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João
(D.).
n.
f.
Infante,
filho de D Pedro I e de D. Inês de Castro, dado por filho legítimo,
quando seu pai, depois da morte de D. Inês de Castro, declarou que
fora com ela casado.
D.
João viveu muito estimado na corte de el-rei D. Fernando I, em que
se tornou muito distinto. Era de boa presença, muito liberal,
popular, o melhor cavaleiro das Espanhas; grande caçador e afamado
em proezas de monte, os golpes da ascima que vibrava aos javalis, a
destreza com que se batia corpo a corpo com enormes feras, faziam as
delícias dos serões campestres, contados pelos monteiros que
tinham presenciado as façanhas, ou que as sabiam de tradição.
Dedicava grande amizade a seu irmão, D. João, o mestre de Avis.
Eram ambos muito destros em equitação e no jogo das armas, mas nos
caracteres é que muito se diferençavam. O mestre de Avis era
franco e generoso; D. João, hipócrita, dissimulado e muito
ambicioso, não recuando diante de coisa alguma para satisfazer a
sua ambição. Apaixonou-se por D. Maria Teles, irmã da rainha D.
Leonor Teles, viúva dum fidalgo chamado Álvaro de Sousa, com quem
casara ainda muito nova, e de quem tivera um filho, Lopo Dias de
Sousa, que foi depois mestre da Ordem de Cristo. Apesar de viúva,
ainda conservava uma formosura provocadora, que despertou ao infante
D. João ardentes desejos de a possuir. Conta Fernão Lopes que D.
Maria Teles lhe aceitara a corte pretendendo casar com ele e lhe
permitira uma entrevista nos seus aposentos; mas depois, quando o
infante D. João, ébrio de desejos a queria possuir à força, ela
não quis ceder, dizendo que só depois de casada lhe pertenceria.
D. Maria Teles havia prevenido um padre, que estava ali oculto, e
que aparecendo prontamente procedeu à cerimónia. O casamento
conservou-se secreto durante algum tempo, tornando-se depois do domínio
público. D. Leonor Teles ficou furiosa ao saber esta notícia,
considerando que o infante D. João era muito popular, e receando
que por morte do rei D. Fernando, o povo quisesse elevá-lo ao
trono, como filho de D. Pedro e de D. Inês de Castro, ficando desta
forma rainha de Portugal sua irmã, enquanto que ela teria talvez de
sair da corte, fugindo à cólera do povo, que tanto a odiava.
Contudo, a astuciosa rainha logo imaginou um plano maldito que,
livrando-a de todos os receios que lhe podia inspirar a ambição de
D. Maria Teles, lançaria também sobre o infante um odioso a que a
sua popularidade não resistiria. Conhecia bem o carácter de D. João,
que não recuaria diante do crime mais abjecto, se visse nele um
degrau para subir ao trono. Tudo isso adivinhara ela, quando na
ocasião do seu casamento com D. Fernando lhe estendera sorrindo a mão
que ele graciosamente beijara, ao passo que o irmão D. Diniz (V. este
nome) se recusara altivamente, partindo depois para Espanha. Da
perfídia, que premeditara, foi instrumento D. João Afonso Telo,
que ela encarregou de insinuar a D. João da utilidade do país, em
que se realizasse o seu casamento com D. Beatriz, filha de D.
Fernando, que estava prometida a um príncipe castelhano, o que era
desagradável ao povo, e na realidade metia pena que ele já fosse
casado. Este pensamento penetrou no espírito do infante,
inspirando-lhe as mais sinistras ideias. O desejo ardente que
sentira por D. Maria Teles, já de há muito se desvanecera, os
sonhos de ambição que acariciava, vendo-se casado com a irmã da
rainha, também se tinham dissipado, porque logo percebera que, em
vez de conquistar o afecto da rainha, não fizera senão incitar-lhe
a cólera e o ciúme do poder. Por isso começou a pensar que D.
Maria Teles era um grande obstáculo, e seria conveniente que
morresse, mas para a matar, era preciso um pretexto. D. Leonor
Teles, que tudo previu, aplanara-lhe complacentemente o caminho do
crime. Alguns homens, conselheiros do infante, que a rainha
subornara, disseram ao infante que a mulher o traía, sem mesmo se
cansarem em dizer o nome do homem com quem D. Maria Teles tivesse
relações adúlteras. Apenas lhe deram esta indicação vaga,
considerando-a o suficiente para o excitarem. O infante, que
procurava um pretexto, nada mais quis saber. D. Maria Teles vivia
então em Coimbra. D. João para ali se dirigiu, chegando a casa
apenas ao amanhecer, acompanhado de uns homens que o ódio de sua
cunhada pusera à disposição das suas ambições. Subiu em tumulto
as escadarias sobressaltando as criadas que dormiam ainda, e se
levantaram estupefactas. Os aposentos de D. Maria Teles ficavam numa
das torres do paço acastelado. D. João não hesitou, nem esperou,
e as portas foram arrombadas. A pobre senhora, levantou-se
espavorida, vendo aquele grupo de homens e o infante pálido e
sombrio. Poucas palavras se trocaram; afectando uma indignação que
o cegava, apunhalou a mulher, varando-lhe o coração. Consumado o
crime, D. João fugiu, errando pela Beira. Na corte era enorme a
indignação, e o rei D. Fernando, julgando ser agradável à
rainha, prometeu solenemente vingar aquele enorme delito. D. Leonor,
porém, perdoou o crime, e D. João regressou à, corte.
Quando
falou no seu casamento com D. Beatriz, todos mostraram decidida
frieza, e a própria rainha o desenganou, dizendo que não pensasse
em semelhante coisa. Reconhecendo então que fora vítima duma
cilada, foi para o Douro, seguindo depois para Castela, pois D.
Leonor Teles, receando que ele tentasse alguma vingança, não o
deixava um momento descansado, com as suas perseguições. O rei
Henrique II o chamou para o
paço, dando-lhe em casamento sua filha D. Constança. Mais tarde,
quando o exército castelhano invadiu Portugal, D. João combateu,
vindo nas suas fileiras, pondo cerco a Elvas, que não pôde tomar.
Quando faleceu o rei D. Fernando, D. João I de Castela mandou-o
prender por ser ele o príncipe com mais direitos ao trono de
Portugal. Faleceu encerrado numa prisão em Salamanca.
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