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Hopffer (Francisco Frederico).
n. 22
de setembro de 1799.
f. 20 de abril de 1846.
Medico
contemporâneo. Nasceu em 1828 na
Vila da Praia. Foram seus
pais, o conceituado advogado João José António
Frederico e D. Maria dos Santos Frederico, tendo havido desse matrimónio
seis filhos, dos quais só
vive, contando 79 anos de idade,
o dr. Francisco Frederico Hopffer.
O
apelido Hopffer provém do avô João Frederico de
Hopffer, filho de Cristóvão Augusto de Hopffer,
e Sabina Francisca, da vila de Uffenhein no
Império da Alemanha, neto paterno de João Frederico Erasmo de Hopffer, barão deste mesmo apelido
por diploma de José II, imperador da Áustria. A mãe do médico
descendia de uma família da ilha de
Córsega e era dotada de ânimo
varonil e índole caritativa a tal ponto que a denominaram
a Santa. O dr. Hopffer
cursou a Escola Médico-cirúrgica
de Lisboa, da qual tem diploma com data de 7 de junho de 1852
em que se vê que no ato grande
foi aprovado plenamente com louvor,
e é doutor pela Universidade de
Bruxelas, onde fez exames avec distinction, sendo confirmado este diploma pela Escola
Médica
de Lisboa.
Num opúsculo de 44 páginas que temos presente,
com o título Dr. Francisco
Frederico Hopffer, Antigo Vogal e Secretário do Conselho
de Saúde Naval e do Ultramar, Chefe Reformado
do Serviço de Saúde, lêem-se
os mais honrosos documentos que abonam a capacidade deste
médico, o seu zelo e atividade na sua longa
carreira pública. Por decreto de 5 de abril de
1852 foi nomeado, mediante concurso, facultativo de 2.ª
classe do quadro de saúde da província
de Cabo Verde, e pelo decreto de 31 de março
de 1857 promovido a facultativo de 1.ª classe por merecimento e serviços, preteridos facultativos mais antigos. Esta promoção por distinção
foi a primeira que se deu nos quadros de
saúde do ultramar. Outra promoção também por distinção foi a
que o elevou a vogal do Conselho de Saúde Naval e do
Ultramar, em virtude da proposta
do mesmo conselho, como consta do oficio de 24 de novembro de
1859, dirigido ao ministro da
Marinha e do Ultramar, concebido nos seguintes termos: «Não
havendo atualmente outro cirurgião-mor aposentado ou reformado e
ordenando o § único do supracitado artigo que neste
caso seja chamado um dos facultativos em serviço
no ultramar, que tenha mostrado possuir maior inteligência,
e tenha melhor desempenhado os
seus deveres, o conselho julga dever dar a preferência
ao dr. Francisco Frederico Hopffer, cirurgião
de 1.ª classe da província de Cabo Verde,
por ter habilitações cientificas superiores ás de todos os outros cirurgiões que servem atualmente no
ultramar, por ter feito serviços relevantes durante as
epidemias que assolaram Cabo Verde; pelo que o
conselho o julgou digno de
ser recomendado à Real Munificência de Sua
Majestade, o que fez no ofício que teve a honra de dirigir a
V. Ex.ª em data de 27 de outubro
último, e finalmente porque pelos seus conhecimentos
profissionais, assiduidade no estudo e
capacidade superior, é o facultativo do ultramar mais nas circunstâncias de desempenhar com maior proveito do serviço publico, o lugar que se acha vago no
Conselho de Saúde Naval». Em
seguida a esta proposta baixou o decreto que
diz: «Conformando-me com a proposta que à minha Augusta Presença
fez subir o Presidente do
Conselho de Saúde Naval e do Ultramar, em
ofício de vinte e quatro de novembro último; Hei
por bem Nomear o Doutor Francisco Frederico
Hopffer, Cirurgião de primeira classe da província de Cabo
Verde, para um dos lugares vagos no mesmo Conselho. O
ministro e secretário de Estado dos Negócios da Marinha e
do Ultramar o tenha assim entendido e faça executar.
Paço, em dois de dezembro de mil, oitocentos
e cinquenta e nove. = Rei = Adriano Maurício
Guilherme Ferreri.» Por decreto de 23 de novembro
de 1859 foi o mesmo facultativo nomeado
cavaleiro da antiga e muito nobre Ordem
da Torre e Espada, lealdade e mérito, tendo-se
em consideração os serviços que o agraciado
prestou a bem da humanidade no ano de 1856, no tratamento dos
doentes acometidos da cólera morbos
no concelho de Santa Catarina
da ilha de São Tiago, assim como por ocasião
da epidemia que em 1857, se seguiu àquele
terrível flagelo, socorrendo este facultativo
a uns e outros enfermos, com reconhecida coragem, devoção cívica
e verdadeira caridade. Por
decreto de 8 de maio de 1884 foi o dr. Hopffer agraciado com a
mercê do grau de oficial da
Ordem de S. Tiago, do mérito científico, literário
e artístico, em virtude de proposta fundamentada
nos seus trabalhos científicos de subida
importância, enviados para a exposição colonial
médica de Amsterdão, no ano de 1883 (textual)
— Ofício do conselheiro diretor geral do Ministério da Marinha e
do Ultramar, de 30 de junho de 1884. Por decreto de 13 de outubro
foi o mesmo médico agraciado com a comenda
da Ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo.
No opúsculo já citado, e para o qual remetemos
o leitor, aparecem várias portarias do
Ministério da Marinha e dos governadores de Cabo Verde elogiando os serviços do dr. Hopffer, não
só como facultativo, mas também na qualidade
de administrador de concelho, presidente da
Câmara Municipal, vogal do Conselho, inspetor de instrução primaria, etc.
As
publicações cientificas
que conhecemos deste médico são as seguintes: Relatório sobre a epidemia
da Cólera
morbos, Relatório sobre a epidemia de varíola,
Relatório sobre a
epidemia de gripe. Estes
três relatórios
acham-se estampados na Gazeta
Medica
de Lisboa, n.os,
2, 5, 6, 16 e 17 do ano de 1859.
Apontamentos para a Topografia
Médica da
ilha do Maio, coligidos no ano de 1869. Relatório do serviço de
saúde na Ilha de Santo Antão
com referencia ao ano de 1872. Relatório do serviço
da delegação da junta de saúde na ilha de Santo
Antão respectivo
ao ano de 1873. Relatório
do serviço de saúde pública da Ilha de Santo Antão relativo ao ano
de 1874. Relatório sobre o serviço
de saúde na ilha de Santo Antão com referência
ao ano de 1875. O
governo mandou publicar
estes quatro relatórios que encerram a mais
completa noticia sobre a importante ilha de
Santo Antão e constituem uma Topografia
Medica volumosa
e repleta de mapas diversos. Noticia
sobre Algumas Aguas Minerais da Ilha de
Santo Arado, 1883, Questões Medico Coloniais. Com
este título mandou o governo imprimir um folheto
de 131 páginas, contendo entre outras, as
opiniões do dr. Hopffer acerca de várias questões
medico coloniais. “Resposta ao Quesito: Convém
aconselhar o sulfato de quinina como Preservativo
das Febres paludosas? Da Antiguidade e Valia da Massagem, Carta de
um obscuro medico
setentão em resposta à de um ilustre Medico ultra
octogenário”, Transactions of the Epidemiological Society of
London .MDCCCLXII, Notes on
the epidemy of cholera-morbus at the Island of St.
Iago Cape Verd in 1856 by Dr. Hopffer Read Monday,
Dec. 3.º 1860. A Revolução de Setembro contém
muitos artigos de polémica do dr. Hopffer com o eminente literato e
estadista José da
Silva Mendes Leal e com o talentoso deputado
pela Índia, Francisco Luiz Gomes, sobre administração
colonial.
Por diploma, de 7 de maio de
1874, assinado pelo marquês de Ávila e de Bolama
e José Maria Latino Coelho, secretário perpétuo da Academia Real
das Ciências, teve o nosso
biografado, que então era delegado de saúde
na ilha de Santo Antão, ingresso na mesma
Academia. Medico higienista, foi o dr. Frederico
Hopffer o primeiro propagandista da ciência
que na atualidade é o maior empenho de
todos que se ocupam da nobre missão de prevenir
e combater as doenças. A prova da nossa
asserção aqui está: «Curso
livre de hygiene. Com
o louvável intento de propagar os conhecimentos
indispensáveis da higiene particular e publica
por todas as classes não versadas nas ciências
médicas, abriu o nosso antigo condiscípulo,
amigo e colaborador deste jornal, o dr. Hopffer,
vogal e secretário do Conselho de Saúde
Naval e do Ultramar, um curso de higiene popular,
professado no Centro promotor dos melhoramentos
das classes laboriosas de Lisboa. A importância do assunto, a sua
exposição em estilo
claro, correto e ameno, a oportunidade do ensino de higiene, a autoridade que presta a colocação
oficial do dr. Hopffer, e sobretudo o seu profundo saber, atraíram
às salas do Centro promotor numerosíssima concorrência
de ouvintes, uns para aprenderem
e adquirirem conhecimentos
de diária aplicação, e outros para escutarem
e saudarem o ardente apóstolo da higiene.
É que o dr. Hopffer não é simplesmente um
médico prático, é um médico erudito e conhecedor
das belezas da língua pátria. Durante as seis primeiras lições de higiene, que se tem efetuado,
o ilustre preletor tem-se ocupado das
influencias astrais, mormente da do sol e da lua
sobre o organismo humano e da higiene das casas
particulares, assunto este que pelo interesse que lhe está ligado
fez objeto das três ultimas lições. Foi satisfeita uma grande e urgente
necessidade publica, qual a instituição de um curso de higiene, em
que se vulgarizam noções indispensáveis e que tão desconhecidas são geralmente.
A ideia foi feliz, utilíssima, e a execução
tem confirmado o que era de esperar. O nosso colega assim quis
prestar a esta cidade, aos chefes de família, a todos enfim,
um grande e importantíssimo serviço,
pelo qual se torna credor das nossas felicitações. O curso de
higiene continua todos os
sábados, no palácio do Conde de Almada, ao Rossio. (Gazeta
Medica de Lisboa, n.º
24, de 28 de dezembro de 1868, Redator principal,
dr. Pedro Francisco da
Costa Alvarenga).
O dr.
Hopffer exerceu clinica no ultramar e em Lisboa, sendo considerado médico consciencioso, perspicaz
e hábil. Teve um consultório na calçada
de Santo André, aí pelos anos de 1868, o qual foi o
primeiro consultório medico aberto em Lisboa,
seguindo-se a esse o consultório do dr. Magalhães Coutinho. A concorrência era imensa,
e teve de abrir outro na rua do Ouro a pedido de numerosos
clientes, nesse tempo em que não havia os meios de comunicação de
hoje. Caracter de rija
tempera, de antes quebrar que torcer,
homem robusto, de avultada
força cultivada desde a mocidade pelos exercícios
higiénicos, ainda aos 78 anos é um andejo notável
em Sintra, onde tem casa e onde vai diariamente
com uma pontualidade admirável, acompanhado
de sua malinha, contendo as ilustrações
francesa, inglesa e espanhol, jornais de
medicina e outros. A propósito da força e agilidade do dr. Hopffer aqui fica uma anedota: Foi
em 1839 desafiado por um ilustre oficial do nosso exercito
por causa de uns artigos publicados
na Revolução de Setembro, não
assinados, e de que
tomou plena responsabilidade para todos
os efeitos. Nomeadas as testemunhas pensou-se em que o
desafio fosse à pistola, mas logo se
desistiu, sabendo-se que o dr. Hopffer era um atirador, que durante anos se exercitava atirando
diariamente a ponto tal que lhe não talhava um
tiro a cinquenta passos, sendo o alvo como de costume uma
garrafa. Resolveu-se se efetuasse combate à espada, visto serem
militares os combatentes, embora Hopffer nunca manejasse tal arma familiar a um oficial do estado-maior. Não foram exceptuadas as
estocadas, o que dava ao desafio caracter de suma gravidade.
No dia à hora designada
compareceram os combatentes e as quatro testemunhas, e feitos os
cumprimentos do estilo
deu-se o sinal de principiar o combate, e o nosso biografado avança furioso e de
olhar chamejante para o valente adversário, que
só tinha tempo para aparar as cutiladas vibradas
por mão vigorosa, até que um golpe atirado
à cabeça e caindo sobre a espada que o recebeu,
partiu ao meio a folha, ficando o oficial do
estado-maior desarmado e ameaçado de uma estocada,
de que o livrou a espada de um dos padrinhos,
que rápido desviou a estocada do dr. Hopffer.
Considerou-se dada a satisfação de honra e terminou o
combate quo pôs em risco a vida de um ilustre capitão de
estado-maior, que depois foi
governador civil em Lisboa, ministro da Marinha
e da Guerra, homem inteligente, ilustradíssimo e muito
honrado.
Em
1866 casou com D. Maria Antónia
Bonini Tavares, nascida em 1845,
filha legítima do general José António Tavares
e de D. Gertrudes Magna Tavares, tendo sido um dos valentes que combateram na celebrada campanha do Rossilhão,
donde voltou a Portugal coberto
de glória, servindo depois por muito tempo
no ministério da Guerra. Sua filha, de formosura
não vulgar, teve esmerada educação, que mais fazia realçar a natural elegância da sua estatura
elevada. Do seu consórcio com dr. Hopffer resultaram
cinco filhos: D. Ernestina, casada com
o dr. Félix Romero; D. Clementina, solteira; Frederico
Hopffer, casado e guarda-livros de uma
importante casa comercial; D. Adelaide, falecida
solteira; D. Beatriz, casada com um oficial
da armada real, Manuel Gonzalez Rueda, filho
do médico dr. Rueda. Tem atualmente o dr.
Francisco Hopffer grande número de netos.
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