Portugal - Dicionário

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D. Dinis I
D. Dinis I

 

Dinis I, o Lavrador e pai das musas portuguesas; 6º rei de Portugal.

 

n.       9 de outubro de 1261.
f.        7 de janeiro de 1325.

 

Nasceu em Lisboa a 9 de outubro de 1261. Faleceu em Santarém a 7 de janeiro de 1325. Era filho do rei D Afonso III, e de sua segunda mulher, D. Beatriz, filha de D. Afonso X, de Castela. 

Nascera, sendo ainda viva a primeira mulher de seu pai, D. Matilde, condessa de Bolonha, de quem se divorciara. Este facto deu causa, depois da morte de D. Afonso III, a grandes discórdias entre D. Dinis e seu irmão D. Afonso, que, apesar de ser filho segundo, se julgava com direito ao trono, considerando D. Dinis como filho adulterino. O papa, porém, tendo absolvido o finado rei, ficara D. Dinis reconhecido e legitimado para todos os efeitos, como filho primogénito e herdeiro do trono. D. Dinis foi um dos monarcas portugueses mais instruídos. Seu pai esmerou-se em lhe dar uma educação superior, dando-lhe bons preceptores e abalizados mestres, como o padre francês Aimeric de Ebrard, seu educador científico, e o padre D. Domingos Jardo, que estudara em Paris, e foi bispo de Lisboa e capelão de Afonso III. Eram dois espíritos altamente esclarecidos, e que muito contribuíram para as reformas e melhoramentos que D. Dinis introduziu no reino, e para o amor que consagrou aos estudos literários. Teve como aios Nuno Martim de Chacim, e Lourenço Gonçalves Magro, descendente de Egas Monis, o célebre aio de D. Afonso Henriques. D. Dinis contava apenas seis anos de idade, quando foi como embaixador a Castela. No fim de longa pendência, ficara o Algarve pertencendo à Coroa portuguesa, tendo, porém, o encargo feudal de enviar a Castela em caso de guerra, cinquenta lanças como preito de vassalagem. D. Afonso III desejava ardentemente livrar o reino deste feudo, e ofereceu-se-lhe um belo ensejo na célebre cruzada que D. Afonso X pensou em mandar contra África. O rei de Portugal mostrou-se muito zeloso em lhe prestar auxílio, armou tropas, dando o comando nominal da expedição ao filho ainda criança. A cruzada não chegou a partir, porém D. Dinis foi enviado a Sevilha, onde residia o avô, que o recebeu com muita afabilidade, e em atenção à visita do neto dispensou Portugal para sempre do tributo das cinquenta lanças. D. Dinis foi o primeiro príncipe português que teve casa própria, que seu pai lhe deu, apenas chegou á puberdade. 

Falecendo D. Afonso III em 1279, subiu ao trono, tendo dezoito anos de idade. Se o espírito do jovem monarca não estivesse tão fortalecido pelo profundo estudo a que se entregara, e pela energia do seu caráter, teria decerto sucumbido às dissidências, e intrigas que logo se desenvolveram. Estava, porém, preparado para resistir à luta. A sua mãe, a rainha D. Beatriz que pretendia ter parte e influencia no governo do reino, falou-lhe em termos respeitosos mas enérgicos, fazendo-lhe sentir que só ele era o rei. A rainha julgou-se ofendida e retirou-se para Castela. D. Afonso, que se pôs em campo conspirando contra o irmão, disputando-lhe o trono, alegando os direitos conforme dissemos, obrigou-o a fugir também para Castela, logo que descobriu que se preparava para a revolta. Os prelados que tinham partido para Roma por conflitos com D. Afonso III intrigavam e procuravam levantar no reino a agitação religiosa, nesse tempo bem terrível. Sobre Portugal pesava então um interdito, o que naquela época era uma arma terrível. O povo, privado dos sacramentos e dos ofícios divinos, não podia consolar-se. A cúria romana para o fazer cessar, exigiu que D. Dinis respeitasse as imunidades do clero ainda as mais absurdas, e D. Dinis que lhe convinha a paz religiosa, discutiu quanto pôde as condições da concordata, que finalmente concluiu com o papa Nicolau IV em 1289. Na concordata prometia muito, mas não cumpriu nada. Os prelados quiseram revoltar-se de novo, mas encontraram mão firme a doma-los. Contudo, D. Dinis era essencialmente justo. Se, pondo em vigor as leis da desamortização ou não amortização, que os seus antecessores tinham promulgado e que ficaram sendo letra morta, obrigou o clero a não conglobar na sua propriedade a maior parte das terras do país, por outro lado protegia a Igreja contra os vexames e as exigências injustificáveis da nobreza. Com essa foi D. Dinis também enérgico, e pode dizer-se que lançou o cimento do poder real, firmando-se no povo que protegia contra as violências e avidez da fidalguia. 

Restringindo os privilegies que abusivamente os nobres iam conquistando, obrigando os a restituir à Coroa muitas terras de que se haviam apoderado, percorrendo amiudadas vezes o reino de um extremo ao outro, vendo tudo com os próprios olhos, inquirindo tudo diretamente, recebendo as queixas de todos e a todos atendendo, robusteceu no animo do povo a ideia da força e do valimento do braço régio, e costumou todos a considerarem o rei colocado numa esfera superior, e que aos outros não era dado atingir. D. Dinis casou em Trancoso a 24 de junho de 1282 com a princesa D. Isabel, filha de D. Pedro, rei de Aragão, virtuosíssima senhora, que a Igreja mais tarde canonizou, em 25 de maio de 1625, e que tanto ilustrou o trono português. Depois da morte de D. Afonso X, declarou-se a guerra civil em Castela, que tantos estragos causou. D. Afonso, irmão de D. Dinis, juntamente com sua mãe, declarou guerra ao novo rei castelhano D. Sancho IV, e este queixou-se ao rei de Portugal, o qual deveras irritado, foi por cerco a Arronches, onde estava o irmão, acompanhando-o no cerco o rei D. Sancho IV; a resolução desta luta seria funesta para D. Afonso, se não interviesse a santa rainha D. Isabel, que conseguiu abrandar a cólera de seu marido, e move-lo a favor do irmão. D. Dinis granjeou, principalmente, grande prestígio pelo seu alto sentimento de justiça e probidade.

Quando o papa aboliu a ordem do Templo e lhe confiscou os bens, D. Dinis protegeu energicamente os templários portugueses, e obteve a criação da Ordem militar de Cristo, para onde transferiu todos os freires da ordem abolida, cedendo-lhe todos os bens que pertenciam aos templários. Procurou desenvolver os recursos do país, que até então quase se ocupava somente de guerras; a agricultura mereceu-lhe a mais seria atenção, e a isso deveu o cognome de rei lavrador, que a história lhe conferiu. As terras que a Coroa possuía no Alentejo eram cultivadas com esmero, e essas possessões tratava de as aumentar o mais possível, já confiscando vilas e cidades a seu irmão rebelde, já trocando terras do norte com o arcebispo de Braga, por terras que este possuía ao sul. Absteve-se o mais possível de fazer doações de terras aos fidalgos, que a maior parte das vezes julgavam indigno da sua hierarquia cuidar do amanho das terras. Aos municípios doava terras com facilidade, impondo-lhes quase sempre a obrigação de as melhorarem. Ao mesmo tempo cuidava de repovoar o reino devastado pelas sucessivas guerras. Fortalecia cidades e vilas com castelos e muralhas como Braga, Porto, Miranda, Guimarães, Óbidos, e muitas outras, edificou, ou reformou como se edificasse, quarenta e quatro vilas; concedia forais com os maiores privilégios, desenvolvendo verdadeiramente uma atividade espantosa. Promoveu a exploração de minas, mandando trabalhar em algumas, dando minas de ferro a um empresário com obrigação de dar à Coroa a quarta parte do minério. Para desenvolver o comércio ratificou antigos tratados, e contraiu outros com a Inglaterra; criou a marinha portuguesa, mandando vir de Génova marinheiros e oficiais para ensinarem os nossos marinheiros; mandou plantar o pinhal de Leiria, corno prevendo a necessidade que, no futuro teriam os reis seus sucessores para as armadas, com que conquistaram tão largas possessões da África, da Ásia e da América. 

Ocupou-se com o maior desvelo da instrução pública, em que até ali ninguém pensara, e fundou cm Lisboa a universidade, no ano de 1290 (V. Coimbra, Universidade de), que em 1307 transferiu para Coimbra. O mosteiro de Odivelas também foi obra deste monarca, e ali ficou sepultado em túmulo, colocado numa das capelas, que é urna das preciosidades que existem no convento (V. Odivelas). Instituiu em 1299 no palácio da Alcáçova, no castelo de S. Jorge de Lisboa, a capella real dedicada a S. Tomé, com capelões e músicos para serviço do coro (V. Capela Real). Fez muitas doações a todas as ordens militares de Portugal, e a muitas das igrejas catedrais, a particulares e conventos. Dizem que D. Dinis dispensou grossas quantias com a sua jornada a Castela, e antes dela, nas guerras civis, que o rei D. Fernando IV, casado com sua filha D. Constança, teve no seu reinado, a quem deu um milhão de cruzados, que naquele tempo era uma soma considerável. Na guerra que o referido monarca sustentou contra Granada, o auxiliou com setecentos cavalos, À ordem de D. Martim Gil de Sousa, seu Alferes-mor, e com dezassete mil marcos de prata. Conservava sempre nas costas do Algarve um bom número de galés, para impedir os assaltos dos mouros, que então eram frequentes. Todas estas despesas extraordinárias não causaram o menor vexame aos povos. Tal era a abundância que se notava no reino, e tanta a riqueza que lhe tributavam as minas e as areias. Das do rio Tejo se coibia naqueles tempos grande quantidade de ouro, do qual mandou D. Dinis lavrar uma coroa e cetro de grande valor. 

Nos últimos anos da sua vida sofreu grandes desgostos com o príncipe D. Afonso, seu filho e herdeiro do trono. D. Dinis era muito afeiçoado a empresas amorosas, que lhe haviam dado bastantes filhos naturais, o que D. Afonso não podia tolerar receando que repartisse com eles os bens da Coroa, com que conseguira aumentar as suas possessões patrimoniais. O que mais o irritava era o afeto que D. Diniz consagrava a seu filho D. Afonso Sanches, filho de D. Aldonça Rodrigues Telha (V. Afonso Sanches). A irritação subiu de ponto, que se transformou em revolta. D. Afonso pegou em armas contra seu pai, acendendo em Portugal a guerra civil. Os tumultos começaram em 1314, mas foram serenados por intervenção do papa Em 1319 rebentaram novos tumultos, dando-se então um triste espetáculo. O filho e o pai percorriam o reino devastando-o, em guerra aberta e feroz. D. Dinis, preocupado com tantos desgostos, zangou-se com sua mulher, que julgou cúmplice do filho, e exilou-a para Alenquer. A santa rainha tudo sofreu resignada, mas apenas teve ensejo, correu a Coimbra, onde se ia travar uma sangrenta batalha entre os exércitos beligerantes, e tanto insistiu com as suas palavras bondosas e persuasivas, que pôde conseguir conciliar o pai e o filho, terminando assim a guerra civil. Pela terceira vez se acenderam as discórdias, em 1323, e já os exércitos inimigos se dispunham a começar o combate, próximo de Lisboa, junto ao campo de Alvalade, hoje Campo Grande, quando a santa rainha de novo apareceu, a pacifica-los (V. Campo Pequeno). Ainda houve em Santarém umas pequenas discórdias, que não tiveram seguimento, por ter D. Afonso Sanches, causa de todas estas revoltas, partido para Castela, a pedido de seu pai. 

Tantas e tão repetidas comoções abalaram muito a saúde de D. Dinis, que adoeceu gravemente em Lisboa. Procurando dar-lhe alguns alívios, transportaram-no para Santarém onde faleceu. A sua morte causou geral consternação; povo, nobreza e clero, durante a doença, enchiam as antecâmaras ansiosos de noticias. Foi um verdadeiro luto nacional; sucumbia o pai da pátria, como todos lhe chamavam. D. Dinis não foi somente o protetor da instrução pública, o fundador da Universidade, o criador da marinha, foi também o primeiro poeta português, na frase dum douto historiador, que modulou na nossa língua ainda balbuciante os ecos das canções provençais. 

O Cancioneiro, que encerra as suas poesias, ó o primeiro monumento da nossa literatura. Há uma edição publicada em Paris, em 1847, na casa de J. P. Aillaud, com o seguinte título: Cancioneiro d'El-rei D. Dinis, pela primeira vez impresso sobre o manuscrito da Vaticana, com algumas notas ilustrativas, e uma prefação literária, pelo dr. Caetano Lopes de Moura. No Dictionnaire historico artistique du Portugal, do conde Raczynski, a pág. 66, lê-se o seguinte: "O arquivo da Torre do Tombo possui dois selos do rei D. Dinis. Um encontra-se preso a um contrato de troca de bens com o mosteiro de S. João de Tarouca (Casa da Coroa, gaveta 14, maço 1); o outro, as cartas de doação em favor do infante D. Afonso (Casa da Coroa, gaveta 14, maço 3)." Raczynski fala também em diferentes moedas cunhadas no tempo de D. Dinis, como a dobra cruzada, o forte, o meio forte, e a libra em prata. Faz notar, principalmente, uma que diz ser do tamanho aproximado de uma moeda de um franco, que tem no anverso as quinas e a legenda: Dionisi, regis Portugaliae et Algarbi; no reverso, a cruz e a legenda: Adjutorium nostrum in nomine Domini qui.fecit celum et terram.

 

 

 

 

Biografia e genealogia de D. Dinis
O Portal da História

 

 

 

 

 


 
Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume III, págs.
67-69.

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