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Daupias (Pedro Eugénio Daupiás, 1.º
visconde e 1.º conde de).
n.
28 de maio de 1818.
f. 25 de janeiro de 1900.
Fidalgo da Casa Real, abastado
proprietário, negociante de grosso trato da praça do comércio de
Lisboa, grande industrial, dono da importante fábrica de lanifícios
no sitio do Calvário, em Alcântara, etc.
Nasceu em França a 28 de maio de
1818, faleceu a 25 de janeiro de 1900. Era filho do 1.º visconde de
Alcochete, Bernardo Daupiás, e de sua mulher D. Maria Vitória
Laurent.
Descendente, por sua avó materna, do
grande industrial francês Jacome Ratton, que no tempo do marquês
de Pombal se estabeleceu em Lisboa, fundador das primeiras fábricas
portuguesas, de papel, de fiação de algodão e seda em Tomar, de
chapéus em Elvas, de louça e vidros ao Calvário, etc. (V. Alcochete,
e Ratton, Jacome). Pedro
Daupias, depois de concluir os seus estudos em Paris, no liceu
Louis-le-Grand, veio para Lisboa, naturalizando-se cidadão português,
apenas chegou à maioridade. Tornando-se, por herança de seus pais,
proprietário da fábrica de lanifícios ao Calvário, em Alcântara,
conseguiu pela sua actividade e elevada competência na direcção
administrativa, que aquela indústria se desenvolvesse e se
engrandecesse, tornando-se a fábrica a primeira do seu género que
existiu em Portugal. Os avultados lucros, que auferia, foram uma
fonte de riqueza para o seu proprietário. Além dos contramestres e
empregados dos escritórios, aquelas oficinas sustentavam centenas
de operários, que eram largamente compensados, e que o conde Daupiás
tratava com estima e consideração. Carácter benfazejo amparava
generosamente a invalidade e a velhice dos seus operários, chegando
a sustentar bastantes anos mais de cem inválidos.
Contudo, apesar da actividade que
empregava na direcção da fabrica, o conde Daupiás pertencia à
mocidade dourada do seu tempo, a que presidia o conde do Farrobo e
os marqueses
de Nisa e de Viana. Ao passo que aguarelava debuxos de casimiras,
que percorria as oficinas, conversando com os contramestres,
informando-se de qualquer eventualidade, procurando sempre aperfeiçoar
a sua industria, governava cavalos nas ruas de Lisboa, e tocava ao
florete na sala de armas os melhores esgrimistas da escola de Petit,
professor de esgrima da Casa Real. O conde Daupiás também se
evidenciou pelo seu génio verdadeiramente artístico, pelo profundo
amor que consagrou a coisas de arte. Foi um desvelado protector de
muitos dos nossos artistas. As suas repetidas viagens a Paris, onde
frequentava assiduamente as casas de venda de objectos de arte, lhe
despertaram ainda mais o seu apurado gosto, e em pouco tempo
adquiriu por intermédio de Goupil, a maior parte dos valiosos
quadros que constituíam as admiráveis galerias, que organizou no
seu palácio. Estas galerias tinham os tectos envidraçados, e eram
iluminadas à noite por uma distribuição de luz de que se não
viam os focos iluminantes, caindo em cheio do velamento do tecto em
penumbra, sobre a superfície das telas. Ali se viam quadros da
escola antiga, de Salvador Rosa, Velásquez, Rembrandt, Van Dick,
Lawrence, etc., e da pintura contemporânea de toda a plêiade do século
passado: Millet, Courbet, Troyon, Goupil, Detaille, Breton, Villegas,
e muitos outros. A colecção compunha-se de mais de quatrocentos números.
Ao fundo da galeria principal havia um estrado, por cima do qual se
alinhavam os canudos dum órgão. Neste estrado se colocava a música
nos grandes concertos, em que se ouviam os professores Rei Colaço,
Viana da Mota, e muitos outros, chegando o ilustre titular a
escriturar em Espanha e a ter permanentemente ao seu serviço um
magnifico quarteto de instrumentos de arco, algumas vezes aumentado
de piano e harpa, além do órgão. Ali se executaram as obras
primas da musica de câmara, as sonatas de Beethoven, as cantatas de
Weber, as oratórias ou as paixões de Bach, as sinfonias, as
aberturas ou as marchas de Mendelson, de Haydn, de Mozart, de
Wagner, etc. Os saraus no palácio Daupiás ao Calvário, eram esplêndidos,
e tornaram-se verdadeiramente celebres, sendo concorridos pela mais
distinta sociedade de Lisboa.
O
conde Daupias casara com uma sua parenta, D. Joana Daupias; fora
agraciado pelo rei D. Luís com o título de visconde por decreto de
2 e carta de 16 de novembro de 1876, sendo mais tarde, pelo referido
monarca, elevado ao título de conde. No ano de 1888 teve o cargo de
vice-presidente da comissão executiva da exposição industrial
portuguesa, com uma secção agrícola, que então se realizou na avenida
da Liberdade. As festas grandiosas terminaram com a morte da
condessa Daupiás, sucedida a 18 de julho de 1892. Sobrevieram então
grandes amarguras para o opulento titular, seguindo-se um processo
de partilhas, e com ele o aresto por sentença provisória de todos
os bens do conde Daupiás, que o levaram ao desespero do suicídio.
Em 25 de janeiro de 1900 encerrou-se serenamente no seu quarto,
depois de percorrer pela última vez as oficinas da sua fábrica e
os arruamentos do seu jardim, e desfechou um tiro de revolver na
cabeça, que mortalmente o prostrou. A sua morte causou a maior
sensação.
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A
colecção do conde de Daupiás
Blogue UTZ de João T. Magalhães
Genealogia
de Pedro Eugénio Daupiás
Geneall.pt
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