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Catarina
(D.).
n.
21 de janeiro de 1507.
f. 12 de fevereiro de
1578.
Princesa
espanhola, filha de Filipe I de Castela, arquiduque de Áustria, e
da rainha D. Joana, filha segunda e principal herdeira de Fernando, o
Católico, rei de Aragão, e de Isabel, rainha ele Castela. D.
Catarina era irmã do imperador Carlos V, e rainha de Portugal pelo
seu casamento com o rei D. João III.
Nasceu
em Torquemada a 21 de janeiro de 1507, faleceu no palácio do
Xabregas a 12 de fevereiro de 1578.
Os
seus desposórios realizaram-se com toda a solenidade em Lisboa a 18
de agosto de 1521. Era dotada dum ânimo varonil e enérgico, duma
inteligência pouco vulgar, e exerceu decidida influência nos negócios
do Estado, porque D. João III não recusou admiti-la em todos os
conselhos de estado, sendo a única, entro as antigas rainhas, que
veio a merecer tão grande honra. D. João faleceu em 1557, deixando
por sucessor o seu neto D. Sebastião, criança ainda, filho do príncipe
D. João, primeiro dos nove filhos de D. João lII, todos falecidos
ainda em vida de seu pai. A rainha D. Catarina assumiu a regência
do reino durante a menoridade do neto, chamando para seu lado como
conselheiro seu cunhado o cardeal D. Henrique, que também pretendia
a regência. Era muito cuidadosa na instrução de D. Sebastião,
procurando mestres de avalizado merecimento, capazes de formaram um
príncipe digno do trono e das virtudes dos seus maiores; no
entretanto, entre tantos debates não prevaleceu o voto e escolha da
rainha, que se viu obrigada a condescender com a vontade do cardeal,
afeiçoado a certa corporação religiosa. Lidando com acerto nas
coisas do reino, estendeu os seus cuidados à conservação das
conquistas do império oriental, onde os portugueses haviam
praticado tantos actos heróicos, e para não descaírem no crédito
que tinham merecido as suas grandes façanhas, a rainha regente
enviou grossas armadas que humilharam aqueles mares tormentosos, e
submeteram debaixo de suas leis a muitos potentados.
Porém,
entre os apertos de que o seu governo se viu assaltado, foi sem
duvida a conservação dos lugares em África, tomando interesse na
sua defesa, não lhe merecendo o animo murcharem-se em seu tempo os
louros, que já D. João I, D. Afonso V e D. João II neles haviam
colhido. Os africanos diligenciavam por todos os meios afugentar das
ditas terras gente portuguesa, cuja posse eles olhavam como injuria
do seu nome e afronta do seu valor, e por isso o rei de Marrocos
debaixo de disfarçados interesses havia cinco anos se apresentava
para cercar Mazagão, e um exercito, que os historiadores daquele
tempo fazem subir a mais de cem mil combatentes munido de espantosa
artilharia e munições, caiu sobre esta praça, de que era capitão
Rui de Sousa. Este avisou logo a rainha regente de tão extraordinário
acontecimento, e tal foi a sua actividade, tão prontos os socorros
que a praça ficou livre e o inimigo derrotado.
Em
todos os ramos da administração pública se houve a regente com
distinto e prudência, escolhendo ministros activos e
desinteressados, contando-se deste número Gil Eanes, que muito
honrou o seu governo. Premiava os beneméritos, não por afeição,
mas por merecimentos. Foi ela quem promoveu para a mitra primacial
do Braga a D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Tomando à sua conta a
sustentação e ensino dos órfãos, e a instrução do clero,
fundou em Lisboa em 1519, o Colégio dos Meninos Órfãos, dotando-o
generosamente, onde sempre houvesse mestres, que os educassem e os
instruíssem para qualquer estado a que se dedicassem e no convento
de S. Domingos o Colégio Real de N. Sr.ª da Escada, em 21 de julho
de 1572, para o ensino de teologia moral e casos de consciência a
clérigos seculares, estabelecendo rendas para os mestres, e para
trinta colegiais pobres a quem vestia e sustentava, e este
beneficio não só abrangia a doze do arcebispado de Lisboa, mas aos
do reino e suas conquistas. Também construiu o mosteiro de Vale Bem-feito,
da ordem de S. Jerónimo; o de Pedrógão, dos dominicanos; o de S.
Francisco de Faro, a que chamava o seu relicário; a paroquial
igreja de Santa Catarina, de Lisboa, sitiada no alto desse nome,
onde hoje se vê uma propriedade importante. Arrebatada do seu zelo
pela gloria nacional, mandou, por carta de 11 de agosto ele 1560,
que todos os estudantes portugueses, que estudavam nas universidade
de Paris, de Lovaina e Salamanca, se recolhessem ao reino para
seguirem os estudos na Universidade de Coimbra, honrando ainda
deste modo a memória de D. João III, a quem esta academia era
devedora do seu estabelecimento e crescidas retidas. No seu governo
alcançou do santo padre a criação da igreja de Santa Catarina de
Goa em arcebispado, e em bispados as de Santa Cruz, de Cochim, e da
Assunção, de Malaca. D. Catarina foi quem mais concorreu para que
se estabelecesse em Goa a inquisição. No mosteiro de Belém
instituiu também vinte mercearias, e quatro na capela do Santo
Cristo de Sintra.
Oprimida
com o peso do governo quis resigna-lo nas mãos do cardeal D.
Henrique, e nesse intuito escreveu aos estados do reino alegando
suas razões, e pedindo-lhes o houvessem por bem. Entendida a resolução
da rainha, foi geral o sentimento, porque todos desejavam que ela se
conservasse na regência, até que D. Sebastião chegasse à idade
de vinte anos. As pessoas mais autorizadas escreveram à rainha,
mostrando-lhe o seu descontentamento, e entre elas D. Frei
Bartolomeu dos Mártires, em carta escrita em Braga a 7 de janeiro
de 1561; D. Rodrigo Pinheiro, bispo do Porto; e D. Frei Gaspar do
Casal, bispo de Leiria; etc. Algumas destas cartas estão
publicadas. D. Catarina atendendo a tantos e poderosos pedidos e ao
sentimento geral do reino, continuou com a regência por mais dois
anos, e quando estes finalizaram, renunciou o poder no cardeal D.
Henrique. Em D. Sebastião iam-se animando os brios de soldado;
desejava assinalar-se por feitos militares, inclinando-se mais à
guerra, que ao tálamo; no entretanto, maus lisonjeiros tinham
torcido suas naturais e boas inclinações, apoderando-se de tal
sorte do seu espírito, que chegaram a desviá-lo dos conselhos da
rainha, sua avó, que o criara com tanto extremo, que esteve a ponto
de ausentar-se do reino, ficando desde esse tempo abertos os precipícios
em que este infeliz monarca veio a despenhar-se, e com ele toda a nação.
Estes desgostos, a sua avançada idade, e o não poder impedir a
empresa temerária, que seu neto tentara de passar a África, a
traziam envolta em amargos cuidados. Não podendo resistir, e
antevendo as fatais consequências, caiu doente, conservando até ao
ultimo momento de vida tão justa preocupação, e ainda nas ultimas
agonias, dizem, que se lhe percebiam na voz quase extinta, estas
palavras: "Oh! não passe Sua Alteza em nenhum modo à Berbéria,
aconselhem-lhe que não vá, que eu fiz sempre o mesmo; oh! não
passe, que não convém". E na repetição de estas palavras
exalou o ultimo suspiro, mostrando sempre quanto velara pela
conservação do rei e da monarquia.
Foi
sepultada no convento de
Belém. Na Arte de furtar, livro
atribuído ao padre António Vieira, vêm publicados uns curiosos
documentos que são as razões apresentadas por Filipe II de
Castela, querendo legitimar os seus direitos ao trono de Portugal,
contra D. Catarina, e as respostas da rainha, refutando essas razões
com argumentos contra Filipe. Na Historia Genealógica, tomo
IV, e na Memoria das
medalhas de Lopes Fernandes, está reproduzida uma medalha
dedicada a D. Catarina, com a seguinte descrição: CATHARINA
REG. PORTU.
JOANN. III UX.
PHILIPPI, HISP.
REG. FILIA
– Figura da rainha empunhando o ceptro – PUR
CHE MI ADOMBRE – O sol saindo das nuvens.
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Genealogia
da rainha D. Catarina
Geneall.pt
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