n. 12 de junho de 1850.
f. 28 de janeiro de 1898.
Explorador africano.
Nasceu na ilha de S. Miguel a 12 de junho de 1850, faleceu na sua
casa do Dafundo, próximo de Lisboa a 28 de janeiro de 1898.
Era filho de pai inglês e de mãe portuguesa. Veio para o
continente muito novo, e aos dezassete anos, em 1867, assentou
praça na marinha real, e concluiu o curso em 1870, entoando vinte
anos de idade. Embarcou em seguida para a Índia, como aspirante, a
bordo da corveta Estefânia, quando se tratava de abafar as
tentativas de revolta das tropas de Goa. Voltou desta viagem já
promovido a guarda marinha, e passados apenas seis dias de estar em
terra, partiu na corveta Duque da Terceira para Angola. Aí
andou no cruzeiro, na estação, percorrendo, na canhoneira Rio
Minho e na escuna Napier, todos os pontos importantes da
costa desde Moçamedes até S. Tomé, onde estava em 1874, quando o
transporte Martinho de Melo o trouxe a Portugal. Durante o
cruzeiro da costa ocidental da África foi encarregado de
desembarcar no Congo e em Cabinda. Os indígenas haviam roubado e
insultado ali negociantes portugueses . As expedições, de que
Ivens fazia parte, puderam por vezes reaver as fazendas. Às vezes
também caçavam de manhã os pretos na baia de Cabinda, e iam às
sanzalas dos povos de Molembo entregá-los, exigindo em troca o que
pertencia aos negociantes. Tendo já o posto de segundo tenente,
embarcou ainda no ano de 1874 na corveta Duque da Terceira,
foi a S. Tomé, depois ao Pará, Pernambuco, Baía, Rio de Janeiro e
Montevideu. Regressou a Lisboa em março de t876, e logo em abril
tornou a embarcar, partindo a bordo do transporte Índia, que
ia levar aos Estados Unidos a comissão portuguesa e os produtos de
Portugal que concorriam á exposição de Filadélfia.
Em junho de 1876 voltou Roberto Ivens a Lisboa, e dois meses
depois seguiu a bordo do Índia para a estação naval de
Angola, onde passou à corveta Sá da Bandeira. Foi nesta
segunda estação, que fez a Angola, que principiou a revelar-se o
futuro explorador de África. Começou por um simples reconhecimento
da baía dos Tigres, a que se seguiu um outro no rio Congo mais
importante. Roberto Ivens, juntamente com dois segundos tenentes
seus companheiros, subiu o rio num escaler a vapor da canhoneira
Tâmega até Noqui, próximo ao sítio onde a expedição comandada
por Stanley estabeleceu a primeira estação permanente chamada Josefina.
Neste reconhecimento levantou uma planta do Congo, entre Borua e
Noqui, fez os desenhos ao natural da ilha Xinhala, na margem direita
do rio, de Xinhime, povoação mais ao nordeste, e as margens
elevadas, em frente dos grandes redemoinhos de Fuma-Fuma, no Zaire,
quase sempre envolvidas em espessas nuvens das operações do rio.
Estes desenhos fazem parte da planta, ou mapa, que Roberto Ivens
ofereceu á Sociedade de Geografia de Lisboa. Determinou a
situação de duas grandes pedras que se encontram no rio, e que só
se descobrem quando as águas vão mais baixas. São nas
proximidades de Noqui, mais para nordeste do rio. A primeira já se
chamava Diamante, e à segunda deu Roberto Ivens o nome de Ametista.
Em 1877 regressou a Luanda, e ali recebeu a participação de que
fora nomeado, juntamente com Hermenegildo Capelo e Serpa Pinto, pelo
decreto de 11 de maio, para uma expedição de exploração de
estudo e descobrimento no interior de África. Assim constituída no
seu pessoal, ficava encarregada de explorar, no interesse da
ciência e da civilização, os territórios compreendidos entre as
províncias de Angola e Moçambique, e estudar as relações entre
as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze, segundo as
instruções que recebesse, autorizadas pelo governo. Roberto Ivens
veio para Lisboa no Índia, e apenas se demorou dois dias nos
preparativos indispensáveis. A expedição partiu em junho
seguinte. Esta primeira travessia foi tão trabalhosa e cheia de
perigos, que os dois exploradores chegaram por vezes quase a
desanimar completamente, privados das coisas mais elementares para a
vida, desde a água que faltava, até à mais simples refeição de
farinha já deteriorada e escassa. Os próprios naturais, que
acompanhavam os exploradores europeus, rendiam-se pelo cansaço, e
uns morriam e outros fugiam. A tudo resistiram valorosamente os dois
exploradores. No Ocidente, de 1880 e 1881, vol. III e IV, vem
uma minuciosa descrição das viagens de Roberto lvens o de
Hermenegildo Capelo, numa série de artigos firmados por Alberto de
Cervais. A segunda exploração começou em 1883 e terminou em 1885.
Dessas viagens tão proveitosas para a ciência, pois muitos pontos
obscuros se esclareceram e grande número de conhecimentos novos se
adquiriram, e da outra, que ambos empreenderam às terras de laca,
dão larga e detalhada notícia os dois africanistas nos seus
curiosos livros: De Angola á contracosta e De Benguela
às Terras de Iaca. Os dois exploradores africanos percorreram
4200 milhas de costa a costa, das quais 1500 de sertão nunca
transitado por europeus. Nesta travessia perderam sessenta e dois
homens entre mortos e extraviados.
Roberto e Brito Capelo chegaram a Lisboa em setembro de 1885 a
bordo do paquete Cabo Verde, e tiveram uma brilhantíssima receção,
que nós já descrevemos no vol. II do Portugal, pág. 729 e 730 (V.
Capelo, Hermenegildo Carlos de Brito). Roberto lvens sucumbiu
a uma prolongada doença, complicada com antigas enfermidades
adquiridas em África.