General
de divisão reformado, do conselho de Sua Majestade, ministro de
Estado, par do reino, deputado, sócio correspondente da Academia
Real das Ciências, e da sociedade literária Almeida Garrett, etc.
Nasceu na ilha da Madeira a 26 de março de 1819, faleceu a 26 de janeiro
de 1904.
Assentou
praça em 1836, sendo despachado alferes em 1837, promovido a
tenente em 1845, a capitão em 1851, para o corpo do estado maior, a
major em 1866, a tenente-coronel em 1874, a coronel em 1876, depois
a general de brigada, reformando-se em general de divisão a 4 de junho
de 1884. Concluiu em 1844 com muita distinção na Escola do Exército
os estudos requeridos para o corpo do estado-maior. Em 1853 serviu
ás ordens do marechal duque de Saldanha, que muito o considerava, e
de quem era muito amigo. Por muitos anos foi chefe da 3.ª secção
da secretaria da direcção geral de engenharia. Entrando na política,
saiu eleito deputado nas legislaturas de 1856, 1858, 1860 e 1861.
No
ano do 1864 teve a nomeação de subchefe da 3.ª repartição do Ministério
da Guerra; chefe do estado-maior em 1866. Neste mesmo ano foi
nomeada uma comissão, a fim de dar o seu parecer acerca do
armamento com que deveria ser dotado o nosso exército, "visto
que a época
das armas de carregar pela boca,
tinha acabado como o ultimo tiro de espingarda de agulha do soldado
prussiano nos campos de Sadowa".
Esta comissão manifestou a opinião de que se adoptasse a
carabina do sistema Westley-Richards de carregar pela culatra e do
cano Whitworth, como tipo mais perfeito para os caçadores; em vista
do que ordenou o ministro da guerra que se fizesse um contrato
provisório para a compra de oito mil carabinas deste sistema para
caçadores e duas mil clavinas para a cavalaria. D. Luís da Câmara
Leme teve então o encargo de ir a Londres ratificar este contrato,
e de remover quaisquer dúvidas que se oferecessem para a sua pronta
realização. Em 1867 foi nomeado para ir estudar na exposição
universal de Paris, que nesse ano se realizou, o que se oferecesse
de importante e de novidade, relativamente às artes militares.
Em
1870, quando se deu a revolta em 19 de maio, promovida pelo marechal
duque de Saldanha, Câmara Leme foi chamado ao ministério que o
referido marechal organizou, encarregando-se da pasta da marinha,
sendo então agraciado com a carta de conselho. Em 1878 foi eleito
par do reino, tomando posse na respectiva câmara a 10 de janeiro de
1879. Neste ano também exerceu o cargo de governador civil do
distrito de Lisboa. Nos últimos anos estava já muito afastado da
política, contudo a sua voz era ainda ouvida no parlamento com a
atenção e respeito, devidos aos seus muitos e relevantes serviços,
e aos seus elevados merecimentos. A oficialidade do exército
português, que sempre lhe consagrou a maior veneração, lhe
ofereceu há bastantes anos uma comenda cravejada de riquíssimos
brilhantes. Para esta dedicada homenagem, todos os oficiais se
inscreveram espontaneamente; a subscrição excedeu a 8.000$000 réis,
e D. Luís da Câmara Leme fez aplicar metade desta quantia a
esmolas para as viúvas pobres dos oficiais do exército, ficando o
resto para custear a comenda. Na sua larga vida parlamentar, tratou
sempre com especialidade das questões militares, questões com que
por vezes também se salientou na imprensa em artigos dispersos por
vários jornais e revistas militares. Câmara Leme foi um
propagandista acérrimo da responsabilidade ministerial, e nos últimos
tempos, já muito alquebrado pelos anos, mas ainda com admirável
lucidez de espírito, renovava em todas as sessões legislativas o
seu antigo projecto de lei nesse sentido, fazendo sempre largas
considerações sobre este assunto, para provar a conveniência da
sua aprovação, que nunca viu realizada.
Era
cavaleiro da Ordem da Torre e Espada pelos seus serviços ao exército,
especialmente pela sua obra Elementos
de arte militar; cavaleiro da ordem de N. Sr.ª da Conceição,
comendador da de S. Bento de Avis, em 1866; da de Cristo e de S.
Tiago; de S. Maurício e de S. Lázaro, de Itália; grã-cruz da
Isabel a Católica e da de Carlos III, de Espanha; grande
oficial da Legião de Honra, de França; da de Leopoldo, da Bélgica.
Era condecorado com as medalhas militares de ouro de bons serviços,
e de prata de comportamento exemplar. Casou em primeiras núpcias
com a notável actriz Emília das Neves, de quem ficou herdeiro de
toda a sua fortuna, e em segundas núpcias com D. Ana de
Albuquerque, escritora, e que também foi actriz no teatro de D.
Maria.
Escreveu:
Elementos de arte militar, parte
I, Lisboa, 1862; II parte, 1863; III e IV partes, 1864; é
antecedida por um juízo crítico de Latino Coelho. Foi muito bem
recebida esta obra tanto em Portugal como no Brasil, merecendo que o
respectivo ministro da guerra dissesse o seguinte no seu relatório,
apresentado ás cortes: "Tendo o distinto capitão do
estado-maior de Portugal, D. Luís da Câmara Leme, oferecido alguns
volumes dos seus Elementos de
arte militar, e contendo essa excelente obra as noções
indispensáveis mesmo aos oficiais que não têm os cursos das suas
armas, mandou-se proceder à compra dos volumes necessários para a
conveniente distribuição pelos oficiais do nosso exército".
Na Gazeta de Portugal, de
8 de março de 1864, saiu anónimo um artigo encomiástico, e em
1865, no mesmo jornal, publicou Osório de Vasconcelos uma série de
artigos de análise. Saiu Segunda
edição, revista e consideravelmente aumentada,
Lisboa, 1.° tomo, 1874; 2.° tomo, 1879. Escreveu mais:
Relatório
apresentado a sua excelência
o ministro da Guerra
em desempenho de uma comissão
concernente à
aquisição
das novas armas de fogo portáteis,
datado de 10 de setembro de 1866, saiu no Diário
de Lisboa, de 19 do referido mês, sendo reproduzido no dia
seguinte na Gazeta de
Portugal; Relatório
a s. ex.ª o ministro da Guerra
acerca
dos objectos militares mais notáveis
apresentados na exposição universal
de Paris em 1867, saiu no Diário
do Governo, de 24 de dezembro de 1867, continuando nos números
seguintes; foi depois impresso em separado no referido ano; Considerações
gerais
acerca
da reorganização
militar de Portugal, Lisboa, 1868; Incompatibilidades
políticas sob o aspecto histórico,
jurídico, político
e moral, Lisboa, 1893. Publicou em 1875, sem o seu nome, um
volume de 600 páginas, intitulado: Emília
das Neves, documentos para
a sua biografia,
por um dos seus admiradores.