Portugal - Dicionário

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Dolmen de Pavia, no Alentejo, Portugal
Dolmen de Pavia, no Alentejo, Portugal

 

Anta ou dólmen.

 

 

Monumento megalítico que consiste numa lájea, de ordinário muito larga, descansando sobre outra, quase sempre duas, bastante elevadas acima do solo onde estão enterradas as suas bases. À pedra horizontal dá-se o nome de mesa; às verticalmente colocadas o de esteios. 

Se o monumento só consta de três pedras, chama-se linlhaven, derivado de duas palavras celtas que querem dizer mesa de pedra, ou trilhita, derivado do grego, três pedras. A anta é descoberta ou revestida duma capa de terra, e nesse caso recebe o nome de mamoas ou mamunhas, pelos quais é conhecida na Galiza e no norte do reino. Muitas das antas que hoje se encontram, aparecem descobertas, o que vários arqueólogos atribuem a escavações ou quaisquer outros acidentes, visto serem quase todos de opinião que eram primitivamente cobertas. Anta é vocábulo propriamente português, derivado pelos antigos dicionaristas de antáo ou caminho, e geralmente definida d'esta forma: "aras antigas de pedra espalhadas pelos caminhos como marcos ou balizas". (V. Dólmen). Em vários pontos de Portugal se encontram, com esta designação rudes altares, que serviam, segundo a tradição, a uso sagrado. Junto á cidade da Guarda, perto do pequeno lugar de Guilhafonso, em um vale largo ou campina cercada de outeiros, havia uma anta, na forma de mesa de pedra tosca, com treze palmos de largura e quinze de comprimento, correndo do nascente ao poente, elevada nove palmos da terra sobre cinco toscos padrões; existia outra junto do lugar das Antas de Penalva, muito maior (V. este nome); outra, que estava junto da Matanca, com trinta palmos de comprimento, e outra junto da Carrapichana, não muito longe de Celorico. No Alentejo também se notava uma anta, ao pé de Nisa. Das duas ultimas arruinou o tempo algum dos padrões ou colunas, e conservavam-se só quatro no meado do seculo XVIII, que, como nelas se estribava o grande peso da pedra, que serve de mesa, resistiram ao curso de tantos séculos, vendo-se as outras derribadas, de sorte que a união destes padrões, que se juntaram uns aos outros, quanto lhes permitia a figura irregular, constituíam um muro cerrado, sobre o qual descansava a mesa ou pedra grande, que o cobria, sem que o vão, que ficava dentro, tivesse entrada alguma. A palavra anta ou antas é muito antiga, no nome das povoações de Antas de Penalva, Antas de Penedono, S. Tomás de Antas; e na família, que de alguns destes lugares tomou o apelido. 

Acerca da origem da palavra anta, há diversas opiniões; uns querem que seja hebreia, outros da antiga fenícia, grega, latina, etc. As antas parece que se edificaram antes da invasão dos árabes, porque o termo não é arábico, nem se lhe pôde atribuir uso algum profano ou religioso, porque os maometanos não têm altar, nem a sua lei lhes permite o uso dos sacrifícios. pois unicamente conservou o rito, que se executa na vila de Muna, junto a Meca, e o sacrifício, a que chamam Corban, no fim do grande Bairão, que executam, não em altares, mas em covas; também parece que não foram edificadas pelos godos, alanos e suevos, que tanto dominaram esta parte da Espanha, porque, quanto entraram estes povos, já tinham conhecimento de Cristo, e não adoravam a idolatria, nem esta depois dos romanos foi dominante em Espanha. Todos confessam que as antas não são obra de romanos, que todas faziam de pedra quadrada e muito bem lavrada: e as aras fabricavam com especiais adornos de frisos, molduras e relevos, como se vê nas que resistiram ao tempo, e nas que se acham gravadas nas medalhas romanas, e tinham ordinariamente inscrições que declaravam, não somente a divindade a que se consagravam, mas a pessoa que as erigia; e se fossem aras para uso da idolatria dos romanos, não se conservariam de pé tanto tempo, pelo zelo com que os cristãos de Espanha. apenas a igreja teve paz e foi protegida pelos imperadores, procuraram destruir as aras, os templos e os edifícios públicos, dedicados aos ídolos. Pode-se quase afirmar que as antas são o mais antigo monumento artificial, talvez no mundo todo, porque não se mostrará edifício algum a que se possa atribuir igual antiguidade. 

Diz-se monumento artificial, porque as conchas petrificadas, que se encontram nalguns montes, são monumentos que a natureza deixou desde tempos pré-históricos. Dizem os cronistas que apesar dos seus profundos estudos, não puderam descobrir noticia alguma das nossas antas, ou de monumentos que as imitassem.

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, pág.
595

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral