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Cunha
(D.
Luís da).
n.
25 de janeiro de 1662.
f. 9 de outubro de 1749.
Célebre
diplomata no tempo de D. João V, comendador da Ordem de Cristo,
arcediago da sé de Évora, desembargador do Paço, enviado
extraordinário às cortes de Londres, Madrid e Paris, e ministro
plenipotenciário de Portugal no congresso de Utreque; académico da
Academia Real de História, etc.
Nasceu
em Lisboa a 25 de janeiro de 1662, e faleceu em Paris a 9 de outubro
de 1749. Era filho de D. António Álvares da Cunha, guarda-mor da
Torre do Tombo, e sobrinho de D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor.
(V. Cunha, D. António Álvares
da). Seguiu muito moço os estudos da Universidade de Coimbra,
onde se graduou na faculdade de direito canónico, e tendo desde
logo mostrado extraordinário talento, foi nomeado em 1686, quando
terminou o curso, desembargador da Relação do Porto, contando
apenas vinte anos de idade, passando depois para a de Lisboa.
Em
1696 foi nomeado embaixador na corte de Londres, em que revelou
exuberantemente a sua grande vocação para a diplomacia. No ano de
1712 recebeu a nomeação de ministro plenipotenciário no congresso
de Utreque, para auxiliar o conde de Tarouca, que já estava
encarregado das negociações da paz. Assinou nesse ano a suspensão
das armas, a que se seguiu o tratado, celebrado entre Portugal, França
e Espanha, que veio a ser assinado em 1715, o qual pôs termo à Guerra
da Sucessão de Espanha. Depois voltou a Londres como embaixador
extraordinário, a felicitar o rei Jorge I, de Inglaterra, pela sua
elevação ao trono, acompanhou este monarca a Hanôver, donde
novamente partiu para Londres. Em seguida foi enviado a Madrid, que
estava sendo governada pelo cardeal Alberoni. Teve graves contendas
com este fogoso ministro, que numa ocasião, por causa duma reclamação
de seiscentas mil patacas que Portugal apresentava, o tratou
injuriosamente, chegando a voltar-lhe as costas. D. Luís da Cunha
procedeu então com toda a energia. Dotado dum fino tacto diplomático,
percebeu que nessa ocasião não convinha à Espanha ter guerra com
Portugal; era no tempo em que o embaixador espanhol em Paris, o príncipe
de Cellamare, conspirara contra o regente, sendo a conspiração
descoberta. A França declarara guerra à Espanha, o marechal de
Berwick invadira as províncias setentrionais da península, e
Alberoni não podia desejar que um exército português o obrigasse
a chamar para as suas fronteiras ocidentais uma parte das forças,
que lhe eram tão precisas nos Pirenéus. Por isso, D. Luís da
Cunha mostrou-se resoluto e exigente, e conseguiu da Espanha pleníssimas
satisfações. Depois foi nomeado ministro plenipotenciário ao
congresso de Cambrai, que não se realizou, e permaneceu em Paris,
até que se viu obrigado a sair, em resultado duma desavença que o
procedimento do abade de Livry, ministro
de França em Portugal, suscitou: o abade de Livry pediu os
seus passaportes, e D. Luís da Cunha pediu logo também os seus, e
foi para Bruxelas, e dali mesmo esteve negociando com o governo
francês para pôr termo a este estado de coisas, o que
efectivamente conseguiu, chegando a um acordo com o marquês de Fénelon,
ministro francês em Haia.
Voltou
então a Paris, onde se conservou até falecer, como ministro de
Portugal naquela corte, sendo encarregado de muitas e importantes
missões, em que sempre se houve com reconhecido zelo e subida
inteligência, pelo que, segundo diz um escritor, os ministros das
outras nações o tinham por oráculo. Paris era a terra da sua
maior predilecção; apreciavam muito o seu elevado talento, e
consultavam-no nos casos difíceis. Mr. Beauchamp dizia que D. Luís
da Cunha era entre os portugueses um
quinto evangelista. O marquês
d'Argenson propôs-lhe uma vez, que alcançasse que Portugal se
apresentasse como mediador para pôr termo à guerra entre a França
e a Prússia. D. Luís mostrou-se muito partidário desta ideia, e
assim o escreveu para Portugal. São muito curiosas as cartas que se
trocaram em 1746 e 1747 entre D. Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão,
a este respeito.
No
meio duma vida agitada e cheia de cuidados, D. Luís não deixou de
cultivar as letras, merecendo entre os seus escritos o primeiro
lugar, as suas Memorias, que
o celebre diplomata ofereceu à Biblioteca Real, as quais são a
história política da Europa durante meio século, que, se
conservam inéditas, e das quais dizem existir um exemplar na Torre de
Tombo, além de outras cópias que ainda ficaram. É curioso,
porém, que de três cópias que se conhecem, uma é em três
volumes, outra em quatro, outra em seis, significando não o diverso
tamanho do volume, mas o serem versões diversas, muitas mais
resumidas que outras. Entre várias cartas de D. Luís da Cunha
entre as quais algumas podem ser taxadas de apócrifas, torna-se célebre
uma que dirigiu a D. José I, sendo ainda príncipe, em que lhe dá
conselhos muito proveitosos para o governo do país, e indicando-lhe
para ministro Sebastião José de Carvalho e Melo. Esta carta
judiciosa recomenda a reforma do exército, da marinha e da
magistratura, a criação da polícia da corte, o fomento da indústria,
a abertura de rios e canais e a tolerância religiosa. Foi impressa
em 1820, com o título de: Testamento politico, ou carta escrita
pelo grande D. Luís da Cunha ao senhor rei D. José l antes do seu
governo; Este documento havia sido publicado no Investigador
português,
e foi depois publicado por António Lourenço Caminha, em 1821,
no seu livro: Obras inéditas do grande exemplar da ciência do
Estado, D. Luís da Cunha a quem o marquês de Pombal Sebastião José
de Carvalho e Melo chamava seu mestre etc. comentadas e consagradas
ao muito alto e poderoso senhor D. João VI
rei do reino unido, etc., tomo 1.º. O segundo tomo não
chegou a publicar-se.
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Testamento
Político de D. Luís da Cunha
O Portal da História
Genealogia
de D. Luís da Cunha
Geneall.pt
Artigo
sobre D. Luís da Cunha
de Júlia Ferreira Furtado Blogue História Lusófona
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