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O 1.º marquês de Alorna
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Alorna (D.
Pedro Miguel de Almeida, 3º conde de Assumar, marquês de Castelo
Novo, e 1º marquês de).
n. 29 de setembro de 1688.
f. 10 de novembro de 1756.
Comendador
das comendas de S. Cosme e S. Damião, na Ordem de Cristo; censor da
Academia Real, gozando mais bens da coroa e ordens, que foram do
conde seu pai; governador e capitão-geral da província de Minas
Gerais no Brasil, mestre de campo general dos exércitos, governador
e director geral da arma de cavalaria foi o 44.º
vice-rei
da Índia portuguesa.
Nasceu a 29 de
setembro de 1688; faleceu a 10 de novembro de 1756. Era filho do 2.º conde de Assumar, D. João de
Almeida Portugal e de sua mulher D. Isabel do Castro. Tendo
apenas dezassete anos, partiu para a Catalunha com seu pai, que então era
embaixador na corte de Barcelona. junto ao arquiduque Carlos de Áustria.
reconhecido pelo nosso governo como o rei Carlos III de Espanha.
Começou, portanto, a sua carreira militar na Catalunha, no exército
português que defendia a causa do arquiduque. Sendo já coronel,
foi promovido, em setembro de 1708, a brigadeiro para servir na
cavalaria que estava no principado, e a 10 de d ezembro
de 1709 foi elevado a general de batalha em atenção ao merecimento
e bons serviços, segundo declara o decreto. O marquês das Minas,
comandando um exército aliado, chegou a entrar triunfante em
Madrid, obrigando Filipe V a sair, e chamando ali o arquiduque de
Carlos para ser coroado; mas seguiu-se a batalha de Almanza, e as
tropas portuguesas que dela se salvaram, recolheram à Catalunha, e
ficaram sob o comando do conde de Atalaia. Dois anos se passaram, em
que as armas estiveram relativamente sossegadas; mas a 20 de agosto
de 1710, o general Staremberg deu batalha em Saragoça
contra o exército de Filipe V. O jovem general D. Pedro de
Almeida distinguiu-se naquela batalha, porque comandando o corpo da
reserva na esquerda, e achando-se já rotas as duas linhas dos
nossos aliados, não só deteve os inimigos, mas também os carregou
e pôs em debandada, dando assim tempo a que os ingleses, palatinos,
e holandeses recomeçassem o combate; depois, tendo vinte esquadrões,
conduzidos pelo general Hamilton, derrotado seis da nossa cavalaria
e torneado o flanco das nossas tropas, D. Pedro cortou-lhes a
retirada, e caindo sobre eles na passagem dum barranco, poucos
deixou escapar com vida. Por todos estes valiosos feitos recebeu do
marechal os merecidos agradecimentos, e do arquiduque os mais justos
louvores; logo na batalha de Vila Viçosa, a 10 de dezembro, se
tornou digno de especial menção, na carta em que Staremberg
relatou ao arquiduque Carlos os acontecimentos desse dia.
Seguiram-se dois anos em que se deram acções do pouca importância,
mas anunciada a suspensão das armas que precedeu o tratado de Utreque, e achando-se doente o conde de Atalaia, D. Pedro foi
encarregado da missão de conduzir através da Espanha, por meio
duma populaça hostil, as tropas portuguesas, que regressavam à pátria
reduzidas a cinco regimentos de cavalaria, distribuídos em quinze
esquadrões com dois mil cavalos, mais uns quatrocentos homens
desmontados e um regimento de infantaria. No dia 7 de janeiro de
1713 deixaram Barcelona, sendo até à fronteira cada um dos
regimentos acompanhado, segundo as ordens da imperatriz de Áustria,
por um dos principais cavaleiros do principado, com o fim de evitar
alguma desconsideração do povo que ficava abandonado e entregue à
indignação do rei de Espanha, e chegando a Cerveira encontraram um
comissário de guerra incumbido do destinar quartéis e prevenir
mantimentos, mas que em vez do procurar comodidades possíveis,
buscava os piores caminhos, alongava extraordinariamente as marchas
e ordenava aos paisanos que não dessem aos soldados alimentos e
recursos indispensáveis, com o fim de os convidar à deserção e
obter auxiliares para o rei de Espanha. D. Pedro, nos primeiros
dias, suportou tudo resignado, mas ao chegar a Culpe a 22 de janeiro, depois duma penosa marcha. a que não puderam resistir
alguns homens e
alguns cavalos, que foram vítimas do frio, vendo os péssimos quartéis
que eram distribuídos por estarem já alojados na cidade dois
regimentos de dragões franceses, ao mesmo tempo que nas ruas se
armavam mesas em que publicamente ofereciam comer, dinheiro e
fardas aos portugueses que quisessem tomar o partido de Filipe V,
mandou pedir ao comandante francês a entrega dos que se tinham
deixado iludir. O oficial francês negou que soldado algum português
tivesse abandonado o regimento em que servia; D. Pedro, porém,
conhecia as casas em que desertores se tinham abrigado, mandou prendê-los,
e mesmo em frente dos franceses foram dois deles arcabuzados. Este
exemplo foi suficiente para conter os soldados, mas não bastou para
mudar o procedimento do comissário. Aquela jornada, até chegarem a
Lisboa, foi uma luta constante. O comissário continuando nas suas
picardias, e D. Pedro procurando sempre evitar que as suas tropas
sofressem os maus tratos
e faltas de comodidades, que ele lhes preparava.
Assim foram seguindo através da Espanha, até que no dia 8 de março
se apresentou um tenente-coronel, enviado pelo marquês de Bay,
governador de Badajoz, para o prevenir que o seu general, segundo as
ordens superiores que tinha, viria passar revista às tropas
portuguesas, e tirar-lhes os cavalos que levavam das províncias por
onde tinham passado. D. Pedro ouviu aquela ordem, sem alteração
alguma, convidou o oficial espanhol a jantar, e depois encarregou-o
de dizer ao
general que estava pronto a deixar-se reconhecer, e que
para isso o encontraria à
frente das suas tropas do mesmo modo que já
o tinha achado em Saragoça. Demorou-se o tenente-coronel
dois dias no acampamento, e vendo que eram falsas as informações
dadas ao governo de Madrid, participou-o ao marquês de Bay, que então
mandou o marechal de campo, marquês de S. Vicente, dar uma satisfação
ao nosso general, O repreender asperamente o comissário que tinha
forjado a acusação caluniosa.
D.
Pedro chegou finalmente ao reino e, sendo já conde de Assumar, foi
nomeado capitão-general de Minas Gerais, em 1717, para onde logo
partiu. O povo de Vila Rica sublevou-se por causa duma ordem de
pagamento de impostos que chegara de Lisboa. Depois de cometerem
grandes excessos, enviaram delegados a pedir perdão ao governador,
e que a nova lei não fosse cumprida. D. Pedro, considerando a pouca
gente de que podia dispor, fingiu aceder à pretensão, e os
revoltosos cheios do orgulho por terem alcançado tão grande
triunfo, continuaram por mais alguns dias em completa anarquia, até
que se dividiram, e os chefes principais voltaram para Vila Rica. D.
Pedro mandou-os então seguir por uma companhia de dragões, e
colhendo-os às mãos, mandou esquartejar um, e enviou o outro para
o Rio de Janeiro, punindo assim duramente a rebelião para manter o
respeito pela autoridade.
Voltando outra vez ao reino, sendo
marechal de campo, quando se interromperam as relações diplomáticas
com a Espanha em 1735 e se começaram os preparativos para a guerra,
o conde de Assumar foi nomeado general da cavalaria do Alentejo,
depois director desta arma em todo o reino, e no ano de 1744 foi
feito conselheiro de guerra, agraciado com o título de marquês de
Castelo Novo, por
carta do 24 de maio desse ano, e despachado vice-rei da Índia, por
decreto do 18 de fevereiro e carta de 24 de março do referido ano
de 1744. No dia 29 seguinte partiu para Goa, onde chegou a 19 de setembro, tomando posse cinco dias depois do elevado cargo, que pela
primeira vez fora exercido pelo seu ilustre antepassado D. Francisco
de Almeida, e no século anterior, por seu avô, o 1º conde
de Assumar. Tratou de levantar o Estado da Índia do abatimento em
que tinha caído, e entre muitos assuntos a que teve de atender, não
lhe esqueceu de castigar a insolência do rajá de Bounsuló, que
ensoberbecido pelas vitórias alcançadas em 1739 e 1740, pelas
correrias e grandes estragos que causara por diversas vezes, desde o
governo do vice-rei, o conde de Sandomil, continuava desprezando os
ajustes feitos, a saltear de contínuo as nossas possessões com as
suas correrias, e a surpreender e a atacar nos mares as nossas
embarcações. O altivo régulo demorou-se mais de um mês em
mandar, como era do estilo, cumprimentar o novo vice-rei, mas quando
chegou a Goa o enviado, D. Pedro respondeu que não aceitava o
saguate sem primeiro saber se vinha da mão de amigo ou do inimigo,
e que para o receber exigia antes uma satisfação da ofensa
cometida. Bounsuló conservou-se algum tempo tranquilo, mas depois
intentou saquear de novo as nossas terras, com o auxílio de alguns
outros régulos, e foi derrotado pelos nababos amigos dos
portugueses; ao mesmo tempo que mandava um emissário ajustar a paz,
apresava algumas embarcações. O vice-rei resolveu terminar com
tanta ousadia e altivez. A sua primeira ideia foi investir a praça
de Rarim, por ser o porto do mar e único receptáculo da força marítima
do Bounsuló, atacar-lhe a armada e destruir ou queimar as embarcações,
mas a aproximação do Inverno e a braveza das costas, tornaram difícil
a execução deste plano; então resolveu atacar Alorna, que era uma
das praças mais fortes do inimigo, situada no centro das nossas
fronteiras, e donde poderia depois com mais segurança marchar para
Rarim, ou quando o não pudesse fazer, para Bicholim. Foram tantas as
dificuldades, quantos os perigos, que nesta gloriosa acção venceu,
dando um novo realce à antiga, se bem que já bastante amortecida
glória dos portugueses no Oriente. Não tendo a quem confiasse a
expedição, um chefe capaz de a dirigir, de tomar qualquer deliberação
em circunstâncias criticas, senão o tenente coronel francês Pierrepont, resolveu-se a tomar o comando superior, para com a soa
presença remediar de pronto os obstáculos, e animar os menos
resolutos, porque só o nome de Bounsuló fazia tremer a maior parte
da sua gente. Na manhã de 4 de maio do 1746, fez-se de vela pelo
rio Calvale D. Pedro de Almeida, acompanhado dalgumas forças, ao
mesmo tempo que uma outra coluna ás ordens de Pierrepont marchava
por terra, o reunidas pela tarde as duas facções, tomaram a
trincheira que os defensores de Alorna, já. então reforçados,
haviam construído a um quarto de légua da praça, no ponto em que
Pierrepont devia atravessar o rio. Assentados os arraiais, e
conhecida a impossibilidade dum sítio regular. deliberou-se levar a
praça à escala, e ás três horas da madrugada seguinte puseram-se
as tropas em movimento. Tentaram arrombar a porta a golpes do
machado, mas não o conseguindo fizeram-na saltar com um petardo. A
entrada ficou assim aberta, mas como a passagem ficasse muito
estreita, houve muitos mortos e feridos, entre os quais se contou o
bravo tenente coronel Pierrepont, que apesar do seu grave ferimento,
não desanimou e dirigiu o ataque ao castelo, onde se tinham
recolhido os defensores. O governador não quis render-se; então as
portas foram forçadas, e com auxílio de escadas conseguiram
penetrar dentro do castelo passando à espada todos quantos
encontraram. Em poucos dias os nossos se apoderaram de Bicholim e
Sanquelim, com todas as suas províncias ou territórios da mesma
denominação. O mau tempo chegou, desenvolveram-se febres, e o
vice-rei regressou a Goa, onde cuidou logo dos preparativos para no
fim da invernada se renovar a meta. A 14 do Novembro fez-se
novamente de vela, a 23 foi dado o assalto à fortaleza de Tiracol,
passando o rio Arondem, à vista do inimigo, e finalmente a 3 de
Dezembro entregou-se a praça de Rarim,
que era considerada a mais forte desta costa, com toda a
armada, apetrechos e munições do inimigo. Em 1748 foi tomada
Neutim, última fortaleza da costa. Em recompensa de tão valiosos
serviços, o vice-rei recebeu a carta régia de 9 de Novembro desse
ano, em que se diz que, atendendo aos distintos serviços que o
marquês de Castelo Novo lhe fizera na Índia, onde ultimamente
tinha tomado ao inimigo as praças e fortalezas de Alorna, Blicholim,
Avara (Avaró), Tiracol e Rarim, devendo-se, depois do auxílio
divino, à actividade, vigilância e prudência militar do dito marquês,
que com a sua presença e valor animou as tropas a desprezarem os
perigos, e a obrarem as gloriosas acções que foram de grande crédito
ás armas e para o nome português no Oriente; e para perpetuar a
memória das referidas acções na sua pessoa, que em lugar de marquês
de Castelo Novo se chamasse "Marquês de Alorna". O título
era em sua vida, e de uma vida mais no dito título. Por carta de
lei de 21 de fevereiro de 1750 foi nomeado mordomo-mor da rainha D.
Maria Ana de Áustria.
O
marquês de Alorna havia casado em 20 do fevereiro de 1715 com D.
Maria de Lencastre, 1.ª filha dos 4.os condes de Vila Nova
de Portimão, D. Luís de Lencastre, e de sua mulher, D. Madalena
Teresa de Noronha, da casa de Tarouca. No ano de 1750 entregou o seu
governo, depois de seis anos de exercício, ao seu sucessor o marquês
de Távora. Por esta ocasião, e a pedido do novo vice-rei, escreveu
a lnstrucção, publicada em 1836, por Frederico Leão
Cabreira de Brito. Houve segunda edição, por Filipe Nery Xavier
Alvelos Drago Valente, em 1856 adicionando-se-lhe muitas notas
interessantes e curiosas para o estudo da nossa história no domínio
do Oriente. Esta edição teve o seguinte título Instrucção
dada pelo Exmo. marquês de Alorna ao seu sucessor no governo deste estado da
Índia, o Exmo. marquês
de Távora. Nesse mesmo livro vem: História da conquista da
praça de Alorna, relatada pelo próprio conquistador. O marquês
regressou a Lisboa em 1752, falecendo quatro anos depois. Nas
cartas régias teve sempre o tratamento de honrado marquês. No
governo da Índia usou sempre do seguinte titulo: “marquês de
Castelo Novo, conde de Assumar, dos conselhos de Estado e de
Guerra, do Rei meu Senhor, Veador da sua Real Casa; mestre de campo
general dos seus exércitos, director general da cavalaria do reino,
vice-rei e capitão-general da Índia.
As suas armas, que são da
família dos Almeidas, eram: escudo esquartelado, n um as armas
dos Portugueses, que é uma aspa vermelha, e nela cinco escudos de
armas reais, com a cruz dos Pereiras de prata, e no outro as dos
Almeidas, em campo vermelho três besantes de ouro, entre uma dobre
cruz, e bordadura de ouro. Timbre uma águia de vermelho abesantada de ouro. Extinta a linha da varonia dos Almeidas da casa de Alorna,
e passando o título para a linha colateral Mascarenhas, das
casas Fronteira, Torre e Coculim, hoje vigora o brasão de armas
destas antigas e muito nobres casas.
Genealogia
de D. Pedro de Almeida, 1.º marquês de Alorna
Geneall.pt
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Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, págs. 328-331
Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral
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