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Brotero
(Félix de Avelar).
n.
25 de novembro de 1744.
f. 4 de agosto de 1828.
Cavaleiro
da Ordem de S. Bento de Avis, doutor em medicina pela Universidade
de Reims, lente da cadeira de Botânica e Agricultura, director do
Museu Real e Jardim Botânico do Paço da Ajuda, deputado às Cortes
Constituintes de 1821, membro da Sociedade de Horticultura de
Londres, e da Lineana de História Natural da mesma cidade; sócio
da Academia Real das Ciências de Lisboa, da de História Natural e
Filomática de Paris; da Fisiográfica de Lunden na Suécia; da de
História Natural de Rostock, e da Academia Cesarea de Bona na
Alemanha, etc.
Nasceu
em Santo Antão do Tojal a 25 de novembro de 1744 ; faleceu no sítio
de Arcolena, em Belém, a 4 de agosto de 1828. Era filho do Dr. José
da Silva Pereira e Avelar, médico pela Universidade de Coimbra, e
de sua mulher, D. Maria René da Encarnação Frazão.
Aos
dois anos ficou órfão de pai, sendo entregue aos cuidados de sua
avó, D. Bernarda da Silva Avelar, por sua mãe ter perdido a razão.
Mais tarde, o avô materno, José Rodrigues Correia Frazão,
almoxarife dos paços reais de Mafra, auxiliou Félix de Avelar, que
apenas contava sete anos, nos primeiros estudos, que foram cursados
no colégio dos religiosos arrábidos da
referida vila. Falecendo seu avós faltou-lhe tão valiosa protecção
no meio do seu curso de humanidades, e vendo-se com dezanove anos
anos, só e sem fortuna, e precisado de angariar meios de subsistência,
valeu-se da arte do canto, em que era curioso, e conseguiu um lugar
de capelão cantor na patriarcal de Lisboa. Neste tempo, ainda mais
se aplicou ao estudo, tendo-se aperfeiçoado na língua grega a
ponto de a poder ensinar; e apossando-se de conhecimentos do direito
canónico suficientes para ir a Coimbra fazer exame de três anos
seguidos, teria concluído a formatura se não sobreviesse a reforma
da Universidade, de 1772, em que se proibiram os exames sem a
respectiva frequência. Como se destinasse ao serviço eclesiástico,
fora-lhe concedido, por decreto de 19 de julho de 1766, um moio de
trigo no almoxarifado do Reguengo do Alviela, a título de património
para a sua ordenação eclesiástica. Todavia não passou das ordens
de diácono.
O
ardor com que se dedicava à ciência, as suas ideias filosóficas,
e a íntima amizade que o ligara a Francisco Manuel do Nascimento
(Filinto Elísio) o tornaram suspeito ao Santo Oficio, e Félix de
Avelar viu-se obrigado a emigrar juntamente com o seu amigo, e em 5
de julho de 1778 embarcaram ambos no navio sueco Nicolau
Roque, graças à protecção de Timóteo Verdier, que os
transportou para Franga. Foi em Paris que ele, seguindo o uso da época
entre os estudiosos, adoptou o apelido de Brotero,
palavra composta de Brothos,
raízes gregas, e de eros,
que significam amante dos
mortais. Por espaço de doze anos de permanência em Paris,
frequentou com perseverança todas as aulas e institutos de ciências
naturais, procurando também meios de subsistência em trabalhos
originais e algumas traduções que vendia aos livreiros. Assistiu
ao curso de história natural, que Valmont de Bomare abriu em Paris
no ano de 1781, e às demonstrações de botânica de Brisson no colégio
de farmácia. Concluídos os principais estudos de história
natural, que tanto apreciava, foi doutorar-se na escola de medicina
de Reims, com o intuito de exercer clínica, reconhecendo, porém, a
impressão que lhe causavam os sofrimentos dos enfermos, renunciou a
esta profissão para se entregar exclusivamente ao estudo da botânica.
Tendo presenciado por espaço de dois anos as primeiras convulsões
políticas da revolução francesa, resolveu-se a deixar Paris.
Chegou a Lisboa no ano de 1790 em companhia de D. Francisco de
Meneses. A reputação de sábio, de que vinha precedido, fez com
que fosse logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na
Universidade de Coimbra, por decreto de 25 de fevereiro de 1791,
conferindo-se-lhe ao mesmo tempo e por mercê especial o capelo
gratuito na faculdade de Filosofia em 13 de março de 1792.
Em
1788 havia publicado em Paris o seguinte livro, que muito concorrera
para a fama que adquirira: Compêndio
de Botânica
ou noções elementares
desta ciência,
segundo os melhores escritores
modernos, expostos na língua
portuguesa.
Nas primeiras prelecções, Brotero foi ouvido com o maior
entusiasmo, não só pelos discípulos, como por um grande número
de doutores e mestres de outras faculdades, que vinham ouvir lições
de botânica, atraídos pelo vasto saber, clareza e amenidade de tão
hábil professor, que poucos igualariam então, segundo afirmavam as
pessoas que o escutavam. Iniciou a primeira escola prática de botânica,
organizando o jardim com uma classificação científica, e
enriquecendo o com os exemplares indispensáveis para o estudo.
O
jardim botânico fora principiado sob a direcção do antigo lente
Domingos Vandelli, mas no tempo de Brotero atingiu o máximo
desenvolvimento. Não satisfeito com o trabalho da regência da
cadeira, empregava o tempo das férias arborizando e colhendo
elementos, com que mais tarde havia de dar a conhecer aos homens de
ciência as riquezas vegetais de Portugal, vencendo para isso as
maiores dificuldades. Destes trabalhos derivaram, entre outros, duas
publicações notáveis, que o tornaram conhecido e apreciado dos
naturalistas estrangeiros, embora lhe criassem inimigos entre os
conterrâneos. Essas publicações foram a Flora lusitânica,
editada em 1801, e a Phytographia Lusitaniae
selectior, cuja
publicação começou em 1816, e terminou em 1827. Nas longas excursões
que realizou, foi algumas vezes vítima da sua dedicação científica.
Na serra da Estrela deu três quedas desastrosas, sendo uma delas
origem da enfermidade que sofreu até ao fim da vida; algumas vezes
foi atacado por salteadores no Alentejo, e uma vez esteve exposto a
ser assassinado pelos pastores, por suspeitarem que Brotero visitava
os campos baldios para lhe serem doados. Por decreto de 16 de agosto
de 1811 foi jubilado com as honras e interesses que lhe competiriam
se estivesse em exercício. Por decreto de 27 de abril daquele mesmo
ano, havia sido nomeado por D. João VI, então príncipe regente,
director do real museu e jardim botânico da Ajuda, tendo-lhe já
anteriormente, em 1800, feito mercê, como principio de remuneração
dos seus serviços valiosos, dum beneficio simples da Ordem de S.
Bento de Avis na colegiada de Santa Maria de Beja. Nas cortes
constituintes de 1820 foi eleito deputado pela província da
Estremadura, tomando posse na sessão de 26 de janeiro de 1821, dia
da instalação das mesmas cortes; mas depois de haver assistido aos
trabalhos legislativos com a decida regularidade, pediu a sua
escusa, que lhe foi concedida a 7 de maio do referido ano.
Brotero
era reconhecido universalmente como o primeiro botânico de
Portugal. Para a sua biografia pôde ver-se a Memória
histórica
da Faculdade de Filosofia,
pelo Dr. J. A. Simões de Carvalho; Memórias
biográficas
do Dr. Rodrigues de Gusmão; Jornal
das Ciências
Médicas
de Lisboa, tomo XV, janeiro de 1842, e no tomo XXIV, 1860, onde
vem Apontamentos biográficos,
escritos por Inácio Quintino de AveÌar; Notícia
biográfica,
etc. por um seu parente, que era o sobrinho, beneficiado José
de Avelar Brotero, que viveu com ele muitos anos. Encontram-se
muitos artigos sobre Brotero no Universo
pitoresco,
tomo III, pág. 136;
Revista popular, vol. III, 1850;
Arquivo
pitoresco,
tomo I, pág. 329; Plutarco Português,
vol. II, fasc. VI, 1882, artigo do Dr. Júlio A. Henriques;
etc.
Em
Coimbra, no Jardim Botânico da Universidade, inaugurou-se em 30 de
março de 1887 uma estátua de Félix de Avelar Brotero.
Obras
digitalizadas de Félix de Avelar Brotero
Biblioteca Digital de Botânica
Biografia
de Félix de Avelar Brotero
Ciência em Portugal. Personagens e Episódios
Genealogia
de Félix de Avelar Brotero
Geneall.pt
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