Beresford
(Guilherme Carr).
n. [
2 de outubro de 1768 ].
f. [ 8 de janeiro de 1854 ].
Major-general
inglês, que tomou grande parte na Guerra a Peninsular, comandando
as tropas aliadas anglo-lusas contra os exércitos franceses que
invadiram Portugal, sob o comando dos generais Junot, Soult, e
Massena. O seu nome ficou tão assinalado na história do pais, que
não podemos deixar de o mencionar.
Reconhecendo
o governo do Rio de Janeiro, onde se refugiara a família real
portuguesa, a necessidade imperiosa de um chefe capaz de reorganizar
e disciplinar convenientemente o nosso exército, pediu à
Inglaterra um general, e, sendo Beresford o escolhido para essa missão,
foi logo nomeado marechal e comandante em chefe do exército português
por decreto de 7 de março de 1809, assumindo esse comando a 15 do
referido mês. Dias antes haviam chegado ao Tejo duas divisões
inglesas, e na verdade todos esses esforços eram bem precisos,
porque o general francês Soult já a esse tempo havia atravessado a
província de Trás-os-Montes e achava-se perto de Braga. Beresford
tratou de tomar algumas medidas, que lhe pareceram precisas para
aperfeiçoar e disciplinar as forças do seu comando. Do quartel
general, então no largo do Calhariz, expediu logo várias ordens do
dia alterando alguns pontos da ordenança da infantaria, criando um
comandante geral da artilharia, estabelecendo a separação dos
batalhões, e castigando severamente a insubordinação dum batalhão
de granadeiros. A 22 de abril desembarcou em Lisboa Wellesley, mais
tarde duque de Wellington, vindo para tomar o comando das tropas
inglesas. Os exércitos aliados marcharam então para o norte do
reino. Wellesley seguiu de Coimbra directamente para o Porto, onde
entrou a 12 de maio, e Beresford marchou através da província da
Beira, chegando nesse mesmo dia à margem do Douro nas proximidades
de Lamego. Soult, sendo expulso do Porto, e impossibilitado de
seguir pela estrada de Amarante, quis sair de Portugal por Chaves,
mas as forças de Beresford ali estavam, e o exército francês teve
de tomar o caminho de Montalegre; só depois de sacrificar a
artilharia e as bagagens, arrostando com numerosas dificuldades é
que conseguiu transpor as fronteiras.
Terminada
assim a segunda invasão, os exércitos aliados retiraram-se para o
sul do reino, postando-se o inglês em Abrantes e o português em
Castelo Branco, com o intento de operarem juntamente com o espanhol
contra o marechal Victor. Tendo, porém, este repassado o Tejo, e
aproximando-se da nossa fronteira do Minho os marechais Soult e Ney,
Beresford foi acampar nas margens do rio Águeda, e ali se conservou
até que, tendo conhecimento do resultado da batalha de Talavera,
entrou em Espanha para proteger a retirada de lorde Wellington.
Depois de ter costeado a fronteira, regressou a Portugal, e
distribuindo o exército por diversos pontos veio estabelecer o seu
quartel-general em Lisboa, continuando dai a expedir muitas e
importantes ordens tendentes a melhorar as nossas instituições
militares. Os combates travados nas proximidades da fronteira com as
forças de Massena e a batalha do Buçaco, provam que os esforços
de Beresford tinham alcançado grande êxito, e que o exército
português podia figurar ao lado dos ingleses de Wellington, e sabia
bater-se com as tropas de Napoleão. Beresford, depois da retirada
de Massena das linhas de Torres Vedras, marchou em socorro de
Badajoz. Em 1811 estava novamente em Lisboa entregue aos cuidados de
disciplinar e reorganizar o nosso exército, tomando então muitas e
úteis medidas. Numa batalha, perto da cidade de Salamanca, foi
ferido quando mandava avançar ao ataque uma das brigadas
portuguesas. Recolheu-se a Lisboa, e no ano seguinte assistiu à
batalha de Vitoria, em que os franceses ficaram completamente
derrotados.
Terminada
a campanha peninsular, e tendo Beresford ido a Inglaterra com licença,
voltou a Lisboa a assumir de novo o comando em chefe do exército
português. Não se querendo, porém, limitar a esse comando,
entendeu que devia também influir na administração do estado, de
que resultaram várias questões e conflitos com a regência.
Beresford decidiu então ir à corte do Rio de Janeiro, e para ali
partiu em agosto de 1815, voltando em setembro de 1816 elevado ao
posto de marechal-general, e investido de poderes mais amplos dos
que anteriormente exercera. Na conspiração de 1817, em que
vitimaram Gomes Freire de Andrade, foi Beresford severamente
censurado pela forma como tratou aquele dedicado general (V.
Andrade, Gomes Freire de). Vendo-se colocado em difícil posição,
voltou novamente ao Brasil, e obteve de D. João VI a confirmação
dos amplíssimos poderes que tivera, e que desejava ampliar, para
evitar os inconvenientes resultantes da má vontade da regência.
Regressou a Portugal com o caracter perfeitamente de ditador, mas no
intervalo dera-se a revolução de 1820; os oficiais ingleses, em
grande parte, haviam sido dispensados dos seus serviços no novo exército,
e o governo revolucionário que se organizara em Lisboa, nem
consentiu que Beresford desembarcasse. Mais tarde, estando em
Inglaterra, o general inglês publicou um livro em português,
pretendendo defender-se das acusações que lhe faziam acerca de
Gomes Freire de Andrade. Entre as honras que recebera de diferentes
países, Beresford tinha a grã-cruz da ordem da Torre e Espada, e
os títulos de conde de Trancoso, concedido em 1811, e de marquês
de Campo Maior, em 1812.