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Luís Mousinho de Albuquerque
Luís Mousinho de Albuquerque

Albuquerque (Luís da Silva Mousinho de).

 

n.    16 de junho de 1792.
f.     27 de dezembro de 1847.

 

Coronel de engenharia, provedor da Casa da Moeda, governador civil na ilha da Madeira, e inspector-geral das Obras Públicas. Nasceu em Lisboa a 16 de junho de 1792. Era filho de João Pedro Mousinho de Albuquerque, desembargador do Paço, e de D. Luísa da Silva Guterres e Ataíde.

Luís Mousinho foi destinado a servir na Ordem militar de S. João de Jerusalém; mas, conhecendo que não tinha vocação para semelhante vida, desligou-se do instituto em que seus pais o tinham feito entrar. Mostrava um talento extraordinariamente precoce, era muito estudioso, e tinha grande gosto pela poesia, desenho e ciências físicas. Ainda criança, compunha idílios e outras poesias, e traduziu em verso a tragédia Andromaca, de Racine; entretendo-se também em fazer colecções entomológicas, mineralógicas e químicas. Luís Mousinho quis seguir a carreira da marinha, mas, encontrando muitos obstáculos, desistiu e foi assentar praça como cadete na brigada real. Em 1809 começou a frequentar a Academia de Marinha, sendo premiado em todos os anos. Praticou também no Observatório Real de Marinha. Apaixonando-se por sua prima D. Ana Mascarenhas de Ataíde, filha do desembargador José Diogo de Mascarenhas Neto, e vendo que não possuía bens de fortuna para se casar, lembrou-se de se dedicar à agricultura. Neste empenho foi muito auxiliado por uns seus parentes, Tudelas do Castilho, que residiam no Fundão. Foi então estabelecer-se nesta vila, em 1814, voltou a Lisboa em 1816 para realizar o casamento. com sua prima, tornando para o Fundão onde residiu até 1820, entregue aos cuidados da agricultura. A este tempo já havia escrito bastantes poesias, uma tragédia, e a sua melhor obra, as Geórgicas; colaborara no Jornal de Coimbra, e nos Anais das ciências e das letras, jornal português fundado por seu sogro, e que se publicava em Paris.

A pedido do sogro, foi com ele em 1820 àquela cidade, por causa da redacção do referido jornal. Três anos se demorou em Paris, frequentando os cursos públicos o os laboratórios, escrevendo muitos Anais, principalmente sobre a agricultura portuguesa; frequentava também ao mesmo tempo o curso de Nauglin e estudava no laboratório com o grande preparador Dubois. Ofereceu então ao Instituto de França um trabalho tendente a simplificar o estudo da análise química, e que se pôde considerar como uma tábua sinóptica de reacções. Este trabalho provocou um relatório especial feito por dois sábios distintos: Chaptal e Gay-Lussac. Em 1822 fez Mousinho uma viagem de instrução à Suíça, e regressando a Portugal, tendo-se dado a revolta conhecida pela Vilafrancada, em 1823, estava de novo no poder o partido absolutista, e seu sogro o apresentou ao marquês de Palmela, então ministro; o marquês nomeou-o provedor da Casa da Moeda, lugar a que estava anexa a obrigação de reger uma cadeira de física e de química por decreto de 1801, no laboratório daquele estabelecimento. Para uso dos seus discípulos escreveu e publicou em 1824 um Curso elementar de física e de química, a primeira obra completa desse género, que apareceu em Portugal. Nesse mesmo ano a Academia Real das Ciências o elegeu seu sócio efectivo.

Em 1825 foi, encarregado pelo governo de ir aos Açores estudar e analisar as águas minerais da ilha de S. Miguel. Mais tarde partiu para França, e, estando ainda ali quando começou o governo do infante D. Miguel, deixou-se ficar como emigrado liberal, e assim pôde seguir para a ilha Terceira, onde foi reunir-se aos chefes da resistência liberal, sendo logo escolhido para secretário da regência. Prestou então os mais assinalados serviços à causa da liberdade. Tendo exercido durante a luta os mais elevados cargos, até o de ministro, não quis nunca receber mais que a importância correspondente à sua patente de oficial subalterno. Chegando D. Pedro à Terceira, e assumindo o poder que a regência exercera até então, foi Luís Mousinho nomeado capitão-general e governador da Madeira, que estava em poder dos miguelistas. Não tendo forças suficientes; porque se não julgava que a Madeira estivesse tão bem fortificada, Mousinho, ao chegar à ilha do Porto Santo, desembarcou, e esperou ocasião propícia para se apoderar da ilha; assim permaneceu com a sua gente, numa posição singular, sem poder tentar coisa alguma contra a Madeira, mas também sem ter de repelir o mínimo ataque. Afinal um navio de guerra, vindo da Terceira, o livrou daquele angustioso embaraço, e Luís Mousinho pôde chegar ainda a tempo de desembarcar com os seus companheiros nas praias do Mindelo e de se encerrar no Porto, onde prestou os maiores serviços como militar e estadista. Em 29 de julho de 1832 entrava no ministério em substituição do marquês de Palmela, indo ocupar interinamente a pasta do reino. Os ministérios eram pouco duráveis naquela época calamitosa, e Mousinho, em novembro desse mesmo ano, foi substituído por Sá da Bandeira, mas continuou sempre sendo da maior confiança do imperador, e foi ele quem aconselhou primeiro a expedição ao Algarve. A expedição resolveu-se, Mousinho acompanhou sempre o duque da Terceira no seu estado-maior até ao fim da luta; o duque respeitava-o e consagrava-lhe o mais profundo afecto e consideração. Luís Mousinho foi ministro do Reino em 1835; caindo o ministério em 1836, Mousinho conservou-se fora da política, e foi residir para Paris, onde adquiriu uma pequena propriedade, vivendo por algum tempo entregue ás suas ocupações agrícolas e aos cuidados da família. O governo encarregou-o então, como oficial de engenheiros, da Direcção Central das Obras Públicas do reino. Pouco podia fazer; porque não havia dinheiro nem atenção para os melhoramentos públicos, e além disso rebentava a revolução de setembro. Depois veio a reacção de 1837 e Mousinho de Albuquerque seguia na luta o partido dos marechais. Esteve no combate do Chão da Feira entre os vencidos, vendo ali cair ferido um dos seus filhos; e acompanhando as tropas dos marechais com os outros oficiais, teve de emigrar para Espanha depois de Ruivães. Firmada a paz e estabelecida a Constituição de 1838, Mousinho foi nomeado. inspector das Obras Públicas do reino, e encarregado de fazer a reforma dessa repartição. Entrando de novo na política, foi eleito deputado em várias legislaturas. 

No princípio de 1842, quando Costa Cabral promulgou no Porto a restauração da Carta, Mousinho foi chamado ao ministério de 9 de Fevereiro, presidido pelo duque da Terceira. Teve então a pasta do Reino e interinamente a da Justiça. Proclamada a restauração da Carta, Luís Mousinho, apesar de ser cartista, quis, no entretanto, impedir a reacção desenfreada que se manifestava, operando a restauração da Carta pelos meios legítimos e regulares, convocando cortes constituintes que desfizessem a obra do congresso constituinte de 1838. Os restauradores não desejavam isso, e Mousinho, depois de ter sido insultado pelos cabralistas, pediu a demissão a 24 de fevereiro, quinze dias depois de governo, sendo substituído por Costa Cabral, indo sentar-se na câmara nos bancos da oposição. Um ano depois era demitido do lugar de inspector das obras públicas. A sua vida parlamentar de 1842 a 1844 foi brilhante. Aceitou então a direcção das obras da barra do Porto, que uma companhia empreendera; fez apenas o plano, porque a empresa malogrou-se. Depois tomou a direcção das obras do canal da Azambuja, e, sendo expulso da câmara pelas violências das célebres eleições de 1845, passou o inverno na sua quinta de Leiria, entregue unicamente aos cuidados domésticos. Em Abril e Maio de 1846 rebentava no Minho a revolução conhecida pela Maria da Fonte. Tendo sido chamado pela rainha D. Maria II o duque de Palmela para formar ministério, Mousinho encarregou-se da pasta da Marinha, e pouco depois da do Reino. A famosa emboscada de 6 de outubro expulsou o ministério do duque de Palmela, e provocou a revolta da junta do Porto. Mousinho achou-se nas fileiras dos insurgentes; tinha então o posto de coronel, e acompanhou a divisão do conde de Bonfim, que ocupou Torres Vedras, sendo encarregado. do comando do velho castelo da vila. Deu-se então a batalha de 23 de dezembro em que ficou gravemente ferido, vindo a falecer no dia 27. 

Luís Mousinho de Albuquerque era fidalgo da Casa Real, do conselho de S. M., cavaleiro da Ordem de S. João de Jerusalém, grã-cruz de N. Sr.ª da Conceição, e comendador da Torre e Espada; sócio de diferentes associações científicas nacionais e estrangeiras. 

Escreveu: 

Ideias sobre o estabelecimento da instrução pública, dedicadas à nação portuguesa, e oferecidas a seus representantes, Paris, 1823; Curso elementar de Física e de Química, Lisboa, 1824; Observações sobre a ilha de S. Miguel, recolhidas pela Comissão enviada, à mesma ilha em Agosto de 1825, e regressada em Outubro do mesmo ano, Lisboa, 1826; Observações para servirem à historia geológica das ilhas da Madeira, Porto Santo e Desertas, com a descrição geognóstica das mesmas ilhas; foram insertas no tomo XII, parte I, das Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa; Breve exposição do esforço tentado em favor da Carta Constitucional em Portugal, nos meses de Julho a Outubro de 1837, em Pontevedra, e depois em Lisboa, 1837; Relatório do Ministro e Secretario de Estado dos Negócios do Reino, apresentado às Cortes em 1836, Lisboa, 1836; Relatório das obras públicas do reino, pelo Inspector geral, etc. Lisboa, 1840; Relatório geral sobre as obras públicas do reino, pelo Inspector, etc., apresentado em 8 de Julho de 1840, Lisboa, 1840; Relatório da Inspecção às obras e comunicações internas nos distritos do reino ao norte do Tejo, executada em Outubro e Novembro de 1842 pelo Inspector, etc., Lisboa, 1843; Guia do engenheiro na construção das pontes de pedra, Lisboa, 1840; Memória inédita acerca do edifício monumental da Batalha, Leiria, 1854; Geórgicas portuguesas, dedicadas a sua mulher D. Ana Mascarenhas de Ataíde, Paris, 1820; Rui o escudeiro, conto, Lisboa, 1844; A Glória das conquistas, poemeto publicado no Jornal de Coimbra, vol. XIV, o Dia, poema, 1813, 2.ª edição, Lisboa, 1825.

 

 

Genealogia de Luís da Silva Mousinho de Albuquerque
Geneall.pt

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, págs. 140-141

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