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Matias José Dias Azedo
Matias José Dias Azedo

 

Dias Azedo (Matias José).

 

n.      24 de fevereiro de 1758.
f.       11 de fevereiro de 1821.

 

Tenente-general, lente da Academia Real de Fortificação, etc.

Nasceu em Lisboa a 24 de fevereiro da 1758, onde também faleceu a 11 de fevereiro de 1821. Era filho do Dr. Caetano Dias Azedo, natural do Brasil, e de D. Iria, natural de Beja.

Assentou praça em 11 de março de 1780, sendo promovido a 1.º tenente de infantaria com exercício de engenheiro, por decreto de 2 de junho de 1783, e a capitão, com o mesmo exercício, em 10 de dezembro de 1789. Foi nomeado lente da 1.ª cadeira da Academia Real de Fortificação e escreveu um compêndio militar, com o seguinte titulo: Compêndio militar, escrito segundo a doutrina dos melhores autores, para instrução dos discípulos da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho; oferecido ao sereníssimo senhor D. João, príncipe do Brasil; Terceira parte, que trata dos elementos da Táctica, Lisboa, 1796. As partes primeira e segunda desta obra, prometidas para depois, não chegaram a aparecer.

Em 4 de abril da 1795 foi promovido a major, com o mesmo exercício de engenheiro, e em 4 de maio de 1800 a tenente coronel. Estava neste ano governando Campo Maior, quando pelo rompimento das relações diplomáticas entre Portugal e Espanha, o exército espanhol atravessou a fronteira do Alentejo. Um dos primeiros, pontos, a que se dirigiu, foi Campo Maior. No dia 20 de maio de 1801 se apresentou em frente desta praça a 2.ª divisão espanhola, e o seu comandante mandou intimar Azedo para que se rendesse. Não acedendo o governador, começaram os movimentos do exército, e alguns tiros foram dados contra as muralhas nesse mesmo dia, e no seguinte, vindo então a 4.ª divisão comandada por D. Francisco Xavier de Negrete, começaram a estabelecer se os trabalhos e obras necessárias para um cerco regular. A 23 foram feitas novas propostas para a entrega da praça, que tornaram a ser repelidas energicamente, e os espanhóis desesperados pela resistência com que não contavam, dispuseram-se a atacar Campo Maior com todo o vigor. Azedo pediu com instância ao general Forbes que lhe enviasse alguns socorros, mas só muito tarde, e com instruções de se não comprometerem, marcharam alguns homens em direcção à praça sitiada, que ao chegarem perto dela, conheceram que já não podiam entrar, e retrocederam. Depois de enormes estragos causados na vila pelos numerosos projecteis lançados pelas baterias espanholas, voltou um parlamentário do general Negrete. O governador ainda tentou recusar as propostas do inimigo, porém a disposição do povo e o desalento dos soldados o obrigaram a assinar a capitulação, em que se ajustou que a guarnição saísse com todas as honras da guerra, entrando os espanhóis na praça a 7 de junho. Enquanto a maior parte das nossas praças de guerra se rendiam apenas avistavam o inimigo, e o exército fugia em debandada através do Alentejo sem oferecer batalha às tropas inimigas, Matias Azedo resistiu quanto pôde, distinguindo se brilhantemente, por isso o governo o promoveu a coronel em 23 de maio do referido ano de 1801, pelo merecimento, inteligência e valor com que se houve no governo e defesa da praça de Campo Maior. A 3 de julho ainda de 1801 teve a promoção de brigadeiro.

Por ocasião da guerra da península foi em 1809 encarregado das reparações da praça de Almeida, e de dirigir os trabalhos das fortificações de Valença e defesa da província do Minho. Em 7 de julho de 1810 foi promovido a marechal do campo, e a tenente-general em 10 de Julho de 1813. Exerceu então várias e importantes comissões: comandante geral do corpo de engenheiros desde 16 de dezembro de 1810 até ao seu falecimento; inspector do Arquivo Militar em 21 de fevereiro de 1812; encarregado da inspecção das linhas de defesa da capital e da praça de Peniche em 3 de junho de 1814, e novamente em 27 de dezembro de 1816; membro da Junta do Código Penal Militar, por decreto de 17 de maio de 1816, servindo até 20 de fevereiro de 1820, dia em que foi concluído o projecto do mesmo código, mandado pôr em execução pelo alvará de 17 de agosto de 1820; conselheiro de Guerra por decreto de 17 de dezembro de 1817; membro do governo provisório, que foi aclamado a 15 de setembro de 1820, quando se deu em Lisboa a revolução liberal, e depois secretário da Junta provisional do Governo Supremo, desde 1 de outubro desse ano até 26 de janeiro de 1821, em que a junta se dissolveu, por ocasião da abertura das Cortes; inspector das fortificações do reino pela portaria da mesma junta de 1 de janeiro de 1821. Matias Azedo prestou ainda muitos e importantes serviços.

É obra sua o regulamento de 1812; foi ele quem procedeu à organização do Batalhão de Artífices Engenheiros, e dirigiu também a organização duma companhia dessa especialidade, que marchou em agosto de 1817 para o Rio de Janeiro. Matias Azedo foi sepultado no convento de S. Pedro de Alcântara. Deixou um nome respeitável, não só como militar, mas como poeta. José Maria da Costa e Silva, no tomo III das suas Poesias, a pág. 213, cita com expressões de louvor dois volumes de versos inéditos, compostos pelo ilustre general. Impressos, há notícia do seguinte : Na gloriosa e faustíssima aclamação da Rainha Nossa Senhora, Ode, Lisboa, 1777; Himeneu; pequeno drama para se cantar no dia dos desposórios do Il.mo e Ex.mo Sr. José de Vasconcelos e Sousa com a Ill.ma e Ex.ma Sr.ª D. Maria Rita de Castelo Branco; composto improvisamente por Matias José Dias Azedo e Anacleto da Silva Morais e posto em música por Jerónimo Francisco Lima, Lisboa, 1783. Parece terem sido traduzidos por Matias Azedo dos tomos da Arquitectura Militar de Antoni, impressa em 1790 para servir de compêndio aos alunos da Academia Real de Fortificação.

 

Adenda

Foi obrigado, em 5 de dezembro de 1791, a realizar um auto-de-fé privado em 30 de julho de 1792, com abjuração veemente por suspeito na fé e instruído na fé católica com penas e penitências espirituais, condenado pelo crime de pedreiro-livre (maçon). [Arquivo Nacional da Torre do Tombo,Tribunal do Santo Ofício - Inquisição de Lisboa, Processos, 8610]

Foi feito cavaleiro da Ordem de Avis em 2 de março de 1792.

 

 

 

Biografia de Matias José Dias Azedo
O Exército português em finais do antigo regime

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume III, págs.
50-51

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral