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Ficalho (Francisco José de
Melo Breyner Teles da Silva, 1.° conde de).
n.
17 de Outubro de 1781.
f. 25 de Agosto de 1812.
Veador da princesa D. Maria Benedita,
filha do rei D. José, e irmã da rainha D. Maria I; alcaide-mor das
vilas de Alcanede e Pernes, comendador de Alcanede na Ordem de Avis;
5.º senhor da Vila Verde de Ficalho e do morgado da vila de Serpa;
comendador das comendas de S. Martinho, de Pinhel, de Santa Maria
Via-Todos, e de S. Pedro, de Gouveias, todas na Ordem de Cristo;
tenente-coronel no regimento de infantaria n.º 8, etc.
Nasceu a 17 de outubro de 1781, faleceu
em Salamanca a 25 de agosto de 1812. Era filho de António José de
Melo, 4.º senhor de Ficalho, alcaide-mor das vilas de Alcanede e
Pernes, comendador das comendas acima citadas; cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, etc. (V. Melo, António José), casado com
D. Maria Margarida Xavier de Lima, filha dos 1.os
marqueses de Ponte de Lima.
Seguindo como seu pai a carreira das
armas, o conde de Ficalho era major de Infantaria n.º 13 em princípios
do ano de 1810; e tendo-se demorado sem licença em Lisboa, e
alegando para justificar essa falta que estava doente, o marechal
Beresford mandou-o prender, obrigou-o a pedir a demissão, mandando
publicar na ordem do dia de 19 de janeiro do referido ano, a
seguinte declaração : «Que a perda para o exército duma pessoa
que desejava deixar o serviço, quando todo o reino era chamado a
ele para se opor ao inimigo, como fazia o Ill.mo e Ex.mo
Sr. Francisco de Melo, não seria lamentada pelos oficiais e
soldados portugueses assim como o não era por forma alguma por ele
marechal, que desejava tirar do exercito pessoas que em um tempo
tal, podendo passear e frequentar os teatros, se achavam somente
incapazes para fazer face ao inimigo do seu príncipe e da sua pátria.»
Este áspero procedimento do marechal ocasionou grandes queixas do
marquês das Minas, que sendo próximo parente de Francisco de Melo,
e um dos governadores do Reino, se julgou tão agravado, que nunca
mais voltou ao conselho. As reclamações foram levadas até ao príncipe
regente, D. João, que estava no Brasil, mas o príncipe deu razão
ao general inglês, que para introduzir a disciplina no exército, não
atendia à posição nem à ligação dos indivíduos que ele
julgava merecedores de censura ou de castigo. O brioso fidalgo,
julgando-se ferido na sua honra, querendo desafrontar-se, foi
assentar praça de voluntário, e de tal modo se portou, que o
comandante em chefe no dia 6 de junho de 1811, publicou uma ordem do
dia especial para louvar aquele que pouco mais de um ano antes tão
asperamente acusara. Essa ordem do dia diz o seguinte: S. Ex.ª o
Sr. marechal deseja que o exército se lembre da ordem do dia de
19 de janeiro de 1810. S. Ex.ª deu então esta ordem convencido de
que era justa e que convinha ao serviço de S. A. R. o príncipe
regente nosso senhor, porém agora sente a maior satisfação em a
fazer lembrar ao exército para dissipar toda a impressão desfavorável
que ela possa ter produzido no carácter e honra do oficial que fez
o seu objecto, o Ill.mo e Ex.mo Sr. Francisco
de Melo. O Sr. marechal tem depois testemunhado, ele mesmo, os
desejos deste fidalgo de servir o seu príncipe, apesar do estado da
sua saúde, que tendo-o muitas vezes obrigado a deixar o exército,
tem sempre voltado para ele o mais depressa que lhe tem sido possível;
ele se tem mostrado digno em todo o ponto de vista da aprovação do
Sr. marechal, e finalmente sendo ferido em Albuera, apesar disso não
deixou o campo da batalha. O Sr. marechal julga ser uma justiça
devida à pessoa de que fala na dita ordem e à nação retractar-se
de quanto esta disse não só em consequência das provas em contrário
que depois tem tido, como também pelo merecimento da pessoa de que
falou; e em semelhantes casos S. Ex.ª sentirá sempre grande prazer
quando tiver de retractar-se. O Sr. marechal não faltará a
recomendar a S. A. R. se digne restabelecer o Ill.mo e
Ex.mo Sr. Francisco de Melo no posto e antiguidade que
tinha, como se não houvesse saído dele. O Sr. marechal não pôde
deixar de sentir o mau estado de saúde deste fidalgo, pois que
muitas vezes tem sido testemunha dos terríveis efeitos que o
impedem de servir com o ardor e constância que deseja.» A reparação
era sem dúvida completa, mas Francisco de Melo tinha sido
profundamente ferido nos seus brios militares, e só julgou o seu
brasão limpo da mancha que Beresford lhe estampara, quando
atravessado pelas balas do inimigo caiu à frente do regimento de Infantaria
n.º 18, de que então era coronel, na batalha no campo dos Arapiles,
em Salamanca.
O
título de condessa de Ficalho havia sido dado em 25 de abril de
1769 a D. Isabel Josefa Breyner, mulher de Francisco de Melo
Breyner, 3.° senhor de Vila Verde de Ficalho, a qual havia
enviuvado, e que desde novembro de 1755 era dama de honor do Paço,
e acompanhou em 1778 a rainha viúva de D. José, D. Mariana Vitória,
como camareira-mor, quando foi à corte de Espanha visitar seu irmão
Carlos III. D. Isabel Breyner era avó de Francisco de Melo, e o título
de conde foi renovado em seu favor. O conde de Ficalho casou em 22
de setembro de 1803 com D. Eugénia de Almeida, filha dos 3.os
marqueses de Lavradio, camareira-mor da rainha D. Maria II, antiga
dama de honor do Paço, dama da ordem de Santa Isabel. Deste consórcio
houve os seguintes filhos: D. Maria Margarida, que foi dama de honor
das rainhas D. Maria II, D. Estefânia e Senhora D. Maria Pia, e
casou com D. Tomás de Assis Mascarenhas, 4.° filho dos 4.os
condes de Óbidos. - António de Mello, o 1.º marquês de Ficalho
Luís de Melo, foi o 2.º conde de Sobral, casado com D. Adelaide
Braamcamp de Almeida Castelo Branco, dama da rainha D. Maria II,
filha primogénita e herdeira do 1.° conde de Sobral. - José de
Melo, cavaleiro da ordem de S. João de Jerusalém, casado com D.
Maria Antónia Cândida da Costa Zagalo, filha e herdeira de José
Maria da Silva Zagalo, morgado e proprietário na vila de Estremoz,
Elvas, etc. - Francisco de Melo, que foi o 2.° conde de Mafra,
ajudante de campo de el-rei D. Fernando II, general de brigada, etc.
(V. Mafra).
A
condessa de Ficalho viúva, D. Eugénia de
Almeida, foi uma heroína. Num artigo, publicado no Occidente de
1893, vol. 16.° pág. 107, diz D. João da Câmara, falando desta
ilustre senhora, referindo-se à partida dos seus filhos para as
campanhas da liberdade: «A condessa de Ficalho chamou os filhos e
mandou-os partir. Despediu-se deles no oratório. - «Meus filhos: Só
Deus dá a virtude, e o valor é uma virtude. Peçam a Deus lhes dê
valor.» - Os filhos ajoelharam em frente do altar e a condessa orou
com eles. Depois levantaram-se e vieram beijar-lhe a mão. Nem uma só
linha se moveu naquele rosto, nem um calafrio passou por aquele
corpo; aquelas entranhas, que haviam dado vida àqueles que ela
talvez mandava agora para a morte, ninguém diria que houvessem
estremecido. Eles beijaram-lhe a mão e saíram. Quando, minutos
depois, os criados entraram no oratório, a condessa de Ficalho
estava desmaiada sobre os degraus do altar, hirta, vencida enfim,
mas tarde, para que os outros a não vissem, os outros que tinham de
vencer. Cruelmente pagou no cárcere o seu egoísmo». A condessa
foi encerrada no convento de Carnide, e as freiras, desmoralizadas
pelo fanatismo político, tratavam-na com barbaridade, dirigindo-lhe
sempre insultos. A infeliz senhora sofria resignada, naquele martírio
que durou longos meses. De tempos a tempos conseguia saber notícias;
de que os filhos ainda viviam. Estas notícias eram dadas por um
santo padre, que, para as freiras não desconfiarem, as envolvia em
blasfémias e impropérios. Quando em 1833 o marquês de Ficalho,
entrou em Lisboa com o duque da Terceira, correu logo a Carnide a
libertar sua mãe, daquele terrível flagelo. Dias depois de
recuperar a liberdade, a infeliz senhora, em cumprimento duma
promessa, subia descalça a calçada da Graça. Os curiosos
apinhavam-se, o povo cumprimentava-a com respeito, e diziam uns para
os outros; «Deixem passar, é a mãe dos Ficalhos». A rainha D.
Maria II deu-lhe o título de marquesa, no referido ano de 1833,
elevando-a a duquesa, por decreto de 14 de maio de 1836. A duquesa
de Ficalho nascera a 22 de setembro de 1784, e faleceu a 2 de janeiro
de 1859.
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