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Isabel Maria (D.).
n. 4
de julho de 1801.
f. 22 de abril de 1876.
Infanta de
Portugal, sendo o seu nome completo D. Isabel Maria da Conceição
Joana Gualberta Ana Francisca de Assis Xavier de Paula de Alcântara
Antónia Rafaela Micaela Gabriela Joaquina Gonzaga de Bragança e
Bourbon. Grã-cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição; dama
das ordens de Santa Isabel, rainha de Portugal, e das Damas Nobres
de Maria Luísa, de Espanha; condecorada com a Cruz Estrelada, da Áustria.
Nasceu em Queluz a 4 de julho de 1801, faleceu em Benfica a 22 de abril
de 1876. Era filha de D. João VI e de sua mulher, a rainha D.
Carlota Joaquina.
Tinha vinte e
cinco anos de idade, quando seu pai, sentindo-se gravemente doente,
pensou em assegurar a governação do reino por uma Regência. D.
Pedro, o herdeiro da coroa, estava no Brasil, que se tornara
independente; D. Miguel em Viena de Áustria; a rainha D. Carlota
Joaquina exilada em Queluz (V. Carlota
Joaquina D.) e não se podia admitir sequer a possibilidade
de se lhe confiar a regência; as filhas mais velhas, D. Maria
Teresa e D. Maria Francisca de Assis, haviam casado com príncipes
de Espanha, e por isso D. João VI nomeou uma Junta de Regência,
pelo decreto de 6 de março de 1826, que seria presidida pela infanta
D. Isabel Maria, e composta do cardeal patriarca eleito, duque do
Cadaval, marquês de Valada, conde dos Arcos e os seis ministros do
Estado. Esta regência prevaleceria enquanto o legítimo herdeiro e
sucessor da coroa de Portugal não dessas providências a tal
respeito. D. João VI faleceu quatro dias depois deste decreto, a 10
de março de 1826, e a infanta assumiu a presidência da junta da
Regência até que seu irmão D. Pedro IV, reconhecido legítimo
herdeiro e sucessor da coroa por seus irmãos e pelas cortes gerais
da nação, resolvesse a tal respeito (Cartas de 6 de Abril e de 12
de Maio de 1826).
D. Pedro, então
imperador do Brasil, por decreto de 26 de abril confirmou e
continuou a instituída Regência, até à instalação da que havia
de decretar na Carta Constitucional, que ia promulgar, Carta que foi
outorgada no dia 29. A 2 de maio abdicou D. Pedro, debaixo de certas
condições, os seus direitos à coroa de Portugal em sua filha, D.
Maria da Glória, futura rainha, e que apenas contava sete anos, a
qual deveria casar com seu tio, o infante D. Miguel. Em Portugal
esperavam-se ansiosamente notícias do Brasil; quando chegou o
embaixador inglês Carlos Stuart, que era o portador da Carta e da
abdicação. Houve grande entusiasmo entre os liberais, que já
principiavam a agitar-se no Porto, e grande despeito entre os
absolutistas, chegando alguns ministros da Regência, que pertenciam
a este partido, a declarar que dariam a sua demissão se D. Isabel
Maria fizesse executar a Carta. Grandes intrigas se seguiram, e o
juramento foi-se demorando, a ponto do general Saldanha fazer uma
representação pedindo que se jurasse imediatamente a nova
constituição do reino. A cerimónia do juramento da Carta
Constitucional veia a realizar-se com toda a solenidade no dia 31 de
julho, perante uma assembleia em que estava legal e legitimamente
representada, não só a nação portuguesa como os diferentes
estados.
A infanta
proferiu com voz firme e convicta estas solenes palavras: «Juro
cumprir e fazer cumprir e guardar a Carta Constitucional decretada e
dada por el-rei o senhor D. Pedro IV, em 29 de abril de 1826, para
os reinos de Portugal e Algarve e seus domínios, tão inteira e
fielmente como nela se contém.»
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D. Isabel Maria |
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No dia 1 de agosto
seguinte corria as mãos de todos os portugueses uma proclamação,
que retemperou o brio nacional, na qual a mesma infanta regente
dizia: «Portugueses; se até agora, como o sabeis, tenho
sacrificado minha saúde por bem da pátria, sacrificarei daqui em
diante a própria vida, se um tal sacrifício for preciso ao bem do
Estado.» (Gazeta de Lisboa, n.º 178, 1826);
porque reacendendo se as pretensões de D. Miguel,
a infanta lhe escrevia 12 de julho de 1826, em termos que, sem
desdizerem afecto fraternal, revelavam contudo o seu entusiasmo pela
causa
da liberdade: «O meu afecto principal é e será sempre cortar
intrigas, unir
a nossa família e tomai-a cada vez mais amável a uma nação
dotada das mais belas qualidades, que em todos os
séculos da monarquia a distinguiram sempre, e que nestes últimos
tempos alguns homens tão
ambiciosos, como perversos, procuraram desorientar e perder. Mas eu
espero (e minhas esperanças não serão baldadas) em Deus, que tão
visivelmente tem livrado estes reinos das maiores e mais horrorosas
calamidades, que há de contundir a impostura, a impiedade e o
crime, e que Portugal há de voltar ainda aos seus antigos séculos
de gloria; principalmente pondo-se em pratica, como espero, e em
rigorosa observância, as sabias determinações do nosso mano e legítimo
rei o Sr. D. Pedro IV, e imperador do Brasil, determinações que têm
recebido o aplauso e aprovação geral da nação, e que só têm
desagradado aos que contavam com a continuação dos inveterados
abusos que pesavam sobre o desgraçado Portugal, e que tanto
afligiam o paternal coração de nosso augusto e lamentado Pai, sem
contudo tomar jamais a nobre resolução de os cortar e
extinguir.” (Gazeta de Lisboa, n.º 163).
E
era assim que as folhas liberais daquela época diziam "A
Infanta Regente pela magnânima franqueza com que tem promovido e
promove as nossas instituições, é hoje o ídolo de todos os corações
verdadeiramente portugueses." Apesar do infante D. Miguel
declarar de Viena de Áustria, que aceitava as vontades de seu irmão,
o partido absolutista, que o reconhecia como seu chefe, continuou a
agitar-se, chegando mesmo a lançar-se no caminho da revolta.
Algumas partidas miguelistas se levantaram em Trás-os-Montes, mas
foram facilmente dispersas pelo general daquela província José
Correia da Serra. Encontraram, porém, fácil guarida em Espanha,
onde o governo absoluto de Fernando Vil não simpatizava com as
medidas liberais introduzidas na legislação portuguesa. Na noite
de 26 para 27 de julho revoltou-se em Bragança o regimento de
Infantaria n.º 24, comandado pelo visconde de
Montalegre, que também teve de se refugiar em Espanha, e a 2 de agosto
em Estremoz o de Infantaria n.º 17, incitado pelo
brigadeiro Maggessi, que teve igualmente de passar ao país vizinho
O ministério nomeado pelo decreto de 1 de agosto de 1826, protestou
contra o procedimento do governo espanhol, que protegia visivelmente
os absolutistas.
Este
ministério era composto por Francisco Manuel Trigoso de Aragão
Morato (Reino), D. Francisco de Almeida Portugal (Estrangeiros),
Pedro de Melo Breyner (Justiça), barão do Sobral (Fazenda), João
Carlos de Saldanha de Oliveira Daun (Guerra), Inácio da Costa
Quintela (Marinha). No dia 5 de outubro revoltou-se o marquês de
Chaves em Vila Real, tendo também de se refugiar em Espanha. No
mesmo dia revoltou-se em Vila Real de Santo António Infantaria n.º
14, um contingente de Caçadores n.º 4, etc., e
esses rebeldes conseguiram até estabelecer uma junta governativa em
Faro, mas não tardaram a ser batidos pelo general Saldanha, que
abafou a revolta. Ao norte, revoltara-se ao mesmo tempo Caçadores
n.º 7, e passava para Espanha; as deserções avultaram
de tal forma, que pôde o marquês de Chaves organizar um exército
com que entrou em Portugal por Trás-os-Montes em novembro de 1826.
cercando Bragança, e marchando sobre Vila Real, onde a marquês de
Chaves erguera também o grito da revolta. Ao mesmo tempo Maggessi
entrava pelo Alentejo, mas o conde de Vila Flor batia-o obrigando-o
a tornar a Espanha. O marquês de Chaves, porém, chegou a ir até
Viseu, o governo espanhol dera-lhe grande força moral, mas o
governo português, autorizado pelas cortes que se tinham reunido em
cumprimento das disposições da Carta; Constitucional, pediu
auxilio à Inglaterra,. que prontamente nos mandou um exercito de
6.000 homens comandado pelo general Clinton, que esteve aqui
puramente como exercito de observação, enquanto o conde de Vila
Flor, prosseguindo nas suas operações militares, destroçava
completamente o marquês de Chaves em Coruche, no dia 9 de janeiro
de 1827. Um instante desanimado, e refugiado na fronteira espanhola,
o marquês de Chaves não tardou a retomar a ofensiva, entrando por
Trás-os-Montes, destroçando o coronel Zagalo em Ruivães, outra
coluna liberal no Minho, e ameaçando o Porto, mas o marquês de
Angeja e o conde de Vila Flor reuniram-se e derrotaram-no
completamente no Prado a 4 de fevereiro de 1827. Teles Jordão,
subalterno do marquês de Chaves, ainda quis renovar a luta, mas,
depois duma curta incursão, os seus soldados revoltaram-se e
obrigaram-no a fugir. Ainda em 30 de abril houve uma sedição
militar em Elvas, que se abafou prontamente, não sem ter havido
combate.
O
pior era a discórdia que reinava no governo; a rainha D. Carlota
Joaquina intrigava, as câmaras não se entendiam uma com a outra,
havia dissidências graves entre os ministros, e a demissão do
general Saldanha foi causa dum motim em Lisboa, e a infanta D.
Isabel Maria adoecera gravemente. Durante este período tinha havido
as seguintes alterações no ministério: por decreto de 6 de
Dezembro de 1826 fora nomeado ministro do Reino Luís Manuel de
Moura Cabral, ministro da Marinha António Manuel de Noronha, e da
Guerra o marquês de Valença; por decreto de 28 de dezembro, fora
para o Reino D. Francisco Alexandre Lobo, e para a Justiça Luís
Manuel de Moura Cabral; por decreto de 9 de junho de 1827, ministro
do Reino visconde de Santarém, Justiça bispo do Algarve, Fazenda o
conde da Lousã, D. Diogo, Estrangeiros o marquês de Palmela; por
decreto de 10 de junho, o marquês monteiro-mor Fazenda e
Estrangeiros; por decreto de 11 de junho, Fazenda António Manuel de
Noronha, e Estrangeiros João Carlos de Saldanha de Oliveira Daun;
por decreto de 17 de junho, Manuel António de Carvalho para a
Fazenda; por decreto de 26 de julho o conde da Ponte, Guerra e
Estrangeiros; por decreto de 5 de setembro: Carlos Honório de
Gouveia Durão, Reino e Marinha; por decreto de 7 de setembro, José
Freire de Andrade, Justiça; por decreto de 13 de setembro, Cândido
José Xavier, Guerra e Estrangeiros. D. Pedro IV receando algum
sucesso fatal, resolveu confiar o lugar-tenente do reino a seu irmão
D. Miguel. Em Viena de Áustria haviam-se celebrado em 29 de outubro
de 1826 os esponsais da rainha D. Maria II com seu tio, por procuração
que dera ao barão de Vila Seca, ministro plenipotenciário do
Brasil junto da corte de Viena. D. Miguel apressou-se a partir de
Viena de Áustria para Lisboa, onde chegou a 22 de fevereiro de
1828, vindo a bordo da fragata portuguesa Pérola.
A
infanta D. Isabel Maria entregou a regência do reino a seu irmão,
que oficialmente a assumiu no dia 26 do referido mês de Fevereiro
perante as cortes gerais, renovando o juramento de fidelidade ao
legitimo monarca e à Carta Constitucional. Durante todo o governo
do infante D. Miguel, e depois de D. Maria II, conservou-se a
infanta D. Isabel Maria entregue à vida privada no seu palácio de
Benfica, afastada completamente da política. Em 1834 ainda
reapareceu mostrando-se muito afeiçoada a D. Miguel. Depois
dedicou-se ás praticas religiosas, indo algumas vezes a Roma
visitar o santo padre sujeitando-se à influencia dos padres, dos
lazaristas, das irmãs de caridade, e afinal dos missionários
irlandeses, a quem legou a maior parte da sua fortuna, o que
promoveu o maior desagrado na opinião pública. No Diário
Ilustrado de 26 de abril de 1876 vem publicado o seu testamento.
D.
Isabel Maria de Bragança, infanta de Portugal
Geneall.pt
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