n. 1271.
f. 4
de julho de 1336.
Infanta de Portugal e duquesa de Borgonha.
Nasceu em Évora a 11 de fevereiro de 1897, faleceu a 17 de
dezembro de 1471. Era filha de D. João I e de sua mulher, a rainha
D. Filipa de Lencastre. Muitos príncipes da Europa a pretenderam
para esposa, e D. Isabel veio a casar com o duque de Borgonha e
conde de Flandres, Filipe IlI, o Bom, que já enviuvara por duas
vezes, um dos mais poderosos soberanos da Europa, corajoso
guerreiro, que conquistou e uniu aos seus estados a Holanda e a
Zelândia.
O dote da infanta era de 150:000 cruzados (60:000:000 réis),
quantia importantíssima naquele tempo. Veio buscá-la a Lisboa uma
esquadra de trinta e nove vasos de guerra, em que vinham os sires
de Roubaix, de Toulongen, de Noyelle e outros fidalgos borgonheses.
Com feliz viagem chegou a esquadra a Bruges, onde o duque a
esperava, e a recebeu, com as maiores demonstrações de amor e
regozijo. O casamento realizou-se em 10 de janeiro de 1429, segundo
diz o padre Francisco de Santa Maria, no primeiro volume do Ano
histórico, pág. 70, e em janeiro de 1430; segundo outros
escritores. As festas foram sumptuosas, como nunca se havia visto
naquele país. Para maior pompa e em honra de sua esposa, o duque de
Borgonha instituiu a nobilíssima ordem do Tosão de Ouro, que só
se confere a soberanos e a pessoas da mais alta nobreza. Na sua
instituição tinha esta ordem trinta e nove cavaleiros, que era o
número de navios de que se compunha a esquadra que viera buscar a
nova duquesa. A ordem milita debaixo do patrocínio e tutela de
Nossa Senhora e do apóstolo Santo André; a sua insígnia é um
cordeiro de ouro, pendente no peito de um colar, formado de fuzis
também de ouro, a que os escritores dão varias significações.
Professaram esta ordem, depois que os estados de Filipe se uniram
aos da casa de Áustria, todos os imperadores da Alemanha, e todos
os reis de Castela, conservando-se nestes últimos a dignidade de
grão-mestre. Professaram também na mesma ordem, em diversos
tempos, vários reis de Portugal, de França, de Inglaterra, da
Escócia, da Hungria, de Nápoles, da Polónia, da Dinamarca, e
quase todos os potentados da Alemanha, e outros muitos senhores da
Europa.
Formosa, enérgica e prudente, D. Isabel mostrou-se digna pelas
suas virtudes e elevada inteligência, de partilhar o destino do
duque de Borgonha, e quando em 1434 o duque foi à Flandres, ficou a
duquesa regendo os seus Estados. Desempenhou-se superiormente deste
espinhoso cargo em circunstâncias difíceis, e desde então tomou
parte importantíssima nas negociações diplomáticas com a
França, Inglaterra, e outras potências. Assistiu ao congresso de
Arras em 1486, promoveu em 1439 a conclusão de um tratado de
comércio entre a Inglaterra e a Borgonha. Obteve a liberdade do
duque de Orleães, que ficara prisioneiro dos ingleses na batalha de
Azincourt em 1415, etc. A vida da duquesa D. Isabel foi uma
sequência de ações nobres, virtuosas e cavalheirescas. Em 1453,
sabendo que a cidade de Constantinopla era tomada pelos turcos,
escreveu com o seu próprio punho a todos os príncipes cristãos,
animando-os a recuperá-la, e oferecendo-se com todos os seus
vassalos para companheira dos trabalhos e da conquista. Carlos VII,
de França, pretendia que os Estados de Borgonha eram seus
feudatários, e lhe deviam pagar tributo, vindo os seus duques
assistir aos parlamentos. O duque defendia a sua soberania, não
querendo reconhecer-se suserano de França. Para impedir um
rompimento que seria fatal aos dois Estados, a duquesa dirigiu-se a
Paris, e com eloquentes palavras persuadiu o rei Carlos VI, que o
pleito se decidisse pelo duelo de dois cavaleiros. O rei aceitou,
nomeando o mais destro e esforçado cavaleiro francês que tinha na
sua corte, e a duquesa de Borgonha escolheu para defensor Álvaro
Gonçalves Coutinho, o Magriço, que voltava triunfante com
os seus onze cavaleiros, dos célebres duelos de Londres. Chegou o
dia do duelo, a que assistiu toda a corte de França, a duquesa, os
respetivos juizes e muita nobreza e povo. No primeiro ímpeto,
partiram os contendores as lanças, e puxando das espadas, Magriço
cortou a cabeça ao seu adversário, vencendo assim o pleito, de que
era esforçado campeador. (V. Magriço). Em 1457 deixou a
corte, e foi habitar no castelo de Nieppe, ao pé de Hazebrouck.
D. Isabel distinguiu-se também pela sua caridade e pelos
cuidados com que tratava os pobres e os doentes Conservou sempre uma
grande afeição pelos Estados de que era soberana e o maior
interesse pelos destinos do seu país natal. Foi por sua
intervenção que passaram a Portugal, e obtiveram concessões de
terras nos Açores, os flamengos que colonizaram aquelas ilhas. A
duquesa teve três filhos, dos quais dois morreram meninos, e o
terceiro foi o célebre Carlos, o Temerário, que sucedeu a
seu pai, e foi o ultimo duque de Borgonha. Sobreviveu três anos a
seu marido, e faleceu com setenta e quatro anos, sendo sepultada no
convento da cartuxa, de Dijon. Da duquesa D. Isabel há uma Carta
autógrafa, que se conservava no Arquivo de Bruges, e cuja
tradução ou cópia foi publicada no jornal O Popular, de
Londres, em 1825, vol. III, pág. 262.