recolheu-se a Brest, mas depressa se organizou outra
expedição que teve melhor resultado, desembarcando na ilha
Terceira, da qual fazia parte Joaquim António de Aguiar como
soldado no corpo dos voluntários, passando depois para o corpo académico
que estava em Angra. A expedição seguiu para S. Miguel, e daí
para Portugal, desembarcando todos aqueles bravos na praia do
Mindelo, em 8 de julho de 1832, entrando no Porto no dia seguinte.
Eram 7.500 legionários comandados por D. Pedro IV, entre os quais
vinham também alguns dos homens notáveis da revolução de 1820.
No Porto foi nomeado ,juiz do tribunal de guerra e de justiça,
membro da comissão encarregada de elaborar os códigos penal e
comercial, e procurador geral da coroa, lugar que veio exercer em
Lisboa, logo que a capital foi restaurada, passando pouco depois
para o de conselheiro do tribunal de justiça.
Em
15 de outubro de 1833 foi pela primeira vez chamado aos conselhos da
coroa, para o cargo de ministro do Reino, e em 23 de abril de 1834
para o de ministro da Justiça, cargo que exerceu até à morte de
D. Pedro IV. Então pôs em relevo todas as suas brilhantes
qualidades como estadista. Entre as medidas que decretou,
aconselhadas pelas circunstâncias, e instantemente reclamadas pela
opinião pública, avultam as que reorganizaram os municípios e
extinguiram as ordens religiosas, mandando incorporar os seus bens
na Fazenda Nacional. Esta medida enérgica valeu-lhe a alcunha de
Mata frades. Até 20 de abril de 1836, em que novamente entrou no
ministério, foi deputado pelas províncias da Estremadura, Douro,
Alentejo e Beira Alta. A pasta de que se encarregou então foi a da
Justiça. Os acontecimentos de 9 de setembro desse ano obrigaram o
ministério a demitir-se. Não querendo aceitar a mudança realizada
na lei fundamental do país, resignou com notável abnegação o
lugar de conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça. Só mais
tarde, sendo jurada pela rainha e pela nação, a Constituição de
1838, continuou a ser fiel aos seus princípios e ao trono, tornando
assento na câmara como deputado por Coimbra, Lamego, e Vila Real,
sendo reintegrado no Supremo Tribunal de Justiça, pela lei de 28 de
agosto de 1840. Foi novamente ministro e presidente do conselho,
encarregando-se da pasta do reino, em 9 de julho de 1841,
conservando-se naqueles lugares até 7 de fevereiro de 1842, época
em que o ministério se demitiu, pela restauração da Carta
Constitucional. Nesse mesmo ano saiu deputado pela Estremadura e
Alentejo, tomando então uma parte muito activa na política da
oposição. A 19 de julho de 1846, Joaquim António de Aguiar tornou
ao poder, com a situação liberal do duque de Palmela, sendo-lhe
confiada, a pasta da justiça. Este ministério teve curta duração,
terminou a 6 de outubro seguinte; contudo, apesar da perspectiva da
revolução que ficou conhecida pela Maria ela Fonte, decretou
medidas de muito alcance, entre as quais se encontra a da reforma
eleitoral, garantindo todas as liberdades do voto e punindo todas as
corrupções que contra ela fossem intentadas Esta revolução fez
com que Joaquim António de Aguiar fosse novamente exonerado do
cargo de conselheiro do supremo tribunal de justiça. Terminada a
revolução, tornou a ser reintegrado naquele lugar. Triunfando a
Regeneração em 1851, conservou-se fora dos ministérios, mas
continuou sempre recebendo todas as provas de consideração. Em
carta régia de 3 de janeiro de 1852, foi elevado a par do reino,
sendo então deputado por Coimbra; a 9 de novembro de 1854, teve a
nomeação de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,
onde prestou grandes serviços. Em 1 de maio de 1860 foi chamado à
presidência do conselho; este ministério durou até 4 de julho do
mesmo ano. A 4 de setembro de 1865 tornou a subir ao poder, pela última
vez, conservando-se o ministério até 4 de janeiro de 1866, ao
movimento da janeirinha.
Joaquim
António de Aguiar foi sempre de hábitos simples, recusando títulos
e mercês com que pretenderam honrá-lo por diversas vezes, não
usando nunca as grã-cruzes e condecorações concedidas pelos
governos estrangeiros. Faleceu na sua quinta do Ramiro, próximo de
Lisboa. O seu cadáver foi transportado para Coimbra em 10 de dezembro de 1875, sendo sepultado no cemitério da Conchada, em
modesta sepultura.
Genealogia
de Joaquim António de Aguiar
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