Corre
impresso um resumido Catálogo dos manuscritos da antiga livraria
dos marqueses de Alegrete, dos condes de Tarouca e dos marqueses de
Penalva e pertencente à sua actual representante a Condessa de
Tarouca, Lisboa, 1898; constitui um volume de cerca de cem páginas,
formato oitavo grande, e encerra valiosas indicações sobre os
manuscritos da mesma livraria. É talvez ao 2.º conde de Vilar
Maior, mais tarde primeiro marquês de Alegrete, como se disse, que,
se deve a iniciativa de tão copioso cartório, bem como da brande
biblioteca, cujos impressos se guardam ainda hoje no antigo palácio
dos marqueses de Alegrete, à Mouraria, nesta capital.
Data, pois,
do século XVII este importante arquivo, que contém, todavia,
documentos e códices dos séculos anteriores. O 3.º conde de Vilar
Maior, Fernando Teles da Silva, foi um dos fundadores das primeiras
academias portuguesas. O 1.º marquês de Alegrete foi o negociador
do casamento de D. Pedro II com a filha no Eleitor Palatino, e
muitos documentos se encontram também neste arquivo, bem como uma
interessante colecção de desenhos e aguarelas representando os
arcos de triunfo e outros monumentos erigidos em Lisboa, para
festejar ar esse casamento. O segundo marquês de Alegrete seguiu as
tradições de seu pai e continuou guardando e arquivando
manuscritos, ainda hoje inéditos sobre muitos assuntos, e deixou
nos seus vinte e quatro volumes de cartas particulares para o conde
de Tarouca, João Gomes da Silva, seu irmão, uma história
minuciosa do reinado de D. João V. A elas correspondem as respostas
do conde de Tarouca, que, embaixador em diversas cortes, oferece
igualmente curiosas informações. A estes distintos literatos,
porque todos o foram, tanto os Teles da Silva como os Gomes da
Silva, sucederam muitas gerações cultas e ilustradas, que deram
notável brilho às casas de Alegrete, de Tarouca e de Penalva. Nuno
Teles da Silva, antigo reitor da Universidade de Coimbra, também
cultivou as letras e as ciências, deitando em morgado à casa
Alegrete, uma importante biblioteca, como se vê duma certidão de
avaliação junto ao seu testamento. Claramente, pois, se
compreende, como se constituiu a importantíssima livraria a que nos
referimos e cujos impressos orçam por vinte mil volumes.
Os
manuscritos enchem as quatro paredes de um cartório no palácio
onde actualmente residem os Srs. condes de Tarouca. A livraria dos
impressos, arrumados num vastíssimo salão do antigo palácio da
Mouraria, em Lisboa, é uma biblioteca clássica das mais completas.
Todos os ramos da teologia estão ali largamente representados. Na
preciosa colecção de Bíblias, ainda se encontra a Bíblia
poliglota. A seu lado figuram todos os filósofos da antiguidade e
os jurisconsultos mais conceituados, em direito canónico, natural,
das gentes, civil, etc. A geografia, a literatura, a história
universal, obras ricamente ilustradas, enfim, tudo ali se encontra
devidamente representado. Pena é que, por ser na maioria em latim,
tão pouco acessível hoje se torne este tesouro de sabedoria e de
estudo. Da importância desta livraria darão boa ideia
alguns dos
privilégios que lhe foram concedidos e que constam de documentos
nela arquivados. A um dos condes de Tarouca foi permitido por um
breve apostólico o poder ter e ler livros proibidos. A um dos
marqueses de Penalva foi concedida licença para conservar na sua
livraria alguns livros proibidos.