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O Portal da História  > Dicionário > D. José de Mascarenhas, 8.º duque de Aveiro

Aveiro (D. José Mascarenhas, 5.º marquês de Gouveia, 8.º conde de Santa Cruz e 8.º duque de).

 

n.         2 de outubro de 1708.
f.          13 de janeiro de 1759.

 

Fidalgo da Casa Real. 

Nasceu a 2 de outubro de 1708, faleceu em Belém a 13 de janeiro de 1759, no patíbulo, por ser sentenciado como um dos principais influentes no crime de conspiração contra a vida do rei D. José, em 3 de setembro de 1758. Era filho segundo do 3.º conde de Gouveia e 6.º conde de Santa Cruz, D. Martinho de Mascarenhas; e de sua mulher, D. Inácia Rosa de Távora, filha de António Luís de Távora, 2.º marquês deste título.

D. José, sendo destinado por seu pai para a vida eclesiástica, foi porcionista do colégio de S. Pedro da Universidade de Coimbra. Seu irmão mais velho foi o 4.º marquês de Gouveia e 7.º visconde de Santa Cruz; apesar de ser casado, apaixonou-se por uma senhora, também casada, e fugiu com ela. Como este crime era gravíssimo e punido com as mais. severas penas, D. João viu-se impossibilitado de voltar ao reino, e renunciou a sua casa e títulos em favor de seu irmão D. José, ficando este fidalgo com uma posição na corte bem diferente da que tencionava. Era senhor das vilas, morgados e comendas da casa de Gouveia, mordomo-mor da casa de D. João V, que o fez presidente do Desembargo do Paço, cuja posse tomou a 30 de agosto de 1749. No ano de 1739 casou com D. Leonor de Távora, filha do 2.º conde de Alvor, e irmã do 3.º marquês de Távora, D. Francisco de Assis. Falecendo no estado de solteiro o 7.º duque de Aveiro, D. Gabriel de Lencastre Ponce de Leon, levantou-se grande demanda acerca da sucessão entre um sobrinho deste fidalgo, D. António de Lencastre Ponce de Leon, e D. José de Mascarenhas, que se apresentava com direito à casa e ducado de Aveiro, como legítimo sucessor, por ser descendente do 3.º duque daquele título, cuja filha D. Maria de Lencastre. casara com o 1.º marquês de Gouveia. O primeiro-ministro de D. João V, frei Gaspar da Encarnação favoreceu muito a pretensão de D. José Mascarenhas, de quem era tio, e conseguiu em 1749 uma sentença a seu favor, a qual foi confirmada três anos depois pela Relação de Lisboa; D. José tomou então posse da casa e ducado de Aveiro, de que foi o 8.º e último duque. Tornando-se excessivamente orgulhoso a altivo, projectou casar seu filho D. Martinho Mascarenhas, marquês de Gouveia, com a filha mais velha do duque de Cadaval, imaginando a possibilidade de reunir no seu herdeiro essas duas nobilíssimas casas, pretendendo ao mesmo tempo que lhe fossem dadas as importantes comendas que, sem fazerem parte da casa de Aveiro, tinham sido administradas pelos duques seus antecessores.

As dificuldades que encontrou na realização desse enlace e que atribuiu à má vontade do rei D. José, e o indeferimento que teve a segunda pretensão, junto ao ódio que os nobres e grandes do reino consagravam a Sebastião José de Carvalho e Melo, mais tarde conde de Oeiras e marquês de Pombal, fizeram com que o orgulhoso fidalgo planeasse um atentado contra a vida de D. José, para desse modo aniquilar a influência e poder do austero ministro. Decidido a pôr em prática o seu plano, buscou auxiliares em dois criados seus, que eram irmãos, um seu cunhado, José Policarpo de Azevedo, alguns populares, falando vagamente do seu projecto a algumas pessoas da nobreza. Daqui resultou o crime bem conhecido na história pela conspiração dos Távoras, de 3 de setembro de 1758, cuja tentativa ficou frustrada, resultando ainda uns leves ferimentos no rei. Sendo presos os que se indicavam como criminosos, seguiu o processo sumariamente, lavrando-se a sentença condenatória a 12 de janeiro de 1759, realizando-se a execução logo no dia seguinte. Os títulos de duque de Aveiro e marquês de Távora ficaram extintos para sempre. A sentença ordenava a confiscação de todos os bens, que as armas fossem derribadas e picadas em todos os lugares onde estivessem colocadas, e as casas de residência demolidas a arrasadas de sorte que delas não restassem vestígios, sendo reduzidas a campo e salgado. 

O palácio que o duque de Aveiro possuía em Belém foi completamente arrasado, e nele se erigiu uma memória para perpetuar o crime e o castigo dele. É uma coluna cilíndrica, de cinco metros de altura, terminada por uma chama em forma de pira, cercada de cinco anéis, também de pedra representando os cinco membros da família de Aveiro, que entraram na conjuração. Na base da coluna lê-se o seguinte:

AQUI FORAM ARRASADAS E SALGADAS
AS CASAS DE JOSÉ MASCARENHAS,
EXAUTORADO DAS HONRAS DE DUQUE DE AVEIRO
E OUTRAS
CONDEMNADO POR SENTENÇA PROFERIDA
NA SUPREMA JUNCTA DE
INCONFIDENCIA EM 12 DE JANEIRO
DE 1759
JUSTIÇADO COMO UM DOS CHEFES
DO BARBARO E EXECRANDO DESACATO
QUE NA NOITE DE 3 DE SEPTEMBRO
DE 1758 SE HAVIA COMMETTIDO
CONTRA A REAL E SAGRADA PESSOA DE
D. JOSÉ I.
NESTE TERRENO INFAME SE NÃO PODERÁ
EDIFICAR EM TEMPO ALGUM.

Este terreno salgado ficou pertencendo à câmara de Belém; esteve deserto e abandonado até ao reinado de D. Maria I, em que a câmara foi dando licenças para diversas a pequenas edificações. A coluna existe actualmente num beco ficando oculta por uns casebres. A parte da sentença, que ordenava que se picasse o brasão de Aveiro, em todos os locais que se encontrasse, não foi cumprida completamente porque, segundo se diz, ainda hoje se vêem alguns intactos na cidade de Aveiro e na parede exterior do edifício do colégio de Santo Tomás, em Coimbra, que faz frente para a rua da Sofia. A duquesa de Aveiro, logo em seguida à prisão de seu marido, foi levada para o convento do Rato, onde faleceu em 1761 na mais extrema miséria, porque tendo-lhe sido confiscados os bens e não ousando ninguém socorre-la com receio de incorrerem na cólera do soberano ou do seu omnipotente ministro, a ilustre fidalga viu-se obrigada a servir as freiras a troco da mais humilhante retribuição, para não andar descalça e nua.

D. Martinho de Mascarenhas, filho do duque, foi também encarcerado, e só em 1777, por morte do rei D. José, é que saiu das prisões da Junqueira. Vendo-se só a sem família, passou algum tempo com os frades de Mafra, obtendo depois por intervenção do marquês de Alorna o posto de capitão num regimento. Foi o 6.º marquês de Gouveia, título que também ficou extinto. D. João VI, sendo ainda príncipe regente, concedeu-lhe por fim uma mesada de 100.000 réis, do seu bolsinho particular, a assim viveu até 1804, ano em que faleceu, ficando por sua morte extinta uma das mais ilustres casas de Portugal.

 

 

Genealogia da 8.º duque de Aveiro
Geneall.pt

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, págs. 871-872

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral