n. [ 14 de setembro de
1865 ].
f. [ 26 de dezembro de
1956 ].
Capitão tenente da Armada; ajudante de ordens do rei D.
Carlos.
Prestou muitos serviços em Moçambique, durante as suas
estações, quer como comandante do vapor Auxiliar e da
canhoneira Sabre, quer como governador da companhia das Pérolas
e delegado da de Moçambique.
Em 1891 foi nomeado secretario do comissário régio, o falecido
conselheiro António Enes, que acompanhou durante este ano,
regressando a Lisboa em dezembro. Pouco depois voltava a África
como governador da companhia das Pérolas, e no desempenho desse
cargo trabalhou dedicadamente, muitas vezes com iminente risco, por
teimar em visitar o fundo da baía, mesmo com um escafandro
apodrecido, que se enchia de água rapidamente. Entregue o resultado
dos seus trabalhos, foi requisitado para prestar serviços na
companhia de Moçambique, comissão de que se desempenhou com o
maior zelo e competência. Anteriormente já muito se distinguira na
parte que tomou no apresamento de pangaios negreiros e na ocupação
do Tungue; no levantamento e balizagem que fez do canal de entrada
dos rios Pungue e Búzi; no reconhecimento da baía e bancos
madrepóricos do arquipélago de Bazaruto, no estudo do curso do rio
Chinde até á sua confluência com o Zambeze, comissões que lhe
mereceram recompensas honoríficas. Em 1895, quando os indígenas
cercaram esta cidade, desfeiteando os portuguesa e pondo em risco a
nossa soberania, o comissário, António Enes, encontrava-se em
situação crítica por falta de vapores que pudessem navegar pelo
rio Incomáti, única via de penetração para o interior.
Ofereceu-se para a empresa o então segundo tenente lvens Ferras,
comandante da canhoneira Sabre, e o tenente Caçador,
comandante da Carabina, pequenas embarcações destinadas à
navegação em águas mansas. E lá vão os dois destemidos oficiais
de marinha afrontar as ondas revoltosas, como se encontram no canal
de Moçambique. A lancha canhoneira Sabre é um joguete das
águas que a cada passo tentam submergi-la; os balanços são tais
que a guarnição quase toda cai extenuada, ficando apenas os três
fogueiros, um marinheiro e o comandante lvens Ferraz, que passa
horas e horas ao leme e descansa, amarrado ao mastro para não
encontrar fácil sepultura no mar: chuveiros constantes e
cerrações, numa aberta das quais reconheceu Ivens Ferraz estar
próximo da Beira. E entrou-a, porque a balizara anos antes, mas
quase às cegas, acertando por instinto com a primeira bóia e as
outras, sucessivamente; as duas lanchas vão fundear próximo do
alteroso paquete inglês Madura, que estando prestes a sair, mas
receoso do mar, se meteu em bóias; pois se os pequenos barcos
portugueses podiam afrontar os vagalhões e as tempestades, o
paquete, com as suas 8000 toneladas e máquina potente, não podia
ficar ali esperando tempo propício. Saiu, na verdade, mas não
tardou a retroceder. As duas lanchas alcançaram Inhambane, e
seguindo rumo a Lourenço Marques, ali chegaram depois de sessenta
horas de dificuldades e atribulações, de peripécias aflitivas,
afrontadas com uma coragem homérica.
Estas duas lanchas prestaram grandes serviços na campanha desse
ano de 1895. A Sabre, com enormes riscos de navegação,
andou em reconhecimentos no Incomáti, explorando o ramo principal
desse rio; foi a sua guarnição que lançou a ponte militar na
Xefina, e no mais aceso da luta, andou em constante serviço de
transporte de pessoal e material, com reboque de batelões
carregados, em risco de soçobro, facto que causou o maior espanto
dos oficiais dos navios estrangeiros que vieram a bordo,
interrogando o comandante, cheios de espanto pelo arrojo de
semelhante empresa.
Sendo capitão do porto em Lourenço Marques, procedeu a grandes
melhoramentos. Foram valiosos os seus trabalhos de balizagem e
iluminação da baía; fundou uma escola de pilotos, estabelecendo
com toda a regularidade esse serviço; e como membro da comissão
dos melhoramentos de Lourenço Marques, teve parte
importantíssima nas obras dos serviços terminados por aquela
comissão. Em 1897 o comissário régio Mousinho de Albuquerque, que
muito o considerava, fez com que ele aceitasse a presidência da
comissão municipal da câmara de Lourenço Marques. Era espinhosa a
tarefa, porque a desmoralização e a desordem nos serviços
demandavam uma energia e força de vontade fora do usual a
defrontar-se com deficiências de toda a ordem, assim material como
pessoal. O sr. Ivens Ferraz não recuou diante da empresa.
Caminhando energicamente para o alvo a que visava, começou por
demitir quase todos os empregados municipais, e por tal forma se
houve, que as dívidas do município em cifra superior a 40.000$000
réis foram pagas integralmente, cessando o descredito municipal,
que chegara a ponto de ninguém fiar à câmara nem o objeto mais
insignificante. Cobraram-se impostos municipais, em divida, o que se
não fazia havia seis anos, aterraram-se mais de 10.000 m quadrados
de pântano; por incúria, os poucos terrenos municipais haviam
sido, na maior parte, roubados; macadamizaram-se ruas, empedraram-se
as vias de comunicação mais importantes, plantaram-se milhares de
eucaliptos; elaborou-se o projeto para se prosseguir no aterro do
pântano, questão de saneamento vital para Lourenço Marques;
estabeleceram-se armazéns frigoríficos; cuidou-se da iluminação
da cidade pela luz elétrica; adquiriram-se carros especiais para a
limpeza pública. Terminada a comissão de capitão do porto, o sr.
Ivens Ferraz foi nomeado delegado do governo português na
delimitação de fronteiras da África Central; fazendo o seu
levantamento e demarcação desde o Chilomo ao longo do rio até
Milange, o daí aos lagos Chirua, Chicuta, Amaramba e Niassa,
passando depois para a parte ocidental demarcando na Angónia, desde
o extremo NE da fronteira até Malengane. Foi depois nomeado para
outra comissão, da delimitação da fronteira do Transval.
Em julho de 1903, realizou o sr. Ivens Ferraz, ainda
primeiro-tenente, uma conferencia nas salas do Centro Regenerador
Liberal, tomando por assunto: Dois anos e meio de autonomia na
evolução de Lourenço Marques. Com o exemplo desta província
procurou demonstrar as vantagens do regime de
descentralização.
O sr. Ivens Ferras possui o hábito das ordens de N. Sr.ª da
Conceição e de Santiago; o oficialato da de Torre e Espada e de S.
Bento de Avis; as medalhas de valor militar e de D. Amélia.
Publicou: Álgebra elementar, Lisboa, 1900.