Alferes-mor de D. Afonso V, conhecido na história pela alcunha
do Decepado. Era filho de Pedro Lourenço de Almeida.
Na batalha de Toro, em 1 de março de 1476, entre tropas
portuguesas e castelhanas, em que tanto se distinguiu o príncipe D.
João, depois o rei D. João II, praticaram-se actos de valentia e
heroísmo; entre os guerreiros que se tornaram notáveis, conta-se
Gonçalo Pires e Duarte de Almeida, o alferes-mor do rei, a quem
estava confiado o estandarte real português. A luta foi enorme; as
quatro grandes divisões castelhanas, vendo os seus em perigo,
acudiram a auxiliá-los, ao mesmo tempo que o arcebispo de Toledo, o
conde de Monsanto, o duque de Guimarães e o conde de Vila Real avançavam
em socorro dos portugueses. Subjugados pela superioridade do número,
os portugueses caíram em desordem, abandonando o pavilhão real.
Imediatamente, inúmeras lanças e espadas o cobrem, e todos à
porfia pretendem apoderar-se de semelhante troféu. Duarte de
Almeida, num supremo esforço, envolto num turbilhão de lanças,
empunha de novo a bandeira, e defende-a com heróica bravura. Uma
cutilada corta-lhe a mão direita; indiferente à dor, empunha com a
esquerda o estandarte confiado à sua Honra e lealdade; decepam-lhe
também a mão esquerda; Duarte de Almeida, desesperado, toma o
estandarte nos dentes, e rasgado, despedaçado, os olhos em fogo,
resiste ainda, resiste sempre. Então os castelhanos o rodearam, e
caiem às lançadas sobre o heróico alferes‑mor, que afinal,
cai moribundo. Os castelhanos apoderaram-se então da bandeira, mas
Gonçalo Pires (V. este nome), conseguiu arrancá-la. Este
acto de heroicidade foi admirado até pelos próprios inimigos.
Duarte de Almeida foi conduzido semimorto para o acampamento
castelhano, onde recebeu o primeiro curativo, sendo depois mandado
para um Hospital de Castela. No fim de muitos meses, voltou à, pátria,
e foi viver para o castelo de Vilarigas, que herdara de seu pai.
Havia casado com D. Maria de Azevedo, filha do senhor da Lousã,
Rodrigo Afonso Valente e de D. Leonor de Azevedo. Diz-se que Duarte
de Almeida morreu na miséria e quase esquecido, apesar da sua
valentia e bravura com que se houve na batalha de Toro, que lhe
custou ficar inutilizado pela falta das suas mãos. Camilo Castelo
Branco, porém, nas Noites de insónia, diz que o Decepado
não acabara tão pobre como se dizia, porque além do castelo de
Vilarigas, seu pai possuía outro na quinta da Cavalaria, e em
quanto ele esteve na guerra, sua mulher havia herdado boa fortuna
duma sua tia, chamada D. Inês Gomes de Avelar. D. Afonso V, um ano
antes da batalha, estando em Zamora, lhe fizera mercê, pelos seus
grandes serviços, para ele e seus filhos, de um reguengo no
concelho de Lafões.
Adenda
Ver também a entrada Decepado (vol.
III, pág. 23)