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João
(D.).
n. 16
de março de 1842.
f. 27
de dezembro de 1861.
Infante
de Portugal, filho da rainha D. Maria II, e de seu marido, o rei D.
Fernando; duque de Beja e de Saxe-Coburgo-Gotha; grã-cruz e alferes
das ordens militares de Cristo, Avis e S. Tiago da Espada; grã-cruz
da Ordem de N. Sr.ª da Conceição e da Torre e Espada; coronel do
Regimento de Cavalaria n.º 2, lanceiros da Rainha.
Nasceu
no paço das Necessidades, em Lisboa, a 16 de março de 1842, faleceu
no paço de Belém a 27 de dezembro de 1861. O seu nome completo
era: João Maria Fernando Pedro de Alcântara Miguel Rafael Gonzaga
Félix de Bragança e Bourbon.
Foi
muito estudioso; com os professores que desde os mais tenros anos
lhe foram dados, exercitou-se nas letras, tomando delas o que
cumpria à educação dum príncipe, a quem a vocação inclinava
para o ofício das armas. Tendo oito anos de idade ainda
incompletos, assentou praça de simples soldado no Regimento de Infantaria
n.º 16 em 4 de janeiro de 1850, sendo promovido a alferes do mesmo
corpo a 19 de maio de 1851. Conservou-se neste posto durante quatro
anos à espera que a idade lhe permitisse o efectivo serviço
militar. Em 22 de agosto de 1855 foi elevado ao posto de major para
cavalaria n.º 4, e a 15 de abril de 1858 ao de tenente-coronel para
o mesmo regimento. Em 1860 teve a promoção de coronel, e foi
comandar o Regimento de Cavalaria n.º 2, lanceiros da Rainha, em
substituição de D. Carlos de Mascarenhas, que fora promovido a
brigadeiro. O infante D. João, dedicando-se à vida militar,
entendeu desde o primeiro dia do seu comando o ofício das armas
corno verdadeira religião. Causava admiração que um rapaz na
idade mais florescente, pois apenas
contava dezoito anos, se compenetrasse tanto do seu dever, que
aparecesse ainda de madrugada na parada do regimento, principalmente
quando havia exercício de manhã. Num dia tempestuoso de Inverno,
um criado lhe notou respeitosamente o quanto lhe poderia ser
prejudicial ir a cavalo sofrendo as injúrias do tempo desde o paço
até Belém, quando, sendo ele quem era, mais cómodo seria mandar
aprontar uma carruagem; respondeu o infante gracejando que havia de
ir na mesma carruagem em que iam os outros oficias do seu regimento,
e encaminhou-se a trote para o quartel. Foi sempre exemplar no
cumprimento dos deveres que lhe prescrevia o comando. Sempre assíduo
no serviço, os mais austeros e exemplares observadores da
disciplina regimental não poderiam achar pretexto à mínima
censura nos actos militares do jovem militar. Carácter bondoso
soube sempre aliar a extrema observância dos preceitos militares
com a prática de todas as virtudes cristãs. No regimento todos o
adoravam, tanto oficiais como soldados. Apesar de não ter uma vocação
decidida pelas ciências, como seu irmão, o rei D. Pedro V, contudo
folgava no descanso das fadigas militares, entregando-se à cultura
das letras. Acompanhava ás noites D. Pedro V ás lições do Curso
Superior de Letras, de que era o mais assíduo dos ouvintes. Também
o acompanhava sempre nas suas excursões científicas, quando el-rei
D. Pedro V visitava o museu nacional.
Quando
faleceu este monarca e o infante D. Fernando nos princípios de novembro
de 1861, achava-se D. João e seu irmão D. Luís, que depois herdou
o trono de Portugal, em Compiégne, onde o imperador Napoleão III
se propunha a celebrar a visita dos dois infantes portugueses.
Chegando depois os dois infantes a Lisboa, D. João ainda se
apresentou à frente do seu regimento no préstito fúnebre do
chorado monarca D. Pedro V, mas, infelizmente a fatal doença, que
vitimara os seus irmãos, também o atingiu, e D. João veio a
falecer em dezembro seguinte, não tendo ainda vinte anos de idade.
A sua morte foi muito sentida, e veio ainda mais exacerbar os ânimos,
já muito exaltados pelos anteriores falecimentos, que a opinião
geral não julgara casuais. Atribuía-se a envenenamento as
sucessivas mortes, dizendo se que o infante D. Augusto, que também
fora atacado, igualmente sucumbiria, se não tivesse sido levado
para longe do paço das Necessidades, indo tratar-se no Lumiar. O Regimento
de Lanceiros n.º 2, não podendo conformar-se com a morte do seu
estremecido comandante, tentou revoltar-se, manifestando-se
acremente contra os presumidos envenenadores e a sua atitude chegou
a causar tantos receios dalgum desaguisado que o enterro do infante
D. João foi feito de noite, quase em segredo, sem as honras que lhe
eram devidas.
Na
Revista Contemporânea
publicou o falecido escritor Latino Coelho um extenso artigo
acerca do infante D. João, acompanhando o seu retrato.
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