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Henriques de Carvalho (D. Guilherme).
n.
1 de fevereiro de 1793.
f. 15 de novembro de 1857.
Cardeal patriarca de Lisboa. Nasceu
em Coimbra a 1 de fevereiro de 1793; faleceu em Lisboa a 15 de novembro
de 1857. Era filho de José Ribeiro dos Santos e de Ana Joaquina da
Soledade.
Estudou os preparatórios no Colégio
das Artes daquela cidade, matriculando-se depois na universidade em
1808, no primeiro ano do curso jurídico, não tendo ainda
completado dezasseis anos de idade. Forçado pelos acontecimentos
políticos daquela época, que obrigou a fechar a universidade, foi
com outros condiscípulos alistar-se no Batalhão Académico, que se
formara em Coimbra, e ali se conservou tomando parte na guerra da
independência da pátria, até à completa derrota dos franceses em
1814, sendo então dissolvido o batalhão académico. Voltou para a
universidade a continuar os estudos, sendo sempre premiado como
aluno distinto. Feita a sua formatura, doutorou-se em Cânones, a 23
de julho de 1815. Abraçando a vida eclesiástica, ordenou-se de
presbítero, habilitado opositor às cadeiras da sua faculdade,
sendo provido em 1817 numa beca do Real Colégio de S. Paulo, em
Coimbra, celebrando a sua primeira missa a 28 de outubro de 1819. Até
1825, em que foi despachado lente da universidade, teve a principal
parte na administração do referido colégio, e ainda depois o
regeu e administrou por vezes, até 1834, em que pela extinção das
ordens religiosas, o colégio ficou suprimido juntamente com os
outros colégios académicos, mosteiros e conventos. Depois da
revolução de 1820, o Dr. Henriques de Carvalho foi eleito deputado
pela Beira nas cortes constituídas em 1821, sendo então nomeado
para a comissão do código comercial, cujos trabalhos foram
interrompidos pela queda da constituição em 1823. Neste mesmo ano
foi escolhido para fazer parte da comissão encarregada da reforma
da fazenda da Universidade, sendo nomeado em 1824 procurador fiscal
da sua fazenda e estado. Ainda em 1824 tomou posse do cargo de juiz
superintendente das obras do encanamento do Mondego. Em 1825 foi
nomeado lente substituto da faculdade de Cânones com exercício na
cadeira de direito natural público e das gentes, sendo promovido
por antiguidade, em 1830, a lente catedrático com exercício na
cadeira de direito pátrio. Em 1838 foi eleito deputado, exerceu o
cargo de presidente da respectiva câmara, sendo reeleito depois da
dissolução das cortes de 1840. O decreto de 26 de fevereiro deste
ano o nomeou bispo de Leiria, dignidade que primeiro recusou, sendo
depois confirmado e sagrado a 2 de julho de 1843. Em março de 1845,
achando-se doente o cardeal patriarca D. Francisco de S. Luís
Saraiva, foi quem baptizou solenemente a infanta D. Antónia.
Em 9 de maio,
pelo falecimento do cardeal D. Francisco de S. Luís, recebeu a
nomeação de patriarca de Lisboa, sendo confirmada pelo papa Gregório
XVI em 24 de novembro do mesmo ano. O consistório secreto de 19 de
janeiro de 1846 o proclamou cardeal da Santa Igreja Romana,
recebendo o barrete cardinalício na igreja de Belém, em 15 de fevereiro
seguinte, que lhe foi imposto pela rainha D. Maria II, assistindo o
rei D. Fernando, a família real e a corte. Cometeu-se-lhe a
administração da prelazia de Tomar e grão-priorado do Crato,
assim como a dos bispados de Castelo Branco e de Portalegre. Com o
exercício de capelão-mor da Casa Real, que anda anexo à dignidade
de patriarca, reuniu a presidência da Câmara dos Pares, membro do
Conselho de Estado, presidente do Conselho geral de Beneficência, e
de muitas outras comissões, conselhos e juntas extraordinárias.
Era também consultado. muitas vezes pelo governo sobre vários e
importantes negócios estranhos aos seus cargos e dignidades. Em
data de 10 de Setembro de 1853 aprovou o governo o projecto de
estatutos que o cardeal patriarca de Lisboa, D. Guilherme Henriques
de Carvalho, elaborara, autorizando o prelado a mandar
imprimi-los, para regerem provisoriamente o seminário patriarcal,
que ia ser restabelecido em Santarém, sob a invocação de Nossa
Senhora da Conceição. Em 12 do referido mês e ano, o patriarca
fez constar, que no próximo ano lectivo, havia de abrir o Seminário
patriarcal, cujas funções seriam reguladas pelos indicados
estatutos provisórios. Em 1849 o cardeal patriarca estabelecera na
residência patriarcal de S. Vicente de Fora, em quanto se não
abrisse o seminário no seu próprio edifício de Santarém, um curso
bienal de disciplinas eclesiásticas com duas cadeiras. No ano
de 1854, em que ficou definitiva a declaração dogmática da
Imaculada Conceição da Virgem Maria, o cardeal patriarca D.
Guilherme Henriques de Carvalho assistiu em Roma aquela solenidade,
tendo saído de Lisboa a 29 de outubro do mesmo ano. O pontífice
Pio IX recebeu-o com as maiores distinções, e foi o primeiro dos
nossos patriarcas que recebeu em Roma o chapéu cardinalício,
concedendo o papa para a celebração dessa cerimonia o palácio
Quirinal. Durante a sua permanência na Cúria Romana assistiu ao
pontífice na sagração da igreja de S. Paulo, sendo um dos
sagrantes. No dia 21 de dezembro tomou posse da igreja de seu título
cardinalício, que era Santa Maria supra Minervans e do
convento anexo à igreja, que é o principal da ordem dos
pregadores; e funcionou como membro de quatro das sagradas congregações
da Cúria Romana: a dos cardeais interpretes do Sagrado Concilio
Tridentino, a dos Ritos, a do Index, e a dos bispos e
regulares, causando a admiração de todos a sua jurisprudência e
pronta compreensão dos negócios. Saiu de Roma a 18 de abril de
1855, chegando a Lisboa no dia 12 de maio, onde continuou, apesar
das suas muitas ocupações na corte, na visita das igrejas do
patriarcado, da prelazia de Tomar, do grão-priorado do Crato, do
bispado de Castelo Branco, e do seminário de Santarém, que ele
muito estimava. No ano de 1857, tendo recolhido a Lisboa da visita
que fizera ás freguesias do sul do Tejo, foi acometido da
febre-amarela, que então devastava Lisboa, e faleceu na residência
patriarcal. Por medidas sanitárias, adoptadas por causa da
epidemia, foi o seu cadáver conduzido para o cemitério do Alto de
S. João, sendo trasladado em 29 de outubro de 1859 para o jazigo
dos patriarcas, que ele próprio havia estabelecido na igreja de S.
Vicente, junto à capela-mor, do lado do Evangelho.
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