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Franco
Pinto Castelo Branco
(João Ferreira).
n.
14 de Fevereiro de
1855.
f. [
4 de abril de 1929
].
Estadista contemporâneo, actualmente
presidente de conselho de ministros, ministro e secretário de
Estado dos Negócios do Reino; conselheiro de Sua Majestade e de
Estado.
Nasceu no Alcaide, concelho do Fundão,
em 14 de Fevereiro de 1855.
Formou-se em Direito na Universidade
de Coimbra em 1875. Entrando na carreira administrativa, tem
desempenhado e servido os seguintes cargos, os quais conquistou em
concurso, por provas públicas, com a classificação de distinto:
Delegado do procurador régio nas comarcas de Sátão, Baião,
Alcobaça, e Lisboa (2.ª vara) desde Janeiro de 1877 a Janeiro de
1885; chefe de serviço na administração geral das alfândegas
desde Outubro de 1885 a Novembro de 1886; Administrador geral,
interino, das alfândegas
desde Fevereiro de 1886 até Dezembro do mesmo ano; auditor do
tribunal do contencioso fiscal aduaneiro, lugar para que foi
despachado em 1886 e cujo exercício muito aprecia. Logo nos bancos
da Universidade se salientou pela vivacidade do seu espírito e pela
energia do seu carácter, qualidades armadas mais tarde nas lutas
partidárias, que lhe deram o papel importantíssimo que hoje
desempenha na política portuguesa.
Foi eleito a
primeira vez deputado em 1884 pelo círculo de Guimarães, que só
deixou de representar em Cortes quando as circunstâncias
contrariaram os propósitos dos seus eleitores. Sendo então
incompatíveis o lugar de delegado e o cargo de deputado, optou por
este, perdendo o que tinha na magistratura judicial. Pouco depois da
sua eleição travou-se o conhecido conflito entre Braga e Guimarães,
e foi com a maior energia que advogou a causa da cidade que lhe dera
os seus sufrágios. A luta durou mais de um ano e prendeu bastante
as atenções do país. Então se manifestaram bem claramente o
talento e o carácter do deputado de Guimarães, o qual recebeu
calorosas manifestações de simpatia dos seus eleitores. Na sessão
legislativa de 1857 proferiu diferentes discursos notáveis,
apreciando as mais importantes questões, tanto políticas e
administrativas como económicas e financeiras. Podem citar-se os
relativos à Outra metade, porto de Lisboa, porto de Leixões,
pauta das alfândegas, etc. Combatendo vivamente o gabinete
progressista, que esteve no poder de 1886 a 1890, não tardou o seu
nome a ser indicado para fazer parte do primeiro ministério que o
partido regenerador organizasse.
Em 14 de
Janeiro de 1890 foi efectivamente chamado aos conselhos da Coroa,
sendo-lhe confiada a pasta da Fazenda, no ministério presidido por
António de Serpa Pimentel, que substituíra o gabinete
progressista, da presidência do Sr. José Luciano de Castro. Ao fim
de oito meses, em 12 de Outubro de 1890, caiu o ministério, e então
publicou o célebre relatório sobre o estado em que se encontravam
as finanças do país, documento que provocou as mais vivas discussões.
Em 1891 tendo sucedido à situação progressista o gabinete
presidido pelo general João Crisóstomo de Abreu e Sousa, novamente
ascendeu aos conselhos da Coroa. Foi-lhe desta vez confiada a pasta
das Obras Públicas, que geriu desde 21 de Maio de 1891 até 14 de
Janeiro de 1892, data da queda do ministério. São desta época as
reformas dos Institutos e escalas industriais e agrícolas, e várias
medidas promulgadas a fim de promover o desenvolvimento industrial e
económico. Entre outros diplomas, apresentou ao parlamento o da
criação dos privilégios de introdução de novas indústrias,
que, não chegando então a ser convertido em lei por ter caído o
ministério, foi depois aproveitado e tornado lei do país, por
decreto de 1892, ainda em vigor. Inclinado ao proteccionismo, tomou
parte activa na confecção das pautas proteccionistas de 1892,
colaborando, na sua qualidade de presidente da comissão de Fazenda
da câmara dos deputados, com o respectivo ministro, Oliveira
Martins. Foi durante a sua gerência que se inaugurou o caminho de
ferro da Beira Baixa, visitando el-rei o senhor D. Carlos e a rainha
senhora D. Amélia, pela primeira vez como soberanos, as províncias
do norte do país. Desde Julho de 1891 até 16 de Novembro do mesmo
ano foi, também interinamente, ministro da Instrução Pública e
Belas artes.
Na situação política
de fevereiro de 1893 a 1897, geriu a pasta do Reino. Por essa ocasião
decretou as reformas da instrução secundaria, do código
administrativo (1896), da lei eleitoral, estabelecendo as
incompatibilidades e limitando o número de empregados públicos na
câmara, dos regulamentos de sanidade marítima, a lei contra os
anarquistas, a redução das circunscrições concelhias e comarcãs;
etc. Estas e outras medidas e alguns actos de força, como a supressão
das Associações Comercial, e dos Lojistas de Lisboa, a ordem
mandando sair do reino a Salmeron, caudilho republicano espanhol,
provocaram acaloradas discussões e prenderam por muito tempo as
atenções do país. O estadista não afrouxou, porém, na sua acção
governativa e redobrou de esforços para acabar com a anarquia das
classes que no seu entender eram contra a ordem pública. Em Julho
de 1900, na nova situação regeneradora, o Sr. João Franco não
entrou no ministério, e desde logo se julgou que não eram
inteiramente cordiais as relações políticas entre o Sr. Hintze
Ribeiro, chefe do partido regenerador e presidente do gabinete, e o
Sr. João Franco. Na imprensa escrevia-se que não concordando este
estadista com os processos administrativos, seria natural um
rompimento. A cisão começou a evidenciar-se quando, na sessão de
13 de Fevereiro de 1901, o Sr. João Franco proferiu sobre as
concessões no Ultramar um discurso que não agradou ao governo, e
que o presidente de conselho considerou de oposição declarada. Na
sessão de 14 de Maio, o deputado Sr. Malheiro Reimão atacou
vivamente o projecto relativo à contribuição industrial, e no dia
seguinte o Sr. João Franco atacou também esse projecto, explicando
desassombradamente à câmara as razões de ordem política e económica
que o levavam a combater esse projecto.
Estes discursos
causaram viva impressão e produziram os acontecimentos políticos
que tiveram por desfecho a dissolução da câmara electiva, medida
governamental que foi motivo de grandes controvérsias. Revogada
também a lei eleitoral e substituída pela de 8 de Agosto de 1901,
que alterou por completo a anterior, realizaram-se as eleições
gerais, ficando fora da câmara o Sr. João Franco e quase todos os
seus amigos políticos. Estava, pois, consumada a cisão, e iniciada
a existência dum novo grupo político, que tomou o título de
partido regenerador-liberal, ou franquista, derivando esta última
designação do apelido por que é mais geralmente conhecido o seu
chefe. Cinco anos decorridos, as circunstâncias da administração
do país e uma activa propaganda partidária, granjearam ao franquismo
valiosas e numerosas adesões. O contrato dos tabacos e outras questões,
que apaixonaram a opinião pública, inutilizaram os esforços dos
dois partidos, progressista e regenerador, derrubando vários ministérios.
Em Maio de 1906
o país estava cansado de tanta luta e foi forçoso que subisse ao
poder um grupo político, que sem compromissos anteriores pudesse
liquidar e regular as importantes questões pendentes. O novo ministério
ficou composto dos Srs. João Franco, presidente do conselho com a
pasta do reino; Ernesto Driesel Schroeter, fazenda; Luís Cipriano
Coelho de Magalhães, estrangeiros; Aires de Ornelas e Vasconcelos,
marinha; António Carlos Coelho de Vasconcelos Porto, guerra; José
de Abreu do Couto Amorim Novais, justiça; e José Malheiro Reimão,
obras públicas. Até ao momento em que é redigido este artigo o
primeiro ministério regenerador-liberal tem desempenhado o programa
do seu chefe, valiosamente apoiado pelo partido progressista, e
estes dois partidos reunidos formam a denominada concentração-liberal.
Liquidada a questão já irritante dos tabacos com o novo contrato
dos tabacos de Outubro de 1906, dedicou-se o Sr. João Franca à
implantação das suas reformas, apresentando ao parlamento as da
contabilidade pública, da responsabilidade ministerial, de
imprensa, de repressão anarquista, etc., etc.
Sempre usando
da sua proverbial energia tornou memorável na história da nossa
política a sessão de 20 de Novembro de 1906, com a expulsão
violenta do parlamento dos deputados republicanos, Drs. Afonso Costa
e Alexandre Braga. Em toda esta sessão legislativa o Sr. João
Franco tem proferido notáveis discursos, em que bem se mostra a sua
envergadura de estadista, perante as mais acidentadas pugnas partidárias.
Por decreto de 16 de Julho de 1906 foi agraciado com a grã-cruz e
comenda da ordem da Torre Espada, por serviços distintos e
relevantes. A respectiva carta régia é uma prova de elevada estima
e consideração prestada por el-rei.
Em 1905 o Sr.
A. de Almeida Frazão coligiu e publicou em Coimbra um volume de Discursos
políticos do senhor conselheiro João Ferreira Franco Pinto Castelo
Branco.
João
Franco Vidas Lusófonas
João Franco Infopédia
Discurso
do mês: João Franco em 1905 O Portal da História
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