Bragança
(D. João I, 6.º duque de).
n. c. 1546.
f. 22 de fevereiro de
1583.
Foi
filho único do 5.º duque, D. Teodósio I, e de sua mulher e prima,
D. Isabel, filha de seu tio D. Diniz de Portugal.
Não
se conhece a data do nascimento, mas sabe-se que foi pouco tempo
antes de 1547; faleceu em Vila Viçosa a 22 de fevereiro de 1583.
Desde
muito criança foi destinado por D. João III, e depois pela rainha
D. Catarina e D. Sebastião, a casar com sua prima, D. Catarina,
filha do infante D. Duarte e de D. Isabel, irmã de seu pai. Este
consórcio realizou-se a 8 de dezembro de 1563, tendo sido o
contrato assinado em 8 de agosto do ano anterior. D. Sebastião
quatro dias antes, em carta de 4 de agosto, havia-lhe concedido o título
de duque de Barcelos para o primogénito da Casa de Bragança, com a
permissão do filho deste usar ainda em vida do avô o título de
duque, pertencendo ao de Bragança o nomear-lhe o lugar. Voltando
duma viagem ao Algarve, em 1573, D. Sebastião dirigiu-se ao palácio
de Vila Viçosa, onde foi recebido com a maior magnificência.
Quando o monarca intentou, pela primeira vez, ir a África, quis que
o duque de Bragança o acompanhasse, confiando o governo do ducado
à duquesa D. Catarina em 7 de setembro de 1574, dando assim à Casa
de Bragança a importância dum reino. O duque foi efectivamente a
essa expedição, levando seiscentos cavalos e dois mil infantes das
suas terras, e preparava-se para também partir com o soberano na
infausta expedição de 1578, quando umas febres violentas o
obrigaram a recolher ao leito. Vendo-se obrigado a desistir da
empresa, enviou para acompanhar o rei, seu filho D. Teodósio, duque
de Barcelos, que apenas contava dez anos de idade. Era imponente a
comitiva do jovem duque. Além dos fidalgos e criados de sua Casa,
levava importantes contingentes de cavalaria e infantaria, que foram
transportados em mais de trinta navios fretados à custa do duque
seu pai. (V. Bragança, D. Teodósio,
7.º duque de).
Depois
da infeliz jornada de Alcácer Quibir e da morte de D. Sebastião,
foi aclamado rei seu tio o cardeal D. Henrique. Este monarca
estimava muito a família Bragança, e principalmente a duquesa D.
Catarina, mas não teve coragem de a declarar herdeira do reino.
Durante este curto reinado, entrou o duque juntamente com a duquesa,
sua mulher, na pretensão da coroa, e nas cortes reunidas em Lisboa
no mês de junho de 1579, prestou o juramento de só obedecer ao rei
que os Estados escolhessem. Ainda vivia o cardeal-rei, quando Filipe
II, de Espanha, querendo afastá-lo das suas pretensões, mandou
oferecer-lhe o Brasil com o título de rei, o Algarve e as terras
que foram dos infantes, o cargo de grão-mestre da ordem de Cristo,
e licença para mandar todos os anos uma nau à Índia Oriental por
sua conta, prometendo-lhe ainda o casamento do príncipe D. Diogo
com uma das suas filhas. O cardeal D. Henrique aconselhava a que
fossem aceites estas proposta, porem D. Catarina, a despeito dos
conselhos do tio, rejeitou-as formalmente em 20 de outubro de 1579,
influindo com seu marido para que também as recusasse. Depois da
morte do cardeal-rei o duque de Bragança acompanhou os governadores
do reino a Santarém e a Setúbal, empregou ainda algumas
diligencias para que fossem reconhecidos os direitos de sua mulher
à Coroa portuguesa, mas afinal desistiu, e retirou-se para a vila
de Portel.
Depois
da vinda de Filipe II a Portugal, o duque de Bragança serviu de
condestável nas cortes convocadas em Tomar, onde o monarca
espanhol, por suas próprias mãos, lhe deu o colar do Tosão de
Ouro, que é a insígnia de maior reputação que costumam dispensar
os reis de Espanha, contra o costume dos seus antepassados, que não
tinham tido ordem alguma militar de cavalaria nem portuguesa nem
estrangeira. Nas cortes celebradas em Lisboa para o juramento do príncipe
D. Filipe, também serviu de condestável. Nada, porém, lhe pôde
suavizar a dor profunda por ver que a violência das armas de
Castela e a ambição de alguns grandes de Portugal, o haviam
despojado da Coroa, e aniquilado a liberdade de Portugal. Quando
Filipe se retirou para Espanha, concedeu ao duque de Bragança as
seguintes mercês: para o herdeiro o cargo de condestável do reino
em três vidas; para o filho segundo o titulo de marquês duma
cidade de Castela com quatro mil habitantes e quatro mil cruzados de
renda; para o terceiro filho uma comenda de Castela com o rendimento
de cinco mil cruzados. Concedeu também a quantia de duzentos mil
cruzados pagos em quatro anos para desempenhar a Casa, a permissão
de mandar vir da Índia por seis anos livres de direitos dez
quintais de canela, igual quantidade de cravo e outro tanto de noz
moscada, a confirmação do tratamento de excelência, e a isenção
dos direitos da chancelaria.
Os
últimos anos de vida, passou-os o duque D. João em Vila Viçosa,
entregue a exercícios de piedade. A duquesa D. Catarina sobreviveu
ainda trinta e um anos a seu marido, falecendo em 15 de novembro de
1614. Nunca mais se assinou Duquesa de Bragança, mas simplesmente
Catarina. Os reis de Espanha tratavam-na por Senhora D. Catarina, e
chamavam-lhe alteza.