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Francisco de Andrade
Francisco de Andrade

Andrade (Francisco de).

 

n.     [ 11 de janeiro de 1859 ].
f. 
     [ 8 de fevereiro de 1921 ].

 

Distinto barítono português. 

Natural de Lisboa; filho do hábil jurisconsulto dr. José Justino de Andrade e Silva. 

Cursou os estudos superiores, recebendo uma finíssima educação, juntamente com seu irmão, António de Andrade (V. este nome). Até á sua partida para Itália, em 1881, as notas biográficas dos dois irmãos Andrades são em tudo semelhantes. Estudaram ambos declamação com José Romano e D. Luís da Costa, e música com Joaquim Casimiro, Carreira e Pontechi; ambos reunidos representaram como amadores dramáticos em teatros particulares, cantaram em soirées e concertos íntimos, dedicando-se ambos à carreira lírica, tornando-se dois artistas distintíssimos. Partindo juntos para Itália, estudaram com o afamado professor, o barítono Ronconi. 

Francisco de Andrade debutou no teatro de San Remo, a 22 de dezembro de 1882, na Aida. O seu debute, assim como o de seu irmão, foi o mais auspicioso possível, o publico recebeu-os com as maiores provas de simpatia e consideração. Naquele teatro ainda cantou o Fausto e a Lucia de Lamermoor. De San Remo passou a Roma, onde cantou com o tenor Tamagno no Poliuto, Trovador e Guilherme Tell, sendo sempre freneticamente aplaudido. O desejo de vir a Lisboa visitar seus pais, obrigou-o a recusar contractos para Parma e Pádua. Depois de se demorar na capital por algum tempo, partiu para Carrara a continuar a sua brilhante carreira. Ali cantou o Rigoletto, Puritanos e Ernani, sendo classificado, tanto em Carrara como em San Remo e Cesena, para onde foi mais tarde, como a primeira figura da companhia. O entusiasmo na noite da sua festa artística chegou a ponto de ser levado a casa em triunfo. O mesmo entusiasmo o acompanhou a Cesena, em que cantou os Puritanos e a Traviata. Na recita de despedida houve tanta afluência, que os preços dos diversos lugares do teatro triplicaram. Passou depois a Milão, sendo escriturado para substituir no teatro Dal Verme o barítono Panteleoni no Rigoletto. A opera cantou-se doze noites seguidas, sempre aplaudida com entusiasmo. Um dos críticos musicais mais notáveis de Itália, o dr. Filippi, escreveu nessa ocasião o seguinte, a respeito do distinto barítono português: 

"Reproduziu a personagem com um talento de comediante, que não estamos habituados a encontrar nas cenas líricas. Alternadamente meigo e terrível, sempre patético, fez valer tudo quanto este papel reúne de belo e de sublime. Não exagerando fisicamente o lado grotesco, deu ao pobre bobo do rei a verdadeira fisionomia. O futuro deste artista está de per si acentuado".

No teatro Dal Verme criou ainda uma nova opera, O rei Manfredo. Em 1884 esteve em Aix- les-Bains com seu irmão, e rejeitou, assim como ele, escrituras vantajosas para Itália, por causa da devastação horrorosa que estava então causando naquele país a epidemia da cólera mórbus. Os dois irmãos Andrades partiram para Portugal e, ao chegarem a Lisboa, encontraram a distinta cantora Sembrick cantando em S. Carlos, causando entusiasmo e completando já o seu contrato, devendo seguir para o Porto, onde estava contratada para cantar cm quatro recitas no teatro de S. João. A convite do empresário, os dois irmãos acompanharam a distinta cantora e cantaram com ela o Rigoletto e a Traviata. (V. António Andrade). Não puderam aceitar a escritura, proposta então por Campos Valdez, para cantarem a Carmen, por estarem ambos comprometidos para Viena de Áustria, onde deveriam tomar parte numa serie de representações com Sembrick, contrato que não pôde afinal realizar-se, por ter adoecido aquela notável cantora. Partiram depois ambos para Moscovo, onde faram alvo de repetidas ovações. De Moscovo seguiu Francisco de Andrade para Londres, enquanto que seu irmão foi para Turim. No teatro de Covent-Garden fez uma brilhante época. Ele e [Elena] Theodorini, cantora muito conhecida em S. Carlos, foram as estrelas da época em Londres. Os jornais ingleses teciam-lhe grandes elogios; o Standard, Daily News, Daily Telegraph e o Globe, nos seus artigos, chamavam-lhe barítono russo, nacionalidade contra que Francisco de Andrade protestou, fazendo constar que era português. Fez cinco épocas no Covent-Garden. Durante este tempo, mesmo de Londres empreendeu diversas tournées artísticas pela Rússia, Áustria, Hungria, Itália, Inglaterra, Holanda, Suíça, Suécia e Noruega. Depois foi cantar a Barcelona, e na época de 1887 a 1888 faram os dois irmãos escriturados para o teatro de S. Carlos, pelo empresário Campos Valdez. O debute do notável barítono realizou-se a 28 de dezembro de 1887 com o Rigoletto. O sucesso foi colossal. O publico estava admirado daquele desempenho tão completo, não só como cantor, mas também como um actor consumado, apesar da fama que o acompanhava de todos os teatros que percorrera no estrangeiro. Cada nova opera em que se apresentava, era um novo triunfo para o artista, e enchentes completas para o teatro. Cantou então a Dinorah, Linda de Chamounix, Huguenottes, D. João, Lucia de Lamermoor, etc. Neste teatro cantou também com [Adelina] Patti o Rigoletto, Dinorah e Linda de Chamounix. Francisco de Andrade continua seguindo a sua gloriosa carreira; é o artista querido da Alemanha, da Rússia e da Holanda, e está considerado como um dos primeiros barítonos. Para lhe dar um lugar proeminente na cena, dizia há tempo um artigo publicado a seu respeito, basta a interpretação, afirmada por todos os críticos alemães, que tem dado à lendária figura de D. João, de Mozart. Francisco de Andrade, sempre aclamado pelo publico e elogiado pela critica, firmou os seus créditos de artista celebre, e tem sido contratado como verdadeira celebridade, e por preços por que nunca viera a Portugal nenhum barítono. Veio de novo a S. Carlos, em 1898, sendo empresário José Paccini, mas, ao chegar a Lisboa, adoeceu por tal forma, que só pôde ser ouvido uma única vez no Rigoletto, não podendo dar ao seu papel o relevo que costumava, por causa do mau estado de saúde. Cantou então com [Giulia] Biondelli e o tenor Cartica. Os irmãos Andrades são dois artistas de muito merecimento, que no estrangeiro têm honrado a arte portuguesa. O reportório do distinto barítono é vastíssimo; além das operas já apontadas, podemos notar as seguintes : Africana, Gioconda, Roberto do Diabo, Carmen, Barbeiro de Sevilha, D. Carlos, Sonâmbula, Mignon, Macbeth, Nabucodonosor, Sapho, Profeta, Vésperas Sicilianas, Marta, Mefistófeles, Força do destino, D. Branca, Ruy Blas, Simão Bocanegra, Baile de mascaras, Promessi Sposi, Favorita, Lucrécia Borgia, Hamlet, Maria de Rohan, Lithuani, Palhaços, Lohengrin, Mestres cantores, Tanhauser, Valquíria, Casamento de Figaro, Hans Herling, etc.

 

 

 

Biografia de Francisco de Andrade
Revista Brasil-Europa

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, págs. 503-504

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral